quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Novo lar em Cidade Tiradentes

Nosso novo lar provisório em Cidade Tirandentes, bairro super populoso da Zona Leste de São Paulo.

Nosso amigo maravilhoso e extremamente generoso, Carlinhos, nos abrigou em sua linda casa! A familia carinhosa e simples que nos acolheu com tanto amor é linda. Este é o Cauâ tentando pegar os óculos do Má. Ele tem 9 meses e é uma fofura!!!!

Logo escrevemos mais e mostramos outras fotos!

Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Papai Noel existe?

Recordar é viver!!! Que saudade da minha família do coração!!! 


É muito emocionante reler esta doce crônica sobre um sentimento tão forte e marcante que ficará pra sempre em minha alma... Que aperto no coração quando sinto a falta da amada Jéssica... O maravilhoso é relembrar sempre de seu sorriso nos iluminando lá do céu com doçura e alegria.  

Dia 12/12/09 já ficou para história do movimento social brasileiro. Amigos e amigas, de todas as idades, unidos por um único ideal: SER FELIZ. Comemorar a DIVERSIDADE humana que faz parte da VIDA.

Por Leandra Migotto Certeza*Fotos: Marcos dos Santos, Leandra e amigos.








Descrição da imagem: o pátio da escola todo decorado com as pessoas almoçando felizes.

Enchentes. Gritos. Desespero. Apelo. Solidariedade. Amizade. Tranqüilidade. E lá vem o Natal de novo. Fim de ano tumultuado esse... Quase perdi o noivo! (que horror!). Crianças desabrigadas. Histórias de vidas interrompidas. Corações renovados, graças ao amor entre os seres humanos. Almoço comunitário. Ajuda mútua. E todos foram salvos.

Os Governos (infelizmente, ainda salvo raríssimas exceções) continuam demagogos, hipócritas, nojentos, corruptos e desonestos. Ainda bem que, felizmente, poucas mais ilustres pessoas de, literalmente, alma lavada, sabem que o único e verdadeiro significado da vida é: sermos solidários!

O almoço de Natal da ABSW - Associação Brasileira de Síndrome de Willians, mais uma vez, cativou o coração de quem ainda está apenas descobrindo porque vive no Planeta Terra; e coroou aqueles que todos os anos trabalham 365 dias por um mundo mais justo.

Muitas mãos, pernas, pés, cabeças, olhos, bocas, corações e espíritos cozinharam cada alimento com tanto carinho. Muitos outros dedos, mentes, braços e almas serviram as mais de 50 pessoas que desfrutaram de um delicioso cardápio preparado dias antes, depois de muito suor.

Arroz primavera lindo; batatas coradas macias; saladas variadas coloridas; molhos suculentos; torradinhas picantes; e a estrela do dia: carne assada, derretendo de tanto sabor. Para completar refrigerantes, cervejas, melancias e abacaxis, servidos sempre com todo o cuidado. Além, é claro, do cheiroso café! O bolo de chocolate derretia na boca e iluminava o olhar das crianças...






Descrição da imagem: saladas variadas e coloridas na mesa decorada.

Para mim e meu noivo é sempre um dos momentos mais marcantes de nossas vidas. Mas desta vez foi especial. Teve sabor de renovação! Os problemas foram muitos, e as dificuldades estão só começando, depois da revira-volta de nossa vida. Sair de lá com as pilhas recarregadas foi fundamental.

A energia foi tão contagiante que o meu noivo ajudou na decoração, enquanto eu descansava um pouco me recuperando do tombo que levei no meio do mês de novembro. Oito dias internada no hospital, e eu já estava firme e forte pronta para ajudar no que fosse possível. Adoro a presidente da ABSW, Jô Nunes, e sua incansável “tropa da alegria”! Êta mulher guerreira! Sua história de vida é um capítulo a parte...
Descrição da imagem: eu a Jô, uma das minhas ‘ídalas’!
Dia 12/12/09 já ficou para história do movimento social brasileiro. Amigos e amigas, de todas as idades, unidos por um único ideal: SER FELIZ. Comemorar a DIVERSIDADE humana que faz parte da VIDA. Para isso, a Escola Municipal de Educação Infantil Ignácio Henrique Romero, no bairro de Moema na cidade de São Paulo, novamente, foi toda decorada, delicadamente, com muito brilho.

Suas confortáveis e práticas instalações, gentilmente cedidas pelas suas generosas diretoras (em especial a Hughetti), são o palco do show da vida, que a cada ano é sempre mais bem iluminado. Placas por todos os lados indicando onde é o banheiro (muito bem cuidado); o bazar solidário dos “Amigos da ABSW” (com lindos presentes arrumados com todo o capricho); as lindas prendas das rifas vendidas por voluntários dedicados (em especial Edson Natali), e onde se comprava as bebidas e depositava o material reclicável depois de usado. Tudo no seu devido lugar.

Descrição da imagem: eu e o meu noivo, Marcos, muito felizes!

Cada mesa com sua arvorezinha de Natal, toalhas coloridas e rendadas, pratos e copos decorados, arrumados com graça e leveza. Eu ajudei a dar brilho às cadeiras, colocando papéis dourados nos encostos.
As maravilhosas voluntárias e os carinhosos voluntários - em sua maioria, pais e amigos de pessoas com síndrome de Willians - estavam por toda parte, sempre prontos para estender uma mão amiga. Eu também ajudei a limpar os pratos novos, comprados especialmente para esta importante data. A grande mesa onde o almoço é servido também foi cuidadosamente decorada. Bandejas estavam à disposição para aqueles que precisassem de ajuda para comer.

Faz mais de três anos que eu e meu noivo participamos deste encontro, mas ainda ficamos impressionados com a organização, competência, agilidade, dedicação, carinho, cuidado e amor, com que tudo é preparado por tantas e diferentes pessoas ao mesmo tempo.

E como o tempo voa. Chegamos às 9hs e ao meio dia tudo já estava pronto. As pessoas foram chegando com total segurança, transportadas por vans da Prefeitura de São Paulo, que sempre prestigia e apóia os encontros da associação. Os motoristas, sempre simpáticos, brincam com as crianças, e ajudam cada um a encontrar um lugar bem confortável para começar a festa.










Descrição da imagem: Alex de pé! E seu amigo, filho da Silvana, da família ABSW.

