quinta-feira, 18 de junho de 2009

A boneca que falava e vivia no sol.

Por Leandra Migotto Certeza em 15/06/09.

Flutuava. Era de cristal. A boneca que vivia no sol começou a falar. Tinha mais ou menos 9 meses e só alguns centímetros. Tão pequena que parecia um bebê, mas não era. Tati era o centro das atenções do céu. Raio e chuva, seus pais, viviam brigando por ela, e para saber o que fazer com ela. Brisa, sua avó materna, nunca a tirava do colo. Vento, seu avó materno, a admirava com muita tristeza, e a provia de todas as necessidades.

Tempestade, sua tia-avó materna, cuidada com tanto zelo dela, que se esqueceu de ouvir as primeiras palavras que Tati disse quando deixou de ser um bebê. Nuvem, sua tia materna, a olhava com o rabo de olho, e o pé atrás. Tinha receio de perder seu lugar no céu, por isso, tratava Tati como uma eterna criança.

Tati gostava de ser criança, e ao mesmo tempo não. Adorava o colo da avó, mas sabia que um dia iria cair do céu e deixar de viver no sol. Sabia também que viver na Terra era muito dolorido, por isso, preferia a dor de ser levada de um lado para o outro, como um saco de batatas que seus pais carregavam para cima e para baixo, sempre com o coração do tamanho de uma ervilha.

Ser uma boneca era muito bom. Tinha tudo sempre à mão: guloseimas, brinquedos, passeios, carinho e, principalmente, atenção. Era o centro das atenções. O raio, a chuva, a tempestade, a brisa, a nuvem e o vento, viviam ao seu redor. Nunca a abandonavam, nem mesmo para deixá-la sozinha com seus pensamentos. Isso era bom? No começo sim. Foi ótimo ter todas as dores aplacadas por remedinhos, comidinhas e carinhos. Ser o centro das atenções a livrou da insuportável dor do medo de viver quebrada, por dentro e por fora.

Tati nasceu toda esfacelada. Os pedacinhos do seu corpo foram colados de qualquer jeito, e ela nem teve tempo de dizer como queria ser. Não entendia porque tanto sofrimento. Não sabia o que tinha feito para merecer tanta dor. Viver no sol era seu maior conforto. Lá era quente, acolhedor, seguro, e o mais legal, era um lugar privilegiado.

As estrelas tinham seu brilho, mas Tati era o centro delas. Viver no sol, trouxe calor para cada pedacinho do seu corpo, tão frágil e desamparado. Sem ele não seria capaz estar no céu. Lá pode ser feliz. Brincou como uma criança até mais ou menos 14 anos. Mas era muito engraçado como Tati sabia que não era mais criança, e mesmo assim gostava de ser uma marionete nas mãos das pessoas, em especial de seus pais.

O peso do seu leve corpo era tão grande que ela achava que não conseguia carregar sozinha, por isso, optou por fingir ser criança até mais tarde, quando encontrou o mar, seu eterno, único e verdadeiro amor, e tudo começou a tremer dentro dela. Mas esta é uma outra estória que ela conta depois.

Agora Tati quer se lembrar de quando era uma ‘boneca-bebê’ que falava. Nasceu com olhos grandes; cabeça maior e em forma de triângulo; cochas roliças; pernas curtas e braços compridos; cabelos castanhos bem finos; dedos alongados, e mãos perfeitas. Tati adorava suas mãos e dedos. Era a única parte do seu corpo que achava igual a das outras bonecas do céu. Ela não queria ter nascido feita de pano, palha ou plástico, mas ser de cristal era extremamente perigoso e trabalhoso. Chato até.

Tinha sempre que se proteger. Até de si mesma. Quebrava qualquer pedacinho do seu corpo, só de respirar. Por isso, fingiu que era feita de aço, e nunca deixou de se divertir pulando de bundinha pelo céu. Suas pernas não tinham força, mas em compensação, sua voz era mais forte do que o trovão, seu único irmão. Gritava tanto que o sol tremia, mas seu coração não percebia o mal que fazia a si mesma. Ganhou fama de dona do céu. Adorava esse título, mas não sabia até quando conseguiria carregar o peso de ser o centro das atenções.

