sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma parte da história da REATECH

Caras amigas e caros amigos, 


Participei do embrião do maior evento sobre inclusão do Brasil em 1999, realizei várias coberturas jornalísticas, muitas delas, voluntariamente, e com pouquíssimos recursos técnicos. 


Compartilho aqui a reportagem que fiz em 2003 para convidar a todos a acompanhar a vídeo-reportagem, sobre a acessibilidade no local, que irei publicar no Caleidoscópio sobre 10 edição da feira que acontece até domingo dia 17/04.


Este futuro vídeo espera parceiros para se tornar acessível às pessoas com deficiência visual e auditiva, com áudiodescrição, legendas e LINBRAS. Entrem em contato: leandramigottocerteza@gail.com

OBS: todas as fontes divulgadas na matéria de 2003 não estão atualizadas.  


Conheçam o site da feira em 2011:
http://www.reatech.tmp.br/



Fonte: https://sites.google.com/site/leandramigotto/artigos-sobre-inclusao


REATECH 2003 - II Feira Internacional de Tecnologias de Reabilitação e Inclusão Social

Por Leandra Migotto Certeza*

Especial para o Portal Setor 3




REATECH – II Feira Internacional de Tecnologias de Reabilitação e Inclusão Social realizada em São Paulo de 24 a 27 de abril de 2003, é o maior evento do setor no país, e já tornou-se referência na América Latina. Cerca de 18 mil pessoas, conferiram gratuitamente, as mais recentes altas tecnologias do mercado na área de reabilitação e inclusão, além de recentes publicações sobre o segmento. Conheceram o trabalho de algumas ONGs, associações e órgãos públicos como o Ministério Público Federal e OAB - Ordem dos Advogados do Brasil; participaram de importantes seminários; e assistiram a apresentações culturais de dança, capoeria, e desfile de moda realizado por pessoas com deficiência.

    

  Mais de 120 estandes espalhados pelos dez mil metros quadrados do Centro de Exposições Imigrantes reuniu fornecedores de automóveis adaptados; equipamentos de reabilitação como: cadeira de rodas, elevadores, plataformas elevatórias, produtos ortopédicos como próteses e órteses; livros e publicações diversas sobre o tema; oportunidade de busca e oferta de empregos em ONGs e órgãos públicos; esclarecimentos sobre: higiene pessoal, Home Care (atendimento domiciliar em saúde).



     Estiveram presentes entre outras, as associações e/ou ONGs: AACD (Associação de Assistência a Criança Deficiente); ABRAHHCARE (Associação Brasileira de Home Health Care), Avape (Associação para Valorização e Promoção do Excepcional); Fundação Selma; ADD (Associação Desportiva para Deficientes); Fundação Dorina Nowill para Cegos; Lar Escola São Francisco; Laramara (Associação Brasileira de Assistência para o Deficiente Visual).

     Outra grande novidade desse ano na REATECH foi a presença de pessoas com deficiência, e da terceira idade em sua equipe de apoio. Contratados pela Divisão de Inclusão Social da Gelre – empresa de colocação profissional - ocuparam diversos postos de trabalho, como: recepção, credenciamento, balcão de informações, entre outros, 41 profissionais, mostrando todo seu potencial aos visitantes da feira. Luciane Takada Gasqui, responsável pela organização da equipe confirmou a presença dos profissionais em 2004, comentando sobre a importância dessa oportunidade: "as oportunidades que os profissionais com deficiência tem de atuar em eventos são um importante recurso informativo para a sociedade no geral sobre a capacidade laboral destes. Nestes momentos reafirmamos o conceito de avaliar capacidades, habilidades e competências para o desenvolvimento de atividades e não a deficiência".   

Equipe de apoio inclusiva

     Quem andou pelo Centro de Exposições Imigrantes notou a presença de 19 profissionais com alguma deficiência física; 9 usuários de cadeiras de rodas; 3 com deficiência auditiva parcial; 6 da terceira idade; e 4 sem alguma deficiência, trabalhando em equipe. Alessandro Martinato, 25 anos, operador de informática foi um deles. Pela primeira vez trabalhou em um evento, e já pretende voltar, pois para ele: "foi um trabalho muito competente de toda a equipe. Todos estávamos cansados, mas muito com bom humor. Foi uma grande experiência profissional e pessoal, pois lá pude conhecer muitas novidades e conviver com pessoas diferentes". Alessandro é casado, tem o 2º grau completo, e dirige um veículo adaptado, pois há oito anos teve uma lesão na coluna ficando paraplégico. "Trabalho e pretendo ter filhos, levo uma vida como qualquer pessoa", afirmou.
    
