terça-feira, 21 de outubro de 2008

O que é Acessibilidade na Web?

Acesso à Internet por todos
Por Planeta Educação - 20/10/2008

Acessibilidade na internet ou acessibilidade na web significa permitir o acesso à web por todos, independente de tipo de usuário, situação ou ferramenta. É criar ou tornar as ferramentas e páginas web acessíveis a um maior número de usuários, inclusive pessoas com deficiências.
A acessibilidade na web beneficia também pessoas idosas, usuários de navegadores alternativos, usuários de tecnologia assistiva e de acesso móvel.

A acessibilidade na web engloba: - Sítios e Aplicações web: onde as pessoas podem perceber, compreender, navegar e interagir. - Navegadores, media players, puglins: que podem se usados efetivamente por pessoas com deficiências e que funcionem bem com tecnologias assistivas utilizadas por algumas pessoas com deficiência, para acessar a web. - Ferramentas de autoria web e outras tecnologias que envolvem a web: utilizadas para produção de conteúdo web e outras funções.

O conteúdo das páginas e as ferramentas devem estar preparados com acessibilidade. Os autores de conteúdo de páginas web e ferramentas devem ter em mente a diversidade do público. Muitos usuários podem, total ou parcialmente, não ver, ouvir, mover ou processar facilmente algum tipo de informação. Outros podem utilizar-se apenas do teclado para navegar. Muitos podem, ainda, utilizar-se de navegador textual.

Acesso à Web e Tecnologia Assistiva - Este item aborda como as pessoas com deficiência acessam a web, exemplos de barreiras ao acessar páginas e o uso de tecnologia assistiva (tecnologia de apoio).

Deficiência Visual - Cegueira - Para acessar a web, muitas pessoas cegas utilizam o leitor de tela. Alguns usuários usam navegadores textuais como o Lynx ou navegadores com voz em vez de utilizar um navegador comum (navegador com interface gráfica). É muito comum as pessoas cegas se utilizarem da tecla "tab" para navegar somente em links ao invés de ler todas as palavras que estão na página. Deste modo eles têm uma rápida noção do conteúdo da página ou podem acessar o link desejado mais rapidamente.

Leitor de tela: é um software que lê o texto que está na tela do microcomputador e a saída desta informação é através de um sintetizador de voz ou um display Braille - o leitor de tela "fala" o texto para o usuário ou dispõe o texto em Braille através de um dispositivo onde os pontos são salientados ou rebaixados para permitir a leitura.

Navegador textual: é um navegador baseado em texto, diferente dos navegadores com interface gráfica onde as imagens são carregadas. O navegador textual pode ser usado com o leitor de tela por pessoas cegas e também por pessoas que acessam a internet com conexão lenta.

Navegador com voz: é um sistema que permite a navegação orientada pela voz. Alguns possibilitam o reconhecimento da voz e a apresentação do conteúdo com sons, outros permitem acesso baseado em telefone (através de comando de voz pelo telefone e/ou por teclas do telefone).

Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Imagens que não possuem texto alternativo. - Imagens complexas. Exemplo: gráfico ou imagem com importante significado que não possuem descrição adequada. - Vídeos que não possuem descrição textual ou sonora. - Tabelas que não fazem sentido quando lidas célula por célula ou em modo linearizado. - Frames que não possuem a alternativa "noframe", ou que não possuem nomes significativos. - Formulários que não podem ser navegados em uma seqüência lógica ou que não estão rotulados.
- Navegadores e ferramentas de autoria que não possuem suporte de teclado para todos os comandos. - Navegadores e ferramentas de autoria que não utilizam programas de interfaces padronizadas para o sistema operacional em que foram baseados. - Documentos formatados sem seguir os padrões web que podem dificultar a interpretação por leitores de tela.

Baixa Visão - Para acessar a web, algumas pessoas com deficiência visual parcial usam monitores grandes e aumentam o tamanho das fontes e imagens. Outros usuários utilizam os ampliadores de tela. Alguns usam combinações específicas de cores para texto e fundo (background) da página, por exemplo, amarelo para a fonte e preto para o fundo, ou escolhem certos tipos de fontes.

Ampliador de tela: é um software que amplia o conteúdo da página para facilitar a leitura.
Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Páginas com tamanhos de fontes absoluta, que não podem ser aumentadas ou reduzidas facilmente. - Páginas que, devido ao layout inconsistente, são difíceis de navegar quando ampliadas por causa da perda do conteúdo adjacente. - Páginas ou imagens que possuem pouco contraste. - Textos apresentados como imagens, porque não quebram as linhas quando ampliadas. - E existem outras barreiras, como as apresentadas para pessoas cegas, dependendo do tipo e extensão da limitação da visão.
Daltonismo - O daltonismo refere-se à falta de percepção a certas cores. Uma das formas mais comuns do daltonismo inclui a dificuldade de distinguir entre as cores vermelha e verde, ou amarelo e azul. Algumas vezes o daltonismo resulta em não perceber as cores. Para acessar a web, algumas pessoas personalizam as cores da página, escolhendo as cores das fontes e do fundo.

Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Quando a cor é usada como único recurso para enfatizar o texto. - Contrastes inadequados entre as cores da fonte e fundo. - Navegadores que não suportam a opção para o usuário utilizar sua própria folha de estilo.
Deficiência Auditiva - Algumas pessoas surdas têm como primeira língua, a língua de sinais e podem ou não ler fluentemente uma língua, ou falar claramente. Para acessar a web, muitas pessoas dependem de legendas para entender o conteúdo do áudio. Pode ser necessário ativar a legenda de um arquivo áudio; concentrar muito para ler o que está na página, ou depender de imagens suplementares para entender o contexto do conteúdo. Os usuários também podem necessitar de ajuste no volume do áudio.

Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Ausência de legendas ou transcrições de áudio. - Ausência de imagens suplementares relacionadas, como o conteúdo do texto, que poder ter lenta compreensão por pessoas que tem como primeira língua, a de sinais e não a que está escrita ou falada na página. - Ausência de linguagem simples e clara. - Requisitos para entrada de voz.

Deficiência Física - A deficiência física ou motora pode envolver fraqueza, limitação no controle muscular (como movimentos involuntários, ausência de coordenação ou paralisia), limitações de sensação, problemas nas juntas ou perda de membros. Algumas pessoas podem sentir dor, impossibilitando o movimento.

Para acessar a web, as pessoas com problemas nas mãos ou braços podem utilizar um mouse especial, um teclado alternativo com disposição da teclas que estejam de acordo com o movimento da mão, um dispositivo tipo ponteiro fixado na cabeça ou na boca; software de reconhecimento de voz; ou outras tecnologias assistivas para acesso e interação.

Teclado alternativo: é um dispositivo de hardware ou software que pode ser usado por pessoas com deficiência física, que fornece um modo alternativo de dispor as teclas como, por exemplo, teclado com espaçamentos maiores ou menores entre as teclas. Podem também possuir travas que permitem a pressão de uma tecla por vez, teclado na tela ou outras modalidades.

Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Atividades onde o tempo de utilização é limitado. - Navegadores e ferramentas que não possuem suporte para teclado alternativo ou botões para todos os comandos efetuados por mouse. - Formulários que não podem ser navegados com a tecla "tab" em uma seqüência lógica.

Deficiência Mental - As pessoas com deficiência mental podem apresentar dificuldades em processar a linguagem escrita ou oral; focar uma informação ou entender informações complexas.
Para acessar a web, as pessoas com deficiência na aprendizagem, podem necessitar de diferentes modalidades ao mesmo tempo, para acessar a informação. Por exemplo, alguém que possui dificuldade na leitura, pode usar um leitor de tela com sintetizador de voz para facilitar a compreensão do conteúdo da página, enquanto uma pessoa com dificuldade em processar a audição, pode ser auxiliado por legendas para entender um áudio.

Outras pessoas precisam desativar animações ou sons a fim de focar o conteúdo da página, necessitar de mais tempo ou depender de imagens para entender o que lhe está sendo informado.

Exemplos de barreiras ao acessar o conteúdo de uma página: - Ausência de alternativas para permitir o recebimento das informações, como ausência de texto alternativo que pode ser convertido em áudio, de imagens suplementares ou de legendas para áudio. - Elementos visuais ou de áudio que não podem ser facilmente desligados. - Falta de clareza e consistência na organização das páginas. - Uso de linguagem complexa sem necessidade. - Páginas com tamanhos de fontes absoluta, que não podem ser aumentadas ou reduzidas facilmente. - Uso de imagens trêmulas ou sinais com certa freqüência de áudio que podem causar desconforto.
Vantagens em ter um Site Acessível - Seu website estará adaptado a diferentes tipos de conexão como, por exemplo, navegadores mais antigos, computadores menos potentes, ou sem mouse, e outros casos. - Seu website estará dentro dos princípios de acessibilidade preconizados pela Lei Federal de Acessibilidade (Lei no. 10 098, de 19 de dezembro de 2000), que estabelece noras gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências. - Você pode ter mais pessoas acessando suas informações ou serviços. - Ao ter mais acessos, seu website garantirá a adesão dessa comunidade e simpatizantes, e atrairá mais anunciantes.

Recomendações - O "Guia para tornar páginas web acessíveis" fornece informações técnicas básicas, para que web designers e desenvolvedores web, se iniciem na construção de sítios acessíveis.

As informações contidas neste guia têm como referência, o documento "Web Content Accessibility Guidelines 1.0 - WCAG 1.0" ("Recomendações para a acessibilidade do conteúdo da web 1.0") da W3C/WAI (Iniciativa da acessibilidade na web).