Vou depressa até a cozinha para ver como andam os preparativos. Minha intenção é fotografar o crucial e primoroso trabalho das cozinheiras em ação. Ledo engano. Elas já terminaram tudo e estão prontas para servirem o almoço. O que aconteceu? A fadinha passou por aqui?

Não. Os sorrisos largos e gostosos, e os olhares profundos e amáveis, mostram o segredo de tanta competência: UNIÃO! A mais simples (e tão esquecida nos dias de hoje), verdadeira união! Ela realmente faz a força. E que força! Está tudo limpo e arrumado. Só esperando as louças usadas chegarem para serem também rapidamente lavadas e arrumadas novamente. Consigo apenas captar algumas imagens, e muitas lágrimas escorrem pelo meu rosto.










Descrição da imagem: voluntárias maravilhosas da cozinha.

Segura o choro Leandra. O turbilhão de emoções está só começando... Amigos queridos sempre comparecem e novos aparecem. E assim a família cresce. O som rola solto... É rock pesado, misturado com dance music e um pouco de MPB (bem pouco, para minha ‘tristeza’). Afinal, os anfitriões da festa são garotos e garotas com os hormônios a flora da pele. Beijos e abraços por todo lado. O amor está no ar.

Namorados e namoradas esperam ansiosos o momento de se reencontrarem para reafirmarem declarações de amor acaloradas de paixão. Jéssica e Tiago seguram o microfone e gritam bem alto que se amam. Mostram ao mundo que ter uma deficiência intelectual não os impedem de ser felizes, muito mais do que inúmeras pessoas rabugentas que vivem se odiando, sem ter uma única unha encravada no dedão do pé.










Descrição da imagem: Jéssica e Tiago, o casal mais apaixonado que eu conheço.

Agora é a vez de outro casal de jovens, Karine e Leandro, com síndrome de Willians deixar o seu recado: o amor salva o mundo das guerras e dos preconceitos! A vida é muito mais simples do que nossa vã filosofia idiota pensa. Basta apenas viver a vida cada dia, como se fosse única. Aproveitar o momento presente, sem se esquecer que a perfeição nunca existiu, e o ser humano é rico por sua diversidade inata.










Descrição da imagem: Bruna e Willian, um lindo casal de namorados com Síndrome de Willians.










Descrição da imagem: Leandro e Karine, outro lindo casal de namorados com Síndrome de Willians.

Depois dessa lição de vida, a festa atinge o seu ponto mais alto. O Papai Noel chegou! O cenário é um sonho: casinhas de boneca coloridas em um lindo jardim. Debaixo de uma árvore, ele chama todos e todas para acreditarem em seus sonhos... Os presentes são cuidadosamente distribuídos com muito carinho.

Chamados pelo nome, os jovens e crianças da associação sentem o valor que tem, e a diferença que fazem no mundo. São especiais, não porque têm uma deficiência, mas por serem gente boa que sabem viver e ser feliz, exatamente como são: únicos.










Descrição da imagem: crianças sem deficiência abrindo seus presentes de Natal. Inclusão é isso!









Descrição da imagem: Mel (com síndrome de Willians) e Alex (com Osteogenesis Imperfecta) mostram que criança não tem preconceito e brincam juntos felizes com seus novos presentes.

Cada carrinho, bola, boneca, ursinho de pelúcia, camiseta, colar, pulseira e livro vão para o seu novo dono e dona. Foram escolhidos, comprados e doados por papais e mamães noéis sempre muito atentos aos gostos de cada um. Ninguém resiste a dar um beijo e posar para uma foto ao lado do Papai Noel, principalmente, os adultos que nessas alturas estão chorando de tanta alegria.

Eu e o meu noivo Marcos, também revelamos nossas eternas e saudáveis crianças dentro de nós. As fotos ficarão para sempre em nossas recordações. E eu até ganhei um presente porque Papai Noel existe sim! O nosso tem Síndrome de Donw e um olhar indescritivelmente único!
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de SOLIDARIEDADE.


Descrição da imagem: eu feliz da vida ao lado do Papai Noel.

PS: eu esqueci de dizer que depois de tudo isso, a ‘fadinha’ passou de novo, e a escola voltou a ser só uma escola, cheia de risadas e lágrimas ecoando pra sempre entre suas paredes... Parabéns a todas e todos (aqui registrados ou não), importantes e fundamentais para que em 2010, tudo aconteça novamente.

Muitas outras fotos estão nos links:
Conheça a ABSW e saiba como fazer parte dessa grande familia sendo voluntário!
http://www.swbrasil.org.br/




*Leandra Migotto Certeza é jornalista e repórter especial da Revista Síndromes. Ela tem deficiência física (Osteogenesis Inperfecta), é assessora de imprensa voluntária da ABSW, consultora em inclusão e mantém o blog “Caleidoscópio – Uma janela para refletir sobre a diversidade da vida” - http://leandramigottocerteza.blogspot.com/. Conheçam os modelos de palestras, oficinas, cursos e treinamentos sobre diversidade, realizados em empresas, escolas, ONGs, centros culturais e grupos de pessoas no site: https://sites.google.com/site/leandramigotto/

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ah, esse preconceito velado...

As conquistas das pessoas com deficiência são muitas, mas o preconceito ainda existe
Por Adriana Lage na Rede Saci - 15/12/2009

Felizmente, a situação das pessoas com deficiência tem melhorado muito nos últimos anos. Hoje em dia, palavras como inclusão, diversidade e acessibilidade estão sendo incorporadas ao nosso cotidiano. As escolas já aceitam melhor os alunos com deficiência, empresas se esforçam para cumprir a Lei de Cotas, novas edificações só recebem o alvará se forem acessíveis, dentre outras conquistas.

