sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Crítica de documentário



Cabeças feitas.

Por Leandra Migotto Certeza.

Ao olharmos pela 'janela de nossas casas', a qual está sempre nos ligando ao mundo, veremos como a realidade é uma pintura surrealista. Na era da globalização a condição humana nem chega perto de alcançar a harmonia entre a alma e o corpo.

A ganância e o poder imperam nas cabeças dos homens, e tudo o que se vê são: fábricas funcionando como no início do século, onde os trabalhadores fazem parte da engrenagem das máquinas; crianças virando carvão em meio à escravatura das minas; bóias-frias mutilados; mãos dilaceradas quebrando pedras…

No filme de Adrian Cooper, “Os Chapeleiros”, a fumaça da chaminé da fábrica é o próprio pulmão dos operários, expelindo uma massa escura e densa, mistura de suor e dor. Como corpos espalhados em um necrotério, músculos e ossos descansam na hora do almoço presos entre as máquinas.

O 'som' que sai de suas faces é mais alto do que qualquer depoimento contra a opressão humana. Para aquele que assiste, do outro lado da tela, resta uma sensação de sufocamento absoluto que transpira indignação.

Desigualdade social, injustiça, preconceito racial, alienação ideológica, massificação tecnológica, esteriótipos paternalistas, corrupção política, entre outros 'tons' colorem as pinturas misturadas de fantasia e realidade, puro surrealismo. Faz parte do atual sistema capitalista falido dos países do chamado ‘Terceiro Mundo’.

Produzimos sob o imperialismo internacional dos países desenvolvidos, nos atolando em dívidas, consumindo desenfreadamente o lixo capitalista. Em plena década de 70 rumo ao século XXI, uma fábrica de chapéus ainda funciona nos moldes da era feudal, longe até mesmo, das chamadas divisões do trabalho da Revolução Industrial. Esse é o reflexo de uma sociedade doente, contaminada pelo vírus da ganância e do poder.

Cabe ao artista 'antena da raça', como disse o poeta, continuar captando as imagens dessa realidade, livre de máscaras ideológicas e com “óculos de raio X” radiografar a essência humana: sua alma caleidoscópica.

Exercício do curso de Leitura Crítica realizado no Itaú Cultural - 14/07/1999. O texto foi muito elogiado pela professora da USP que ministrou o curso.

LINK sobre o documenttário: http://www.curtagora.com/filme.asp?Codigo=1639&Ficha=Completa

Legenda da imagem: foto de Adrian Cooper, criador do documentário "Os chapeleiros". Homem de cabelos grisalhos e despenteados com um sorriso maroto e camisa vermelha.

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