quinta-feira, 2 de maio de 2013

“Nada sobre nós, sem nós”


Participantes da reunião estratégica sobre a Convenção, reunidos em um hotel em São Paulo. Estão na foto: Regina Atalla, Jorge Márcio, Leandra Migotto Certeza, Katia Fonseca, Sérgio Santos, Anahi Guedes, Claudia Grabois, Lais Lopes, Tina Minkowitz, Solange Carvalho, Waldir Macieira, Suely Viola e Cleide Ramos Reis.

Foto: Regina Atalla - participantes da reunião estratégica sobre a Convenção reunidos no hotel em São Paulo. Estão na foto: Regina Atalla, Jorge Márcio, Leandra Migotto Certeza, Katia Fonseca, Sérgio Santos, Anahi Guedes, Claudia Grabois, Lais Lopes, Tina Minkowitz, Solange Carvalho, Waldir Macieira, Suely Viola e Cleide Ramos Reis.

Por Leandra Migotto Certeza

“Nada sobre nós, sem nós”.

Ativistas em Direitos Humanos afirmaram em encontro que a Convenção da Organização Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência deve ser implementada com eficácia e eficiência, e monitorada ativamente pela sociedade civil com total autonomia e independência.

Mais de 40 pessoas se reuniram na cidade de São Paulo, de 17 a 19 de novembro, para discutir as melhores formas de implementação, fiscalização e monitoramento do documento mais importante em relação aos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência.

Para debater sobre o tema: “Avanços, Desafios e Participação da Sociedade Civil”, representantes de várias Organizações Não-Governamentais; líderes de movimentos sociais; juristas, promotores, procuradores, e advogados; além de comunicadores e representantes dos governos municipais, estaduais e federais conviveram em um espaço democrático e muito participativo. Juntos e juntas, pessoas sem e com deficiência física, auditiva, visual e intelectual apresentaram suas ideias e propostas, discutiram seus pontos de vista, e comentaram suas experiências, de forma clara e bem próxima da realidade cotidiana.

Todos e todas tiveram direito a voz ativamente e suas potencialidades e especificidades foram respeitadas. Intérpretes da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais garantiram a participação de pessoas com surdez, e uma equipe de voluntários (muito bem qualificada) auxiliou quem precisou de apoio para se comunicar, e se locomover dentro e fora do hotel acessível fisicamente, apropriadamente escolhido pela RIADIS – Rede Latino Americana de Organizações Não-Governamentais de Pessoas com Deficiências e Suas Famílias – http://www.riadis.net/ e pela ONG Conectas – Direitos Humanos http://www.conectas.org, responsáveis pela realização do encontro.

Brasileiros e brasileiras de São Paulo, Salvador, Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília, Chapecó, Campinas, Campo Grande, Curitiba, se uniram aos ativistas da Costa Rica, Argentina, Guiné-Bissau, México, Guatemala, e Nova York, para apresentar as principais ações de seus países, sobre o documento ratificado ou não por seus governos e que, segundo eles e elas, precisa ser seguido à risca, por meio de políticas públicas ou movimentos sociais que exijam o seu total cumprimento.

“Nada sobre nós, sem nós” e “Da teoria à prática” foram os principais lemas. A grande maioria dos participantes acredita que as pessoas com deficiência precisam ser protagonistas de suas histórias com autonomia e independência, e que a Convenção deve sair do papel e passar para a prática das ações e, principalmente, por meio de políticas públicas eficazes e eficientes. “A Convenção foi feita em equipe e com união. O trabalho mais difícil começa agora: passá-la do papel para se transformar em ações práticas e objetivas. Por isso, esperamos que o Brasil seja um exemplo de promoção dos Direitos Humanos da Pessoa com Deficiência”, afirmou Regina Atalla, presidente da RIADIS no Brasil.

Para Malak Poppovic, diretora da Conectas, “a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência precisa ser traduzida em fatos e efetividade. A sociedade civil está fazendo o seu monitoramento e apropriação do documento com o objetivo de efetivar seus direitos”. Para Luis Fernando Astorga Gatjens, do IIDI – Instituto Interamericano de Discapacidad y Desarrollo Inclusivo, a mudança mais importante que a Convenção traz é que todas as pessoas com deficiência do mundo, deixam de ser vistas pela sociedade como objetos de caridade e assistencialismo, para ser apropriarem integralmente de seus direitos com autonomia e, principalmente, protagonismo.

O que é a Convenção?

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:http://portal.mj.gov.br/corde/, foi criada pela Organização das Nações Unidas e ratificada pelo Brasil, dia 12/08/2008, junto com seu Protocolo Facultativo, assinado em 01/08/2008. É o primeiro tratado internacional com status constitucional da história do Brasil. Portanto, é uma Emenda Constitucional! No total, 128 países a assinaram. O Brasil é o 34º país no mundo a ratificá-la e o 20º a assinar o Protocolo Facultativo junto com os países efetivamente comprometidos com os direitos das pessoas com deficiência.

O principal objetivo do documento, segundo o primeiro artigo, é “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”. Além do respeito por dignidade, são princípios do documento a não-discriminação, a plena e efetiva participação e inclusão na sociedade, o respeito pela diferença, a igualdade de oportunidades e a acessibilidade.

Um dos principais pontos da Convenção é o fato de o descumprimento de qualquer item que favoreça a inclusão das pessoas com deficiência passa a ser considerado discriminação. Isso inclui, por exemplo, a acessibilidade, seja por meio de ônibus adaptados ou legendas e áudio-descrição nos programas de televisão. Além disso, a partir da ratificação da Convenção as pessoas com deficiência não podem ter sua capacidade legal retirada. Em outras palavras, fica garantido o seu direito de votar, de assinar os próprios documentos e de administrar seus bens e recursos financeiros, por exemplo.

Urgência na efetivação dos direitos humanos.

Segundo os ativistas e as ativistas presentes no encontro, muitas conquistas foram alcançadas em relação aos direitos das pessoas com deficiência, porém, os desafios são cada vez maiores, devido a urgência de se atender às necessidades básicas de sobrevivência, principalmente nas regiões mais periféricas das cidades e nas zonas ruais. De acordo com o Censo de 2000, dos mais 24,5 milhões de brasileiros com alguma deficiência (seja física, auditiva, visual, múltipla, intelectual ou surdocegueira), quase 30% é miserável e têm escolaridade inferior a um ano. Infelizmente, no Brasil, deficiência e desigualdade caminham juntos.