     Há mais de três anos acreditando na inclusão social, a Gelre trabalha na colocação profissional dessas pessoas em empresas. A Divisão Social da empresa já montou equipes de apoio em outros eventos, como nas três edições da Conferência Nacional de Responsabilidade Social promovida pelo Instituto Ethos. "Acreditamos que todas as pessoas devem ter uma oportunidade de trabalho, os eventos dão visibilidade ao potencial dos profissionais com deficiência e por atingir um publico numeroso e mais eficiente na mudança de paradigmas", declarou Luciene Gadqui, da Divisão Social da Gelre.

Mais informações: www.gelre.com.br ou (0xx11) 3351- 3746.

Um show de atrações culturais


     Aproximadamente 30 modelos, entre eles 15 com deficiência e 15 artistas convidados, se apresentaram durante um desfile de moda. A Reafashion contou com patrocínio da M.Officer, que cedeu as roupas, e de empresas como a ABOTEC – Associação Brasileira de Ortopedia Técnica – e o Sebrae. Entre os convidados estiveram presentes, a atriz Susy Rego, Edgard Piccoli, apresentador da MTV, o ator Ricardo Macchi, e a modelo Mariana Dubois. A Faculdade Anhembi Morumbi, junto com a Fundação Selma e ABOTEC também promoveu um desfile de moda com roupas criadas especialmente para pessoas com deficiência, que procuram facilitar algumas dificuldades que têm na hora de se trocar. 

     A REATECH também contou um espaço especial para a exposição e venda de obras produzidas por pessoas com deficiência. Foram mais de dez expositores que apresentaram seus trabalhos e produziram obras ao vivo durante o evento. O artista plástico Sergio Torreta foi um dos participantes. Torreta, que é tetraplégico, levou sete obras e produziu uma tela durante a exposição. Além de pintar também realiza workshops, oficinas com crianças com deficiência e exposições.

     Já o Núcleo de Dança Portadores da Alegria – grupo carioca, formado por pessoas com deficiência - apresentou a coreografia "Hundum". O grupo é uma entidade sem fins lucrativos que tem como finalidade integrar essas pessoas através da arte da dança, rompendo as barreiras da discriminação, fazendo da atividade instrumento de descoberta do próprio corpo, explorando ao máximo o prazer da vivência e suas possibilidades terapêuticas. 

     Outra atração foi a apresentação de três coreografias diferenciadas de balé clássico do "Grupo de Dança da Instituição de Cegos Padre Chico", formado por 40 bailarinas com deficiência visual de três a 21 anos. E da companhia de dança "Arte Sem Barreiras" do CPSP – Clube dos Paraplégicos de São Paulo, com jovens bailarinos em cadeira de rodas junto a pessoas sem deficiência. 

     Os músicos com deficiência visual, Cleber de Souza – intérprete - o violonista Renato José, e o cantor e violonista Carlos Renato dos Reis deram um show durante a feira, junto a banda Arquivo 9, também formada por cegos, interpretando diversos estilos musicais. Entre outras atividades culturais, um grupo formado por crianças com deficiência treinadas pelo setor de Reabilitação Desportiva da AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente, dançou capoeira. 

     Marcela Cálamo visitou a REATECH e achou que o espaço reservado às manifestações artísticas melhorou bastante, pois segundo ela: "ano passado o palco era minúsculo, o pessoal da dança sobre rodas teve que fazer milagre para não despencar com cadeira e tudo de lá. Nesse ano, era um palco bem maior, em uma área ampla, que permitia que todos pudessem assistir sem atropelos. Essa mudança demonstrou respeito e valorização aos portadores de deficiência que fazem arte".

     Paralelamente a feira, palestras, seminários e cursos, atualizaram e forneceram conhecimentos especialmente a profissionais da área, além do público presente. O principal evento foi o REASEM – II Seminário de Tecnologia de Reabilitação e Inclusão, com 45 palestras gratuitas. As demais atividades foram pagas, como: o 1º Congresso Basileiro de Home Care com 11 palestras; o Fórum Brasileiro de Medicina Física e Reabilitação com 11 palestras; o IV COBRA – Congresso Brasileiro de Inclusão e Reabilitação do Acidentado com 11 palestras; a XVII – Jornada Paulista de Medicina Física e Reabilitação nas Lesões do Esporte, com 4 palestras; o SIOTEC – Seminário Internacional de Ortopedia Técnica com 9 atividades, entre palestras, mesas redondas, e painéis;  a II JTO – Jornada de Terapia Ocupacional, com 8 atividades, além do curso de Especialização em Equoterapia e Neurologia, entre outras.

