sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Crítica de cinema



E agente atravessa...


Por Leandra Migotto Certeza.

Em “Ô Xente. Pois, não” documentário de Joaquim Assis, o espectador percorre o olhar do viajante pelos descampados do coração. Imagens de homens arando a terra, como se fincasse sulcos por entre seus corpos.
As vozes parecem estar ao seu lado, escapando dos limites da tela da TV ou do projetor de imagens, como em uma conversa no meio de um roçado. Depoimentos anônimos se tornam coletivos, e nos fazem pensar no papel do artista, se é que ele tem um.

Retratar a miséria do povo, a ignorância intelectual e o atrazo evolutivo de certas regiões do país, não é uma terefa fácil para aquele artista que está desvinculado de esteriótipos e condicionamentos catárticos do sistema capitalista.

Deixar de 'apenas' mostrar mais uma cena de um homem sofrendo e lutando para sobreviver na seca do Nordeste ou nas lavouras da Bahia é um trabalho minuncioso de resgate a condição humana. Foi o que fez Joaquim Assis, ao mostrar ao espectador a simplicidade daquela comunidade.

Ainda bem que hoje existem pessoas com tamanha senssibilidade capazes de captar o ser poético de dentro do artista, como um profundo conhecedor da alma humana na sua essência. A questão que se coloca é o que o leitor faz com a mensagem que as imagens e o texto transmitiram.

Ao acenderem as luzes naquela sala da aula, cheia de pessoas que não se considaram “aquelas da sala de jantar”, de que fala a letra de Mariza Monte, tudo o que senti foi a mais pura emoção. O instante de primeiridade tomou conta do meu ser, e tive vergonha de estar do lado de fora da tela da TV.

Claro, que não vamos sair por aí salvando o mundo, nos livramos de todos os bens materiais, deixarmos a família e nos dedicarmos aos 'necessitados'. Afinal de contas, nós somos os mais necessitados, pois estamos na outra margem do rio e não sabemos o que fazer agora.

Mas ao invéz de apenas ficarmos analizando a fala regionalista ou os erros de concordância verbal das personagens, e a simplicidade do modo de vida daquelas pessoas, vamos olhar para aquele que está mais próximo de nós, como o jardineiro, o feirante, o camelô, a empregada doméstica, o varredor de rua, o mendigo, o moleque que vende balas no farol, e tantos outras personagens que fazem parte do nosso cotidiano.

Exercício do curso de Leitura Crítica promovido pelo Itaú Cultural em ?/?/1999.
Descrição da imagem: foto de Joaquim de Assis, autor do documentário "Ô Xente. Pois, não". Homem calvo de cabelos brancos, aparenta uns 60 anos. Foto em close com um sorriso tímido.

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