Até nas novelas estamos presentes. Querendo ou não, temos que reconhecer que grande parte da população assiste às novelas e acaba aprendendo que as pessoas com deficiência são seres humanos como qualquer pessoa, com qualidade e defeitos, habilidades e deficiências. A informação é sempre a melhor arma na luta contra o preconceito.
Torço muito para que um dia datas como 3 de dezembro não existam mais. Acredito que estamos no caminho certo. Fico impressionada como algumas pessoas ainda possuem um pensamento tão pequeno em relação às pessoas com deficiência. Nos últimos dias, algumas situações me deixaram chateada:
- Sou cliente assídua de uma feirinha próxima a minha casa. Parei em uma barraca e me interessei por algumas blusas. Quando a vendedora percebeu que minha compra estava chegando perto dos R$ 100,00, ela começou a insistir para que eu não levasse as peças. Por sorte, um vendedor de bolsas do qual sou cliente foi mexer comigo e comentou que sou uma excelente cliente e que meu cheque é garantido. Após ouvir esse comentário, ela ficou toda sem graça e me devolveu todas as peças que eu queria levar. Fiquei chateada com a atitude dela. Tive a impressão que a vendedora imagina que deficientes não possuem renda.
Há tempos atrás, eu teria desistido da compra. Na mesma semana, na academia que freqüento, minha mãe comentou com uma vendedora de roupas que eu queria olhar as peças. A mulher inventou um monte de desculpas e não me mostrou as roupas. Minha mãe ficou indignada com a situação e, na aula seguinte, contou o caso da feira pra ela. Resultado, nessa segunda feira, ela foi até minha casa para que eu comprasse as roupas e se surpreendeu com minhas compras.
- A festa de final de ano da empresa em que trabalho foi realizada em um Hotel Fazenda. A equipe é formada por cerca de 130 pessoas, sendo uma cadeirante, uma usuária de bengala (esclerose múltipla) e um deficiente auditivo. Em momento algum, o comitê organizador da festa pensou na acessibilidade. Liguei para o local da festa e fui informada que eles não estavam aptos para me receber. O local possui muitas escadas, não possui rampas e nem banheiro adaptado.
Para entrar no banheiro, minha amiga precisou subir 6 degraus. A cadeira de rodas também não passou nas portas. Comentei com meu chefe e com outras pessoas que eu gostaria muito de ir, mas que ficaria difícil por causa da acessibilidade. Muitas pessoas não concordaram com meus argumentos. Resultado, as pessoas foram para a festa e eu fiquei trabalhando normalmente.
Após a festa, várias pessoas comentaram que eu acertei quando escolhi não participar da festa. Ao invés de me divertir, ficaria estressada com tantas escadas para subir... Querendo ou não, me senti excluída. É fácil para quem não anda em uma cadeira de rodas e tem equilíbrio no tronco falar que as pessoas carregariam a cadeira sem problemas. Ninguém pensa o quanto é desconfortável e perigoso para a cadeirante!!
- Estava conversando com um amigo que é atleta paraolímpico sobre esporte. Ele me contou indignado, e com toda razão, que em provas como o Iron Biker (competição internacional de ciclismo) e na Volta Internacional da Pampulha (corrida), os deficientes podem participar, mas só recebem uma medalha de prêmio. As outras categorias são premiadas com dinheiro. No esporte paraolímpico, o Brasil está entre as potências mundiais. Imagina então se não estivesse....
- No último domingo, estava no clube conversando com uma amiga cadeirante, que é nadadora, e ela me disse que uma das sócias do clube não gosta da sua presença, pois se sente incomodada com as cicatrizes que ela possui devido a um acidente de carro.
- Fui passear com minhas irmãs e minha prima pela Savassi, um bairro famoso em Belo Horizonte e ponto de encontro da galera, e passei aperto para andar nas ruas esburacadas, com degraus altos nas calçadas, sem nenhum rebaixamento ou rampa. Tanto na pastelaria quanto na sorveteria, existem degraus para entrar na loja, sem falar nas mesas que não combinam com os pés da cadeira de rodas...
- Quanto se trata de relacionamentos, a situação ainda é complicadíssima. Tenho amigos deficientes que não conseguem arrumar nenhuma namorada por causa do preconceito e acabam tendo que recorrer às profissionais do sexo. Fico brava demais quando recebo algumas propostas que no final das contas se resumem a tirarem casquinhas de mim, como se eu não servisse para ter um relacionamento estável e duradouro. Muitas pessoas ainda pensam que só porque você anda em uma cadeira de rodas está ‘encalhada’ e desesperada... As coisas não são assim!!!
Enfim, o que mais me mata de tristeza é esse preconceito velado. As pessoas falam que não são preconceituosas, mas acabam nos excluindo sim, seja através das barreiras arquitetônicas ou das atitudinais. Mas, se Deus quiser, e ele há de querer, um dia isso muda!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O ESTATUTO DO HOMEM E O DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS


FICA DECRETADO QUE HOJE VALE A VERDADE...

Imagem - uma única mulher, com vigorosa tenacidade, enfrenta um batalhão de policiais armados, empurando um obstáculo, lutando com seu próprio corpo, transformado em barreira e resiliência, em um cenário de repressão policial a um protesto coletivo. Ao fundo da foto está uma multidão observando, de um ponto mais alto, saindo uma fumaça escura de dois pontos deste lugar, que podemos assemelhar a um acampamento de marginalizados sociais, e o esforço policial para sua desocupação. (fonte lukeprog.com).

Fonte: InfoAtivo.DefNet 4314 - Ano 13 - 10/12/2009 - Postado por Jorge Márcio quinta-feira, 10 de dezembro de 2009 às 22:36

"Hoje, dia 10 de Dezembro, deveríamos estar comemorando o Dia Internacional dos Direitos Humanos, com o mesmo espírito que comemoramos o Natal. Hoje em milhares de situações ou condições de vida, em todos recantos da Terra, um número inimaginável de seres humanos estão sendo submetidos à Violação de seus Direitos Humanos.

Lembro, ecumenicamente, que aquele que é lembrado no dia 25 de Dezembro, por seu nascimento em uma manjedoura, terminou sua vida terrena em um calvário e sob tortura, na crucificação por um IMPÉRIO, com uma placa onde se lia ser ele o "rei dos judeus", e ao lado de transgressores da lei romana, apesar de sua origem e história como um proto-comunista e universalista dos direitos de todos.

Em tempos de um novo Império, lamentavelmente, vemos que uma discussão acalorada sobre os direitos humanos, quase sempre, caminha para a banalização de que seus defensores somente defendem criminosos, bandidos, violentadores ou meliantes, apenas os que transgredirem as nossas leis e os bons costumes.

Diante desta já midiatizada e popularizada versão distorcida, não podemos deixar de contrargumentar sobre a ausência, quase que cotidiana, de uma educação sobre quais são, por quê e para quê os nossos direitos humanos existem e foram transformados em uma Declaração.

Para além da Declaração de 1948, que em sua própria história traz o pós-guerra e a necessidade de um concerto entre os vencedores, ao mesmo tempo que nascia as Nações Unidas (ONU), deveríamos compreender que a sua aparente e impossível universalidade é um fundamento que deveríamos abraçar e realizar.