Assuntos importantes sobre acessibilidade, legislação, mercado de trabalho e reabilitação foram abordados em 45 palestras, no REASEM 

Deficientes auditivos e/ou pessoas surdas reivindicaram intérpretes

     A Fundação Selma, entidade patrocinadora da REATECH, foi responsável pelo REASEM 2003, que teve como objetivo divulgar e esclarecer técnicas de reabilitação, acessibilidade, soluções jurídicas sociais e esportivas de interesse das pessoas com deficiência, familiares e cuidadores. Durante os quatro dias - em 45 palestras - falou-se sobre educação inclusiva, arquitetura acessível, adaptações de veículos, musicoterapia, fonoaudiologia, equoterapia, odontologia para pessoas com deficiência, sexualidade, mercado de trabalho, legislação, reabilitação física, oficinas terapêuticas, entre outros assuntos.

     Profissionais consagrados, ONGs, associações e empresas conhecidas mundialmente presentearam o público com uma valiosa troca de experiências, que só não foi mais 'perfeita' devido a falta de acessibilidade às pessoas com deficiência auditiva e/ou surdas. Pois, segundo Salete Neves, em mensagem a Rede SACI, esse ano essas pessoas não foram lembradas. Suas palavras servem de alerta para que em 2004 a REATECH fique ainda melhor e acessível a todos!
    
       Salete, deficiente auditiva, pede para que o maior número de interessados entre em contato com a organização do evento para reivindicar acessibilidade a deficientes auditivos. "Achei isso um absurdo, pois no ano passado havia dois intérpretes bimodalismo"
(Fonte de publicação: Rede SACI - São Paulo).

Alguns destaques do REASEM

Conferência - CIF – Nova Classificação das Incapacidades e Deficiências.

     "A Nova Classificação das Incapacidades e Deficiências", esse foi um dos temas mais esperado do seminário. Com objetivo de levar ao público, um assunto tão importante aos pacientes e profissionais, o doutor Gerold Stucki, chefe do Departamento de Medicina Física e Reabilitação da Universidade de Munique, da Alemanha, explicou a amplitude do grande trabalho realizado há cerca de 15 anos, e que há 10 anos conta com o apoio da Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. "A Classificação Internacional da funcionalidade ajudará os pacientes com as suas necessidades e também os profissionais da saúde, os governos e as companhias de Previdências Sociais. Há um consenso de que a Classificação é uma ótima ferramenta e com ela os médicos estarão aprendendo muito", declarou satisfeito, o Dr. Strucki.

     Descrever o potencial e a capacidade de participação das pessoas com deficiência não é tarefa fácil e não pode ser feito de forma aleatória, pois o significado desta definição sempre terá impacto em sua vida e na própria comunidade. Criada pela OMS - Organização Mundial de Saúde, a Classificação Internacional da Funcionalidade - CIF, procura reconhecer o grau de atividade e o nível de participação que as pessoas podem desenvolver nos diversos ambientes e situações.

     A CIF complementa a Classificação Internacional de Doenças e poderá ser uma valiosa ferramenta nas avaliações profissionais, no reconhecimento e na determinação da autonomia de cada pessoa. Pois, um dos principais benefícios será o seu uso pelos médicos em seus relatórios, os quais serão melhor compreendidos por outros profissionais como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, entre outros, pois terão uma linguagem universal e acessível.
     
     O diretor do Centro da Organização Mundial de Saúde para Classificação de Doenças em Português, professor e doutor Ruy Laurenti, também presente no seminário, aprova a nova classificação. Segundo ele vários países do mundo estão começando a testar a CIF. "Ela é bem diferente da utilizada anteriormente, porque não mede doenças e sim as capacidades do indivíduo. Seu uso é para avaliar as pessoas, a função dos órgãos do corpo e da mente", revela acrescentando que na reabilitação ela permitirá que a pessoa seja periodicamente avaliada de acordo com seus critérios.