Por isso, o objetivo foi multiplicar e disseminar as informações sobre a realidade de quem ainda nunca consegue ser visto e ouvido. Como o caso de uma jovem de 20 anos, com incapacidade motora cerebral (deficiência física que compromete, principalmente, os movimentos e a fala), relatado por Regina Atalla. Ela foi encontrada, na Bahia, em estado grave, e completamente abandonada, devido a falta de assistência social do governo. Nunca foi atendida por um médico, e muito menos frequentou uma escola. Viveu isolada, assim como várias pessoas com deficiência no Brasil e no mundo.

A institucionalização e o descaso dos governos e da sociedade foram um dos principais temas debatidos no primeiro dia. Tuca Munhoz, representante da Pastoral das Pessoas com Deficiência da Arquediocese de São Paulo afirmou que ainda existem mais de mil pessoas com deficiência na cidade vivendo completamente segregadas em instituições assistencialistas, e muitas vezes corruptas. Domingos João Montagna, representante da Fraternidade Brasileira de Pessoas com Deficiência, de Chapecó, lembrou que existe inúmeras pessoas abandonadas nas áreas rurais, sem qualquer acesso aos serviços de saúde, entre outros.

Cleide Ramos Reis, representante do Centro de Vida Independente da Bahia, afirmou que 8,5% da população com deficiência de 14,5% existente, estão em situação de pobreza multi-dimensional. Para ela é preciso haver políticas públicas eficazes que promova a inclusão, e para isso, as pessoas com deficiência devem ter acesso gratuito às ajudas técnicas básicas, como próteses, cadeiras de rodas, aparelhos auditivos, entre outras, além das tecnologias assistivas como legendas ocultas na TV, áudio-descrição e intérpretes de LIBRAS nas escolas, por exemplo.

Fonte: http://www.inclusive.org.br/?p=18103
Data: 02/12/2010

Grávida de vida



Descrição da imagem: Leandra, uma jovem com deficência física – que atinge sobretudo seus membros inferiores (ela tem baixa estatura) – beija os lábios de um rapaz também com deficiência física que se apóia em uma muleta. Eles estão na areia da praia em trajes de banho.

Por Kátia Fonseca

Trago, hoje, para a nossa companhia aqui no blog, Leandra Migotto Certeza, a gatinha aí dessa foto (dando uma bitoca no noivo). Como a maioria dos jovens, Lê é superativa, quer pegar o mundo com as mãos (e muitas vezes consegue!) e, melhor de tudo, acredita que pode mudar a sociedade em que vive. Escolheu ser jornalista e, com seus textos e ideias, está fazendo bem feita a sua parte na construção deste mundo melhor. Um exemplo da sensibilidade e lucidez da Leandra eu mostro aqui, no texto Grávida de mim mesma. Leiam, se emocinem e acreditem no poder da geração jovem, com ou sem deficiência. 


Grávida de mim mesma

Por Leandra Migotto Certeza

Estou grávida de mim mesma. A concepção aconteceu tão rápido que eu nem me dei conta que o óvulo foi fecundado há mais de 14 anos, depois de muitas tentativas imaturas. A gestação é dolorida e pesada, e está só começando… 


O embrião se contorce a cada nova descoberta. A respiração fica mais lenta ou acelera a cada novo choro convulsivo ou abafado. O medo e a insegurança dão lugar a novas descobertas. 

Conhecer a si mesmo no mesmo ritmo que se sente é complicado, mas parece o jeito mais sólido e intenso de se transformar e evoluir. Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física! Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos. 

Queria estar no lugar de quem tem um corpo diferente do meu. Tenho o direito de desejar ser outra pessoa, e como é bom! Não preciso bancar a conformada, aceitar a roupa de heroína (que me colocaram) ou me afundar no poço da depressão. Escolhi o caminho do meio. 

Eu não posso fazer amor com tanta volúpia, e em posições que sempre sonhei; mas posso ter orgasmos estupendos! Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam e habitarão o meu coração. 
Crescer é isso… Lidar com frustrações o tempo todo. Saber que a resiliência é o nome bonito que deram para a capacidade de amar. Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos. 

Eu tenho 96 cm, e o tamanho de quem eu queira ser, a cada novo amanhecer. Eu tenho o direito de me revoltar, quebrar vidraças internas, gritar bem alto e depois adormecer no colo do meu amado. 

Fui poupada de tantas dores que a ferida só aumentou. A culpa não existe. É um sentimento idiota que o ser humano inventou para se auto-punir, por temer se olhar no espelho. 

Religião é re-ligar, e não desligar o ser da realidade da sua imperfeição. Mas o melhor mesmo é encontrar um significado novo, a cada dia, para o que podemos ou não conseguimos. 

O processo de crescimento é lento, mas tem raízes, tronco, caules, folhas, flores e frutos. Muitos frutos! Não é infértil. É grávido de vida. O meu auto-conhecimento se intensificou com a pancada da impossibilidade de não engravidar nunca. 

O meu conhecimento sobre a vida; se multiplica cada vez que eu aprendo a me adaptar às potencialidades; e me dou o direito de vomitar o que sei que posso transformar, mesmo que ainda seja indigesto. 



Data: 09/02/2010

Artigo sobre diversidade humana


A Vida é Diversa

12/09/2008 - Leandra Migotto Certeza. 

Diferenças e Cidadania.

