sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Carnaval só é inclusivo quando não é capacitista


Desfilar na avenida foi uma das emoções mais fortes de toda a minha vida! Só comparável ao orgasmo!



Descrição da imagem: foto colorida de Leandra em um desfile de Carnaval. Ela está sentada em sua cadeira de rodas sorrindo, com os braços abertos virados para cima. Seus cabelos e olhos são castanhos claros. Sua fantasia é uma camisa na branca com a gola na cor preta. Na frente da cadeira de rodas está uma parte da alegoria da fantasia: uma mesa de bar com uma toalha xadrez (preta e branca), um copo e um prato. Ao fundo da imagem estão várias pessoas (homens e mulheres) com deficiência que usam a mesma fantasia. E ao lado deles estão os voluntários (em pé) com outras fantasias na cor prata.  (Foto: arquivo pessoal)  



"Viver e não ter a vergonha e ser FELIZ!” Canto para mim mesma sempre que a tristeza bate mais forte do que a alegria. Não que eu deixe de viver os momentos de dor e melancolia que fazem parte do ser humano. Mas a letra da música do Gonzaguinha embala os meus dias. Ainda mais quando chega fevereiro.

Eu sempre amei o Carnaval! As lembranças mais divertidas que tenho são dos desfiles dos blocos de rua em uma pequena cidade do interior. Nos anos 80 eu vivia “pulando” no colo dos meus pais, familiares e amigos. Não parava um minuto! Alegria pura! Diversão total! Justamente por ser uma festa em que todos e todas desfilavam suas fantasias, eu me sentia incluída… Será mesmo? 

Naquela época, aos 6 anos, eu ainda não entendia direito porque quase todo mundo olhava para mim com tanto espanto. Ouvi as pessoas comentarem: “Nossa, olha como ela está feliz…”. “-Tadinha, mesmo assim, ela sorri…”. 

Claro que também existiam pessoas que encaravam a minha existência com um pouco mais de naturalidade. Mas eram raras as que eu via no fundo do olhos que não tinham pena de mim. Pode parecer estranho, mas desde criança, eu já sabia diferenciar quem estava ao meu lado por caridade e quem me amava de verdade.


Descrição da imagem: foto colorida de Leandra sorrindo aos 6 anos sentada em uma cadeira de praia listrada. Ela está fantasiada de palhacinha com uma blusa de balões coloridos, calça rosa clara, bota ortopédica branca, e chapéu vermelho com um pompom amarelo. Seu rosto está pintado igual a uma palhaça com boca e olhos na cor branca, e nariz vermelho.  

Agora, o mais estranho é que ao mesmo tempo que eu sentia a dor de ser tratada como coitadinha, a alegria do meu coração explodia. Eu só queria ser feliz! E é claro, me exibir! Afinal, sempre fui muito vaidosa. Muito mesmo, capricho na maquiagem, na fantasia e no brilho! Muito brilho!

Parecia que eu fazia questão de esfregar na cara de quem me olhasse com espanto que eu me sentia linda! Tão linda que tentei por diversas vezes sair na frente do bloco, mas sempre fui barrada. Afinal, eu não estava dentro dos padrões estéticos. Nem pernas de menina eu tinha. E o meu corpo? Todo diferente. Até o meu rosto era considerado esquisito. 

Ainda bem que a vontade de pular o Carnaval do jeito que eu conseguia sempre foi bem mais forte do que os comentários preconceituosos e discriminatórios que ouvi. Tão mais fortes até do que o meu próprio preconceito interno e a não aceitação da minha condição de deficiência, que na época, ainda era sentida apenas como uma diferença na aparência.

Só quando cresci e amadureci é que tomei consciência do meu papel no mundo, como uma mulher com limitações físicas, potencialidades, capacidades, qualidades; assim como problemas e dificuldades, igual a qualquer ser humano. 

Mas ainda bem que com o passar dos anos a minha vontade de me divertir, dançar e curtir o Carnaval só aumentou! E a minha auto estima foi melhorando junto com a alegria das novas atividades que eu realizava. Foi quando, em meados dos anos 90, eu comecei a competir como nadadora em uma associação desportiva voltada para atletas com deficiência. 