Para facilitar a consulta, as recomendações deste guia estão listadas por elementos de uma página web (imagem, frames, tabelas, etc.) e possuem exemplos em HTML/XHTML.
Links WAI - Web Accessibility Initiative WCAG 1.0 em Inglês: Web Content Accessibility Guidelines 1.0 - WCAG 1.0 WCAG 1.0 em Português: Recomendações para a acessibilidade do conteúdo da Web 1.0

Dicas Rápidas - Imagens e animações: Use o atributo alt para descrever a função de cada elemento visual. - Imagemaps: Use mapas client-side (o tag map) e texto para as regiões clicáveis. - Miltimídia: Inclua legendas e transcrições para o áudio e descrições para o vídeo. - Hiperlinks: Utilize texto que faça sentido fora do contexto. Evite a frase "clique aqui". - Oraganização da página: Use cabeçalhos, listas e uma estrutura consistente. Use CSS para layout e estilo sempre que possível. - Gráficos e diagramas: Sumarize o conteúdo ou use o atributo longdesc. - Scipts, applets e plug-ins: Para o caso de estarem desabilitados ou de não serem suportados pelo browser, forneça conteúdo alternativo. - Frames: Use o tag noframes e empregue títulos significativos. - Tabelas: Torne compreensível a leitura linha a linha. Resuma. - Valide seu trabalho: Use as ferramentas, checklist e os guias disponíveis em http://www.w3.org/TR/WCAG.

Validação - A validação da acessibilidade deve ser feita por meio de ferramentas e da revisão humana.

Os métodos automáticos são geralmente rápidos, mas não são capazes de identificar todas as nuances da acessibilidade. A avaliação humana pode ajudar a garantir a clareza da linguagem e a facilidade da navegação.

É recomendável proceder à validação desde as fases iniciais do desenvolvimento.
As questões de acessibilidade identificadas antecipadamente são mais fáceis de corrigir e evitar a repetição do erro.

Validadores Automáticos - Um validador verifica a sintaxe das páginas (por ex., HTML, CSS, XML). A sintaxe correta auxilia a eliminar problemas de acessibilidade.

Validadores automáticos de acessibilidade apontam problemas de acessibilidade baseados somente na sintaxe (por exemplo, uma imagem em que o equivalente textual não foi colocado). Entretanto, a sintaxe correta não garante que o documento estará acessível, pois se pode fornecer o equivalente textual para uma imagem, mas o texto não estar descrevendo-a claramente.

Alguns validadores fornecem perguntas ou avisos para análise de partes mais subjetivas.
Alguns exemplos de validadores automáticos: Validadores de acessibilidade (a maioria possui serviço online gratuito e são baseados nas recomendações da WAI): - WebXACT (antigo Bobby) - Cynthia Says - Wave - A-Prompt - Da Silva (em Português)
Validadores de sintaxe: - W3C Markup Validation Service
Validador de CSS: - W3C CSS Validation Service

Os produtos acima mencionados são apenas exemplos. Outros validadores e ferramentas estão disponíveis em http://www.w3.org/WAI/ER/existingtools.html.

Cenário do Usuário - Muitos navegadores e sistemas operacionais permitem que os usuários configurem características que alteram a aparência, o som e o comportamento das páginas web. Com a variedade de navegadores e a diversidade de usuários têm-se experiências muito diferentes com a web. Se um sítio web é usável com uma das ferramentas, isto não garante que o sitio está acessível. Portanto, é importante testar em diversas ferramentas e situações:

Testar as páginas com um navegador textual: - Lynx - Lynx Viewer (Simulador)
Testar em vários navegadores gráficos, com: - Som e gráficos ativos; - Sem gráficos; - Sem som; - Sem mouse; - Sem carregar frames, programas interpretáveis, folhas de estilo ou applets.
Testar em vários navegadores, antigos e recentes.
Testar em outras ferramentas: - Navegador de emissão automática de fala: + IBM Home Page Reader - Leitor de tela: + Jaws + Virtual Vision (em português) + DosVox (gratuito e em português) - Software de ampliação - Tela de pequenas dimensões, etc.
Os produtos acima mencionados são apenas exemplos. Para uma lista detalhada de ferramentas usadas para acessar a web consulte http://www.w3.org/WAI/References/Browsing.
Ortografia e Gramática - Utilizar corretores ortográficos e gramaticais. Uma pessoa lendo uma página com um sintetizador de voz pode não reconhecer uma palavra com erro ortográfico. A verificação ortográfica e gramatical assegura que o conteúdo da página esteja correto. Isto também auxilia quando a língua nativa de algum leitor não for a mesma do documento.
A eliminação de problemas gramaticais aumenta o grau de compreensão. Revisar o documento. Rever o documento, verificando sua clareza e simplicidade. O ideal é pedir a um revisor experiente que reveja o conteúdo escrito e avalie a clareza da redação. Os revisores podem também melhorar a adequação de um documento, já que podem identificar questões culturais potencialmente delicadas provenientes do tipo de informação.