Em 1948, a Organização das Nações Unidas - ONU - proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No art. 1º está escrito que: "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos". O art. 5º da Constituição Brasileira, em 1988, reforça que: "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". 
A mesma organização formulou, em 1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, que diz em seu art. 3º: "as pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar uma vida decente". E em seu art. 8º está escrito que: "as pessoas deficientes têm o direito de ter suas necessidades especiais levadas em consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social".
Sendo assim, todas as diferenças inatas aos seres humanos precisam ser respeitadas, primordialmente o direito a cidadania. Mas na prática isso ocorre?
Segundo a ONU, existem 625 milhões de pessoas com alguma deficiência (adquirida ou não), seja ela: física, auditiva, visual, intelectual, surdocegueira, e/ou múltipla (união de duas ou mais deficiências) no mundo. É um décimo da raça humana! Só na União Européia existem 37 milhões de pessoas com deficiência. O censo de 1995, dos EUA, registrou 20% de pessoas com deficiência.
Um dos maiores problemas é que 80% (400 milhões) vivem em países subdesenvolvidos (79 milhões na América Latina e no Caribe, 65 milhões são pobres no continente africano), fato esse que potencializa a deficiência em virtude, principalmente, da falta de equiparações de oportunidades.
Estudos recentes do Banco Mundial indicam que a proporção de pessoas com deficiência dentre as mais pobres do mundo é de uma em cada cinco. A cada quatro famílias, uma tem um membro do seu círculo imediato com uma grave condição de deficiência. O ônus para essas pessoas e suas famílias em sociedades pobres é enorme.
Além disso, infelizmente, 114 milhões de mulheres e meninas no mundo, terrivelmente ainda são submetidas à mutilação genital, o que pode levar a deficiências severas, à infertilidade e à morte. Trezentas mil crianças são atingidas pela poliomielite a cada ano. Já segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a desnutrição também ainda causa deficiência em 1 milhão de pessoas, anualmente no planeta. 
O pior é que segundo a mesma organização internacional, em alguns países, 90% das crianças com deficiência não passarão dos 20 anos de idade, e as com deficiências intelectuais não sobreviverão além dos 5 anos de idade.
A Organização Internacional do Trabalho - OIT também relata que: três pessoas por dia adquirem alguma deficiência. São vítimas dos mais de 476 acidentes de trânsito ou trabalho, e assaltos com armas de fogo que ocorrem por minuto no mundo! 
As perdas econômicas associadas às doenças e acidentes de trabalho beiram 4% do Produto Interno Bruto mundial (US$ 1.94 trilhão de dólares), e o saldo de vítimas é superior à soma das baixas de todas as guerras do planeta!
Em nosso país, segundo o Censo Demográfico 2000, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24,6 milhões de pessoas (14,5%) possuem alguma deficiência. Sendo que 17,5% são negros, 17,1% índios, e menos de 14% são brancos e amarelos.
Em outubro de 2003, a pesquisa "Retratos da Deficiência no Brasil" - feita pelas Fundações Getúlio Vargas/RJ e Banco do Brasil - revelou que 27% das pessoas com deficiência não têm nenhum grau de instrução, e 33,9% têm menos de três anos de escolaridade. São 6 milhões de crianças com deficiência, sendo que apenas 80 mil estão na escola. 
Além disso, 29% vivem em situação de miséria, e os que trabalham recebem cerca de US$ 40,00 (quarenta dólares) a menos que a média dos brasileiros. Existem 63% de homens e 37,2% de mulheres empregadas sem deficiências, contra 51,8% de homens e 27,3% de mulheres com deficiências.
A cada 100 brasileiros, 14 pessoas apresentam alguma deficiência. Qualquer um de nós, a medida em que o tempo passa, tem mais chances de ingressar nessa parcela da população. 
Hoje existem 15 milhões (8,6% da população) com mais de 60 anos, e em 2020 o índice aumentará para 15%. A partir dos 40 anos, mais de 20% das pessoas já possuem deficiência. Como o brasileiro vive em média 68 anos, e a esperança de vida sem incapacidades é de 54 anos, a população viverá 14 anos com alguma deficiência. São 41 milhões de cidadãos, somando pessoas com deficiência e idosos.

Realidade.

E em todas as partes do Brasil as pessoas com deficiência ainda são desfavorecidas economicamente e financeiramente, pois a elas ainda é negado o acesso à saúde, educação, transporte, trabalho, esporte, lazer, moradia, informação, comunicação, independência, autonomia, participação política e o total controle sobre a própria vida!
Segundo o saudoso Rui Bianchi do Nascimento, comunicador e militante social: "são vítimas de violações aqueles que estão privados de sua liberdade por não terem uma cadeira de rodas, uma rampa para atingir um local público ou um transporte adaptado; também aqueles que não têm acesso à educação por não contarem com meios adequados de comunicação ou facilidades de acesso ao meio físico, e aqueles desempregados que são tratados como seres de segunda categoria em países pobres do mundo".
Especialistas do Banco Mundial alertam que nas políticas de cooperação para o desenvolvimento e de redução da pobreza, as pessoas com deficiência são mantidas numa espécie de invisibilidade e excluídas dos programas de desenvolvimento.
O quadro das causas da deficiência ligadas aos países em desenvolvimento tem na pobreza um fator central e também decorrências, como má/falta de alimentação (inclusive na gestação), péssimas condições de higiene e saúde (pública e individual), falta de informações sobre prevenção e cuidados pessoais, más condições de moradia, baixo nível educacional, altos índices de desemprego e/ou subemprego.
Os riscos de acidentes perinatais são várias vezes superiores aos dos países mais desenvolvidos. Já as causas das deficiências relacionadas aos países desenvolvidos se referem à violência urbana, acidentes de trânsito e de trabalho, enfermidades cardiovasculares e cerebrovasculares, consumo excessivo de drogas; estas últimas responsáveis por altos índices de problemas psiquiátricos e emocionais, além de também gerar crianças com deficiência e contribuir para um círculo vicioso de violência, stress, falta de perspectivas, e acidentes.
Os mesmos especialistas afirmam que existem vários dados que comprovam a relação entre deficiência e pobreza:
  • distribuição:

    • 70% das pessoas com deficiência vivem nos países pobres do hemisfério Sul;
    • infância, 87% das crianças com deficiência vivem nos países do Sul;
  • demografia:

    • o número de pessoas com deficiência aumentará 120% nos países do Sul nos próximos trinta anos. No mesmo período, o índice de aumento do número nos países do Norte será de 40%;
  • deficiência e envelhecimento:

    • tanto no Sul como no Norte, o maior aumento da quantidade de pessoas com deficiência será nos grupos de idade mais avançada, particularmente entre as pessoas de 65 anos e mais. Em algumas regiões, deve-se considerar o impacto do HIV/AIDS nessa situação;
  • nível de gravidade:

    • nos países pobres as pessoas com deficiências moderadas podem começar a apresentar deficiências graves, devido à impossibilidade de conseguir equipamentos, ou à ausência de serviços de reabilitação. Referimo-nos a coisas que, nos países mais ricos, precisariam apenas de uma retificação (por exemplo: os exames de vista e receita para óculos, a detecção precoce, e a operação para corrigir a fenda palatina).
    • Assim, as deficiências moderadas tornam-se mais visíveis e comuns nas regiões pobres. Por outro lado, nos países do Norte as pessoas com deficiências graves recebem tratamento médico adequada, o que aumenta sua esperança de vida; no Sul, contribuem para a já elevada taxa de mortalidade;
  • correlação com problemas de saúde e epidemias:

