sexta-feira, 31 de maio de 2013

Festival Todos Talentos – Alimento para o coração

Texto e fotos: Leandra Migotto Certeza*

Sentir a respiração. Ouvir o coração. Escutar. Entrar em contato com o ser que habita nosso corpo. Viver o momento presente. Sair da forma aparente. Ser gente. Conhecer no outro o si mesmo. A vida sem a arte não existe, e a arte sem a vida não acontece.

Música, dança, som, voz, movimento, olhar, abraço, palhaço, corpo, força, coragem, sonho, espetáculo, cores e aromas. Alimentos para o sangue conseguir sem bombeado pelo coração. Seiva da alma. Amor incondicional, justamente por ser perfeito em sua total incompletude e imperfeição. Abraço apertado, beijo molhado, olhar trocado, silêncio compartilhado.


Toque delicado. Sonho realizado. Experiência vivenciada junto. Carinhos trocados em olhares e palavras. Oração. Prece. Perdão. Comunhão. União. Aventura. Risadas. Histórias. Passado e presente livres.

Tempo? Circulação! Coragem, compaixão. Delicadeza e força. Ser e estar no espaço tendo um lugar no mundo, e sendo parte dele. Potencialidades, formas diferentes e únicas. Vozes para ‘escutar’; falas para ‘cantar’; olhares para ‘tocar’; e sons para iluminar caminhos.


Braços, pernas, pés, tons de vozes, mentes, inteligências, sensibilidades, energias diferentes e iguais em sua humanidade e espiritualidade. Formas e maneiras de fazer e estar no Planeta Terra. Pedaços de um quebra-cabeças que se encaixa só quando se unem com o mesmo propósito: ser e estar: exatamente como vieram e com a missão que irão cumprir.


Uma vez por ano a Casa do Todos comemora os talentos que compõe a comunidade. O valor da autoria de cada talento expressa as diferenças como qualidades em cada ser humano. Todos Talentos é um encontro para compartilhar habilidades onde o criador e a criatura inventam uma ordem sagrada. O encontro revela diferentes ‘fazeres artísticos’ como: danças, músicas, teatro, canto, instalações, comidas e artes tantas. Afinal, o par não é o que separa no dois, mas o que inclui no Todos.

O resultado dessa união, em setembro de 2012, você vai conhecer agora...


A cada número uma surpresa... 

Antes do começo: beijos e abraços espalhados, cumprimentos, Pai Nosso, Luz.  Bolinhas de sabão... Mais comprimentos. Pessoas chegando... O alimento do corpo nos aguardando enfeitados.
E outras pessoas chegando...  Conversas... E mais conversas...


Pétalas de rosas no chão. Balões coloridos no ar. Miudezas. Ideias. Gostosuras doces. Imagens de momentos na Casa do Todos Campo. Livros. Palavras. Ensinamentos e sabedorias compartilhadas. Produções de arte para comprar e vender. Lãs, tecidos, pinturas, mandálas. Em cada detalhe, um carinho. Em cada carinho, uma esperança.




Mais pessoas chegando... Flauta ensaiando. O Festival vai começar... Círculos coloridos com convites para aproveitar o momento presente como um presente.



A história da Casa do Todos é parte de cada talento compartilhado. Dezenove anos de experiências vividas juntas. Aprender a receber também é uma dádiva. Dar e receber. Agradecimentos e mais agradecimentos. Nossa inspiração? Teorias do movimento autêntico. O encontro de olhos fechados. Que coragem... 




Primeiro número: Vamos dançar? Bênçãos para todos e todas. Luz. Energia. Vitalidade. Circulação. Sentir o corpo. Saber da alma. Ouvir o coração. Espalhar o que se sente e o que se vê. Calma. Leveza. Detalhe e imensidão. A dança, a valsa. A música interna e externa. Olhos fechados. 


Segundo número: Depois, confiar no outro e descobrir quem se é confiando em si mesmo. Arte marcial. Luta? Conhecimento dos limites, superando medos. Espera. Paciência. Cair e levantar. Levantar e cair. Ir e vir. Ser e não ser. Sentir e não sentir.




Cair e levantar novamente. É a vida. Cheia de altos e baixos. Cheia de tropeços e recomeços. Plena de significado. Saber esperar a sua vez de dar confiança ao próximo e ser recebido por ele. Saber ouvir. Saber agir. Cumprimentos. Bênçãos. Energia. E mais energia. Força. Leveza. Coragem. Fechar os olhos e ouvir o que vem de dentro para mostrar o que está na relação com o outro lá fora. 

   
Terceiro número: Palhaços! Alegrias! E mais diversão! Ritmo. Batera. Teclado. E mais ritmo. Fantasias... Inconsciente mágico. Cores. Tecidos. Fantasias. E alegrias! Ritmo. Expressões. Caras e bocas. Olhares. Espanto. Parceria. 