Lembro que nesta época estar ao lado de outras pessoas com deficiência foi uma das principais formas que encontrei de me sentir parte da sociedade, nem que no começo fosse ainda de uma maneira mais segmentada, em associações como esta. As pessoas com deficiência já começavam a adquirir condições políticas e sociais para conquistar seus espaços dentro de uma sociedade ainda tão excludente. 

Nesta associação em que eu treinava natação, havia uma parceria com uma das maiores escolas de samba de São Paulo. Mas eu ainda tinha muito receio de participar de um desfile, mesmo já tendo sido convidada pelas amigas, diversas vezes. Só no ano 2000, quando eu trabalhava como editora no emprego mais importante da minha carreira, recebi o convite inesperado: fui chamada para desfilar no Sambódromo! 

Quase caí para trás de tanta emoção! Será que eu iria aguentar? O meu corpo parecia tão fraco. E se eu caísse da cadeira de rodas? Pensamentos que se dissiparam imediatamente da minha cabeça na hora em que eu vi a alegria da galera confeccionando as fantasias. Seria uma ala só de pessoas com deficiência e em sua maioria usuários de cadeira de rodas. 

Aceitei o convite com uma alegria tão intensa quando o medo, que venci ao entrar na avenida em meio a tantas luzes. Desfilar na avenida foi uma das emoções mais fortes de toda a minha vida! Só comparável ao orgasmo! Impressionante! Tudo vibrava! O chão da avenida parecia que iria levantar. 

E o caminho que teríamos que percorrer dentro da avenida, seria uma das maiores aventuras de nossas vidas! Pelo menos da minha vida, eu tenho certeza que foi. Nem acreditava no que estava acontecendo quando fomos empurrados pelos voluntários até a concentração da escola de samba.

Parecia tudo um sonho! Uma mistura de empolgação, euforia, alegria, e principalmente, entusiasmo, tomou conta do meu peito. Nem acreditei quando vi a ala das baianas. Era imensa. Tão poderosas! Que energia! Passei a amar e respeitar ainda mais toda a cultura não apenas do Carnaval, mas principalmente das baianas! 

Elas sem dúvida eram as mães de todos e todas naquela avenida. E estavam ali para abençoar cada um de nós. E como foi abençoada a nossa passagem pelo Carnaval não apenas naquele primeiro ano inesquecível, como nos dois anos seguintes em que a nossa ala esteve presente em uma das maiores escolas de samba de São Paulo.  

E hoje quando eu fecho os olhos para lembrar de cada momento que vivi, imagens tão diferentes e intensas surgem na minha cabeça. Luzes, muitas luzes. Sons, fortes e profundos. O meu corpo inteiro sentindo a emoção de dançar e cantar com todas as minha forças físicas! E principalmente, cada sorriso das pessoas nas arquibancadas. Elas pulavam de alegria quando a nossa ala aparecia! 

Era uma mistura de espanto, choro (muito choro mesmo), alegria, gritos, e aplausos! Aplausos que ficaram gravados nos meus ouvidos e na minha alma. Como foi intenso! Como eu estava inteira! Como fui feliz!

Me lembro de um ano em especial, que fiquei rouca de tanto cantar a letra do samba, com dor no corpo inteiro, mas valeu a pena. Atravessamos a avenida com o sol raiando.

Hoje, 20 anos depois destes desfiles, o Carnaval se tornou um espaço bem mais inclusivo para as pessoas com deficiência. Várias outras escolas de samba, além de blocos de rua e bailes incentivam a participação de foliões e foliãs com suas cadeira de rodas, muletas, andadores, aparelhos; além de receber pessoas com surdez e/ou cegueira em diversos setores, inclusive na bateria.  

São muitas as histórias de sucesso em que as pessoas com deficiência realmente se sentem incluídas. Mas também ainda existem algumas outras situações em que é preciso avançar no respeito à acessibilidade, principalmente física, nos banheiros, nas arquibancadas, nas quadras das escolas, e nos transportes até o Sambódromo. 

Além disso, os olhares de espanto, piedade e incredulidade ainda existem. Assim como os comentários discriminatórios e preconceituosos, reconhecidos hoje como capacitistas. 