     Segundo os palestrantes, de acordo com a CIF as pessoas como um todo, estão sendo mais observadas, e não apenas um braço ou uma perna. E quando se fala em reabilitação de pacientes já estão sendo levados em consideração, diversos outros fatores como acessibilidade e inclusão social. "É muito importante que as ONGs façam parte do processo testando todas as ferramentas da nova classificação", lembrou o Dr. Gerold Stucki. Segundo o médico, outra importante vitória é que a cada dia é valorizada a palavra dos pacientes em relação à descrição dos seus sintomas, junto a todas suas especificidades, como por exemplo, uma deficiência física, visual, auditiva, intelectual e/ou múltipla. "O fundamental é o seu bem estar, por isso é importante sabermos como as pessoas com deficiência conseguem se sentir incluídas na sociedade e quais as suas necessidades. E assim, garantir sua saúde dentro de suas limitações", concluiu o doutor.

      Outro ponto apresentado durante o seminário, pela doutora Alarcos Cieza, da Universidade de Munique, foi em relação a principal mudança de atitude da medicina. A maior preocupação, segundo ela, está na forma como os diagnósticos e tratamentos são realizados. "Nosso principal objetivo é ouvir os pacientes. Para que isso aconteça precisamos do apoio de todas as pessoas! Vocês são a nossa razão de ser! Continuem lutando pelos seus diretos. O Brasil é um país tão solidário e cheio de vida em relação à saúde", comentou emocionada a doutora Alarcos. A médica se preocupou em ouvir o que as pessoas presentes tinham a dizer sobre suas vidas, como as jornalistas, Iracema Alves Lazari e Leandra Migotto Certeza. 
   
      Junto com o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) e de acordo com a Doutora Linamara Rizzo Battistella, diretora do DMR, o livro vermelho da CIF que já tem sua primeira versão traduzida para a língua portuguesa, será lançado oficialmente no final deste semestre, e também poderá ser lido na Internet. "A nova classificação Internacional que trata das incapacidades e deficiências, sem dúvida e tranqüilamente, trará muita oportunidade e mais precisamente benefícios aos pacientes", salientou Linamara.

     Preocupadas com a efetiva aplicação da CIF, as pessoas presentes no seminário, indagaram o Dr. Stucki sobre o pequeno investimento mundial em saúde. "Realmente o que a ONU tem investido em saúde ainda não é o suficiente para as necessidades das pessoas, mas os governos dos próprios países também, deveriam se preocupar mais com essa questão. O Brasil é um dos pioneiros a implantar a CIF, graças aos esforços do DMR e da doutora Linamara", afirmou o doutor. 

Palestra - Acessibilidade em viagens de turismo

     Como utilizar o banheiro de um hotel quando se usa uma cadeira de rodas? Como fazer uma ligação telefônica quando se tem algum problema de visão? Como participar de uma festa em um navio cheio de escadas quando se usa um par de muletas? Como ouvir o alarme de incêndio em uma pousada quando se tem surdez? Não apenas pessoas com alguma deficiência física, visual, auditiva ou intelectual têm dificuldades de exercerem sua cidadania em viagens de turismo, como também idosos (as), pessoas obesas e/ou gestantes, além de cardíacos ou temporariamente imobilizadas com um pé quebrado, por exemplo.

     Acreditando que as companhias de turismo, as cidades, parques, hotéis, acampamentos, meios de transporte, estâncias e/ou fazendas, entre outros lugares está começando a ter mais  interesse em receber essas pessoas é que a Society for Accessible Travel and Hospitality - SATH, continua conscientizando o maior número de pessoas sobre a responsabilidade social e o grande mercado consumidor gerado por elas. Durante o REASEM, Jani Nayar, coordenadora executiva da ONG, alertou os presentes no seminário sobre as necessidades de adaptação da maioria dos locais públicos e privados. 

     Jani contou que vários acidentes já ocorreram por falta de acessibilidade e segurança, como pisos escorregadios e escadas, além de falta de sinalizadores sonoros e/ou visuais nos alarmes de incêndio, para cegos e surdos respectivamente. "Uma mulher ficou mais de duas horas caída dentro da banheira sem conseguir pedir socorro, porque não podia andar sozinha até o alarme", contou Jani. Para ela não existe pessoa melhor para dizer como as adaptações devem ser feitas do que as próprias portadoras de deficiência. "Não deixem que as pessoas falem ou façam as coisas por vocês", lembrou a platéia presente no REASEM.
      
     Criada em 1976 em Nova York - EUA, com o objetivo de tornar o mundo habitável por todos, a SATH é a única ONG no mundo, que se preocupa em conhecer as necessidades dessas pessoas, para melhor orientá-las em viagens. Por meio de equipes de treinamento são analisadas, sempre junto às pessoas com deficiência, seus familiares e associações, tanto as barreiras físicas (como: degraus, escadas, ou falta de sinalizadores em Braille ou intérpretes de LIBRAS); como de atitude (falta de informação sobre os potenciais dessas pessoas), de estabelecimentos públicos e particulares como: hotéis, companhias aéreas, rede de lojas, companhia de transporte terrestre, parques, diversos pontos turísticos, entre outros locais.
    