Validação Humana - Peça as pessoas com deficiências que revejam os documentos. Esses usuários, com ou sem experiência, são uma fonte inestimável de informações sobre o estado dos documentos, no que diz respeito ao seu grau de acessibilidade e de facilidade de utilização.
Checklist da WAI A WAI - possui uma tabela para checar se os pontos de verificação da WCAG1.0 foram satisfeitos. Em Inglês: Checklist of Checkpoints for Web Content Accessibility Guidelines 1.0 Em Português: Tabela de pontos de verificação das Recomendações para a acessibilidade do conteúdo da Web 1.0

Fonte: www.dasilva.org.br e www.serpro.gov.br

Políticas públicas culturais inclusivas

ENSP e MinC se unem em defesa das pessoas com deficiência
Por Infoativo DefNet - 20/10/2008

No evento as mesas redondas tinham um interprete de LIBRAS

Deficientes se reuniram para discutir políticas nacionais de culturaPela primeira vez, pessoas com algum tipo de deficiência dos vários segmentos das artes do Brasil reúnem-se para discutir e formular uma política nacional de cultura voltada para eles. É a 'Oficina nacional de indicação de políticas culturais para inclusão de pessoas com deficiência', promovida pela ENSP/Fiocruz em parceria com a Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. O encontro teve início no dia 16/10 e vai até 18/10.
Ao todo, estão reunidos, no Rio de Janeiro, quase 60 artistas do país inteiro para encaminharem ao MinC a indicação de diretrizes reconhecendo o potencial das atividades culturais produzidas pelas pessoas com deficiência, fruto de um compromisso assumido pelo ex-ministro Gilberto Gil e que, agora, tem continuidade com o atual ministro Juca Ferreira.
De acordo com Paulo Amarante, coordenador do Laps/ENSP/Fiocruz, "é um trabalho muito bonito ver essas pessoas vindo ao Rio para debater esse tema importante e sair daqui com uma proposta de política pública para o Estado". Confira, na Biblioteca Multimídia da ENSP, os áudios e apresentações desse primeiro dia de atividades. (Link Biblioteca Multimídia)
O debate era acessível a todos e contava com interprete de LIBRASA atividade teve início com a mesa que reuniu Isabel Maior, da Coordenação Nacional para Inclusão de Pessoa com Deficiência (Corde), destacando que 14,5% da sociedade brasileira é composta de pessoas com algum tipo de deficiência e espera que, ao final dessa atividade, essa população possa se beneficiar de um melhor acesso à cultura.
Em seguida, foi a vez de Vera Lúcia Fernandes, representando a Caixa Econômica Federal, principal fomentadora do evento, lembrando que o banco foi o primeiro a se preocupar com a acessibilidade aos portadores de deficiência e responsável também por grandes investimentos na cultura. Então, nada mais certo que participar de um encontro de vital importância para a sociedade brasileira.
Representando a ENSP/Fiocruz, Paulo Amarante reafirmou o momento histórico para a sociedade brasileira em construir efetivamente uma política pública com a participação do principal grupo envolvido e lembrou que a Fiocruz, por intermédio de Sérgio Arouca, passou a ver a saúde como uma forma de cidadania e qualidade de vida e, em seu entendimento, uma parceria com o MinC transforma a idéia de saúde como inclusão social para todos.
Por fim, o representante do Ministério da Cultura, Ricardo Lima, traçou um breve panorama da reconstrução do MinC desde o início da gestão do presidente Lula, culminando com a criação da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural voltada especificamente para setores que não têm espaço nas políticas públicas de governo. Do envolvimento com a ENSP, citou Ricardo Lima, "demos início ao projeto 'Loucos pela Diversidade' em 2007 e seguimos agora, em 2008, com essa oficina voltada para pessoas com necessidades especiais".

Antes da primeira mesa de debates, uma apresentação artística emocionou os presentes. A cantora Inês Helena, que perdeu a visão aos quatro anos de idade, interpretou canções de Tom Jobim e Vinícius de Morais (Insensatez), Gilberto Gil (Se eu quiser falar com Deus), Alberto Janes (Foi Deus) e declamou um poema de sua autoria (Eterno Cantar), acompanhada do violonista Kiko Chaves.

Mesa apresenta trajetória da cultura e deficiência no Brasil

A participação dos ouvintes marcou o encontroTrês experiências distintas marcaram o tom da primeira mesa da oficina. Tendo como tema 'Cultura e deficiência: trajetória e perspectivas', a primeira exposição foi realizada por Andréa Chiesorin, do Conselho Diretor da Associação Very Special Arts Brasil, que, desde 1990, faz um trabalho envolvendo artes produzidas por pessoas com ou sem deficiências. Em seu relato, apresentou a trajetória da AVSR-BR, criada por Albertina Brasil Santos, e o envolvimento com a Funarte para a promoção de ações culturais para ambas as populações.
Para Andréa "inclusão é a palavra-chave obtida através de produções artísticas com o intercâmbio de diálogos estéticos, e temos que ampliar o entendimento da sociedade brasileira sobre essas novas experiências". Apresentou imagens realizadas por um fotógrafo cego e de uma montagem da peça 'Morte e Vida Severina' em que tanto o diretor quanto todos os atores eram cegos.
Com 18 anos de experiência, a AVSR-BR já foi responsável por inúmeros festivais culturais em todo o país e até mesmo levando artistas especiais para o exterior, além da capacitação de mais de 20 mil professores, tornando-os aptos para trabalhar na relação das artes com as pessoas com necessidades especiais. "Nosso trabalho envolve dança, música, teatro, artes visuais, não existem limites para o que podemos fazer" afirmou, mas não deixando de lado a luta por ambientes mais propícios para essa parcela da população poder apresentar seus trabalhos ou para o público poder conferi-los.