Para ler mais sobre Carnaval e inclusão:

O ótimo relato da foliã Mila D’Oliveira sobre as situações preconceituosas que ela vivenciou em 2019;


O meu depoimento para o Museu da Pessoa;


Post no meu blog sobre acessibilidade e inclusão no Carnaval 2020. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Fundo de Ação Urgente realiza Mapeamento Inédito sobre Mulheres com Deficiência e Feminismos


"A revolução feminista será interseccional ou não será"


Fonte do mapeamento: 



“Mapeamento de Deficiências e Feminismo: tornar visíveis os exercícios de ação coletiva” 

É urgente e necessário reconhecer as histórias das mulheres com deficiência e expandir o diálogo para construir agendas comuns.


Com a ajuda de uma equipe interdisciplinar composta por Ana María Barragán, Lorena Murcia e Bubulina Moreno, o Fundo de Ação Urgente da ALC  um processo de reflexão sobre o que significa ser uma mulher com deficiência na América Latina e no Caribe de língua espanhola.

O Fundo de Ação Urgente da ALC, sabemos que os processos organizacionais, de luta e resistência das mulheres são diversos e respondem a seus territórios, realidades e experiências. 

Também reconhecemos que existem muitas vozes que ainda estão ocultas ou não tão visíveis e é necessário ouvir essas histórias. Por isso nos perguntamos: em quais contextos, desafios ou processos organizacionais as mulheres com deficiência na América Latina estão realizando?

Como resultado do exercício de reflexão e análise realizado em conjunto com as organizações e mulheres que participaram desse processo, agora temos o “Mapeamento de Deficiências e Feminismo: tornar visíveis os exercícios de ação coletiva” que nos permitem conhecer um pouco da realidade, resistência e os esforços das mulheres com deficiência, bem como os principais avanços, conquistas e retrocessos na área de direitos das pessoas com deficiência na América Latina.

Esse mapeamento nos deixa clara a necessidade de tecer feminismos interseccionais, onde mulheres com deficiência fazem parte das agendas, são ouvidas e suas resistências incluídas.

Para falar sobre mulheres com deficiência, é necessário mencionar as situações de desvantagem histórica enfrentadas pelas mulheres e como elas são agravadas no nascimento ou adquirem uma deficiência. 

A eliminação da autonomia é uma constante na vida e na experiência das mulheres, enquanto a deficiência leva a pessoa a ser vista como objeto de caridade, "anormal" e incapaz. 

Quando essas duas variáveis ​​são unidas - deficiência e gênero - as desvantagens são ampliadas, a ponto de ser mulher com deficiência significa ficar de fora de tudo.

A realização deste projeto teve uma abordagem qualitativa que permitiu o desenho de uma metodologia para abordar as realidades complexas a partir das vozes, histórias e experiências de cada uma das mulheres, seu trabalho nas organizações e como elas viveram. processos de organização e coletivização.

Toda palavra, todo gesto, toda lágrima, todo sorriso, todo silêncio, toda pergunta e resposta eram desculpas para ouvir, ver e sentir as vozes de mulheres cujas experiências costumam parecer esquecimento, rejeição ou ignorância. Mas eles também se sentem e se vêem como experiências que parecem luta, resistência, reivindicação de direitos e, acima de tudo, construção de subjetividades e corpos fora do normativo, para transgredir e desafiar a vida cotidiana e os sistemas de poder e opressão.

Após a conclusão deste projeto, fica claro para nós que é necessário e urgente que os feminismos incluam mulheres com deficiência e que sejam fundamentais para a interseccionalidade. 

A maioria das mulheres com deficiência que participaram desse mapeamento não se sente reconhecida, respeitada ou acompanhada de feminismos, porque as organizações e / ou grupos feministas precisam realmente se articular com elas como parceiras, de maneira solidária e empática.

Conheça, explore e compartilhe os produtos deste mapa, repletos de experiências e histórias coletivas de mulheres e organizações em Cuba, República Dominicana, México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.


Para Leandra Migotto Certeza ser mulher com deficiência é:


Descrição da imagem: foto de Leandra sorrindo e segurando um microfone na mão. Ela está com um vestido na cor preta, tem os cabelos e olhos castanhos e pele branca.  


