quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência


Descrição da imagem: cartum do desenhista Ricardo Ferraz em 1999. Dois meninos jogam bola em um campinho. O da esquerda pergunda com cara de interrogação para o outro "Zeca o que é o preconceito?". O da direita responde com cara de espanto: "Não sei. Deve ser doença de adulto". O questionador não tem as duas pernas e está com a bola nas mãos; e o que responde tem as duas pernas e os dois braços e está de bermudas e uma camiseta de time. Os dois têm os cabelos espetados. Ao fundo uma trave com o goleiro e umas árvores.
3 de Dezembro.

Fonte: Sentidos - São Paulo-SP - 02/12/2002 e reeditado pela autora em 03/12/2008.

Você sabe que 3 de Dezembro é o DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?

Por Leandra Migotto Certeza.

Há mais ou menos uns três anos atrás eu li essas palavras em algum lugar ...
A 37ª Sessão Plenária Especial sobre Deficiência da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, realizada em 14 de outubro de 1992, em comemoração ao término da década, adotou o dia 3 de dezembro como Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, por meio da resolução A/RES/47/3. Com este ato, a Assembléia considera que ainda falta muito para se resolver os problemas das pessoas com deficiência, que não pode ser deixado de lado pelas Nações Unidas.

A data escolhida coincide com o dia da adoção do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência pela Assembléia Geral da ONU, em 1982. As entidades mundiais da área esperam que com a criação do Dia Internacional todos os países passem a comemorar a data, gerando conscientização, compromisso e ações que transformem a situação das pessoas com deficiência no mundo. O sucesso da iniciativa vai depender diretamente do envolvimento da comunidade de pessoas com deficiência que devem estabelecer estratégias para manter o tema em evidência.

Eu sei exatamente onde, como, e porque eu me interessei em lê-las, mas o tom de esquecimento apontado no início do texto tem um porquê. Pois ainda hoje, continuo me perguntando: quantas pessoas em nosso país também leram essas palavras? Não vale contar as praticamente 20 ou mais - os chamados carinhosamente de 'dinossauros' da inclusão social - que deram (e ainda dão) o seu sangue durante os suados anos 80 (ou até antes) para que hoje, o total desconhecimento sobre as deficiências ao menos diminuísse. Quantos políticos se preocupam em incluir em seus programas de governo o atendimento às necessidades específcicas das mais de 14,5% da população brasileira? Talvez uma das explicações para isso seja que estamos apenas no início de processo histórico.

Ainda somos novinhos nessa 'história' de democracia. Infelizmente estamos 'acostumados' com um toma lá dá cá ferrenho e com a famosa hipocrisia da caridade aos mais necessitados. As datas acabam servindo apenas para fazer uma média, como dizem por aí. Dia da Consciência Negra, Comemoração da Abolição da Escravatura, Dia Internacional de Combate à AIDS, Ano Internacional do Voluntariado, Dia Nacional de Combate a Fome, Dia do Meio Ambiente e tantos outros dias importantes para a humanidade.

Esse é o papel de órgãos como a ONU (Organização das Nações Unidas) - o qual faz com maestria - chamar a atenção do mundo para essas datas. O que acontece é que, muitas vezes o objetivo pelo qual elas foram proclamadas, acaba se esvaindo por entre as nuvens ... ou ficam como redemoinhos, na vida de meia dúzia de pessoas, as quais muitas vezes já nascem ceifadas de qualquer reação de defesa.

Afinal, quantas vezes você já ouviu falar em ações concretas e eficazes geradas pelos inúmeros debates, seminários, conferências e outras atividades, nas quais essas datas são lembradas? Falar é fácil, o duro é por a mão na massa. Algumas ONGs, associações e/ou empresas sempre lançam um projeto 'maravilhoso' que pretende 'salvar o mundo'. É uma forma de tapar o sol com a peneira e entrar na onda do 'politicamente correto'. Algumas até param no meio do caminho, quando encontram o primeiro entrave político. E outras até conseguem 'armar o circo para Inglês ver', como se diz por aí, mas não se sustentam por muito tempo.