Em seguida, foi a vez de João de Jesus Paes Loureiro, da Universidade Federal do Pará, trazer seu relato da dificuldade de um ex-gestor público lutar pelas pessoas com deficiência. Lembrou que seu primeiro envolvimento foi com um antigo aluno cego de um curso pré-vestibular. Contou que, ao gravar trechos de livros e poemas brasileiros, ajudou para que esse aluno passasse em primeiro lugar no vestibular para Direito no Pará.
Quando foi secretário municipal de cultura em Belém (PA) auxiliou, entre outros, cadeirantes a assistirem o desfile de carnaval na cidade e, ao passar para a Secretaria Estadual de Educação, lutou para que as escolas públicas fossem adaptadas para cadeirantes, com banheiros mais acessíveis, portas mais largas, adoção de impressoras em brailes ou trilhas para cegos, no início da década de 90.
"Mas de nada adiantou, pois, quando deixei a gestão pública, essas políticas foram se perdendo, muitas vezes por falta de investimento e reclamações de altos custos de investimentos para essa população. Não podemos deixar que os gestores públicos esqueçam essa população, deixando que todas os seus direitos sejam obtidos somente por meio das associações particulares", afirmou.

Encerrando a primeira mesa de debates, a representante da Corde, Isabel Maior, traçou um panorama das políticas públicas voltadas para pessoas deficientes no Brasil. Sua apresentação lembrou das comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos aonde em seu artigo 1 informa que todos nascem livres e iguais em diversidades e direitos. "Mas será que somos assim? Claro que não porque as desigualdades marcam os vários segmentos da sociedade brasileira, entre elas a das pessoas com deficiências".
A respeito da Corde, Isabel informou que a coordenação trabalha desde 1989, entre outras ações, no direito e na defesa da pessoa com deficiência e esteve sempre presente na trajetória de luta dessa população que, quase sempre, são visto como invisíveis para a sociedade em geral. Lembrou ainda que o movimento começa a se firmar na década de 80, principalmente após a ONU declamar 1981 como o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência trazendo com isso um entendimento mundial de que a melhor forma de acabar com a discriminação ou desigualdade é através da inclusão, seja ela social, econômica ou política.

Para mostrar que ainda há muita desigualdade no Brasil, apresentou números de um censo do IBGE, do ano de 2000, informando que o país conta com 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, sendo que 70% encontra-se abaixo da linha de pobreza e 90% fora do mercado de trabalho. "Esse é um segmento social submetido à violação dos seus direitos humanos e cabe a nós lutar, cada vez mais, para que isso mude".
Apesar de tudo, lembrou que o Brasil foi o primeiro país a ratificar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, elaborado pela ONU em 2006, como forma de acabar com essa discriminação. E, para isso, todos os envolvidos têm que trabalhar pela concessão de um maior número de próteses e órteses, transportes e escolas acessíveis, empregabilidade, campanhas educativas e culturais e tudo aquilo que possa acabar com o preconceito social. "Vamos lutar pela regulamentação da Política Nacional do livro e da leitura, com livros mais acessíveis, para as legendas em português nas produções nacionais e nos requisitos de acesso à cultura através de projetos apoiados pela Lei Rounaet", concluiu.

Experiências pessoais mobilizam debate sobre pessoas com deficiência

Pessoas com deficiência assistindo a palestraAtravés da coordenação do pesquisador da ENSP, Paulo Amarante, a segunda mesa do dia 16 com o tema "Nada sobre nós sem nós" trouxe três exposições diversificadas de trabalhos com essa população. O vereador de Belo Horizonte Arnaldo Godói destacou a importância deste encontro como o ponto de retomada do processo de geração de políticas para deficientes que foi interrompido nos últimos anos, aproveitando principalmente a experiência dos inúmeros trabalhos existentes, principalmente o de Albertina Brasil Santos.
"Temos que conhecer a história de nosso movimento para aprender com erros do passado e pensar estratégias para o futuro, através das continuidades das políticas públicas", afirmou. Entretanto, o vereador acredita que transformar as diretrizes que sairão desta oficina não serão suficientes para garantir a continuidade das políticas públicas, uma vez que os direitos dos deficientes não são respeitados no Brasil.
Para ele, essa população é dispersa e fica aguardando que o poder público efetive tais ações. "Temos que participar mais dos movimentos políticos, culturais, sociais e não esperar acontecer. Se não nos politizarmos e ampliarmos nossa interlocução com o poder público ficaremos dependendo apenas das iniciativas privadas para executarmos nossas atividades", criticou.
Por fim, Arnaldo Godói destacou a importância de se superar os pontos individualizados na cultura dos deficientes para que seja gerada uma política de estado ampla e que contemple a todos, envolvendo a esfera federal, o Ministério da Cultura e os gestores estaduais e municipais.
A segunda a se apresentar foi Angel Vianna, coreógrafa da Faculdade Angel Vianna do Rio de Janeiro, que traçou o panorama da sua vida como bailarina e professora de dança agregada ao trabalho com pessoas com deficiência através da dança. Desde a década de 60 começou a estudar o corpo de forma anatômica e científica para explorar cada vez melhor a dança e foi através do trabalho com deficientes que consegui o máximo da expressão corporal.
"Trabalhar com a deficiência é trabalhar com a cabeça, o coração e o sentimento e não apenas ver o que está de fora, e esse foi o desafio que eu superei", afirmou. Foi assim que passou a entender melhor os deficientes e a elaborar técnicas de trabalho fazendo com que seus bailarinos se superassem nas apresentações de dança. "Quanto mais conhecimento tivermos do corpo, mais facilidade teremos para trabalhar com as deficiências das pessoas e era isso que eu sempre passava para meus alunos. Nada era impossível", ressaltou.
Ao encerrar sua exposição informou que recentemente criou um projeto de dança para pessoas com deficiência, com patrocínio da Petrobras, mas que não pode ser levado adiante pois para a Lei Rouanet seu projeto era de educação e não de arte. "Então eu pergunto: educação é arte ou arte é educação?"