“Viver com deficiência é como matar um leão todos os dias, ter uma grande batalha todos os dias, é complexo por causa da inacessibilidade da cidade, da falta de apoio para iniciar uma família, porque você tem uma visão muito carinhosa e paternalista em relação às pessoas com deficiência, principalmente em relação às mulheres com deficiência”.

Levando em consideração o panorama apresentado por Leandra Migotto Certeza, que afirma que: “… no Brasil não são as pessoas com deficiência que lideram os processos e não têm protagonismo”, é uma conquista muito importante conhecer essas organizações que estão implementando ações enquadradas em uma abordagem de Direitos Humanos em um contexto adverso, pois desde 1º de janeiro de 2019 no Brasil existe um governo de direita e isso gerou contratempos para garantir os direitos de todos, o que impactou fortemente a organização e a coletivização das ações, como explica Leandra:

“A situação é complexa para as organizações se formalizarem oficialmente, porque estão sendo bloqueadas, no governo Lula foi um pouco mais fácil (...). A legislação complica a formalização da organização, e os impostos que elas devem pagar são muito altos”.

Desde 2007, a ativista Leandra Migotto Certeza trabalha na Caleidoscópicas - Mulheres com Deficiência, conhecendo e compilando as histórias de vida de mulheres brasileiras com deficiência. No seguinte testemunho, você pode conhecer parte do trabalho que ela faz:

“(…) Reunimos as histórias de mulheres que não aparecem na grande mídia e não participam de eventos na área, precisamente porque são marginalizadas e excluídas devido ao seu status socioeconômico, educação, etnia, cor da pele, localização, idade, imagem corporal e condição de incapacidade. É por isso que a Caleidoscópicas vem realizando um trabalho para incluir, de fato e verdadeiramente, essas mulheres com deficiência que são marginalizadas e discriminadas pelas próprias organizações não-governamentais". 


Reflexões conclusivas do “Mapeamento de Deficiências e Feminismo: tornar visíveis os exercícios de ação coletiva”: 

É necessário que, como ativistas, pesquisadores e treinadores, entre outros, a visão seja estendida a outras opressões. No caso da perspectiva intersetorial entre deficiência e gênero, o capacitismo e o machismo se cruzam, e fica muito difícil de erradicar porque estão enraizados na vida cotidiana.

Investigar as histórias e os marcos de mulheres e organizações levou inevitavelmente a colocar sobre a mesa a necessidade de apoio a projetos desenvolvidos por mulheres para melhorar sua qualidade de vida; à importância de gerar processos e protocolos transparentes que impeçam que a alocação de recursos permaneça nas mesmas mãos de sempre.

A acessibilidade não se deve apenas à infraestrutura e adequação dos espaços físicos, mas também incorpora vários aspectos, como o acesso às informações de maneira clara e oportuna. 

Por isso, é necessário avaliar e verificar se está em um formato acessível, se as informações atendem aos requisitos mínimos de acessibilidade no caso de textos (tipo de fonte, descrição dos elementos visuais, contraste, legibilidade, legibilidade); e também que eles estejam em um formato em braille e em língua de sinais para todas as pessoas com deficiência.

Nestes tempos em que o uso da Internet está aumentando mundialmente e o gerenciamento de redes e informações on-line é cada vez mais frequente, é necessário que as organizações mantenham e-mails ativos e gerem estratégias para responder às pessoas que os procuram através da virtualidade. Da mesma forma, essas redes se tornam uma ferramenta importante para tornar visível e compartilhar ações, realizações e dificuldades, a fim de gerar diferentes tipos de transferências (conhecimento, chamadas, fundos, etc.) entre diferentes organizações.

A experiência do trabalho interdisciplinar foi muito valiosa para este projeto, pois permitiu abordar um assunto sob diferentes perspectivas. Os processos foram desenvolvidos e construídos a partir de harmônicos e assertivos, sob os princípios de cooperação, co-construção e trabalho em equipe.

Como parte dos exercícios reflexivos, o respeito da FAU-AL pela proposta técnica deste mapeamento é positivamente valorizado. A equipe de consultoria sempre se sentiu autônoma e livre para tomar decisões, sempre em um ambiente colaborativo e confiável.