Falar cedo foi sua tábua de salvação. O céu era muito grande e o sol muito quente. Quando disse as primeiras palavras, pode conhecer o horizonte da imaginação. Perdeu-se nele, e se entregou a ele em seus mais doces sonhos. Trovão, seu único irmão, sempre a despertava com tanta violência que Tati, voltava a se entregar nos braços do horizonte, com medo do barulho que todos os trovões têm. Como uma onda no mar, foi e voltou da sua imaginação várias vezes. A cada retorno quebrava um pedacinho da sua alma. Eram marcas que nunca seriam apagadas da sua memória, principalmente, no momento de fazer a primeira viagem ao Centro da Terra.

As outras bonecas tinham inveja da sua condição de rainha, mas Tati não achava a menor graça o peso de sua coroa. Era obrigada a exibi-la para todos no céu. Era o troféu mais esquisito que o céu ganhara, sem saber o motivo. Luz só tinha dito ao céu que foi um acidente, Tati ter nascido de cristal.

A boneca que falava e vivia no sol, perguntou inúmeras vezes porque não tinha nascido igual às outras, que eram como lindas bailarinas, mas nunca encontrou uma resposta verdadeira. Por isso, pensava que tinha sido ela quem pediu para vir ao céu em um corpo de cristal. Achava que era sua máxima e eterna culpa. E que a carregaria para todo o sempre. Por isso, tinha que levar alguma vantagem nessa estória.

Viver no reino da fantasia sabendo que já tinha crescido, foi a melhor tática que encontrou para continuar viva, mesmo sem saber. Assim, conseguia observar de longe, e bem segura, todas as outras bonecas se transformando em seres humanos, ao chegarem a Terra. Ela seria a última, ou uma das últimas, pois até então, ainda não conhecia outras bonecas iguais a ela. Raio e chuva a escondiam dentro de suas capas feitas de aço. Assim, era bem mais difícil Tati conseguir fugir e dar as mãos para o arco-íris rumo ao Centro da Terra.

Um dia, a boneca que falava e vivia no sol, conseguiu ver o pote de ouro do outro lado do arco-íris, e resolveu dar uma espiada nas condições da viagem que sempre soube que faria um dia, mais cedo ou mais tarde. Antes tarde do que nunca, já dizia sua outra tia-materna, a estrela cadente. Tati tirava todas as suas dúvidas com ela porque sabia que era a única capaz de entender seus mais íntimos desejos. Tão íntimos que o mar, seu eterno e único amor verdadeiro, ainda está conhecendo bem devagar, cada desejo seu.

Tati deu várias espiadas ao Centro da Terra, mas sempre amparada pelo cometa, que na verdade, era uma cometa com cara de anjo, mas que de boazinha não tinha nada. Passava tão depressa que Tati, às vezes, não conseguiu segui-la, mesmo que desejasse com seu mais profundo desejo. Um dia a cometa surgiu em sua vida com tamanha força que Tati não resistiu e subiu em sua cauda. Viajaram juntas por muitas galáxias, mas a boneca que falava e vivia no sol ainda não estava preparada para virar gente; e a cometa entendeu suas emoções.

Hoje Tati viaja na cauda da cometa com muito mais segurança, e principalmente, conforto. É uma viagem longa, cheia de tempestades, trovões, maremotos, vulcões, rochas, e muitas pedras pelo caminho, mas a boneca que falava e vivia no sol, está decidida a virar gente e entrar bem devagar no Centro da Terra, para ser de cristal, mas deixar de chamar a atenção de si mesma.

Não vai mais carregar nenhum peso nas costas, ser marionete de ninguém, e muito menos o centro das atenções. Será apenas mais uma boneca que virou gente e conquistou seu espaço na Terra, e não no centro dela. O maior desafio agora é Tati aprender a viver parecendo uma simples boneca, que sempre será de cristal, e chamará a atenção de todos, mas nunca deixará de ser e viver como gente, com todas as dores e delícias de ser HUMANA.

A história de Jéssica



Chamo-me Jéssica, tenho 17 anos.Sou uma pessoa muito feliz.Namoro o Thiago, o amor da minha vida.Sou alfabetizada, estou na sétima série.Falo inglês, sei um pouco de libras, francês.Navego na Internet.Sou recreadora de crianças.Faço e vendo bijuteria.Sou muito independente, viajo sozinha, ando de ônibus urbano e vou ao banco.Sou muito amada pelos meus Familiares e amigos.Tenho uma Cachorra muito fofa “Perola”.Enfim sou uma adolescente igual a qualquer menina de minha idade.Mas nem sempre minha vida foi assim.