     Há 28 anos a SATH realiza palestras e participa de congressos sobre acessibilidade e inclusão social.  Cursos são ministrados gratuitamente para operadores de tour, agentes de viagem, e estudantes de turismo, detalhando todas as especificidades das deficiências (física, auditiva, visual, intelectual e/ou múltipla). "Ensinamos como avaliar se o local é adequado para o cliente com alguma limitação, e quais os cuidados devem ser tomados para facilitar as viagens aéreas, ou por terra, em ônibus, trens, metrôs e veículos particulares de passeio, como os carros", explicou Jani Nayar.

     Segundo ela o turismo inclusivo é um mercado promissor, pois em 2000 só nos EUA dos 54 milhões de pessoas com alguma deficiência, 34 milhões viajam regularmente, mas 80% dos locais ainda não são universalmente acessíveis. E a renda aproximada disponível para ser gasta com turismo é de 176 bilhões de dólares. Enquanto que no Brasil são gastos com turismo, 13 bilhões incluindo as despesas de pessoas com deficiência e seus acompanhantes. Porém, há três anos, a SATH visitou o país para estabelecer parcerias com a EMBRATUR, e mesmo vindo três vezes ao ano, ainda não obteve resultados significativos.

     "Não podemos desistir nunca, pois só as leis às vezes não bastam para garantir cidadania a essas pessoas. O direito ao lazer é um deles que ainda não merece a devida atenção da sociedade. Pois, até mesmo, nos EUA, muitas vezes, as adaptações ainda são feitas com muitas falhas", comentou Jani ao lembrar que quando se fala em acessibilidade, as pessoas geralmente se esquecem dos surdos e cegos e só pensam em construir rampas. Para ela, inclusão e a consciência do desenho universal são processos lentos de conscientização que nunca poderão morrer!

Maiores informações: SATH – www.sath.org ou e-mail: sathtravel@aol.com

Palestra - Reabilitação do deficiente visual no enfoque social

      A professora Ivete de Mais, trabalhou na Fundação Dorina Nowill para Cegosproporcionando às pessoas com deficiência visual e/ou cegueira o exercício da cidadania. Em palestra na REATECH, afirmou a importância dessas pessoas serem sujeitos dos processos, pois para ela, ninguém melhor de quem necessita de atenção em suas especificidades, para auxiliar os profissionais qualificados em sua reabilitação e/ou capacitação. "O processo multidiciplinar é fundamental", avaliou. 

     A integração entre os profissionais e setores da reabilitação como: fisioterapia, psicologia, atividades de vida diária, comunicação, qualificação profissional, mobilidade, serviço social entre outros é extremamente importante para garantir segurança e bons resultados durante o processo, tanto em associações voltadas para essas pessoas como em escolas. "Nosso maior objetivo deve ser sempre o de garantir autonomia a essas pessoas. Não basta ensinarmos a usar a bengala que orienta sobre o espaço, e largar a pessoa sozinha na rua", afirmou. Para ela outro fato importante é a possibilidade de retorno à associação, a qual lhe proporcionou a reabilitação, ou a reciclagem dos conhecimentos dessas pessoas, pois só assim estarão atingindo a independência.
  
     Segundo informações da professora, muitas pessoas com deficiência visual e/ou cegueira ainda ficam isoladas em guetos ou associações assistencialistas, às vezes por não terem apoio das famílias e do governo proporcionando a inclusão social. Ivete deu uma aula aos estudantes na área de saúde e reabilitação presentes na feira.

Maiores informações: Profa. Ivete de Mais – consultora técnico-científica. E-mail: civetta.sp@uol.com.br.

Palestra -  Empreendorismo: Mãos a obra

     O mercado de trabalho está se aproximando mais das pessoas com deficiência, aja visto as diversas palestras e projetos sobre o tema. Na REATECH o empreendedorismo foi o assunto do INTEGRARE – Centro de Integração de Negócios. Segundo o presidente da ONG, Dr. Silas César Silva, o objetivo desse trabalho é a inclusão dos grupos tradicionalmente excluídos, como negros, índios e pessoas com deficiência. "Procuramos identificar o maior número de empreendedores em situação de exclusão e promover a qualificação e credenciá-los para que possam fornecer serviços e produtos para empresas sólidas no mercado", afirmou.