Existem várias tensões enfrentadas pelas organizações e mulheres com deficiência entrevistas: primeiro, altos requisitos que dificultam a constituição legal das organizações; segundo, preconceitos que levam à superproteção e segregação das mulheres em seus ambientes; terceiro, pouco acesso à informação e comunicação; quarto, desgaste emocional e físico do ativismo com consequências para sua vida pessoal; quinto, falta de espaços para atualização e treinamento nas organizações; e, finalmente, a luta por fundos no âmbito de um sistema de concorrência.

É necessário adaptar-se a diferentes ritmos, mobilizar concepções e imaginários, estar em constante exercício de aprender e desaprender a influenciar, questionar e desafiar cidadãos, instituições, e governos que obedecem a uma ordem patriarcal, colonial e capitalista.

Embora os mapas sejam um recorte do território e um pálido reflexo da realidade, sua realização implica um ato político. Por um lado, tornam visíveis as ações de advocacy e colocam os processos organizacionais em um território específico, com realidades complexas e; por outro, aprimoram a articulação em rede da interseção (deficiência e gênero) na América Latina, de acordo com os interesses de cada pessoa e organização. Além do exposto, destaca-se que os mapas foram construídos de forma colaborativa a partir da aplicação de ferramentas participativas e não têm interesse econômico além de sua utilidade para a coletivização de ações.

O chamado é para a organização, estar presente, coletivizar, tornar-se uma tribo novamente, resistir aos laços de confiança entre aqueles que apostam nessa interseccionalidade, livrar-se de preconceitos, ouvir, comunicar-se e cooperar. Construir a partir do que os une e não do que os divide, deixando de reproduzir discursos e práticas que obedecem a uma ordem patriarcal, colonial, heteronormativa e capacitista.

É necessário capacitar as organizações, independentemente de sua classificação (início, consolidação ou expansão), levando em consideração seus ritmos, tempos e temas de interesse, a partir de uma postura político-crítica de constante reflexão que leva à promoção e defesa de Direitos humanos das pessoas com deficiência.


No que diz respeito às organizações de famílias de pessoas com deficiência, verifica-se que várias delas têm uma aparência de bem-estar, sendo necessária sua politização. A luta é para que o cuidado não recaia sobre as mesmas pessoas de sempre - mulheres, mães, cuidadores -, mas que exista uma escola e uma coletivização do cuidado, ou seja, falar sobre esse assunto de um ponto político.

É essencial que os governos da América Latina e do Caribe gerem e executem políticas públicas que contribuam para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência e não ameacem, perseguam e dividam o movimento das pessoas com deficiência por meio de cortes sociais e implementação de políticas segregacionistas. 

Texto publicado aqui com tradução livre da internet. 

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Carnaval Inclusivo no Brasil em 2020


Descrição da imagem: Foto de Caio Rocha e Zemile Kasala, Rei e Rainha do Carnaval de Teresina. Estão abraçados, sorrindo. Ela beija ele no rosto. Zemile veste fantasia colorida com laço de fitas na cabeça. E ele também está com uma fantasia bem colorida. Ela tem a pela morena e ele branca.



Boas notícias...

A Prefeitura de Teresina, junto com a Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves promoveram um concurso para escolher um Rei e uma Rainha com deficiência para o Carnaval da cidade. Caio Rocha, de 27 anos, e Zemile Kasala, de 28 anos foram vencedores. Ambos têm Síndrome de Down, e vão desfilar no  bloco “Eu Quero Pepitar”. O bloco foi criado por Pepita Duran e Karen Maciel, e surgiu após responsáveis por pacientes atendidos em uma clínica particular voltada para pessoas com deficiência reclamarem que não conseguiam sair com eles para brincar carnaval.

Este ano, o espaço de inclusão no desfile do maior bloco de rua do mundo, chega à nona edição em Recife. A prefeitura da cidade disponibilizará o Camarote da Acessibilidade no Galo da Madrugada, que desfila no dia 2 de março. O camarote será instalado no Pátio do Carmo, Avenida Dantas Barreto, com capacidade para 300 pessoas com deficiência, pessoas idosas, acompanhantes e convidados. 