Mas nos chamam, os ditos defensores de direitos humanos, de utopistas ou de comunistas, ora um pouco sonhadores e em outras naturalizações de "socialistas demais" ou "xiitas"... São múltiplas e heterogêneas as formas de defesa destes direitos, militantes ou não. Porém, com certeza, não são pessoas anestesiadas pelo utilitarismo, pelo liberalismo e muito menos pelo conformismo.

Tentam apagar da nossa memória os nossos Anos de Chumbo. Negam a existência de Trabalho Escravo. Esquecem da cotidiana exclusão e marginalização de crianças e jovens em situação de rua. Suprimem a violência institucionalizada e legitimada dos órgãos oficiais de repressão policial.

Renegam a existência de Racismos, intolerâncias étnicas, discriminações de gênero ou de caráter sexual, como a Homofobia. Fecham os ouvidos às vozes sufocadas pela permanência da Tortura e não condenação de torturadores reabilitados.

Mantêm invisíveis os milhares de cidadãos e cidadãs que convivem com a miséria ou a pobreza, que são mais graves quando associadas às muitas formas de ser estar com uma ou múltiplas Deficiências.

Confirmam a necessidade de Manicômios ou de Asilos para loucos e velhos não-recicláveis, bem como outros considerados cidadãos de segunda categoria, a serem higienicamente isolados.

Enfim, referendam os que só enxergam, a partir do próprio umbigo, de forma individualista, neo-liberal e narcisista, temendo, como única violência aquela que possa lhes afetar em suas intimidades ou modos domésticos e protegidos de viver...

Tudo isso, ao meu ver, pela profunda macrodespolitização a que estes princípios de direitos sofreram, geraram e podem gerar. O mundo globalizado, e a atual Confêrencia na Dinamarca, nos ensina/confirma que ainda persiste, nos nossos Estados e estadistas, a divisão entre os ricos e os pobres, entre os que se desenvolvem capitalísticamente à custa do não-desenvolvimento de outrem, da segregação e restrição da possibilidade de crescimento e transformação das condições de vida, habitação, saúde e educação, da afirmação dos chamados direitos de 4ª (quarta) geração para os miseráveis da Àfrica, da Ásia ou da América Latina.

Retomo, diante deste panorama mundial, onde me parece que o futuro do planeta e seus habitantes fica novamente a reboque da Economia e do Hipercapitalismo, mesmo sob o risco de ficarmos todos, mundialmente, ou fritos ou afogados, a necessidade de uma busca do que Guattari chamou das Três Ecologias.

Ao traçar o paralelo sobre a possibilidade de uma ecosofia de um novo tipo, ético-politica e estética, é que devemos ter em mente algumas idéias poéticas para o convívio entre os homens, suas culturas, etnias e diferenças sócio-político-econômicas.

Precisamos, segundo Guattari, nos tornar capazes de um "movimento de múltiplas faces dando lugar à instâncias e dispositivos ao mesmo tempo analíticos e produtores de subjetividade". Teremos de, rompendo alguns preconceitos e antigos "militantismos", nos tornar mais solidários, ao mesmo tempo que cada vez mais diferentes e múltiplos.

Apesar do incômodo, toleraremos as presenças e diferenças de nossos "ESTRANHOS ÍMPARES", EMBORA DESIGUAIS, AFIRMANDO OS PRINCÍPIOS DE NOSSA IGUALDADE NO CAMPO DA DIGNIDADE E DO RESPEITO À VIDA. Para atualizar meu desejo ecosófico com uma outra forma de afirmar os Direitos Humanos, trago o que considero uma das mais belas poesias sobre o que podemos vir a ser.

Muito embora já devessemos ter e ser nos tornado com esta suavidade poética, mais persistentes e resilientes. E, então, realizar o compromisso inadiável, na nossa História, para com as mudanças nas três ecologias: a do meio ambiente, a das relações sociais e políticas, e, profundamente, a da subjetividade humana.

No da subjetividade, tanto individual quanto coletiva, ainda podemos buscar seu 'transbordamento', qual as enchentes que estamos ajudando a provocar, para fora das posições herméticas e os enclausuramentos egoístas ou identificatórias. Talvez aí possamos, poéticamente, encarar nossas transitoriedades, finitudes, nossas dores, nossos amores e desejos, nossas limitações, nossa morte.

Trago, hoje dia 10 de dezembro, para nossa reflexão o poeta Thiago de Mello, que talvez agora esteja lá no meio de sua Amazonas, preocupado com o futuro de seu pequeno igarapé ou das àguas escuras, vastas, profundas e, quem sabe, ameaçadas do Rio Negro. Pois o Sertão pode virar Mar e o Mar virar Deserto...

"ESTATUTOS DO HOMEM"

Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e que de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira. Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final. Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem".


FONTES: FELIX GUATTARI - AS TRÊS ECOLOGIAS - Papirus Editora, Campinas, SP, 1993.

THIAGO DE MELLO - ESTATUTOS DO HOMEM - Martins Fontes Editora - São Paulo - SP - 1980


http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/o-estatuto-do-homem-e-o-dia.html

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Espírito do Natal




União, união e união! A diversidade faz parte da vida e o ser humano poder ser solidário.


Festa da ABSW foi linda! Parabéns a todos e todas pela força de vontade, coragem, amizade, alegria, carinho, e MUTO amor!

Descrição da imagens: fotos dos amigos da ABSW - Associação Brasileira de Síndrome de Willians. São nossos queridos amigos e amigas: Jéssica, Tiago, eu e uma garota linda que ainda não sei o nome. E na outra foto é o Emanuel e o Alex.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 61 anos

As novas ameaças aos direitos humanos

Por Boutros Boutros-Ghali*

Paris, dezembro/2009 – No dia 10 deste mês, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completará 61 anos e são inegáveis os progressos obtidos neste período. Em particular, a associação normativa em favor dos direitos humanos não para de aumentar no mundo. Ao mesmo tempo, noto alguns perigos adversos aos esforços para fazer da proteção dos direitos humanos a linguagem comum da humanidade.

Refiro-me, em primeiro lugar, a uma refutação de tipo ideológico sobre a universalidade da Declaração de 1948, em razão de se assentar na primazia do indivíduo, enquanto para as sociedades do Terceiro Mundo – asiáticas e africanas – a preeminência corresponde aos grupos e às tribos. Este enfoque destaca que a proteção dos direitos coletivos da tribo é a condição para garantir os direitos dos indivíduos que a integram. Neste contexto, parece-me que seria um erro desprezar a importância da “tribalização” do poder, como também o seria desprezar o sentimento de segurança e harmonia que existe nos grupos majoritários étnicos, religiosos ou linguísticos diante da incapacidade do Estado de lhes dar uma tutela efetiva.