     Empresas como a IBM, Xerox, Banco Real, entre outras já realizam compras de empreendedores com deficiência. Segundo o INTEGRARE, a estimativa é de US$11 milhões investidos no país nos próximos anos. Os EUA já investiram US$63 bilhões. "As empresas estão tentando promover cada dia mais a inclusão, mas na maioria das vezes ainda não sabe como fazer, pois não conviveram com as pessoas com deficiência nos últimos 30 anos", comentou Açucena Calixto Bonanato, fundadora da SUPORTE – empresa de colocação profissional voltada para a inclusão social de pessoas com deficiência.

     Aos empreendedores interessados no projeto é necessário fazer o credenciamento no site, o qual permitirá seja qual for o ramo de atividade oferecer com maior visibilidade e possibilidade de negócios de seus produtos e serviços junto às empresas associadas à entidade.Para o público presente na feira, ampliar a acessibilidade, e a participação de ONGs e empresas voltadas para deficiências visuais e auditivas é fundamental em 2004. 

      Segundo a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o conceito de desenho universal prevê que todas as pessoas com deficiências devem ser incluídas, como as visuais e as auditivas, e não somente as físicas. Porém, esse ano, segundo algumas associações presentes, a REATECH ainda não imprimiu as programações dos seminários em Braille, e também não sinalizou adequadamente com texturas, o piso do Centro de Exposições Imigrantes, para auxiliar a orientação dos cegos e/ou deficientes visuais.

     Marcela Cálamo Vaz Silva, 36 anos, também notou outros problemas. Segundo a professora particular, os corredores pareceram mais amplos, mas ainda com aquele 'bendito' carpete no chão, que dificulta a vida de todo cadeirante (pessoa que utiliza cadeira de rodas para se locomover). "Tudo bem que neste ano trocaram por uma forração que dificultava menos para tocar a cadeira, mas ainda assim, não era adequada. O ideal seria um piso liso como o que tinha na entrada da feira, antes da área dos stands", comentou. Marcela é paraplégica e mãe do Ricardo Luis de 4 anos. Vale a pena conferir seus textos no blog: http://tchela.blogspot.com/.

     As observações feitas Renato Laurentti, conhecido como repórter SACI, reafirmam a necessidade de melhorias em 2004. "Os banheiros estavam devidamente sinalizados com o símbolo internacional de acessibilidade e com boxes que dispunham de portas largas, porém as barras de apoio não foram colocadas adequadamente. E a pia não foi adaptada para atender pessoas em cadeira de rodas ou de baixa estatura, pois a torneira estava bem distante das mãos, assim como o papel para enxugá-las". Renato, 41 anos, tem uma lesão medular desde dos 22 anos, é voluntário na Rede SACI e escreve, entre outros assuntos, sobre a falta ou não de acessibilidade em locais públicos e privados.

     Marcela também comentou outro fato importante em relação à acessibilidade dos banheiros. "O meu marido falou que existiam boxes adaptados dentro dos banheiros junto com os outros, mas não separados. Eu não entendo isso, pois existem pessoas com deficiência que precisam de ajuda para ir ao banheiro e nem sempre seu companheiro (a), e/ou ajudante é do mesmo sexo. E daí, como se faz num caso desses? Não se faz, como no meu caso. Em casa me viro sozinha, pois o banheiro é perfeitamente adaptado, mas quando saio geralmente as adaptações deixam sempre a desejar".  


     Para Renato outro problema foi na colocação dos telefones públicos mais baixos. "Os organizadores da feira não perceberam que dentro de ambientes fechados, a cobertura em forma de orelha não é necessária (pois, obviamente não chove), e bate na cabeça das pessoas", afirmou. Outro fato importante foi ressaltado por Alessandro Martino - contratado pela Gelre para trabalhar na equipe de apoio: "no próximo evento, não podem esquecer também, de colocar telefones públicos, que os deficientes auditivos e/ou surdos possam usar. Além disso, a entrada no primeiro dia da feira era feita pelo lado de fora, onde um desnível no piso atrapalhava bastante, mas esse problema foi logo solucionado no dia seguinte".

     Outras pessoas presentes na REATECH disseram que os fios espalhados pelo chão, mesmo que encapados com fita, também era um grande risco de acidentes, ainda mais em um ambiente com um grande número de pessoas com dificuldade de locomoção. Segundo visitantes, um sistema que os embuta poderá resolver o problema em 2004. Um dos fatos mais significativos alertados por deficientes visuais e auditivos foi que o sistema de segurança, também não dispunha de sinais visuais para os surdos, e sonoros para cegos. O que não garantia o regaste dessas pessoas em caso incêndio.