Terminando o primeiro dia da oficina, o bailarino da Pulsar Companhia de Dança do Rio de Janeiro Rogério Andreolli disse que foi o primeiro artista deficiente a conseguir se profissionalizar no Brasil. Em seguida fez um discurso inflamado contra a última gestão da Funarte, responsável pela extinção do projeto "Arte sem Barreiras", criado por Albertina Brasil para pessoas com deficiência.
"Isso foi um desserviço e uma falta de respeito com todos nós", criticou. Segundo o bailarino, nos últimos anos a Funarte estava colocando a deficiência física à frente do artista, fazendo com que as artes elaboradas por eles ficassem renegadas a segundo plano e sem investimentos financeiros. Para ele, isso aconteceu porque são poucos os deficientes que se envolvem com as políticas públicas, principalmente por conta das adversidades encontradas por todos.
Por conta disso argumentou sobre o que as pessoas com deficiência desejam para o futuro, uma vez que esta oficina será responsável pelas diretrizes a serem adotadas pelo governo. "Temos que pensar em políticas que contemplem o ontem, o hoje e o amanhã, que sejam efetivas e que não sejam esquecidas quando mudarem os governantes no poder. Eventos como esse dão voz àqueles que são os principais interessados no processo. É impossível fazer política pública sem a participação de nós, deficientes", concluiu.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Viver é...

Lances do cotidiano de um poeta e escritor pelas ruas de São Paulo.

Por Leandra Migotto Certeza.

VIVER É.. é um flash na vida de Carlinhos - o compositor romântico. Lances do cotidiano de um poeta e escritor pelas ruas de São Paulo. Estar incluído é exercer sua cidadania com autonomia todos os dias, caleidoscopicamente como as músicas de Tom Zé, trilha do curta.

Criei, roterizei e fiz as principais imagens do filme para concorrer ao Festival Curtas Claro - http://www.clarocurtas.com.br/. Foi uma experiência muito intensa. Em uma semana captei as imagens - junto com meu noivo e cinegrafista amador, Marcos dos Santos - do meu amigo Carlinhos andando por aí.

Nadamos na piscina, adquirimos conhecimento na sala de leitura e fizemos cenas importantes na Internet Livre do SESC Pinheiros, em São Paulo. Foi muito divertido e estimulante. O tema era Diversidade e Inclusão. Por isso pensei em um curtíssimo documentário impactante e real (se é que essa definição existe). Quando começamos a filmar eu não tinha idéia de como iria costurar as imagens, já que decidi por não captar o som ambiente.
Sou formada em Produção Editorial, mas sempre atuei como jornalista. Fiz só três breves oficinas sobre roteiro e edição de vídeos para documentários, e para minha inocente surpresa, filmar não é nada fácil, ainda mais quando é preciso direcionar a câmera e conduzir uma cadeira de rodas ao mesmo tempo, com apenas duas mãos. Constatei que a prática é completamente diferente do que a teoria.

As primeiras imagens foram feitas com a câmera de um celular, mas como ficaram desfocadas não as utilizamos. Foi preciso refilmar todas as cenas com uma câmera simples de baixa resolução, mas desta vez, as imagens ficaram bem mais nítidas.

Nos encontramos dois dias no SESC Pinheiros, aproveitando os momentos que lá estamos, duas vezes por semana, para nadar. Eu fui levada por vans da Prefeitura de São Paulo pagas com os impostos dos contribuintes, pois andar de ônibus sozinha é impossível para mim, que tenho uma grave deficiência física (perda de cálcio nos ossos).

Os elevadores estão sempre quebrados, os cintos de segurança nunca prendem a cadeira de rodas no chão, e a grande maioria dos motoristas e cobradores nem sabem conduzir uma pessoa com deficiência, muito menos acomodá-la com total segurança dentro do ônibus.

Além disso, as calçadas são extremamente esburacadas; íngremes; cheias de lixos e obstáculos como: orelhões, barracas de vendedores ambulantes, entulhos de obras, postes, placas e; principalmente, devido a existência de carros estacionados bem em cima das raríssimas guias rebaixadas, posicionadas absurdamente, fora das faixas de pedestres.