Após reunião, da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia com Ministério Público estadual de Salvador, ficou acertado o encaminhamento de um relatório apontando as dificuldades encontradas no circuito nos últimos anos, para que sejam adotadas providências para melhorar a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Além disso, uma equipe de promotores de Justiça e servidores do Ministério Público estarão presentes no bloco das pessoas com deficiência ‘Me Deixa a Vontade’, que sairá na sexta-feira e no sábado de Carnaval, no Circuito Osmar.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, realiza neste ano a 5ª edição do projeto “Samba com as Mãos”, que disponibiliza vídeos com a tradução em Língua Brasileira de Sinais dos 14 sambas-enredos das agremiações que pertencem ao Grupo Especial de São Paulo. As pessoas com deficiência visual também contam com audiodescrição dos desfiles, direto do sambódromo, pelas redes sociais da Secretaria. Segundo o IBGE em São Paulo, existem 350 mil cegos e mais de 120 mil surdos.

Outro bloco que propõe uma iniciativa social e inclusiva é o “Encosta que Cresce”. Criado em 2015 em Brasília, vai oferecer ao público dois espaços de apoio às pessoas com deficiência. Terá intérpretes de Libras e monitores para auxiliar os foliões. 

Aconteceu em janeiro o grito de Carnaval 2020 do Bloco Carnavalesco “NADA SOBRE NÓS sem NÓS”, que faz parte dos blocos oficiais da Associação de Blocos e Cordões Carnavalescos de Campo Grande. Fundado em novembro de 2018, o bloco reúne pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida da capital. Idealizado por Damião Zacarias (pessoa com deficiência visual) e pelo jornalista Oscar Martinez, voluntário no Instituto Sul Mato Grossense para Cegos, Florivaldo Vargas; tem o objetivo de dar visibilidade e abertura de espaço acessível e participação na cultura do carnaval de rua da cidade. 

 Mas ainda falta acessibilidade no Carnaval e depois que ele passar... 

Foi realizada uma vistoria da operação Carnaval de Todos na Bahia. A ação que envolveu as superintendências de Proteção e Defesa do Consumidor, dos Direitos da Pessoa com Deficiência, órgãos da Secretaria de Justiça Social e a Delegacia do Consumidor, observou as condições de acessibilidade de camarotes dos circuitos Barra-Ondina. Durante esta fiscalização na Bahia, foram observadas questões como inclinação de rampas de acesso, sinalização tátil e visual, além da altura dos balcões de atendimento. 

Também foram vistoriados estruturas e projetos de sete camarotes, lavrado autos de constatação com um prazo para que os empreendimentos corrijam as irregularidades, sob pena de multa. O Camarote Oceania foi notificado e deverá ajustar rampas de acesso. No camarote do Reino foi pontuada a falta de sinalização tátil nas rampas e nos acessos para pessoas com deficiência; enquanto que no camarote Salvador foi constatado a falta de acesso para pessoas com deficiência à boate, e no camarote do Harém foi sinalizada, dentre outros pontos, a falta de saída adequada para pessoa com deficiência.
Na busca por visibilidade social e mais acessibilidade em Sete Lagoas (MG), um bloco formado por pessoas com deficiência física deve sair às ruas da cidade às vésperas do carnaval deste ano. O tema do movimento será “Ô abre alas que eu quero passar”. A iniciativa é de Geraldo Magela Pontes.que irá realizar a colagem de adesivos em locais de difícil acesso para as pessoas com deficiência, durante o desfile para chamar a atenção das autoridades. 

Já os cidadãos e cidadãs que pagam impostos em Itaquaquecetuba em São Paulo, denunciam a completa falta de acessibilidade, durante a época do Carnaval e depois que ele passar. São calçadas sem rampas, banheiros públicos sem acesso viraram depósito, falta de estacionamento, elevadores quebrados nos ônibus e até na estação de trem. Eles relatam que já fizeram reclamações, mas que agora decidiram se unir para exigir melhorias. A situação é ainda pior quando o assunto envolve transporte coletivo porque os ônibus demoram muito (mais de duas horas), e os elevadores de plataforma estão sempre com problemas para embarcar e desembarcar passageiros que usam cadeira de rodas.