    • as patologias como o HIV/AIDS, os problemas de saúde mental, a tuberculose, a malária crônica, a mutilação feminina, os traumas psicológicos presentes nas situações de conflitos e entre refugiados/as podem significar o início de uma deficiência que, posteriormente pode levar à exclusão e à discriminação.
    • se essas pessoas forem incluídas, os índices de prevalência serão mais elevados. Porém ainda, cria-se um "ciclo da invisibilidade" das pessoas com deficiência que obedece à seguinte lógica: há "pessoas invisíveis" por terem deficiência, "escondidas no quartinho dos fundos", por isto afirma-se que "não é um problema nesta comunidade", a comunidade não as inclui como prioridade, por isto não há serviços, não há inclusão, por isto "continuam a discriminação e a falta de conscientização", e assim o ciclo se perpetua.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), vinte milhões de pessoas cegas no mundo poderiam ter sua visão recuperada com cirurgias de cataratas? Um terço de todas as deficiências do planeta poderiam ter sido evitadas ou curadas? 
Para que essa triste realidade deixe de nos envergonhar, além de políticas de saúde públicas (prevenção e reabilitação) eficazes, o que precisa ser alterado é a visão assistencialista e demagógica em relação ao potencial desses cidadãos.
Quem nasce ou adquire alguma deficiência não quer pedir favores e nem obter privilégios. Por isso, não pode ser tachado de especial ou herói, sendo super valorizados e nem tão pouco discriminado. Deve ser tratado com dignidade e respeito na medida de suas diferenças.
A psicóloga e deficiente física, Suely Harumi Satow explica que: "todos somos UNIVERSALMENTE iguais como seres humanos, PARTICULAR E SINGULARMENTE DIFERENTES. 
Todos os homens, independente da cor, nacionalidade, sexo, religião, etc. são em sua totalidade, universalmente humanos. Mas estes são divididos segundo as suas particularidades, ou, diferenças, como cor, raça, nacionalidade, sexo, religião, com deficiências ou não.
E há, ainda, as diferenças de cada pessoa, porque nenhuma é igual à outra, o que remete à diferença singular. Precisamos ver que o negro, a mulher, o índio e outros segmentos sociais estão lutando pela sua dignidade, respeito e direito pelas suas diferenças específicas, para com isso serem respeitados na sua humanidade, assim como as pessoas com deficiência".
Seguindo a mesma linha de raciocínio - a da Inclusão - o consultor Romeu Kazumi Sassaki, afirma que é preciso: "identificar nas diferenças todos os direitos que lhes são pertinentes, e a partir daí encontrar medidas específicas para o Estado e a sociedade diminuírem ou eliminarem as restrições de participação (dificuldades ou incapacidades causadas pelos ambientes humano e físico contra as pessoas com deficiência)". Porém, observe como essa visão assistencialista, infelizmente, ainda predomina em nosso país...

Você já se perguntou...

Onde estão as pessoas com deficiência?

Feche os olhos, e tente lembrar a última vez que você viu um cego. Foi pedindo esmola como sempre é mostrado nos filmes ou trabalhando em uma empresa? Seu colega de trabalho costuma associar a idéia de incapaz a uma pessoa que não anda com as próprias pernas? Pense como deve ser apenas poder ver TV e não entender o que se está dizendo. Imagine como deve ser não conseguir entrar em um ônibus por causa da largura da porta...
Você só pensa: - Que loucura!", quando vê uma mulher grávida em uma cadeira de rodas? Ainda acha que olhar para um rosto diferente (ou incrivelmente ainda chamado por alguns de deformado) é contagioso? Só sente pena ao ver um grupo de crianças daquela instituição de caridade - que você ajuda só no final do ano - brincando em um parque de diversões junto com seus filhos? Você ainda pensa que quem tem um déficit de inteligência não pode conviver com seus irmãos?
Ainda conhece alguém que, terrivelmente, associa o termo pejorativo aleijado à imagem de quem usa uma cadeira de rodas? Pense: porque a sociedade acha que quem possui o rosto ou corpo - fora do padrão de estética seguido por modelos - não pode usar uma roupa bonita e confortável? Alguma vez, sua amiga evitou dirigir a palavra a quem usa um par de muletas, com medo que ela fosse sempre pedir algum favor? 
As pessoas de baixa estatura ainda te assustam muito? Você ainda tem receio de contratar (se houver uma vaga, é claro!) um funcionário com deficiência auditiva em sua empresa, pois não sabe qual será a reação das pessoas? Você já percebeu como a experiência não é mais valorizada na maioria das empresas, e consequentemente, as pessoas idosas não conseguem mostrar suas habilidades?
Caso todas as suas respostas foram no mínimo imprecisas, não se espante e muito menos se culpe, pois você ainda faz parte de uma sociedade preconceituosa e cheia de paradigmas. Afinal, desejamos sempre ser um super-herói, não é? 
Creio que a beleza e o perfeito são sonhos impossíveis, que todos os seres humanos desejam transformar em realidade, pois somos imperfeitos por natureza. Mas ainda bem que a perfeição é somente um paradigma que criamos e, portanto, temos o fantástico poder de alterá-lo, no momento em que desejarmos!
Porém, para alterar um paradigma com eficiência, primeiro vamos conhecer em que consiste esse conceito. Segundo a mestre em psicologia social e doutora em psicologia clínica pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Ana Rita de Paula: "ele está ligado à idéia de modelo, padrão, significa no âmbito social determinada conformação de pensamentos, atitudes e condutas adotadas em cada momento histórico, de acordo com a organização política e cultural vigente. 
O paradigma, por sua vez, vai articular um complexo de idéias e conceitos dominantes na sociedade, variando no tempo e no espaço e desqualificando outros discursos anteriores ou simultâneos" .
Sendo assim, muitos estudiosos apontam os processos históricos como a razão (que por sinal não tem nada de racional) para os mais de vinte séculos de ostracismo que as pessoas com deficiência sofreram, e consequentemente, a parcela da sociedade que não têm alguma deficiência também, pois perdeu a oportunidade de conviver com essas pessoas.
Somente após a Segunda Guerra Mundial, quando se começou a reabilitar os soldados americanos feridos, alguns países se preocuparam com os direitos das pessoas com deficiência. 
E a Constituição Brasileira elaborada em 1988 só reconheceu sua cidadania ao menos no papel. Portanto, muito mais do que puro preconceito (não o abolindo em determinadas situações), nossa Nação viveu completamente alienada das particularidades de pessoas que simplesmente não tinham (e ainda estão lutando muito para conseguir) condições de se apresentarem ao mundo como são.

Sonho ou Realidade?