Quando nasci, minha mãe percebeu que eu era diferente, embora ela falasse para os médicos, eles diziam que era da cabeça dela. Mesmo desacreditada minha mãe insistiu. Minha correu atrás de terapias tratamento mesmo não sabendo o que eu tinha.Houve momentos que chamaram minha mãe de louca. Ela percebia que meu desenvolvimento era diferente, demorei em levantar a cabeça, sentar, andar, falar, muitas infecções, uma criança muito irritada, Hiperativa... Por ironia do destino tive meningite bacteriana aos 16 meses, que atrasou ainda mas o meu desenvolvimento, andei com quase 3 anos, sempre tive muita dificuldades motoras. Passaram a tratar seqüela de Meningite, embora minha mãe nunca concordou com este diagnóstico.

Só descobriram o que eu tinha aos 7 anos, isto porque minha mãe encontrou com um médico americano no corredor de um hospital e ele disse que eu tinha Síndrome de Williams. Minha família me levou a uma geneticista e lá foi diagnosticada a Síndrome de Williams. Uma síndrome genética que falta um pedaço do cromossomo 7 , não tenho elastina , tenho muito cálcio no corpo, já operei 2 vezes da estenose aórtica supravalvar, tenho problema na bexiga, dor de ouvido, muita dificuldade para amarrar cadarço, não sei o que é direita ou esquerda, sou muito ansiosa, uso óculos, usei aparelho no dente, porque meus dentes eram para fora.Se vcs quiserem saber mais entrem na Internet: http://www.swbrasil.org.br/

Minha mãe me colocou na creche aos 4 meses,porque ela sempre trabalhou fora. No segundo dia chamaram a minha mãe para perguntar o que eu tinha, minha falou que os médicos diziam que eu era normal. Era uma loucura, eles não sabiam como lidar comigo, eu era muito chorona e mole, todo começo de ano não queriam que eu mudasse de turma, por que eu não acompanhava as outras crianças, minha mãe exigia que ficasse com crianças de minha idade, ela sempre acreditou que eu convivendo com pessoas da mesma idade eu ia ter referencia passando a acompanhar meus amiguinhos e isso sempre aconteceu embora mais lento.
Com isso eu mesmo atrasada acabava aprendendo com meus amiguinhos, minha mãe era tirada de mãe chata, ela nunca me tratou diferente. Ela sempre foi muito general, nunca me deixou ter privilégio sempre exigiu que minhas dificuldades fossem respeitadas, mas que eu fosse tratada igual meus amiguinhos. Tanto que minha mãe me mudou 2 vezes de creche porque as tias estavam me mimando muito, e eu manipulava as tias.Aos 5 anos fui estudar Escola Municipal de Educação Infantil, próxima de casa, como sempre chamaram meus Pais no segundo dia de aula para perguntar o que e tinha e avisaram que eles não estavam preparados para lidar comigo, queriam diminuir o meu horário escolar, meus pais não concordaram. Falaram que sabiam que eu era diferente mas como os médicos não haviam dado diagnóstico, eu era tratada como um pessoa normal.

Nesta EMEI aconteceu de tudo, ficava isolada no canto da sala de aula, todos dias a professora reclamava que não sabia como trabalhar comigo. Eu ficava perambulando pela escola, me molhava no bebedouro, sumiam meus materiais escolares, eu não me integrava com a turma.O Relacionamento da minha família com a escola piorou quando começaram a acontecer coisas desagradáveis como:- Molhar toda a escola com uma mangueira que achei ligada.- Desligar o quadro de força que achei aberto.- Pintar uma parede que o pintor esqueceu de guardar as tintas.- Tomar chuva durante 4 horas no play ground da escola porque a professora me esqueceu, como conseqüência acabei pegando uma pneumonia ficando indo parar numa UTI.- Apanhar todos os dias das outras crianças- Fugir da escola em horário de aula.- Bilhetes mal educados da professora.Houve até boletins de ocorrências em delegacias.
Nesta época já se falavam em SAPNE (sala de apoio pedagógico para pessoas com necessidades Especiais) Eu freqüentava pela manhã e ia a para a EMEI a tarde , Era muito longe tinha que atravessar a cidade, acordava de madrugada, estava sempre cansada e de mal humor.Como eu já estava com 7 anos, meus pais resolveram entrar na justiça para conseguir uma escola adequada as minhas necessidades, por falta de opção acabei indo estudar numa sala especial.

