quarta-feira, 7 de março de 2018

DIA INTERNACIONAL DA MULHER



O corpo de uma mulher é múltiplo.

Por Leandra Migotto Certeza.

A mulher é um universo profundo. Comecei a mergulhar nela aos 30 anos, quando meus desejos se afloram. Meu corpo sempre foi fraco, intocável. Meus desejos sempre estiveram no mais profundo poço do inatingível.

Pecado tocar. Errado querer. Feio. Todos apontam. Todos comentam. Todos olham. Eu nunca pude dizer há que vim. O que sou. O que desejo. O que espero. O que luto. O que preciso mostrar.

Sempre fui tolhida. Sempre fui quebrada. Sempre senti dor. Sempre me senti presa a um corpo infantilizado. A um meio corpo. A uma meia criança-menina-mulher. A algo indefinido.

Hoje quebro. Mas não o corpo. O que ele realmente é. A massa una entre alma e carne. Entre desejo e pudor. Entre vida e morte. Entre explosão e dor. Entre prazer e abrigo. Entre eu e muitas pessoas que moram em minha alma.

O corpo de uma mulher é múltiplo. É preciso mostrar ao mundo cada pedacinho que pulsa em corpos diferentes. São bocas em cabeças tortas, pernas grossas e curtas, bumbum arrebitado e torto, coxas arredondadas e cheias de ruguinhas infantis, púbis ardendo de tesão, seios pequenos em um tronco pequeno demais.

Não há cintura, não há quadril definido. Não há pernas finas e compridas. Não há balanço dos quadris. Não há andar sensual. Não há mini saia que leva ao mistério escuro como o céu que agora está em minha janela.

Não há uma mulher padronizada, robotizada, perfeita! Não há o esperado. Há outra possibilidade de ser mulher inteira com todos os sentimentos e sentidos que pulsam do corpo de alguém que sempre foi quem é.

Amar e ser amada trouxe força a minha alma para conseguir se libertar do corpo da sociedade que sempre me toliu. Da mãe interna que sempre me proibiu de ser eu mesma. Da mãe externa que sempre teve medo de me ver despedaçada.

Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física! Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos.

Queria estar no lugar de quem tem um corpo diferente do meu. Tenho o direito de desejar ser outra pessoa, e como é bom! Não preciso bancar a conformada, aceitar a roupa de heroína (que me colocaram) ou me afundar no poço da depressão. Escolhi o caminho do meio.


Eu não posso fazer amor com tanta volúpia, e em posições que sempre sonhei; mas posso ter orgasmos estupendos! Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam e irão habitar o meu coração. Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos.




Imagem de borboletas e ramos de flores rosas claras e escuras do lado direito e círculos leves e soltos na cor rosa clara do lado esquerdo. No centro da imagem está escrito: Somo iguais nas Diferenças".





Foto de uma mulher negra com os cabelos compridos e levemente ondulados. Ela está de vestido branco, sentada de lado na sua cadeira de rodas, olhando para a câmera com uma pose sensual e a mão na cabeça jogando os cabelos para trás.




Foto colorida de duas mulheres. Uma tem surdocegueira e está com as mãos no queixo da outra para se comunicar por um método próprio usado por pessoas com esta deficiência. E a outra mulher sem deficiência está ao lado falando baixo o que ela escuta em um evento dentro de um auditório. As duas mulheres são brancas e tem cabelos castanhos escuros na altura dos ombros.





Foto de uma mulher branca com deficiência física passando roupa somente com a parte superior dos dois braços. A imagem foca o ato dela passar a roupa e não mostra o rosto da moça que está com os cabelos castanhos escuros cacheados sobre os olhos e de lado para a câmera.





Foto de duas mulheres brancas e loiras namorando. As duas estão sentadas em suas cadeira de rodas e tem deficiência física. Uma usa blusa de cor preta e a outra de cor branca. A mulher de cabelos curtos está com a cabeça jogada pra trás e sorrindo de alegria porque a sua namorada está dando um beijo apaixonado no rosto dela.




Foto de uma mulher japonesa sentada em sua cadeira de rodas branca. Ela usa vestido de noiva branco, não tem os dois braços e está com um laço rosa no cabelo longo, liso e castanho escuro.




Foto de uma moça com nanismo em uma pose sensual, olhando para a câmera e sentada em cima de um violão. Ela está nua com uma das mãos na frente dos seios, e as pernas cruzadas. Veste apenas sapatos de salto alto bico fino e um colar de pérolas. A foto em preto e branco.




Foto colorida de uma mulher com deficiência física cuidando do seu filho bebê com os pés porque ela não tem os dois braços. Ela é branca, tem os cabelos curtos e ruivos e usa óculos escuros. Parece estar em uma praia ou piscina porque tem uma imagem de uma bóia ao fundo.




Foto de um casal com sua filha nos braços. A moça e mãe é branca, tem cabelos louros e Síndrome de Down e usa óculos. E o rapaz e marido é branco com cabelos castanhos escuros e não tem deficiência. Eles estão sorrindo e vestem camisetas de cor azul, e filhinha branca um vestidinho estampado preto e branco e tem um laço na cabeça.




Foto de um casal com deficiência visual. A moça e mãe (branca de cabelos castanhos) está gravida e tem nos braços uma réplica da imagem de um feto para ter a ideia da imagem do seu exame de ultra sonografia. E o rapaz e pai (branco de cabelos um pouco grisalhos) tem nas mãos a réplica de uma imagem do que seria a cabeça do bebê. Eles estão sorrindo e sentados um ao lado do outro.




Foto de uma mãe com duas filhas pequenas que tem microcefalia. Ela está com as meninas no colo e todas são brancas e tem cabelos louros; e vestem camisetas amarelas e estão sorrindo.




Imagem de uma mulher (branca de olhos e cabelos castanhos) sem as pernas sentada em um skate com o filho bebê branco no colo por meio de um colete.




Logo da campanha de combate a toda violência contra mulheres com e sem deficiência. A imagem com o texto: "Violência contra uma é violência contra todas" está escrita em LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais e em Braille, sistema de leitura e escrita para pessoas com deficiência visual.