É possível passar horas e até dias, sentindo que todos nós ainda temos um palhaço dentro da gente. É possível escolher entre ouvir ou não o palhaço, que muitas vezes está adormecido. Deixar simplesmente fluir a fantasia de ser quem proporciona alegrias. Brincar. Diversão. E mais alegrias.  


Quarto número: Instrumentos que dançam. Guitarra e violão. Imaginação. Soltar e se soltar no vento. Tocar o instrumento sendo tocando por ele. Ser o instrumento. Fazer parte da música. Ser a dança.


Estar no momento presente. Criar. E recriar. O que o artista pensou pode ser modificado para expressar o que cada um é. O clássico se une a livre expressão do sentir. Grande artista que domina a guitarra interna da imaginação. 


Quinto número: Talento em andamento. O sonho de falar e ser italiana. A fantasia de ser outra pessoa a quem se admira. Identidade na fase entre a despedida da infância e a chegada a vida adulta. A necessidade de realizar um sonho de representar quem se deseja ser. A possibilidade de deixar florir uma paixão pela arte da palavra cantada, dublada, tocada, representada.  

Sexto número: o mar e o amor. Imensidão e imersão no mundo interno de cada um. Azul que acolhe e aceita. O tempo de cada ser é único e profundo. Em especial para aqueles que têm o seu próprio tempo inconsciente. Ninguém deixa de participar do jeito que está aqui na Terra.

O mundo é de todos e feito por todos. Não existem outros mundos particulares que não são acessíveis pelos seres que habitam o Planeta. O que é preciso é saber ouvir e ver cada expressão de estar ao lado do semelhante. Paciência. Calma. Tranquilidade.

E depois o sonho. Claro! O sonho novamente. Estar no mar das fantasias possíveis. Cantar. Dublar. Falar outro idioma. Sentir e se expressar com a intensidade de um grande ator. Poder ser outra pessoa sendo você mesma.

Sétimo número: o tango, a dança. Leveza e força. A dança com o corpo se transforma em a dança com a alma. É o tango que leva a bailarina. Entrega total. Movimentos precisos. E ao mesmo tempo, soltos. Caminhos abertos. Energias. Interpretação livre. Novas formas de sentir emoções.

Sedução de si mesmo, puramente pelo movimento que a dança traz. Concentração. Habilidade. Rapidez. E o mais importante: sentimento. Sim, é possível dançar de olhos fechados e corações abertos. É possível ir além do racional, e explorar o emocional.











Oitavo número: rock livre. Todos e todas dançam e brincam de dançar. Mexer o corpo para se lembrar de conectar o espírito com a máquina que nos sustenta. Idades cronológicas; diferem das internas. Aparências não são essências. É possível enxergar além do que vemos. Sentir além do que o corpo mostra. Cada um pode e consegue dançar e ser feliz exatamente como se apresenta no mundo: especial por ser único e cheio de potencialidades a serem exploradas.  














Nono número: Linha do tempo, espaço, amplitude, caminhos. Ir e vir seguindo os seus passos, rumo ao horizonte de possibilidades imaginárias. Alegria da interpretação determinada de um palhaço. Pode ser o mar infinito das incertezas. Pode ser a linha dos limites a serem conhecidos e ultrapassados quando necessários.

O importante é sempre levantar os braços e seguir em frente: rumo ao desconhecido, cheio de possibilidades. Juntos e de mãos dadas, é melhor seguir. Dar a volta e começar de novo. Sempre. Caminhar sobre a linha da vida. Ser levado por ela fazendo parte dela. 


Décimo número: memórias. Passado, presente e futuro juntos, aqui e agora. Histórias que se contam em imagens, sons, músicas, palavras, textos, sabedorias, abraços, doces, pães, corações, cores, colagens, desenhos, pinturas, ternuras, vidas que se cruzam e compartilham a vida, cheia de luz. Sim, é possível! É possível, viver em harmonia em meio ao amor de todos para todos.


Sim. É possível! O ser humano tem a infinita capacidade de ser solidário, amável, carinhoso, acolhedor. O ser humano consegue transformar, criar, experimentar, dar e receber afeto, compartilhar, compreender, ouvir e escutar, ver e enxergar, caminhar junto, amar. Dezenove anos de uma casa que abriga a diversidade humana em sua plenitude e completude justamente por ser diferente, única e especial.  Afinal, o amor é sua própria recompensa. 

Décimo primeiro número: Tatatum, o coração da Casa do Todos. Um lugar sagrado. Bater no mesmo ritmo do coração de cada um. Estar no momento presente com um instrumento na mão para seguir o som do seu coração. Juntos em uma roda cheia de cores e sons diferentes. O homem mais velho da casa faz a abertura e o fechamento do Tatatum entregando um troféu a quem ele deseja.














E depois, um chamamento para as histórias das vidas passadas que se unem as novas. 

“Hoje estamos assistindo aqui, um encontro de alma e de corações. Existe uma mensagem que diz que se a vida nos impõem limites; nossos anjos oferecem os contornos. E são esses contornos que procuramos na Casa do Todos”, disse o pai da Mirella.