E studei lá por 3 anos apesar de ter aprendido muita coisa hoje sei que foi perca de tempo, a sala tinha 8 colegas de várias deficiência acabava aprendendo as manias deles, chorava para não ir, fugia da sala e ia para sala dos “ditos normais”. No segundo ano de sala especial,na escola ia ter uma feira de ciência e minha sala ia falar sobre o papel, ai a sala foi fazer uma visita a uma fabrica de papel, neste dia minha mãe recebeu um bilhete da professora, que não havia prestado atenção e nem me interessei por nada, no dia da feira minha mãe me levou para a minha sala A professora tinha feito uma market de todo o processo da fabrica, ai entrou uma senhora e eu perguntei se ela queria uma explicação, expliquei tudo que haviam falado lá, neste dia eu convenci minha família que eu estava num lugar errado.
Embora minha família sem condição financeira, sempre tive acesso todos os profissionais (fono, psicólogo, neuropsicologo, psicopedagoga, terapeuta ocupacional, musico terapeuta, psicomotrocista) necessários para o meu desenvolvimento, isto era possível porque minha mãe teve a cara de pau de ir a consultórios e pedir a possibilidade de me atenderem gratuito ou pagamento simbólico, ou até mesmo fazer faxina no consultório para pagar as terapias. Com este fato citado acima minha mãe relatou para eles e os mesmo se juntaram e me aplicaram vários testes.

O resultado foi que eu estava acima daquela turma, era por isto que eu não prestava atenção em nada.Naquela época já se falava em INCLUSÂO, orientaram a escola para me incluir na primeira série. A escola teve muita resistência em me incluir alegando que eu não estava preparada e no ano seguinte eu estava novamente na classe especial. Novamente no segundo dia de aula a professora falou que não estava preparada para lidar comigo, neste dia minha mãe explodiu e falou tudo que pensava de um educador, falou coisas horríveis.Minha mãe me levou para casa com a certeza que nunca mais eu pisava numa escola, mas graças Deus a professora ligou a noite para minha mãe e pediu desculpas, disse que ela precisava ouvir tudo aquilo, disse também que estava muito envergonhada, falou do medo que ela sentia em relação a mim e pediu ajuda para minha mãe.I sto fez muita diferença as duas passaram a trabalharem juntas, falando a mesma língua, em 3 meses eu estava alfabetizada.No ano seguinte fui “incluída”.

Vocês devem estar pensando que é um final feliz, pasmem foi ai que começaram todos os meus pesadelos.Fui “incluída” numa classe com 42 alunos, a professora recém formada com mais 2 hiperativos na sala. Eu ficava jogada no fundo da sala de aula, sumiam todos os meus materiais, apanhava dos colegas, a professora não me dava atividades, ficava passeando pelos corredores era um pesadelo para todos, minha mãe era proibida de entrar na escola, quando ela ia falar com a direção eles alegavam que a “ inclusão” não tinha dado certo e eu tinha que voltar para sala especial mas minha família acreditavam na minha capacidade, sabiam que eu não estava sendo atendida de maneira adequada.

Minha mãe continuava recebendo os bilhetes de reclamações, Um dia ligaram para minha mãe ir me buscar porque eu estava agressiva na sala reclamara que eu tinha enfiado um lápis no ouvido de um colega de sala de aula, minha mãe foi muito preocupada porque eu sempre fui dócil e amável, minha mãe saiu comigo sentou no banco da praça e me perguntou o porque? Mostrei minha orelha toda ensangüentada e disse para ela:- Ontem o colega puxou minha orelha até sangrar fui falar para a professora e ela falou:- Bem feito quem mandou você mexer com ele.- Hoje eu fui me vingar. Minha mãe chorou e voltamos na escola ela pediu para ver o livro de ocorrências e não tinha nada relatada do fato do dia seguinte, ai minha mãe exigiu que também constasse no livro o acontecido e o colega também recebesse advertência igual eu.Meus pais se sentiam constrangidos quando iam à reunião de pais os assuntos sempre era eu. Um dia minha mãe foi falar com coordenadora Pedagógica da escola e ela muito impaciente falou para a minha mãe que ela enchia o saco, quem era minha mãe para ensinar o serviço para ela, sendo que ela tinha 18 aos de pedagogia.