Em segundo lugar, vejo uma ameaça de cunho religioso que não se concilia com a universalidade dos direitos humanos. Refiro-me à contradição entre o conteúdo da Declaração e a sharía, o direito islâmico. Esta incompatibilidade se manifesta, especialmente, em relação aos direitos fundamentais das mulheres, à liberdade de conversão de credo religioso e à aplicação de penas corporais. O mais grave é que a corrente salafita fundamentalista muçulmana considera a defesa dos direitos humanos como uma ingerência neocolonialista que constitui uma nova cruzada contra o islamismo. Este sentimento é, por sua vez, exacerbado por uma atitude anti-islâmica que prevalece no mundo ocidental desde os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York, o que faz com que cada muçulmano seja visto como um terrorista ou um eventual terrorista.
Coloco em terceiro lugar uma ameaça cuja importância diminuiu, mas ainda permanece vigente e pode fazer ressurgir a expansão das duas novas superpotências, China e Índia. Refiro-me à chamada “exceção asiática”, uma corrente que predominou na conferência regional da Ásia e do Pacífico sobre os Direitos Humanos, que aconteceu em Bangcoc dois meses depois da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, realizada em Viena em junho de 1993. Aprovada por mais de 40 representantes de governos da Ásia e do Pacífico, a Declaração de Bangcoc é a afirmação coletiva de uma perspectiva asiática sobre os direitos humanos, segundo a qual esses direitos devem ser enquadrados nas particularidades históricas, culturais e religiosas dos países do continente.
Menciono por último uma corrente revisionista, que pensa que a Declaração Universal dos Direitos Humanos precisa ser atualizada e modificada em relação aos progressos e às evoluções ocorridos nestes 61 anos, que implicaram mutações na comunidade interestatal confrontada com a globalização. Esta corrente se reforçará ao longo dos próximos anos e das conseguintes novas e contínuas mudanças tecnológicas nos aspectos sociais, econômicos e culturais.
Tudo isto se enquadra no que para mim é o maior desafio à universalidade dos direitos humanos: a fratura econômica e social do planeta. É necessário recordar que quase dois bilhões de pessoas lutam pela sobrevivência cotidiana com apenas um ou dois dólares por dia? É necessário recordar que a cada dia morrem 35 mil crianças por desnutrição? Diante da tragédia de tantas crianças, mulheres e homens que sofrem e morrem, se impõe do modo mais insuportável a realidade de que, embora todos os seres humanos sejam iguais, a história continua nos tratando como se não o fôssemos e ergue barreiras econômicas e sociais entre nós.
Este sentimento de injustiça indica um progresso na consciência humana. A passagem da comprovação destas desigualdades à ação para eliminá-las pode-se cumprir, em parte, graças à afirmação universal dos direitos humanos. Este conceito é a premissa para passar da moral ao direito e estabelecer escalas de valores e de normas jurídicas sobre as atividades humanas que constituem a base para julgar as atitudes humanas e o comportamento do poder. A defesa dos direitos humanos é, sem dúvida, a melhor resposta à desregulamentação generalizada que nos ameaça. Porém, não deve se limitar a um combate solitário que se transforme em um fim em si mesmo.

* Boutros Boutros-Ghali foi Secretário-Geral das Nações Unidas no período 1992-1996.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Prefeitura de Cotia abandona contribuintes depois de forte enchente

A tragédia aconteceu 25/10/09, quando uma forte chuva, causou uma grave enchente que destruiu várias casas da comunidade do Jardim Recanto Suave, em Cotia (na grande São Paulo), principalmente, a do Marcos dos Santos, 36 anos, paulistano.
Ele passou por momentos de desespero, quando ficou preso dentro da casa com a água invadindo rapidamente e com muita força. Parecia uma piscina sendo cheia com água suja, com esgoto misturado, e muita lama.
Marcos, que tem deficiência fícica (sequelas de póliomielite), ficou em pé muito tempo, dentro da água gelada que subiu até o seu peito, tentando salvar o que conseguia. Mas graças aos grandes amigos que lhe ajudaram muito, sobreviveu.
Marcos é noivo de Leandra Migotto Certeza (jornalista com deficiência física), e perdeu quase tudo o que conseguiu conquistar com muito esforço a vida toda. Sua cama e colchão; mesa do computador; todas as roupas e sapatos; cômoda; mesa da cozinha; aparelho de som; todos os mantimentos e alimentos; e geladeira e fogão foram danificados pela água; além de outros móveis e ultensílios domésticos.
Muitas casas foram completamente destrúidas no Jardim Recanto Suave, e familias inteiras estão desabrigadas até agora. A Prefeitura de Cotia nada fez. Distribuiu cestas básicas com leite vencido, colchões finos, cobertores puídos, e recolheu o que chama de 'entulho', mas é o que estas humildes familias conseguiram durante toda da vida.
Assitam ao vídeo que mostra o estado de calamidade que se encontra a casa do Marcos: http://www.youtube.com/watch?v=JRqDUKCYmVc

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Comunicadores! Leiam o artigo ultra importante e fundamental

Queridas amigas e queridos amigos,
Hoje eu recomendo o fenomenal artido do Jorge Márcio, meu amado 'ídolo'.
É um tapa na cara com luva de pelica a todos e todas que se dizem saber o que falam e escrevem sobre as pessoas com deficiência na mídia!
Boa leitura! O blog Info ativo defnet é ótimo! Acompanhem sempre. Vale muito a pena.

Artigo: "POR UMA MÍDIA QUE SE PREOCUPE COM SUA LÍNGUA...e as possíveis consequências ético-político-estéticas de sua responsabilidade social".

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Tensão entre exclusão e inclusão da pessoa com deficiência.


Segundo a mitologia grega, Procustro obrigava todos os viajantes, aprisionados entre Mégara e Atenas, a deitarem sobre dois leitos com tamanhos padronizados. Aqueles que ultrapassavam a medida estabelecida tinham parte de seu corpo decepado e os que não a atingiam eram violentamente esticados.


Foto de Guga Dorea
Por Guga Dorea* - Equipe Inclusive - http://www.inclusive.org.br/?p=12853.