Marcos acompanhou seu melhor amigo até o SESC, pelas ruas do Largo de Pinheiros, 'rodando' em sua cadeira de rodas de ré e a empurrando com os pés ao mesmo tempo, pois suas mãos são mais comprometidas fisicamente do que suas pernas.

Carlinhos sempre sobe ladeiras muito íngremes todos os dias para conseguir sair da instituição onde vive interno; entra nos ônibus carregado pelos passageiros (pois os elevadores também estão sempre quebrados); desvia de buracos e de todos os tipos de obstáculos; desce as raríssimas guias rebaixadas fora das faixas de pedestres; e atravessa avenidas e ruas movimentadas 'escalando' passarelas.

Tudo isso só é possível graças ao seu descomunal esforço físico e enorme disposição psicológica, junto com a grande solidariedade das pouquíssimas das pessoas que estão nas ruas e se dispõem a ajudá-lo quando preciso.
Carlinhos sabe das inúmeras dificuldades pelas quais a 99% das pessoas com deficiência sem condições financeiras passam todos os dias para viver nas cidades. Marcos também. Com a ajuda de um par de muletas canadenses, usa bem mais os braços para se locomover, pois suas pernas têm menos movimentos e força, devido à poliomielite que contraiu quando criança.
Carlinhos teve uma paralisia cerebral na hora do parto, o que comprometeu, principalmente, seus movimentos dos braços, mãos, pernas e a fala. Marcos não consegue andar sem o auxílio de muletas, mas entra em ônibus com mais facilidade do que seu amigo. Por isso, conseguiu captar imagens do seu amigo nas ruas com mais facilidade do que eu. Fez ótimas cenas rodando a câmera e apoiando o corpo em somente uma das muletas. Acompanhou Carlinhos dentro do ônibus, registrando momentos fundamentais do curta que seriam muito complicadas para eu filmar.

Os dois amigos são inseparáveis e sempre se aventuram pela cidade. São raras as vezes em que se desanimam e/ou desistem de ir a algum lugar devido as grandes dificuldades que irão encontrar.

Mas, obviamente, lutam para conscientizar todas as pessoas que viver em sociedade é respeitar as diferenças por meio da equiparação de oportunidades, como a construção de rampas, elevadores, guias rebaixadas em frente às faixas de pedestres, passarelas em nível médio, calçadas planas com pisos anti-derrapantes e sem obstáculos, ônibus completamente e corretamente acessíveis, funcionários qualificados e treinados para saber auxiliar as pessoas com mais dificuldade na hora de serem transportadas em ônibus, metros, trens, vans e táxi, semáfaros sonoros (para orientar pessoas surdas), pisos pódo-táteis (para orientar pessoas cegas), entre outros recursos que garantam total autonomia e independência a esses cidadãos que pagam seus impostos.
Editar o vídeo foi outro grande desafio. Eu e meu amado noivo aprendemos na raça, errando e acertando. Reeditamos todas as imagens mais de 6 vezes. Perdemos tudo umas 3 vezes, e finalmente conseguimos terminar a amadora edição em 9 dias, e enviamos o vídeo às 9hs do último dia do concurso. Uma locura que valeu muito a pena!!
Só consegui criar o roteiro ao ver as imagens várias vezes já semi-editadas. Pensei em contar a história do Carlinhos por meio de frazes poéticas. Não sei se consegui. Creio que não, pois depois de pronto o vídeo percebi como é complicado para o espectador prestar atenção às imagens e as palavras ao mesmo tempo. Acho que elas concorrem e causam um espécie de poluição visual.
O trabalho poderia ser bem mais elaborado, ter uma linguagem mais estruturada, e principalmente, estar tecnicamente bem melhor. Mas por ser nossa primeira experiência com a criação, produção e edição de vídeos, acreditamos que o resultado foi interessante. Resolvi participar do concurso na última hora, por isso tenho consciência dos grandes riscos que corro em não ser selecionada.
Não tínhamos recursos algum para nos deslocarmos para outros lugares, não dispúnhamos de equipamentos melhores, e encontramos várias dificuldades para transitar pelas ruas de São Paulo. Mas criarmos o vídeo com garra e corragem foi uma boa experiência pra todos. Só o pontapé para iniciarmos nossas carreiras no mundo das artes, seja criando, escrevendo, roteirizando, filmando, editando ou atuando. Espero que gostem!!!

O vídeo VIVER É ainda não pode ser divulgado porque está concorrendo, mas quem quiser conhecer um pouco mais sobre a vida do ator estreante, basta ler a entrevista que fiz com Carlinhos, em 2004, para o Site Sentidos: http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=6475&codtipo=1&subcat=54&canal=talento.