Neste dia minha mãe cansada de tudo saiu da escola e foi para o fórum, chegando lá pediu para falar com o juiz da vara do menor, falaram que ele não a receberia , minha mãe deu uma de louca ficou 4 horas sentou na porta dele, quando começou chegar a imprensa o juiz a recebeu, minha mãe explicou tudo que estava acontecendo e pediu uma autorização para eu ficar em casa sem estudar. Inconformado o Juiz pediu explicação para a secretária de Educação, a escola respondeu que minha mãe era omissa e eu não tinha atendimento, (como já citei acima sempre tive todos profissionais necessários para meu desenvolvimento) ai minha mãe mostrou todos os laudos que tinha, o juiz viu que eles que eram omissos .

Foi marcada uma reunião com todos os profissionais que me acompanhavam (19), conselhos e meus pais, foram 4 horas de reunião e esclarecido tudo. A escola foi reformada para se adequarem as minhas necessidades, a direção afastada, todos se conscientizaram e passaram a respeitar minhas limitações, também adaptaram o currículo escolar. Com esta intervenção eu e meus colegas com deficiências tivemos um ganho muito grande acabaram as salas especiais todos foram incluídos.Estudei nesta escola até a terceira série, ai minha mãe acabou me tirando por conta da escola ser longe e eu tinha que tomar 2 condução para chegar.
Fui estudar numa escola próxima de casa, no começo se assustaram porque eu fui a primeira com deficiência a estudar lá, eu e minha mãe esclarecemos tudo e eu ensinei eles a lidar comigo, estudei lá por 2 anos.Tive problemas na quinta série, primeiro queriam me dar atestado de terminalidade. Eu não queria parar de estudar, então minha família me matriculou numa escola Publica muito famosa. Novamente voltamos a lutar, a escola funcionava com classes ambientes ( o aluno que vai até o professor), nos intervalos eu me perdia acabava estudando em sala errada, eu ia todos os dias, mas ficava com falta.

Mi ha mãe tentou de todas as formas tentar ajudar a escola , mas eles tinham muita resistência em ouvir minha mãe, até a professora da quarta série foi até a escola para ensin- los como lidar comigo, mas nem isto adiantou, na matemática sei fazer as 4 operações com material dourado , o professor de matemática não sabia usar este material, não consigo copiar a lição da lousa com rapidez, o professor apagava antes de eu te copiado, só escrevo com letra de forma o professor de português exigia que eu escrevesse com letra cursiva, tentamos de todas as formas para eu permanecer na escola.

No final do ano eu muito decepcionada e frustrada decidi que ia parar de estudar. Minha família me aconselhava não desistir minha mãe falava que acreditava em mim, que eu tinha potencial. Depois de muita insistência minha mãe me falou do CIEJA ( Centro Integrado de Educação de Jovens e adultos ), me pediu para eu ir conhecer, lá fui muito bem recebida, me identifiquei muito com meus colegas com a minha idade. Estou estudando lá há 2 anos. O sistema educacional do CIEJA é por ciclos , cada um corresponde há 2 série escolares estou no terceiro que corresponde a sétima série.

Quando tinha 11 anos percebi que minha família estava me protegendo muito, tinha uma moça que trabalhava em casa para cuidar de mim, eu não saia sozinha, minha mãe ou meu pai me levava para a escola e meus irmãos me buscavam. Eu sabia que eles faziam isto porque gostavam de mim. Mas me sentia sufocada, eu sempre tive a liberdade de falar tudo que penso em casa sempre tive o direito a voz e voto como qualquer membro de minha família, um dia resolvi ter uma conversa séria com eles, comecei perguntando se eles confiavam em mim , todos disseram que sim, ai eu questionei porque eu precisava de babá, porque eu não podia ir a padaria, na feira sair sozinha, falei que não era mais um bebê? Foi como eu tivesse jogado uma bomba em casa, uma revolução, me pediram um tempo, vi minha mãe muito preocupada afinal ela sempre esteve do meu lado.

A primeira vez que me deixaram ir à padaria só , encontrei o meu vizinho na rua que me pegou na mão e me levou de volta para casa dizendo que eu estava fugindo, minha esclareceu que eu ia a padaria, ele chamou minha mãe de louca.Uma vez estava esperando meu irmão num terminal de ônibus o fiscal chamou a policia dizendo que eu estava perdida nem me perguntaram nada e me levaram para a delegacia ai chegou lá dei o endereço de casa e o telefone da minha mãe ai ela foi lá me buscar.O próximo passo foi me ensinar a ir só para a escola, sei que não devo falar com estranhos, depois tiraram a babá. A primeira vez que fiquei só em casa cheguei muito atrasada na escola, ai minha família percebeu a minha dificuldade com horário, minha mãe comprou vários despertadores coloridos para tocarem nos horários necessários, eu me guiava pelas as cores, hoje sei ver a hora no relógio digital.