Após ler esses fatos, você supõe que hoje em pleno século XXI, pessoas com deficiência já são vistas como cidadãs, com direito à autonomia e independência, não é? Então, pense se hoje o mundo proporciona a elas condições - materiais, legais, econômicas, políticas, sociais e educacionais - de viverem em pé de igualdade com as que não têm alguma deficiência aparente?
Para lhe ajudar nesse exercício, sugiro que comece respondendo algumas questões: o elevador do prédio onde você mora, tem os números dos andares em Braille, (sistema usado para os cegos lerem)? O caixa do seu banco está em uma altura acessível para quem usa uma cadeira de rodas? A rua, de sua vizinha, tem as guias das calçadas rebaixadas? O banheiro do seu clube é adaptado com barras de apoio, portas largas e vaso sanitário mais alto? A empresa, onde seu filho trabalha, tem elevador?
O hospital público da sua cidade é fisicamente acessível a todas as pessoas, sejam elas idosas, obesas e/ou gestantes? Todos os ônibus do seu Estado têm plataformas elevatórias, ou permitem embarque em nível sem degraus, por meio de rampas? 
As estações de metrô dispõem de sinalizações visuais adequadas para orientar as pessoas surdas? As calçadas têm pisos táteis para alertar àqueles com deficiência visual que ali existe uma travessia? O museu que você frequenta tem rampas e/ou elevadores? Os cinemas dispõem de lugares, onde uma pessoa em uma cadeira de rodas e/ou obesa possa ser confortavelmente acomodada?
Suponho, que a maioria das suas respostas foram negativas. Como você pôde observar, infelizmente, as pessoas com deficiência ainda passam por inúmeras discriminações, e muitas vezes, não conseguem mostrar ao mundo do que são capazes, simplesmente por falta de equiparações de oportunidades, como políticas afirmativas de inclusão.
As principais políticas de inclusão são as leis e campanhas relativas a este segmento populacional, e as tecnologias assistivas e/ou ajudas técnicas podem ser: órteses (muletas ou andadores) e próteses (membros artificiais); sintetizadores de voz para computadores; sistema de leitura e escrita Braille, legenda oculta na TV, livros falados; lupas; regletes (aparelho usado para os cegos escreverem com letra corrente), telefones com sistema TDA (para surdos), entre outras. 
Também é necessário existirem intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais); acessibilidade física (rampas, elevadores, portas largas, aparelho para digitar com a cabeça, etc.) e virtual (sites da internet acessíveis); cães-guia (animais treinados para guiar pessoas cegas); e outros recursos que garantam total autonomia e independência às pessoas com deficiência.
Observe como essas equiparações de oportunidades ainda não é uma realidade. Os bebedouros dos parques de diversões, que você leva seus filhos para passear, são acessíveis para uma senhora em cadeira de rodas? A pista de dança daquele bar (que você costuma ir aos fins de semana) é acessível a todos, ou quem tem dificuldades para andar ainda precisa ser carregado pelos seguranças? 
Seus filhos têm colegas surdos e/ou com deficiência de aprendizado na sala de aula? Nos estacionamentos dos shoppings existem vagas localizadas (perto da entrada) com um distanciamento suficiente para quem usa andador conseguir sair sozinho do carro? A empresa que você trabalha tem sistemas de alarme sonoro e visual?
Suponho, que a maioria das suas respostas também, infelizmente, foram negativas. Sabe por quê? Somente a partir de 1960 surgiram os primeiros movimentos organizados, principalmente por familiares de pessoas com deficiência, com críticas à discriminação. Pesquisas e teorias sobre a melhoria das condições de vida dos feridos de guerra surgiram, timidamente, nos EUA somente a partir dos anos 70.
Porém, a tônica ainda era que a Instituição Especializada deveria proporcionar o errôneo "treinamento" das pessoas com deficiência para a vida cotidiana, propiciando experiências o mais próximo possível de uma vida considerada "normal" para aquela sociedade. 
Explico: quem tem alguma deficiência é que deveria se adaptar a sociedade, mesmo que para isso, enfrentasse inúmeras barreiras físicas e psicológicas, pois sua deficiência naturalmente não se alteraria. Por exemplo, um cego não voltaria a enxergar ou um paraplégico a andar.
Nesta época, a sociedade não se responsabilizava por equiparações de oportunidades como as descritas acima, mesmo que a tecnologia já fosse avançada. Além disso, ainda hoje as evoluções científicas se restringem a um número ínfimo de pessoas que possuem um alto nível econômico.
Só a partir da década de 90, criam-se condições (ao menos na teoria) para respeitar às diferenças e às necessidades de cada um, deixando de igualar todos institucionalmente. É o início da Inclusão, momento em que o conceito de deficiência se altera. Vejamos como isso ocorre.
"a partir da concepção das deficiências como diferenças humanas, e em oposição às práticas corretivas tradicionais, a utilização de instrumentos e artefatos culturais inicia um novo processo que reconstrói funções - como a da linguagem e da comunicação - e promove a acessibilidade ao ambiente e ao contexto social em prol do desenvolvimento humano. Não é o sujeito que precisa adaptar-se à sociedade e sim a sociedade que precisa adaptar-se às especificidades dos indivíduos". É por isso que hoje, a tendência é criar espaços acessíveis a todos, inclusive às pessoas com deficiência.

Legislação.

O correto seria que todas as respostas em relação às equiparações de oportunidades voltadas para as pessoas com deficiência fossem positivas, pois desde 1968 existem mais de 42 instrumentos legislais federais, entre decretos, portarias, leis, e instruções normativas que garantem - ao menos no papel - os direitos de cidadãos que pagam seus impostos e cumprem com seus deveres! 
Toda a legislação em relação as pessoas com deficiência se encontra no link: www.saci.org.br/?modulo=akemi&ammp;parametro=15382Site Externo. Sem contar os mais de 23 documentos internacionais que o Brasil é signatário desde 1955, onde os direitos das pessoas com deficiência são reafirmados, principalmente, a já mencionada Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em 2006, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. O Brasil ratificou, em 2008, o mais importante tratado em relação às pessoas com deficiência feito no mundo. Pois com intensa participação brasileira, essa Convenção e seu Protocolo Facultativo são resultado da mobilização e do consenso de organizações da sociedade civil "de" e "para" as pessoas com deficiência, ativistas de direitos humanos, agências internacionais, bem como de todos os Estados - Partes presentes na elaboração dos textos. 
No Brasil, sua aprovação - com status constitucional - é unânime! Pois no mundo inteiro, o que inclui o Brasil, as pessoas com deficiência continuam a enfrentar violações de seus direitos humanos e barreiras contra a sua participação como membros iguais da sociedade.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo têm o objetivo de promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por parte das pessoas com deficiência. Para mudar essa situação de violações e aderir aos parâmetros internacionais definidos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo como parte de nosso ordenamento jurídico
Em meio a um aparato legal tão completo, parece simples fazer valer os direitos dessas pessoas. Mas a teoria ainda é bem diferente da prática. "Dentre 14,5% dos brasileiros com deficiência 15,22 milhões podem trabalhar, porém 7,8 milhões ainda estão desempregadas!
Segundo a Lei 7.813/89, negar emprego a alguém ou não aceitar um aluno no ensino regular, sem justa causa, por motivos derivados de sua deficiência é crime com pena de 1 a 4 anos de reclusão!! 
Já a Declaração de Salamanca - documento internacional publicado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) - em 1994 afirma que: "as escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiência ou superdotadas, crianças da rua ou que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades, de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais"?
Porém, em nosso país, segundo o Ministério da Educação, de cada 100 estudantes com deficiências, 29 deles assistem a aulas em classes comuns, um total de 300 mil. Ainda é um pequeno resultado, mas é um crescimento de 30,6% em relação ao Censo de 2002.