Torçam por nós e aguardem resultados e novidades sobre os finalistas do festival!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um diploma com gosto de superação

A síndrome de Down não impediu João Vítor de conseguir um diploma universitário. Ele termina o curso em junho de 2009.
Publicado em 13/10/2008 por Paola Carriel.
Aos 19 anos, João Vítor Mancini prestou vestibular e passou no curso de Educação Física na Universidade Tuiuti do Paraná. Mas, além dos desafios comuns dos jovens que iniciam a vida universitária, ele tinha mais um obstáculo pela frente: a síndrome de Down.
João Vitor é um pioneiro na universidade, pois além dele só existem mais três portadores da síndrome que conseguiram passar no vestibular em todo o Brasil, mas não se sabe como foi o desempenho acadêmico deles. E disso o rapaz se orgulha: está prestes a se formar em junho de 2009, com um trabalho de conclusão de curso sobre a importância da educação física para o desenvolvimento dos portadores da síndrome de Down.
E, para quem acha que os professores pegaram mais leve com ele, João Vítor revela as dificuldades com sua matéria preferida. “Peguei dependência duas vezes em Anatomia”, diz. Aplicado, o rapaz não mediu esforços para passar na disciplina. Ele e os pais fizeram um acordo com a universidade: quando o laboratório estivesse livre, João Vítor iria para lá estudar. Após um semestre passando quase todas as tardes no laboratório, o resultado foi uma nota dez na prova.
O rapaz é o orgulho dos pais, Gonçalo Silva e Roseli Mancini. Eles souberam que o filho tinha síndrome de Down apenas após o parto. “Demos as mãos, rezamos e decidimos seguir em frente juntos”, diz a mãe. A primeira providência foi contar para toda a família e ligar para o pediatra que havia cuidado de Roseli na infância. “Ele havia estudado nos Estados Unidos e sabia muito sobre a síndrome, e nos ensinou formas de estimular o João Vítor”, conta.

Com dois dias de vida o menino já recebia estímulos dos pais, como música ambiente no quarto, claridade e ficar deitado no berço sempre de bruços. “Ele precisava ficar com o pescoço mais forte e cada vez que ouvia um barulho fazia um esforço e levantava a cabecinha para ver o que era”, lembra a mãe. Nos dois primeiros anos, ele freqüentou uma escola especial, mas depois os pais optaram por matriculá-lo em uma escola regular. “Esta parte foi muito difícil, pois recebemos muitos ‘nãos’”, afirma Silva.

João Vitor passou a estudar junto com outras crianças e diz que sofreu muito preconceito. “Alguns colegas me xingavam e brigavam, mas sempre tive apoio dos professores e da direção da escola”, afirma. Apesar disso, foi um aluno exemplar e nunca reprovou de ano. Passou no vestibular sem nem ter feito cursinho. “Era só para ser um teste”, diz. No último ano do ensino médio ele resolveu fazer a Educação de Jovens e Adultos (EJA), dividida por matéria em vez de bimestres. Ao saber da aprovação na Tuiuti, ainda faltavam duas matérias, uma delas Física. Mas ele passou as férias de verão estudando e conseguiu finalizar o ensino médio.

A mãe conta que João Vítor sempre foi muito determinado: “Ele dizia para nós que um dia iria fazer faculdade. É mérito dele, pela sua coragem em seguir em frente”. Quando a notícia da aprovação se espalhou, muitos jornais fizeram reportagens com a família. Silva ficou tão orgulhoso do filho que comprou vários jornais e saiu distribuindo para os amigos.

Agora, o plano de João Vítor é montar uma academia para pessoas com necessidades especiais. “O esporte é muito importante no desenvolvimento”, diz o rapaz, já com o merecido ar de bacharel em Educação Física. Os pais afirmam, cheios de orgulho, que ele é mesmo uma pessoa muito especial.

Educação e família fazem a diferença.

A síndrome de Down é um distúrbio em que os bebês nascem com três cromossomos 21, em vez de dois. Essa anormalidade pode causar fraqueza muscular, anomalia cardíaca, baixa estatura e retardo mental. A freqüência é de um caso para cada 1,6 mil nascimentos. Alguns especialistas acreditam que a educação e a participação da família podem fazer a diferença no desenvolvimento dos portadores.

“Para um ser humano nada é impossível. Não podíamos voar e inventamos o avião”, diz a psicóloga Regina Maria de Souza, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela acrescenta que as pessoas não podem ser reduzidas às suas diferenças. “Assim como todos os brasileiros, quem tem necessidades especiais também sofre com o difícil acesso à educação, principalmente no ensino médio”, afirma.

No entanto, a psicóloga é otimista em relação à inclusão. “É possível haver outros casos como o de João Vítor? Sempre vou responder que é. Nem todos vão chegar lá, assim como nem todos os brasileiros chegam à universidade”, explica. “É preciso acreditar no ser humano. Ao contrário, como poderíamos ter o Stephen Hawking? Um tetraplégico que é o maior físico da atualidade”, exemplifica.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Antemanhã

A poucos passos do sonho
o esqueleto não ousa
aproximar-se do espelho
em que sonha:
sólida amação de carne
revestida de ossos frios.

Em seu interior, medula
afortunada, uma a uma
se recolhem as velhas sombras.
Quem o sonha ou quem
o vive? Quem o ampara
em sua levitação de asa,
corpo inútil em pleno vôo?

Fruto maduro sem polpa,
carne de outros ossos,
um esqueleto caminha
dentro do sonho em que é núvem,
poeira perdida no ar da manhã que surge.

Carlos Felipe Moisés - 1998 - Lição de Casa & Poemas anteriores - Nankin Editorial.