Como tenho falta de coordenação motora apertei muito o botão do micro ondas (1 hora) ao colocar um pão para descongelar e ele pegou fogo, minha mãe descartou o micro, e colocou Rabo quente (uma boca de fogão elétrica), nosso fogão tinha acendimento automático, girei vários botões coloquei fogo no fogão , minha mãe descartou o acendimento automático, não uso o fogão porque não gosto de fósforos. Mas já estou aprendendo a usar o fogão e cozinhar afinal um dia quero ter minha casa.È muito engraçado as pessoas ainda não estão acostumados com a minha independência vivem me perguntando se estou perdida.

Sofri muitos preconceitos, nunca liguei para isto, aprendi a lidar, quando tinha 5 anos reconheço que eu era um pouco esquisita: usava botas ortopédicas, tampão no olho, aparelho no dente e babava. Moramos num prédio, quando descia para brincar as crianças me mandavam embora, como sempre ganhei muitos brinquedos da moda, eu descia com o brinquedo que eles não tinham ai brincavam comigo, com isto conquistei a todos. Na escola aprendi a conquistar meus colegas , temos que mostrar as nossas qualidades para as pessoas compreenderem que somos como qualquer pessoa e respeitarem nossas limitação.Outro dia entrei no ônibus quando me sentei ao lado de um senhor ele imediatamente se levantou, preferiu ir de pé, ai eu perguntei para ele qual o preconceito que ele estava sentindo, só queria entende se era porque sou pobre, negra, mulher ou porque tenho deficiência ele ficou bravo desceu no próximo ponto.

Já sofri tentativa de abuso sexual na escola, graças a Deus minha mãe sempre conversou sobre este assunto comigo e eu aprendi a identificar quando somos obrigados a fazer o que não queremos, ai eu corri e denunciei eles para a direção da escola.Quando estou sozinha não falo com ninguém e nem sento com homens no ônibus, por uma vez eu sentei e ele pos as mãos nas minhas pernas, levantei e me mudei de lugar , me senti muito triste, liguei para minha mãe que me esperou no final com a policia.

Quero casar com o Thiago e ter filhos, dizem que meus filhos terão a SW, para mim não tem problema nenhum tenho muito orgulho de ter SW e daí se meus filhos tiverem, tenho certeza que eles serão pessoas maravilhosas.Participo da Associação Brasileira de síndrome de Williams, que minha mãe acabou se juntando com outras mães e fundando, lá é muito legal, mas fico muito preocupada com meus amigos. Tenho alguns que tem a minha idade e suas mães ainda os tratam como bebês, outros que não conseguiram estudar, outros que a família não acredita no potencial deles, mas espero um dia mudar tudo isto e todos terem a mesma oportunidade que eu tive.Tenho muitos amores, minha mãe, meu pai, meus 2 irmãos (maternos), minhas Irmãs(paternas) enfim toda famílias toda, Meus amigos, a coisa fofa da Perola, e o meu amor Thiago, estamos namorando desde o Natal , ele me faz muito feliz, ele também tem Síndrome de Williams e as nossas famílias dão o maior apoio.

Vou terminar dando um conselho para os pais de pessoas como eu: Não mimem seus filhos trate eles iguais a qualquer filho, acredite em seu filho o futuro dele será o que você correr hoje lembre se seu filho tem deficiência , mas não é incapaz.Conselho para Professores: Quando você receber uma pessoa com qualquer deficiência não tenha medo não somos ETs somos seres humanos iguais a vocês, não tenham medo de perguntar para nos ou nossas mães a suas duvidas. Não somos um transtorno e sim uma pessoas que tem direito de cidadão de estudar como qualquer um.Me magoa muito me lembrar dos professores que não me aceitaram, mas de uma coisa eu tenho certeza eles perderam a única oportunidade de morar no meu coração, todos as pessoas que acreditaram em mim tem um lugar especial no meu coração.
Agradeço a minha Família principalmente minha mãe que sempre lutou por mim , graças a ela hoje eu sou uma cidadã. Agradeço a todos que sempre acreditaram em mim.Espero que me história ajude a muitas pessoas vencerem o preconceito e melhora a qualidade de vida sendo INLUIDO na sociedade.