      Enquanto isso, os balcões da recepção e do credenciamento encontravam-se em uma altura média, acessível a todos, inclusive aos usuários de cadeira de rodas. E a transferência de um setor para outro da feira, podia ser feita por meio de uma ampla rampa; uma plataforma elevatória segura, ativada por um funcionário devidamente treinado; ou por um elevador, também bastante seguro e devidamente instalado. Para Paulo Roberto Pereira Pimentel - 32 anos, auxiliar de documentação - possui seqüelas de poliomielite desde os 3 meses de idade: "foi uma grande vitória, pois em 2002 só existia uma rampa (e estava fora dos padrões da ABNT)".

     Em relação acessibilidade ao transporte público, o Grupo Cipa - Congressos e Feiras – um dos organizadores da REATECH - ofereceu gratuitamente um ônibus modelo Low Floor, com o piso rebaixado com acesso às pessoas com deficiência, o qual fez o trajeto de ida e volta da Estação Jabaquara do Metrô ao Centro de Exposições Imigrantes. Foi reservada também uma plataforma ao lado da entrada do local somente para garantir um seguro e confortável embarque e desembarque. 

      Já os funcionários do evento, em sua maioria, também foram devidamente orientados para saber como auxiliar pessoas com deficiência, quando necessário. Porém, segundo especialista em inclusão social, o principal objetivo desse conceito é uma comunidade acessível a todos com autonomia e independência! Por isso, todos os locais devem ser acessíveis, como os balcões dos restaurantes e/ou lanchonetes, o que ainda também não ocorreu nessa feira.   

terça-feira, 5 de abril de 2011

ABAIXO AO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Peço que todos as minhas amigas e os meus amigos, com deficiência ou não, assinem o importante documento e divulguem entre todos os seus contatos! A participação de vocês é fundamental!! 

 Ao Congresso Nacional, 

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é o instrumento facilitador para o exercício e gozo dos direitos reconhecidos no sistema universal, para que elas os vivam, plenamente, e em igualdade com as demais pessoas.

A deficiência é um produto social, fruto da relação das pessoas com deficiência com seu entorno. O ambiente, assim, pode ser capacitante ou incapacitante.

No projeto de lei que prevê a criação de um Estatuto da Pessoa com Deficiência estão inseridos programas, serviços, atividades e benefícios, muitos deles ainda concebidos através de uma visão assistencialista e paternalista e por vezes até autoritária em relação às pessoas com deficiência.

Este projeto de lei, resultado de várias consultas públicas ao longo de alguns anos, como dizem seus defensores, ainda mantém em grande parte esta atitude tuteladora, vendo as pessoas com deficiência como não fossem capazes e com direito de fazer suas próprias escolhas, de tomar suas próprias decisões e de assumir o controle de suas vidas.

Retira a responsabilidade prioritária do Estado de assegurar a efetivação dos direitos humanos e fundamentais das pessoas com deficiência, quando compartilha esta responsabilidade com a família, com a comunidade e a sociedade.

Faculta ao Estado fazer convênios e parcerias com Instituições, Fundações e Organizações no que toca a saúde, educação e trabalho, não criando nenhum mecanismo de controle destas Instituições, em detrimento a qualidade dos serviços prestados.

Não avança para garantir um ensino de qualidade para todos e nem emprego digno às pessoas com deficiência, pelo contrário legaliza novamente a exploração da mão de obra deste segmento, permitindo o enriquecimento desmedido do que chamam de entidades qualificadas para intermediar.

Apesar de estar escrito que esta lei, caso aprovada, entraria em vigor decorridos 90 dias da sua publicação, ela não é auto-aplicativa, e necessita de várias normalizações para poder entrar em prática.

É oportuno relembrar que a proposta do Estatuto da Pessoa com Deficiência nasceu fora da nossa representatividade.

O nome inicial do projeto de lei – que era Estatuto do Portador de Necessidades Especiais – já é sintomático de que foi dado por pessoas que não nos representam.

Acima disto, reflete uma atitude de proteção assistida e de separação.

Ele é uma volta ao passado quando havia a necessidade de um instrumento com estas características para dar assistência à generalização da situação precária das pessoas com deficiência, mas sem abrir mão da incapacidade das pessoas com deficiência de conviver e competir com a sociedade geral.

Nos tempos atuais um estatuto específico para nós é um contra-senso e um retrocesso, se coloca na contramão da história.