O que é deficiência, inclusão e desenho universal?

Para tentar entender o que significam estes conceitos, coloque-se apenas um minuto no lugar de quem tem uma deficiência! Relembre as questões sobre acessibilidade do subtítulo anterior. Creio que suas respostas são suficientes para observar como é difícil viver sem Desenho Universal, conceito que analisaremos mais adiante. Agora, o que você acha mais oneroso, prevenir ou remediar?
Arquitetos afirmam, que o investimento na construção de espaços seguindo a NBR 9050 ( www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/normas_abnt.aspSite Externo.) elaborada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT é menor do que adaptar os locais depois de construídos. Porém, é obrigatório que todos os lugares públicos ou privados sejam acessíveis, independentemente de quando foram construídos.
O brasileiro é tão criativo, pois a maioria das adaptações feitas para as pessoas com deficiência são com materiais simples, ecológicos, e principalmente muito econômicos. Como exemplo, temos as prefeituras de cidades históricas tombadas pelo governo, como Olinda, que estão encontrando soluções para que prédios antigos sejam visitados por todos os cidadãos (mais informações: facilacesso@crea.org.br). E sabem, por quê?
A acessibilidade não atrapalha em absolutamente nada a vida de quem não tem deficiência. E serve para qualquer pessoa, inclusive: obesos, idosos, gestantes, mães com crianças no colo, ou pessoas que estão temporariamente usando um par de muletas, porque quebrou um pé, por exemplo. 
Então, não seria muito mais confortável deixarmos de levantar o carrinho do bebê para conseguirmos subir uma guia? Uma porta mais larga nas agências bancárias vai mudar alguma coisa em sua vida? Subir uma rampa em vez de uma escada, faz alguma diferença para que você consiga entrar no supermercado? Um elevador que tem dispositivo de voz anunciando os andares, também não seria útil para idosos com dificuldades visuais? Crianças não terão mais facilidade em alcançar um bebedouro mais baixo?
Sabe porque todas as suas respostas (eu presumo) foram positivas? "Pois o conceito de Desenho Universal parte do que há de comum entre as pessoas: as potencialidades e a diversidade. Ao invés de se dar ênfase na adaptação do indivíduo aos espaços, procura-se equiparar as oportunidades, em locais propícios ao desenvolvimento de todos, respeitando-se as características humanas das diferenças, pois as pessoas são naturalmente diversas".
Deficiência é a diferença humana - que por suas singularidades - requer atenção as suas especificidades quanto à forma de comunicação e de mobilidade, de ritmos e estilos de aprendizagem, bem como das maneiras diversas de construir o conhecimento e os relacionamentos sociais. Hoje a deficiência é vista como um fenômeno relacional social e historicamente construído, apresentando uma perspectiva diferente da concepção tradicional, centrada no aspecto de falta na fisiologia humana. 
Em 2002, a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde -http://hygeia.fsp.usp.br/cbcd/cifWeb.htmSite Externo. ) da Organização Mundial de Saúde re-classificou as diversas deficiências. A CIF mede a capacidade dessas pessoas em diferentes níveis de dificuldades relacionadas às tarefas do cotidiano, e não somente avalia a incapacidade gerada pelo seu déficit fisiológico, como no antigo Código Internacional de Doenças - CID.

Pessoas com deficiência têm sexualidade?

Em pleno século XXI, ainda acredita-se que a mulher e o homem com deficiência não têm sexualidade. Eles tendem a serem vistos de forma infantilizada, a serem protegidos e cuidados - (esta postura ainda é bastante comum, especialmente com adolescentes com deficiência intelectual).
Esse estigma também traz outros grandes equívocos. Por exemplo: mulheres com deficiência física, em cadeira de rodas, não podem ter filhos ou exercer o ato sexual; ou que as mulheres e/ou os homens cegos possuem um toque mais sensível, o que tornaria o ato sexual muito mais prazeroso. 
Também paira o mito de que as pessoas com deficiência intelectual são sem-vergonhas, inconvenientes, e masturbadores compulsivos, por terem uma suposta sexualidade exacerbada e sem governo. Enfim, são muitos os equívocos que precisam ser desfeitos.
A mulher com deficiência física, ou motora pode ter filhos, pois não há relação nenhuma entre deficiência (seja ela qual for) e fertilidade, a não ser que a infertilidade seja ocasionada por fator externo à deficiência, assim como ocorre com mulheres sem deficiência. 
A mulher ou o homem com deficiência visual pode exercer sua sexualidade usando ou não o tato, assim como escolher se querem ter filhos ou não. Pessoas com deficiência intelectual podem exercer sua sexualidade, respeitando as convenções do que pode ser feito em público ou não.
É importante levar esta informação às pessoas, pois quem nunca teve a oportunidade de conviver com uma mulher ou homem com deficiência, provavelmente carrega estes falsos conceitos consigo. Também é fundamental que a própria adolescente com deficiência possa reconhecer sua sexualidade. É justamente em decorrência deste auto-reconhecimento que o outro passará a enxergá-la com este atributo e como uma possibilidade amorosa.
O psicólogo tetraplégico (pessoa com paralisia parcial ou total das pernas e dos braços), Fabiano Phulmann , alerta que em nossa sociedade, a beleza física e a perfeição ainda são muito valorizadas, e maciçamente divulgadas pela mídia, fazendo-nos, erroneamente, atribuir ou restringir a sexualidade ao aspecto físico. 
Para ele, diante de tudo isso não é de se estranhar que as pessoas com deficiência, geralmente, venham ser consideradas "doentes" e assexuadas. E que quem não tem deficiência possa sentir um certo mal-estar na presença de quem tem uma deficiência.
Segundo o psicólogo, a deficiência pode mobilizar sentimentos ambíguos de atração e repulsa, diretamente relacionados ao medo que as pessoas sem deficiência têm de adquirir alguma deficiência . Pois, segundo a bióloga e especialista em sexualidade humana, Arletty Cecília Pinel, infelizmente, as pessoas com deficiência ainda são idealizadas como seres frágeis, que possuem incapacidades múltiplas, pobres coitados de quem devemos ocultar tudo o que possa machucar.
Muitas pessoas com deficiência só tiveram experiências distantes do prazer. Durante anos, seu corpo foi (ou é) alvo de intervenções médicas, fisioterápicas ou corretivas que não contribuem para despertar o erotismo. Ao contrário, apontam o que há de errado, diferente, que precisa ser "consertado", "normatizado", caso contrário será sempre um corpo doente. Como se isso não bastasse, o espelho para o mundo é um padrão de corpo perfeito. Como fica, então, a auto-estima da pessoa com deficiência? A tendência é não se achar atraente, duvidar que possa ser alvo do desejo dos outros .
Fabiano Puhlmann, conta ser frequente as pessoas verem um homem com deficiência junto com uma mulher bonita que não tem deficiência e logo pensarem: ou é compaixão ou ele é rico. Ninguém imagina que essas pessoas tenham uma vida sexual ativa. "Uma cliente minha, que nasceu com uma deficiência, estava grávida. Ao pegar um táxi, o motorista perguntou quem foi que lhe tinha feito aquilo. Como se ela tivesse sido estuprada e não tivesse escolhido a gravidez como todo mundo, ou como se não tivesse sexualidade e não fosse fértil".
No início dos anos 80, a sexualidade, finalmente, começou a ser timidamente abordada dentro de outros contextos, por exemplo, a adolescência, o desempenho de papéis sexuais, a gravidez e o planejamento familiar para casais com deficiência, assinala a psicóloga doutora Ana Rita de Paula no livro: "Sexualidade e Deficiência: Rompendo o Silêncio".
Para a psicóloga, "estes estudos já revelam uma tendência, embora tênue, de elaborar uma análise mais psicossocial do que meramente orgânica e genital. No entanto, como o enfoque é desenvolver técnicas de intervenção clínica e de aconselhamento visando ao ajustamento social, ainda persiste o viés de patologizar a sexualidade e a deficiência. Só mais recentemente a abordagem psicossocial começou a assumir timidamente lugar de destaque. Então, a ênfase passou a ser colocada no direito a exercer uma vida sexual satisfatória e na possibilidade de conquistar afeto e autonomia por meio de vivências afetivo-sexuais".
O verdadeiro processo de inclusão social eficaz deve ampliar essas visões estereotipadas ao favorecer o resgate da sexualidade e da eroticidade das pessoas com deficiência. "Ser erótico é possuir a vida, a liberdade, o movimento, o calor compartilhado. A pessoa com deficiência precisa ser um homem ou mulher em busca de prazer, com responsabilidade e equilíbrio, seguros de sua capacidade de envolver o ser amado, de se apaixonar", define o psicólogo tetraplégico, Fabiano Puhlmann .