O dia internacional da pessoa com deficiência, 03 de dezembro, colocou mais uma vez na agenda de debates o problema da exclusão social. Na prática, a luta pela inclusão no sistema regular de ensino e no mercado trabalho, que está a todo vapor em todo o mundo, vem questionando um traço problemático da cultura moderna: o de tratar toda diferença como um problema a ser equacionado ou mesmo negligenciado e abandonado à sua própria sorte.
Outra visão, não menos negativa, é ver esse “diferente” como incapacitado para caminhar sobre seus próprios pés e, portanto, passível apenas de cuidados e proteção, além de não poucas vezes tratado como um perigo a ser isolado do convívio social. Tal perspectiva nos faz lembrar do “mito dos leitos de Procustro”. Segundo a mitologia grega, Procustro obrigava todos os viajantes, aprisionados entre Mégara e Atenas, a deitarem sobre dois leitos com tamanhos padronizados. Aqueles que ultrapassavam a medida estabelecida tinham parte de seu corpo decepado e os que não a atingiam eram violentamente esticados. Esse exemplo serve para nos mostrar que em todos os períodos da História desenvolveram-se padrões e modelos dominantes de vida.
Foi no período conhecido como modernidade, entretanto, que esse processo excludente se institucionalizou. Para que o ideal de produção em série pudesse se concretizar, com a rapidez esperada pelos novos detentores do poder, era preciso estabelecer o lugar de cada um nesse vertiginoso crescimento do capitalismo. Desde pelo menos o século XVI, um modelo de vida burguês vai se delineando no que se habituou a chamar de processo civilizatório. Nesse contexto, aqueles que não se adequassem a esse novo leito de Procustro foram classificados como degenerados de um sistema, que sempre se pautou pelas idéias de racionalidade e homogeneização.

No início do atual sistema, não havia sequer a distinção entre a hoje categorizada como deficiência e a doença mental. Com poucas exceções, entre elas os surdos e cegos da elite burguesa e os oriundos da nobreza, que tinham um certo acesso à educação especial, todos os outros eram jogados nos chamados asilos correcionais ou em hospícios e prisões. Os posteriormente rotulados como “deficientes mentais” foram concebidos, na maioria das vezes, como incapazes de aprender e de se adaptarem às exigências do desenvolvimento industrial e do mercado de trabalho, além de serem vistos muitas vezes como perturbadores da ordem social.
Esse total desprezo só começa a mudar em meados do século XIX, quando a educação especial se estende à hoje chamada pessoa com deficiência intelectual. No Brasil, só no início do século XX que essa instituição começou de fato a sair do âmbito filantrópico-assistencial. Por outro lado, o modelo estabelecido passou a ser o clínico, ampliando-se o estigma de que deficiência é doença passível ou não de cura.

É importante descrever todo esse processo excludente para mostrar que a idéia de inclusão, na História da humanidade, é bastante recente. Na Europa e nos EUA essa discussão se remete ao fim da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, ela ganha peso com a Constituição Federal de 1988 e com a assinatura de declarações, como a de Salamanca (Espanha), que propõe a inclusão escolar.
Outras conquistas sucederam-se, sobretudo a partir da luta de movimentos de pais e educadores, mas ainda temos muito por fazer. Isso porque, além da não compreensão e mesmo resistência de parte da sociedade e do próprio poder público, há os que confundem incluir com a necessidade de adequação daquele que é visto negativamente como diferente a um suposto modelo de normalidade. E só dessa forma se candidatar a entrar para o seleto clube dos “iguais”, podendo significar a reprodução, mesmo que de forma sutil, de um passado de exclusões.
Como bem disse o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, é importante lutar pela igualdade quando a diferença nos inferioriza, mas temos que lutar pelo direito à diferença quando a igualdade nos descaracteriza. É preciso então romper com o estigma de que de um lado estão os “iguais” e de outro os “diferentes”. Nunca é demais lembrar também que vivemos em um sistema eminentemente excludente e seletivo. E que a escola tradicional foi criada, pelo modelo dominante, para lidar com uma fictícia homogeneidade e não com a heterogeneidade, com as singularidades inerentes a cada ser humano. O capitalismo, por sua vez, tende a classificar cada pessoa para dizer qual é seu papel hierárquico em seus tentáculos, selecionando quem pode ou não ser integrado a ele.
Segundo o educador popular e pernambucano, Paulo Freire, incluir não é colocar alguém, que está supostamente “à margem de”, para dentro de uma sociedade aparentemente estática e que não necessita de transformação. Temos, ao contrário, que aprender a olhar as diferenças, transformando nossos próprios preconceitos e desconstruindo uma cultura histórica recheada de estigmatizações. Afinal, somos todos diferentes, cada qual com seus limites e potencialidades, além de iguais em direitos, mesmo que essa lei ainda esteja apenas no papel.
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*Guga Dorea é jornalista, Doutor em Sociologia e colaborador da Inclusive. Atua hoje em dia como professor de cursos de pós-graduação em Educação Inclusiva e do curso de especialização em síndrome de Down, organizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas (CEPEC), além de pesquisador e articulista nas áreas social, educacional e inclusiva. É também integrante do Instituto Futuro Educação, uma entidade sem fins lucrativos que tem como forma de atuação projetar e propor cursos, seminários e oficinas que abrangem desde a filosofia e a sociologia da diferença até a educação democrática e inclusiva. Contato: gugadorea@uol.com.br

Guga Dorea, Andrea Paes Alberico, Carlos Alberto Cordovano Vieira, Marietta Sampaio e Thomaz Ferreira Jensen, do Grupo de São Paulo – um grupo de 12 pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ. gruposp@correiocidadania.com.br

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

AS DEFICIÊNCIAS E O KAMA SUTRA

DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - 3 DE DEZEMBRO
Foto de Jorge Márcio

Algumas aproximações e distanciamentos

Por Jorge Márcio*
Foto de Jorge Márcio
(Descrição da imagem - foto de Evgen Bavcar, fotógrafo esloveno, que é cego, que trabalha com a imagem de uma mulher e múltiplas mãos, que nomeou de EROS)(InfoAtivo.Defnet Nº 4310 - Ano 13 - 03/12/2009)

Todo ano, no dia 03 de Dezembro, devemos comemorar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

Neste ano a ONU sugere um tema: o emponderamento das pessoas com deficiência e suas comunidades em um mundo de desigualdades e multiplas barreiras, através da Metas para o Desenvolvimento Global que devem se tornar mais inclusivas.

