segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Leandra escreve em Oficina Literária no SESC Pinheiros


A cidade que pouco conheço

Por Leandra Migotto Certeza

É múltipla! Caótica! Frenética! Inspira e transpira… Sonha e destrói. Une e acelera. Tem verde, e muito mais cinza. Caminha e engarrafa. Tudo, agora e ao mesmo tempo hoje. Nos bairros, ainda tem casinhas. Mas os arranha-céus são a maioria nas avenidas. As ruas podem ser bem sujas, mas nos muros tem grafite colorido (quando o Prefeito deixa!).

Cinemas e teatro vários, mas pra bem poucos. As freiras livres são ponto de encontro de aromas, cores e texturas. Nos parques, brinquedos, árvores, riachos e grandes museus se misturam. E quem vive nela é camaleão. Todas as estações aparecem em um único dia. E desaparecem com a mesma intensidade.

Nasci em um hospital bem conhecido e também vivo há 35 anos em um dos bairros que muita gente sabe onde fica. Mas conheço pouquíssimo as regiões da cidade. Sou turista em Sampa! Minha viagem está só começando… Quero sair do reduto Av. Paulista e bairro de Pinheiros / Butantã. Porém, quando passeio nos finais de semana, ainda procuro ir ao que está mais perto. Afinal, rodar pelas calçadas é um gigantesco enduro! Aventura total!

Transporte público acessível? Não sei para quem… Mesmo com a minha cadeira de rodas motorizada eu passo por perrengues fenomenais. Buracos? Prefiro chamar de crateras! Sem me esquecer das montanhas que surgem no meio dos passeios públicos.

Públicos? Penso em como está se tornando a maior megalópole do país agora que tudo virou lucro de bem poucos… O parque Villa Lobos, na região Oeste, tem bem mais gente com carro do ano do que bicicleta ou à pé. Afinal, estacionar agora custa caro.

Os pequenos sacolões de bairro, em sua maioria bem administrados há anos por famílias, serão aniquilados! O monopólio dos mega supermercados irá abocanhar mais este filão! Carnaval e Virada Cultural? Cada um no seu quadrado da segregação social! Misturar? Para quê?

O lema desta administração é TRABALHO! Nem que para mostrar serviço seja preciso passar por cima dos pequenos comerciantes e da diversidade cultural. Só que não! Trabalho sem desenvolvimento de todas e todos e distribuição de renda, é CAPITALISMO SELVAGEM.

Triste é ver que várias ciclovias estão sendo destruídas para os carros passarem, agora com a velocidade maior permitida novamente! Mas o que dói mesmo é o nosso dinheiro gasto com os altos impostos indo para pagar passagens de avião e despesas - de quem se diz trabalhar pela cidade - mas na verdade faz campanha eleitoral desde o primeiro dia de mandato.


Problemas? A cidade que ainda pouco conheço, tem inúmeros! E terá muito mais todos os dias, com esta ou outra administração. Creio que o que falta é a noção básica do que seja PÚBLICO e PRIVADO. E do que seja: LUCRO e AÇÃO SOCIAL. Afinal, a cidade só existe porque as pessoas vivem, trabalham, consomem, pagam altíssimos impostos e se divertem nela! Cabe a cada um de nós repensarmos o nosso papel na Pólis!   

Manhã em Sampa

Manhã cinzenta
Nojenta
Na lama da cidade luz
Manha opaca
Calada
Na calma da cidade grande
Manhã amena
Pequena
Na falta da cidade cheia
Manhã macia
Tranquila
Na clara cidade escura             


Textos produzidos por Leandra durante a Oficina Literária de Arte e Expressão realizada no SESC Pinheiros em Janeiro e Fevereiro de 2018.

Professoras da oficina: Maria de Lourdes Chaves Ferreira. Jornalista, publicitária, com pós-graduação em psicopedagogia. Finalista do Prêmio Flip de Literatura 2017 – categoria poesia e Maria Regina Chaves Ferreira. Psicóloga – Especialização em psicologia junguiana.              

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Ética da diversidade na abordagem da deficiência


Há duas formas distintas de se pensar a deficiência: uma, mais antiga, se baseia no modelo médico; a outra, representando a tendência atual, baseia-se no modelo social.

O modelo médico tem como principal característica a descontextualização da deficiência, isto é, toma-a como incidente isolado e sem relação com questões de interesse público e relevância econômica, política ou social. No enfoque do modelo médico, o problema reside na pessoa, com consequências somente para ela e sua família, ficando a sociedade isenta de qualquer responsabilidade e compromisso para com a desconstrução de processos de discriminação. A cura ou quase cura das lesões e limitações torna-se condição para acesso a determinados direitos.

Já o modelo social considera que a maior parte das dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência resulta da forma como a sociedade trata as limitações físicas, intelectuais, sensoriais ou múltiplas de cada indivíduo. A deficiência é entendida como construção coletiva e condição flexível, não necessariamente permanente. Afinal, se as barreiras de acesso são removidas, a relação de desvantagem passa a ser parcial ou, mesmo, completamente abolida.

O modelo social está relacionado ao desenvolvimento inclusivo e à ética da diversidade, que combate a homogeneidade e privilegia ambientes heterogêneos, celebrando toda e qualquer diferença entre pessoas. Cada um, da forma como é, contribui com sua experiência e seus recursos, em benefício de todos. Do ponto de vista da ética da diversidade, as pessoas com deficiência não representam um equívoco, um deslize da natureza que gerou seres anômalos, a serem aceitostolerados, ou respeitados.

Estratégias vêm sendo incorporadas por organizações empresariais, governamentais e não governamentais — regionais e internacionais —, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, na busca de alianças e ações que gerem programas e políticas públicas inclusivas. Beneficiam-se não só as pessoas com deficiência, como outros grupos em situação de vulnerabilidade, como crianças trabalhadoras, coletores de lixo, indígenas, pessoas com vírus HIV e pessoas com orientação homossexual.

No que se refere à implementação de políticas de desenvolvimento inclusivo, a ética da diversidade deve ser sistematicamente trabalhada e incentivada pelos meios e profissionais de comunicação, levando-se em conta orientações como:

1) Manter, ao escrever sobre deficiência ou ao analisar qualquer política pública, o mesmo rigor que caracteriza a abordagem de temas de outras áreas, como a econômica, por exemplo, entre outras.

2) Desconfiar de qualquer enfoque que marque pessoas com deficiência como pertencentes a um grupo homogêneo de cidadãos. (Exemplo: crianças com síndrome de Down têm sempre muito carinho para dar...)

3) Lembrar que sobre-estimar pessoas com deficiência, transformando-as em super-heroínas, é tão discriminatório quanto subestimá-las, porque ambos os enfoques lhes tiram o direito à individualidade.

4) Desenvolver uma visão crítica de discursos que valorizam ambientes homogêneos como ideais para o desenvolvimento humano.

5) Provocar e/ou reforçar alianças entre profissionais de diferentes áreas.

6) Tomar como base para suas reflexões e análises diárias as seguintes associações: modelo médico/ambiente homogêneo e modelo social/ambiente heterogêneo.

Partindo-se do princípio de que os modelos médico e social não se apresentam de forma clara, como aprender a diferenciá-los? O quadro a seguir põe lado a lado as características de cada um, de modo a evidenciar suas diferenças.

Fonte:
http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/92/comunicacao_e_saude/etica-da-diversidade-na-abordagem-da-deficiencia