Todos somos responsáveis.

Segundo o grupo de Estudos de Políticas Públicas em Atenção às Pessoas com Deficiências da Coordenadoria de Participação Popular da Prefeitura de São Paulo/Brasil, perpetuando a exclusão que limita a participação de quem tem deficiência nas relações sociais, a sociedade se exime de sua responsabilidade nesta situação e desenvolve estratégias de benemerência, ao invés de ações políticas que garantam a equiparação de oportunidades e a acessibilidade aos direitos de todos os cidadãos.
A Dra. Ana Rita de Paula; o Dr. Carlos Skliar - professor e consultor em educação para as diferenças; e a Sra. Flora Marin de Oliveira - socióloga e consultora em planejamento estratégico, também afirmam que: "diferentemente dos outros setores excluídos, os resultados advindos das reivindicações e da luta do movimento social organizado de pessoas com deficiência, ainda são muito incipientes. 
Talvez por serem muito recentes, e pela dificuldade encontrada de combater uma prática social assistencialista e paternalista, que historicamente tem sido vinculada a esta parcela da população. 
A discriminação social, que na deficiência se manifesta pela piedade, caridade e pela idéia de amor ao próximo, é vista como positiva e socialmente justificada, ao passo que a atitude de discriminação, para com outras minorias é socialmente reprovada. Soma-se a isto, evidentemente, as condições pouco favoráveis à participação plena que a cidade oferece, como a falta de ambientes construídos segundo os conceitos do desenho universal, e/ou as adaptações que garantam acessibilidade".
Comprove essa realidade. Pare cinco minutos para pensar se existe alguma apresentadora de TV cega? As fraldas que você compra para seus filhos foram produzidas por uma funcionária surda? O síndico do seu prédio é tem deficiência física? A recepcionista da locadora de DVDs tem deficiência intelectual (Síndrome de Down)? 
Você conhece algum cientista cego? Já foi operado por um médico sentado em uma cadeira de rodas? Você já foi entrevistada por uma jornalista de baixa estatura? Precisou dos serviços de um advogado cego? Já dançou a noite inteira, naquela discoteca que você costuma ir, ao lado de uma pessoa de baixa estatura? Já foi atendida por uma psicóloga paraplégica? O presidente da sua empresa usa cadeira de rodas? 
O jardineiro da sua casa é uma pessoa com deficiência intelectual? O fisioterapeuta da clínica que você frequenta, atende os pacientes com os pés? Você já comprou um quadro de um artista surdo? O dono da fábrica de chocolates que você mais adora, não tem um dos pés?
Que bom se você já conviveu com algum cidadão com deficiência, e suas respostas a essas questões foram positivas. Isso é sinal de que essas pessoas não são mais considerados seres extraterrestres como a poucos anos atrás. 
Mas, lembre-se que os vitoriosos que conseguiram atingir a cidadania, depois de ultrapassar inúmeros obstáculos, infelizmente, ainda são minoria em nossa sociedade. E que a maioria das profissões são possíveis de serem exercidas por pessoas com alguma deficiência. Basta saber explorar ao máximo suas potencialidades...
Deixar de olhar apenas para as dificuldades e valorizar as qualidades e os talentos! Caso você não tenha visto por aí, existem digitadores que usam os pés para trabalhar, massagistas cegos, cientistas com paralisia cerebral , padeiros com deficiência intelectual, professores surdos, entre outras inúmeras funções. 
A deficiência não está vinculada à profissão! É preciso acabar com os estigmas de que todos as pessoas cegas só trabalham em câmaras escuras de raio X, as pessoas surdas em locais barulhentos, ou quem tem paraplegia com atendimento ao cliente.
Outro ponto fundamental, a ser discutido quando falamos em mercado de trabalho é o nível de escolaridade e a qualificação profissional. As empresas não devem apenas culpar as pessoas com deficiência por não se qualificarem, e/ou os governos por não investirem em cursos profissionalizantes. Ambos segmentos da sociedade são co-responsáveis por oferecerem oportunidades de desenvolvimento e flexibilização do perfil profissional. A socióloga Marta Gil aponta alguns caminhos sobre a temática no artigo "Falta de capacitação: do que estamos falando mesmo?", encontrado no link:www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=8497Site Externo. .
Um dos principais fatores responsáveis pela falta de qualificação é a dificuldade encontrada por crianças com deficiência ao matricularem-se nas escolas. 
A educadora da UNICAMP, especialista em Educação Inclusiva, Maria Tereza Mantoan afirma que: "o mais grave é a escola usar o argumento da não-preparação para não receber as crianças. Só se prepara alguém para fazer alguma coisa vivendo uma situação. Não é possível se preparar para receber um cego. É preciso primeiro recebê-lo, conhecer esse sujeito, trabalhar com ele, para identificar suas necessidades. Não existe de o professor se preparar para trabalhar no ensino médio com jovens, porque esse jovem não existe, ele é ideal e existe uma realidade, que é a pessoa. Temos que nos preparar para trabalhar com pessoas, com suas características, peculiaridades e diferenças, exigindo do sistema, das políticas públicas, que cubram as necessidades do professor, do aluno e do local de estudos".
Trechos do documento: "Política Pública de Atenção à Pessoa com Deficiência", elaborado pelo Grupo Estudos de Políticas Públicas em Atenção às Pessoas com Deficiências, da Coordenadoria de Participação Popular da Prefeitura de São Paulo também aponta a mesma linha de raciocínio da co-responsabilidade de todos os cidadãos, que a socióloga Marta Gil defende. 
Vejamos: "a transformação necessária para a inclusão social das pessoas com deficiência não depende apenas de ações pontuais, específicas e momentâneas. É preciso desenvolver políticas públicas consequentes, intersetoriais e articuladas, de forma a contemplar todas as dimensões da vida dessas pessoas. Além de visar educação, saúde e assistência, trabalho, cultura, transporte, e lazer, é uma questão de cidadania. O grande desafio é almejar a construção de políticas públicas que - considerando as deficiências como diferenças humanas e sem reduzi-las a uma questão técnica - garanta justiça social, igualdade de oportunidades e, ao mesmo tempo, o exercício das diferenças".
Acredito que o acesso a informações seguras sobre as pessoas com deficiência, e o processo de conscientização da responsabilidade social e da diversidade humana começa com a educação - remédio para todos os "males" da humanidade. Mas como chegar até ela? Como chegar até os hospitais? Ou até os cursos profissionalizantes? Como ir ao trabalho? Como...?
A principal fonte de exclusão é a precariedade do transporte público e privado. Para garantir "o pão de cada dia", a maioria dos brasileiros (as) arriscam suas vidas no caminho para o trabalho ou a procura dele. 
Em pleno século XXI, situações humilhantes como empurrões, quedas, esmagamentos, sufocamentos, e os mais diversos acidentes, ainda são frequentes dentro das sucateadas linhas de ônibus, trens e metrôs, sem falar das verdadeiras montanhas russas que são as lotações clandestinas. Agora, imagine só como é a locomoção de quem não enxerga só com os olhos, não ouve só com os ouvidos, ou não pode andar somente da forma mais conhecida: com as duas pernas?
Acredito que sem meios de transporte fisicamente acessíveis a todos, não há possibilidade dos principais interessados no assunto - as pessoas com deficiência - conseguirem apresentar às autoridades suas reais necessidades para a construção de quaisquer leis sobre saúde, educação, trabalho ou lazer; e sem leis que regulamentem a acessibilidade aos meios de transportes, não há transporte universal!