O Estatuto é prejudicial no sentido de reforçar a imagem de inválido e coitadinho, levando a sociedade a continuar tratando a pessoa com deficiência como um ser desprovido de capacidade para cuidar de si.

Neste sentido, para a sociedade em geral o Estatuto da Pessoa com Deficiência se torna a comprovação desta suposta incapacidade e constitui uma espécie de oficialização da discriminação contra a pessoa com deficiência, ao separar esta pessoa das leis comuns.

Desde 1981, Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começamos a exigir “participação plena e igualdade” de oportunidades dentro da sociedade e não fora dela.

De lá para cá muitas ações reforçaram esta exigência.

O movimento foi autor de alguns artigos da Constituição Federal de 1988 e conseguiu aprovar inúmeras leis até hoje.

A Convenção incorporada de fato à legislação brasileira, ela não apenas obrigará que as leis vigentes sejam revisadas e atualizadas, mas servirá de parâmetro para que as leis futuras venham a incluir a questão da deficiência entre seus artigos, diminuindo gradativamente a necessidade de leis específicas para as pessoas com deficiência, separadas das leis comuns.

A partir da Convenção todas as questões relativas às pessoas com deficiência deverão ser inseridas em leis comuns, que passarão a ser conhecidas como leis inclusivas, levando a sociedade a perceber que a pessoa com deficiência faz parte da população e é titular de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.

Deverá ficar claro que, nessas leis comuns, a pessoa com deficiência está incluída como titular de direito aos mesmos serviços oferecidos à população e que serão previstas especificidades de usufruto desses serviços somente quando às condições de uma determinada deficiência assim a exigirem.

Em tal contexto, não haverá lugar para um estatuto separado sobre as pessoas com deficiência.

Todas as eventuais vantagens de um estatuto da pessoa com deficiência não compensam a anulação do processo de amadurecimento, evolução e conquistas, desenvolvido pelo movimento das pessoas com deficiência nos últimos 30 anos, no Brasil e no mundo.

Os signatários

ASSINAR A PETIÇÃO PÚBLICA: 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Viagem a uma montanha transparente


Queridas e queridos, 


Escrevi este 'mini-conto' no segundo ano da faculdade quando cursava uma oficina de redação com minha eterna e querida professora. Graças ao incentivo dela continuo escrevendo, mas ainda tenho MUITO o que aprender!


Espero que apreciem e comentem...


Por Leandra Migotto Certeza em 1997.

Ao olharem de longe a cidade de Leandra, só verão amontoados disformes de pedras-pomes, com violetas incrustadas por entre as fendas. Faça chuva ou faça sol, ao colocarem um espelho à frente de seus portões, verão que as violetas mudam de cor com o reflexo. 

             Mas terão de ser visitantes preparados. Com óculos de sol como 'máquinas de raio X', porque há uma névoa de palavras, as quais, desfocam a sua imagem. É o Ândrea tentando sobressair. Ele acha que dá forma a tudo o que contém. À Leandra que estava ali, antes da chegada dos “intrusos” Lamas. E que só ele restará depois que todos partirem.

            Ao olharem por entre as fendas, verão Lamas por toda parte. Como cachoeiras prateadas na noite escura, balões amarelos, mar azul, pontes levadiças... São o espírito da cidade, mesmo aqueles que chegaram há alguns minutos. São eles que levam Leandra quando emigram. Costumam fazer viagens ao espelho de uma porta ou a uma montanha transparente. Às vezes, por serem leves demais escapam por entre as frestas e evaporam como nuvens.

            Como bonequinhos de louça, existem uns que só pensam em aparecer, coloridos ou em preto e branco. E vivem recitando versos compridos, mais do que suas bocas comportam, pulando de galho em galho sem medo de se espatifarem. E outros que precisam ser sempre despertados, tamanho é o peso dos sonhos que caem sobre seus olhos.

            A verdadeira essência de Leandra é argumento para intermináveis discussões. Os Ândreas barrando a entrada e saída dos Lamas, e estes lutando por posições entre eles.

Desse jeito, parece que nenhum visitante se animará em conhecê-la. Mas, sábio será aquele - se um dia existir - que levar consigo, um espírito aventureiro e um caderninho pendurado no pescoço, em vez de cobras e lagartos. Olhar para frente com o pé atrás. E não tirar os 'óculos de raioX'. Só assim, verá....

Em uma estrela 
um brilho
Em princípio inatingível
ofuscado pelo vidro
           oprimido, impedido  
           Ilhado por sentido
           fundo, profundo
           Dentro de si mesmo