Para reforçar este lema, e, estimulando essa comemor-ação coletiva, indo um pouco além, confirmo que o emponderamento precisa começar no mais profundo de cada sujeito em situação de deficiência, ou seja, além de plural, o direito à diferença, deve ser conjugado e apropriado no singular de cada um e de cada heterogeneidade humana. E que, para uma transformadora postura de defesa dos direitos humanos temos de fazer, qual um leitor do Kama Sutra, um exercício 'contorcionista' de nossos mais arraigados preconceitos.

No título inventado pode parecer que pretendo discorrer sobre as questões da invisibilização da(s) sexualidade(s) das pessoas em situação de deficiência , assim como a negação preconceituosa das multiplas formas de ser e estar amando e vivendo o sexo, independente e ativamente, para além de quaisquer normas ou produções de subjetividade. Talvez seja a primeira aproximação ou melhor o primeiro pré-conceito que teria de abordar ao ligar dois campos que ainda se cercam de tabus, anedotas ou de banalizações.

O título, porém, me veio à mente quando passava por uma estante de uma livraria, nela constatei que ainda há uma relação direta das questões de sexualidade, dentro do modelo Kama Sutra, apenas com os livros de Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria e campos afins, ocupando prateleiras contíguas. E ao ver que os livros, como o Kama Sutra, ainda são colocados juntos dos manuais de auto ajuda, conversei com meus próprios preconceitos.

Pensei que um dos temas a ser abordado nesse dia em que se comemora, logo após o dia de luta contra a Aids, a necessidade de "um dia para promover os Direitos Humanos de todas as pessoas com deficiência", segundo proposta da Assembléia Geral das Nações Unidas, desde 1982, poderia ser o de sua(s) sexualidade(s).Refleti, após algum tempo de 'trans-inspiração' e invenção, que a real aproximação temática do Kama Sutra, o famoso livro indiano, popularmente, associado apenas às posições para o ato sexual, transformado no mundo moderno em apenas um "manual" para o sexo, embora possa ser uma constatação reducionista, seria uma boa provoca-ação.

Minha reflexão tem mais a ver com a questão da indispensável desmitificação dos dois campos:
tanto o das deficiências como o modo indiano de ver o que consideravam seu erotismo sagrado, ou seja a busca da 'kama' ou o gozo dos sentidos. Ambos, submetidos a um olhar naturalizador, já foram e são motivo ainda de muitos pré-conceitos. Como por exemplo de que o livro possa virar somente nome de Motel e de que todas as pessoas com deficiência, independentemente de sua condição, necessitam de alguém que as tutele por serem "hipo-suficientes ou incapazes''...

Estamos em tempos hipermidiatizados. Supõem, alguns, que a exibição de um corpo humano, desde suas entranhas até a suas hipererotizadas 'partes proibidas', incluam-se aí quaisquer reentrâncias ou concavidades, nos tem tornado pessoas sem quaisquer preconceitos ou falsas moralidades. Muito pelo contrário. Alguns episódios recentes nos mostram que um mero espetáculo de pernas expostas, para além de indumentárias oficiais e uniformizadas, que são exigências de um Exército ou de uma Igreja, quando ocorrem no 'seio' de uma Universidade podem gerar desde as agressões verbais e o escárnio, à transformação de uma estudante em uma nova Bola de Sebo. Seria este uma analisador histórico da uniformização do preconceito de gênero?

Este conto de Guy de Maupassant, que ironicamente veio a falecer em um hospício (1850-1892), nos traz a personagem Bola de Sebo que, por ser 'naturalmente' prostituida, acaba por salvar os seus patrícios franceses da violência na guerra contra os alemães. O conto, aparente e mera ficção, nos traz a história da mulher gorda e excluída que aceita oferecer seu corpo para o oficial prussiano, para ter uma fugaz oportunidade de visibilidade e participação social, oferecendo seu corpo sexualizado em troca da liberdade dos que a convencem de que os seus preconceitos com ela tinham, temporariamente, desaparecido.

Nosso grande Chico Buarque nos mostra em sua música a mesma história com um novo nome: a Geni,nome muito próximo de Geisy, atualizando a trans-historicidade e trans-culturalidade de nossos preconceitos, onde mesmo os que nos salvem de uma horda ou exército invasor, não se descolam de seu estigma e estereótipo. Em nossos espaços instituídos, do domicílio à caserna, da rua à escola,caso seus patrícios ou compatriotas a considerem ainda apenas uma prostituta, gorda, diferente ou então uma grotesta figura..., ou mesmo alguém a ser destaque em uma escola de samba, ao ser carnavalizada , se não a reconhecemos em nossa identidade, de etnia, cultura, língua, gênero, sociedade ou estrato social, vamos todos, como uma massa uniforme, jogar "pedras na Geni", pois ela foi "feita prá cuspir"... e "Viva a Geni"...

Me perguntaram, hoje, se há ainda, em nosso mundo atual, preconceitos com as pessoas com deficiência. Fiquei, então, a pensar sobre os combates que ainda temos de exercitar em nossos próprios corpos e vidas.Já avançamos muito, e lembrei ao jornalista que me entrevistava, dando alguns liames históricos recentes, que devemos agradecer os esforços para a ratificação da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, e sua condição de emenda constitucional e de Decreto Lei.

Disse-lhe, porém, da necessidade, pela permanência e resistência dos preconceitos arraigados às nossas condições de seres humanos e de mortais, de novas e atualizadas leis que nos ajudem em nosso processo civilizatório e evolução ético-político-estético e humanística, tendo como base a utopia e o desejo de ver nossos Direitos Humanos realizados.Reconhecendo que ainda possuímos em nosso incognoscível mundo inconsciente, antes de Freud, muito de nossos antepassados, é que fiz a conexão, para o distanciamento crítico, do que foi e é um livro como o Kama Sutra, e sua popularidade midiatizada, do que foi e é hoje considerado com um conceito de deficiência, também agora alvo de midiatização.

Acho que, talvez, tenhamos mudado algumas de nossas "posições", talvez tenhamos atualizado algumas de nossas "imagens", assim como alguns livros aprimoraram com fotografias as pinturas eróticas hindus, também construímos um novo olhar e uma ' nova imagem' das pessoas com deficiência. Porém ainda não nos aproximamos de uma leitura crítica e aprofundada do que ainda se reproduz e se naturaliza quando, negando quem nos 'salvou', já que está em seu corpo a diferença e a prova da diversidade humana, novamente e, com a natural hipocrisia, lançamos esse Outro, agora incomodo, desnecessário e "inválido", ao esquecimento ou à repulsa/exclusão.