O que você pode fazer para vivenciar e propagar a inclusão?

Acredito que o primeiro passo seja tomar consciência dessa realidade. Caso ainda tenha uns "pequenos preconceitos" em sua alma, sugiro que tente passar uma esponja de aço para removê-los. O que acha? 
Mas vá devagar, pois mudar é um momento difícil, um momento o qual você precisa viver plenamente. Acima de tudo respeite seu tempo, seu repertório, e tudo o que você está acostumado a ver, sentir, dizer e fazer. Acredito que tudo o que é aprendido de verdade nunca esquecemos. Ter paciência e perseverança pode ser um bom começo.
Todos os dias eu me proponho a experimentar uma nova forma de ver o mundo com mais dedicação e amor. Isso é maravilhoso e gratificante! Tenho um metro de altura, uso um par de muletas para me locomover, convivo com a fragilidade óssea do meu corpo, uso uma cadeira de rodas para percorrer grandes distâncias, e ainda enfrento muitas dificuldades físicas. 
Porém com certeza, o mais trabalhoso é mostrar ao mundo que posso exeou formada em Comunicação Social, trabalho como jornalista, pratico esporte, namoro, viajo, passeio, pago meu plano de saúde e algumas outras despesas. Luto a cada dia por minha autonomia, em um país ainda desinformado a respeito das características diversas de todos nós.
Sugiro que caso você ainda não tenha muita ou nenhuma convivência com alguma pessoa com deficiência, ou quando se sentir incomodado e sem jeito - não sabendo como reagir diante do que lhe parece "diferente" - o melhor a fazer é ter uma atitude humilde e sensata o bastante, para expressar o que você está sentido no momento. O diálogo pode ser um ótimo caminho. Caso tenha dúvidas, simplesmente pergunte.
Por exemplo, se estiverem cursando a mesma escola e/ou trabalho, inclua-a em suas atividades (caso ela se sinta excluída), e pergunte se é necessário, quando, e qual a melhor forma de auxiliá-la a fazer parte do ambiente em que está com conforto, segurança e naturalidade. O resto vai fluir como um rio seguindo o seu curso. E quando menos esperar creio que o preconceito desaparecerá de sua mente...
Além de respeitar seus direitos, (como por exemplo, não estacionando seu carro nas vagas demarcadas com o Símbolo Internacional de Acesso - destinadas às pessoas que necessitam de um espaço maior para manobrar sua cadeira de rodas), eu sugiro que vocês procurem os órgãos públicos como: os Conselhos Municipais e Estaduais da Pessoa com Deficiência, e coordenadorias sociais, (entre elas a de Direitos Humanos), o Ministério Público, Ministério do Trabalho e/ou da Educação, a Ordem dos Advogados do Brasil, as sub-prefeituras, as associações de bairro, ONGs, empresas, e principalmente as mídias (TV, rádio, jornal, revista, internet) que atuam em prol da inclusão social, para buscar informações, denunciar discriminações e/ou falta de acessibilidade em sua escola, faculdade, trabalho, rua, bairro, cidade, estado, país. Ações como essa são fundamentais!
Bom, depois de se informar um pouco sobre esse importante tema lendo esse artigo, o que você está esperando? Mãos a obra! Faça algo para propagar a Inclusão. Você pode construir um Brasil mais HUMANO. E viva a DIFERENÇA!