Ele também contou a história dos dois potes que transportavam água: um cheio e outro pela metade. O que nasceu trincado, regava o solo para o nascimento de flores, e por isso, não era inútil. Tinha uma função muito importante, exatamente como era.          


Décimo segundo número: O balé das flores. Leveza, alegria, e mais alegria! Que felicidade dançar com a alma! Sem medos e amarras. Só a imensidão da música embalando os corpos soltos no ar. O ser interior é completamente belo! Sem máscaras. Transborda a emoção do encontro da mais pura beleza. Dançar simplesmente por dançar. Como é bom... Gentileza, carinho.












E depois a lambada! Eba! Dançar é maravilhoso! Soltar o corpo e a imaginação. Convidar o público presente para cair na dança livre! Completamente livre! O que vale é sentir a emoção do momento, do embalo, do ritmo, sem receios. Os pares se formam, e cada pessoa dança como é: com o coração aberto.  


Décimo terceiro número: Batera! Rock rol! É pura adrenalina! Sim, é possível aprender um instrumento que se ama. Sim, é possível tocar com tanta garra e dedicação.  Superar dificuldades, melhorar, aprimorar o talento para a música e o ritmo, tocando com o coração. Não importa a idade, a bateria mora dentro do peito. E até quem nunca tocou um instrumento consegue exprimir o ritmo do coração em baterias e tambores. 


Décimo quarto número: Monstros, dragões e bruxas. Fantasias mil. É possível soltar todos! A imaginação vai longe e os sentimentos acompanham. Inconsciente e consciente. É possível uni-los no tempo presente. Teatro e interpretação. Ação. É a vida pulsando!













Décimo quinto número: Mais um tango. Confiar no outro. Confiar em si mesmo. Acreditar que é possível dançar quando o corpo permite estar no espaço e tempo presentes. A cada passo seguido, um sonho realizado. A força do tango é a batida da emoção. Leveza no carinho com o parceiro. Destreza com as mãos e os pés. Subir aos céus na imensa alegria de dançar. Sim, também é possível!


Décimo sexto número: Selêlê e Iolanda. “Eu sou igual a você seja onde for”, diz a canção. Jovem que enxerga com todos os sentidos e cantora junta-se a outra artista para embalar o final do Todos Talentos 2012.


E Mirella lembra que...

O dia mais belo é hoje
A coisa mais fácil é errar
O maior obstáculo é o medo
O maior erro é o abandono
A raiz de todos os males é o egoísmo
A distração mais bela é o trabalho
A pior derrota é o desânimo
O melhor professor são as crianças
A primeira necessidade é comunicar-se

Agradecimentos a todas e todos, presentes em corpo e alma. E aos que estiveram também em pensamento e espírito. Viva Festival Todos Talentos 2013 que chega!!!


A casa

A Casa do Todos é uma rede de serviços em ação dirigida à comunidade. Esses serviços são cuidados terapêuticos oferecidos às pessoas que os solicitam em toda e qualquer situação de vida. São profissionais das áreas de saúde e educação que cuidam do desenvolvimento integral do ser humano. O propósito do trabalho é servir e multiplicar, no espaço na humanidade, a atitude participativa.

“O Todos é cada pessoa que pertence e constitui o comunitário. Cuidar deste lugar de pertencimento de cada um é ter um olhar especial em nosso dia a dia. Em grupo, criamos um espaço de Graça facilitador da manifestação de cada pessoa. O amor é sua própria recompensa”, Mirela D´Angelo Viviani, terapeuta.

“Nosso caminho de trabalho se baseia em receber o pedido de quem nos procura e acompanhar seu fluxo criativo de cura. As pessoas que nos procuram são de todas as idades e situação de vida, independente da característica de desenvolvimento pessoal. O trabalho está fundamentado em reconhecer as possibilidades da pessoa em fazer visível a autoria de sua vida. Assim, não existem limites para realizar o fazer no pedido de cada um e a Casa, com essa atitude, expande seus quintais oferecendo muitas e diferentes atividades. O foco da nossa atenção é observar, acompanhar a vida presente no momento individual e coletivo humano”, todos da Casa do Todos.

E estão todos e todas convidados e convidadas para o próximo encontro!





*Leandra Migotto Certeza é jornalista desde 1998, e editora da Revista Síndromes. Ela tem deficiência física (Osteogenesis Inperfecta), é assessora de imprensa voluntária da ABSW, consultora em inclusão, e mantém o blog “Caleidoscópio – Uma janela para refletir sobre a diversidade da vida” - http://leandramigottocerteza.blogspot.com/. Conheçam os modelos de palestras, oficinas, cursos e treinamentos sobre Diversidade, realizados em empresas, escolas, ONGs, centros culturais e grupos de pessoas no site: https://sites.google.com/site/leandramigotto/.