Daí que, mesmo aplaudindo ou elogiando algumas iniciativas de normalização da diferença, principalmente através das mídias eletrônicas, continuo concordando com o poeta: Ninguém é igual a ninguém.... todo ser humano é um ' estranho ímpar'. E o sujeito com alguma situação de deficiência, por exemplo com Síndrome de Down, mesmo que apareça, por segundos, na telinha da Globo ou da Record, ainda pode ser visto apenas como 01 diferença entre muitos 'normais'...

Ainda somos uma sociedade do espetáculo, ainda há espectadores que gostam de ver 'homens elefantes' ou de 'anormais' para quem destinamos o Mal, o Pecado, o Erro, a Punição e a violência eugênica e purificadora, muito embora este seja o lugar de alienação reservado aos que não tem acesso a outros meios de comunicação e informação, como por exemplo este espaço na Internet.

Ainda há uma massa de leitores, espectadores, seguidores que precisamos sensibilizar para um olhar, uma leitura e uma escuta críticos para além do que nos é permitido pelas corporações da Idade Mídia. Por isso a Acessibilidade Universal a todos os meios e produtos de comunicação é indispensável e indiscutível. Por isso é que no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência ainda precisamos continuar dizendo: elas e nós, todos e todas, somos sujeitos de Direito e não pedimos caridade... queremos é o Respeito e não a piedade.

Foi um ato piedoso de uma personagem, a Bola de Sebo que salvou as mentes e corpos que depois, superado o medo e o perigo, lhe rejeitaram e segregaram. Podemos retroagir, como dizia Elias Canetti, ao viver a inversão do temor de sermos tocados, viramos uma massa homogênea, uma torcida, um monte de universitários uivantes, um povão ou povinho exigindo o linchamento...

Ainda somos/seremos seres presos ao narcicismo das pequenas diferenças, com muitas posturas estigmatizantes de xenofobia, homofobia, onisciência, onipotência, intolerância, pre-julgamentos e outras formas de discriminação associadas em suas gêneses sociais, teóricas, políticas ou ideológicas, que necessitam ser combatidas.

Primeiro em nossos próprios corpos, ao nos reconhecermos nas Genis, depois em nossas mentes, aos nos despojarmos de nossas "velhas posições", quem sabe lendo de cabeça para baixo o Kama Sutra, e, talvez, quem sabe depois, de nos revelar um outro modo de sentir em nossos corações, ou melhor em nossos novos modos de sentir e re-existir o Gozo, o que este estranho Outro e os Outros nos convocam e provocam na re-ação..., Quem sabe as novas suavidades?

PS- Este texto poderia, talvez, ter como título: "As nossas Deficiências Amorosas e Sexuais de que somos porta-ardores e o Kama Sutra 2.009" ... Aceito sugestões.
Copyright: jorgemarciopereiradeandrade 2009-2010 - favor citar a fonte ao retransmitir, ficando aberto o texto à intervenção e à multiplicação livre que deve ser a Internet...

Fontes de referência para o texto:

http://www.un.org/disabilities/default.asp?id=1484http://pt.wikipedia.org/wiki/Kama_Sutrahttp://www.lendo.org/bola-de-sebo/

http://tramafotografica.wordpress.com/2008/08/05/um-colega-para-evgen-bavcar/


Postado por Jorge Márcio às 23:22 em 02/12/09

http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/imagem-foto-de-evgen-bavcar-fotografo.html?showComment=1259878374647_AIe9_BEBtL7hrkmKAqoGD5YFDPzVb-chVW_cwM1osZlZdLPveiRYiINkTj08byOJ2KSmGafqu2dUMgGM9vLpMBJyxqXGsHGHwhSdbjW3m7iqb6RDiZ9RLczxstgmC4vfQJqiIuMd427xUdkuWNXLR2H3yQMFn6y1DWQ96XabNgjyHaMi8SGVXvuspqoRpaKsCBO8_HsZ1qHzDywWLERIuuGdoM5AL2BjULp2dWT_K5Hbd820biUgrGnhORHVpTOVs-4G8JN4-C17#c8249744850889137671


* Jorge Márcio Pereira de Andrade - Campinas, SP, Brazil.


Sou um cidadão brasileiro, formado em Medicina, com especialização em Psiquiatria, exercendo atividades no campo da Saúde Mental, em Psicanálise e Psicoterapia, tendo como parte de minha formação a Análise Institucional. Como parte de minha história pessoal se liga à vivência de ser pai de duas crianças com Paralisia Cerebral,Yuri -1987/2000 e Luana - 1994, tendo criado o DEFNET - Centro de Informática e Informações sobre paralisias Cerebrais, tenho uma ativa militância na defesa de Direitos Humanos de Pessoas com Deficiência. Tenho mais duas filhas, Yasmin e Isadora que, juntamente com Luana, me inspiram, desdobrado das dobras femininas, na busca de novos conhecimentos e sabedoria para um outro Mundo possivel, onde as diferenças sejam reconhecidas e possamos ecosofica e bioéticamente encontrar outros modos de VIVER, AMAR E EXISTIR...


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ser criança











































"Ser criança é ser criança

é estar criança

sendo criança



O seu mundo é todo seu

o olhar acompanha o sorriso

a ternura acompanha a beleza

a leveza acompanha a ternura

doçura de ser criança


O nome das coisas ganham significado

o significado das coisas ganham nomes

Tudo é mágico

tudo é trágico

tudo é tudo, hoje, agora e sempre

Nunca é nunca

e amanhã é ontem

Tocar, imaginar, sonhar

tudo tem o seu lugar

Ser criança é ainda não

deixar de ser criança"


Leandra Migotto Certeza - 21/07/09




Quando eu fui mãe por quatro dias

não pensei em mais nada

além de me divertir feito criança de seis anos de novo.

Esqueci de tudo nos momentos únicos de apenas sorrir junto, olhar com alegria, pensa e imaginar como é ver o mundo ainda em tamanho que cabe na palma da mão.

Sentir o perfume das emoções....


Leandra Migotto Certeza - 21/07/09
Descrição das imagens: várias fotos lindas com as nossas crianças, filhos queridos do coração!