domingo, 27 de novembro de 2011

Tamanho não é documento


Fonte: http://abiodiversidadehumana.blogspot.com/2011/11/e-so-um-anao.html


SÁBADO, 26 DE NOVEMBRO DE 2011

É só um anão

Por Carla Abreu

Essa frase me fez ter vontade de escrever sobre a peculiaridade do preconceito que cerca as pessoas com nanismo. Algumas pessoas, e incluo nelas algumas pessoas com nanismo, entendem que ter menos de 1.50 m (até essa altura se classificou as pessoas como anãs, que no dicionário quer dizer pessoa baixa) a faz adquirir um “status” inferior. Ter menos de 1,50 m para algumas pessoas significa estar em uma escala inferior na espécie humana, e por ser inferior, próximo a um objeto, essas mesmas pessoas entendem que podem desrespeitar, humilhar, xingar , fazer piadas, e até agredir fisicamente as pessoas com nanismo.

Em razão disso, e na tentativa de desvencilhar-se da carga cultural de preconceito que a palavra “anão” pode veicular, e muitas vezes veicula, é que muitos de nós sentimos a necessidade de sermos chamados de pequenos. Isso porque, infelizmente, ser anão significa, na cabeça de algumas pessoas, ser inferior. Não há problema algum em ser baixinho, pequeno ou anão, o problema é a carga que esta palavra traz, havendo até mesmo quem ensine a fazer piada de anões, como se nós, pessoas de baixa estatura, friso pessoas, autorizassemos essa conduta ou não tivessemos direito de sermos visto e representados com dignidade, e como somos. Nós somos seres humanos como qualquer outra pessoa o é, como a loira alta é, como jogador famoso de futebol é, como o cadeirante é, como o negro é, como o gordo é, como o magro é.

É o que é ser um anão? Senão ser mais uma pessoa no meio de tantas outras, pegando o õnibus, levando fora da namorada, casando,comprando o primeiro carro, passando no vestibular, levando um elogio do chefe, perdendo o emprego, conta para pagar, escola para pagar...

É muito estranho, você sendo apenas uma pessoa comum, no meio da multidão, ser apontada "do nada", por um semelhante que rir de você e grita: “olha um anão”. Como assim? O que tem para ser visto? Senão uma pessoa comum vivendo o seu cotidiano. Felizmente, a coisa está melhorando e já vejo crianças dizerem:” olha mãe, uma mulher pequena".Sem risos, sem zombaria e sem vontade de machucar. E por quê isso me parece melhor? Primeiro, porque não houve uma atitude de riso ou zombaria, segundo a criança me reconhece como pessoa, como mulher que tem uma característca ou deficiência, que é ser pequena mas não me faz diferente de outra mulher, não me categorizou em sub-espécie dentro de seu imaginário.

A palavra “anão”, infelizmente, no mundo simbólico de algumas pessoas, no imaginário de algumas pessoas, retira de nós, pessoas com nanismo, o direito ao respeito, o direito de sermos reconhecidos como pessoas no mesmo patamar, no mesmo grau, das demais. E isso é horroroso, pois gera violência moral e física.

Somos seres humanos temos direito ao respeito, nós não autorizamos ou entendemos como adequado fazerem piadas a respeito de quem somos, é preciso que as pessoas aprendam a conviver e respeite a diversidade natural que a espécie humana apresenta. Como sempre afirmo não existe na espécie humana, sub-espécie, ou raça, isso é biologicamente incorreto.

Conceituando espécie, espécie consiste em uma população de seres que podem cruzar entre si gerando descententes férteis. Uma pessoa com baixa estatura, ou com nanismo, pode ter relações sexuais com uma pessoa sem nanismo, dita “normal”, e gerar descentes férteis que podem ou não ter nanismo. Será que ficou mais claro? E o que é sub-espécie? Vamos lá, oitava série, do segundo grau, relembrando sub-espécie ocorre quando se divide duas populações da mesma espécie, e no processo evolutivo, adquirem características genéticas diferentes, são populações que se divididaram, não existindo troca de genes entre essas populações, uma vez que se separaram por barreiras geograficas através de gerações, ou seja, por um longo período, essas populações podem se encontrar, cruzarem e gerarem descendetes férteis com características geneticas dos dois grupos, são hibridos.

As pessoas com nanismo não foram separadas por barreiras geograficas das pessoas de alta estatura, na verdade, algumas modalidades de nanismo, são provindas de mutação genetica, que não tem ligação nenhuma com barreiras geograficas e adaptação ao espaço geografico. Tanto é assim que pessoas altas podem ter filhos com nanismo, e pessoas com nanismo podem gerar pessoas altas. Deu para entender? Os biologos dizem que o conceito de sub-espécie ou raça não é aplicado ao ser humano porque essa barreira geografica, perpetuada por gerações, nunca ocorreu de fato.

No Egito já se demonstra a convivencia entre pessoas com nanismo e pessoa sem nanismo além disso o Projeto Genoma concluiu que não se pode falar em sub-espécie ou raça, em termos biológicos referindo-se a espécie humana , porque não existem genes raciais na espécie humana, em outras palavras, ficou evidenciado há não existencia de isolamento genetico na espécie humana, o que há é um conceito social, cultural, e não cientifico de raça.

É preciso que as pessoas se conscientizem que ser anão é ser apenas uma pessoa com uma característica diferente da delas, e diferente são todas as pessoas, com habilidades e dificuldades diversas.