Falando dessa forma, parece até que eu estou negligenciando os movimentos e militâncias sociais extremamente fortes, que por muitas décadas vêm lutando com unhas e dentes para despertar a consciência da dignidade humana. Em hipótese alguma quero passar essa imagem. Pois, eu e muitas pessoas, têm orgulho de suas suadas conquistas. Mas, todos nós sabemos que ainda é bem pouco perto do que precisamos alcançar. É por isso que ainda me pergunto: quando o mundo finalmente se tornará humano, digno, tolerante, ético, democrático, equilibrado e auto-sustentável?
As pesquisas confirmam as minhas considerações que a princípio possam parecer (para algumas pessoas) um tanto pessimistas. Segundo dados da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância realizada em 2000 em Durban na África do Sul, metade da população brasileira (45,5%) é composta por pessoas negras. São 70 milhões de pessoas, distribuídos por todo o território, juntamente com cerca de 350 mil indígenas, 550 mil judeus e 40 mil ciganos. Todos historicamente marginalizados. O índice de desenvolvimento humano do Brasil está abaixo de países africanos como a Argélia, e muito mais abaixo de países americanos de maioria negra como Trinidad Tobago.

Não gostaria de precisar dizer isso, mas acredito que de uns tempo pra cá, falar de uma chamada minoria social (que na realidade corresponde a maioria) é a melhor forma de afastar o medo de perder essa parcela consumidora da população. Como exemplo, ainda estamos longe de começar a não produzir mais lixo em vez de apenas reciclar o que descartamos por meio de um consumo desenfreado. Reciclar, infelizmente, virou desculpa para a pura intenção de conseguir mais uma fonte de renda. Você concorda comigo? Sei que existem exceções e parabenizo as empresas e/ou ONGs que realmente estão realizando projetos sociais conscientes e auto-sustentáveis.

Mas ainda existem aqueles que acabam se beneficiando do falso valor piedoso e assistencialista das famosas campanhas: 'doe um agasalho' - para quem está debaixo da ponte, bem longe da sua cama quentinha - para manter a sua 'boa imagem'. Afinal, será que é mais fácil, e com certeza mais cômodo, dar um pão a um menino que mora nas ruas, do que ensinar a ser padeiro? Com certeza, pois o padeiro amanhã pode conseguir abrir o seu próprio negócio e aí ... Bom, isso já é uma outra história ...

É chegado o dia D...

Perto da 'tão esperada' data do dia 3 de dezembro, bom seria se eu não precisasse afirmar que ela ainda é tão desconhecida. São poucos dentre os setores mais interessados no assunto (as próprias associações) que a utilizam como um momento de reflexão sobre a exclusão social e o ostracismo que essas pessoas vivem. Não é uma visão pessimista, apenas - e já é o bastante -realista. Quem vive 'preso' à 'cadeira de rodas do preconceito' sabe do que eu estou falando ... Aquele papo de que: "já avançamos muito" ... "tudo tem o seu tempo" ... "não se pode reclamar demais, afinal o mundo está mudando" ..., entre outras "pérolas" que ouvimos por aí nos calorosos discursos, sempre está na cabeça de muitos lobos em pele de cordeiro.

São pessoas que tem a sede gananciosa de virar o jogo e transmitir como uma verdade imutável e o pior de tudo generalizada, a imagem de 'pidão' e 'chorão' da pessoa com deficiência. É terrivelmente lamentável! Mas dizer que elas são um bando de revoltadas é muito mais fácil (e acima de tudo menos oneroso) do que dialogar com elas e chegar em um acordo digno sobre direitos e deveres, balanceados na medidas das suas especificidades.

Infelizmente, atitudes como essas são 'a pedra no caminho', como bem poetizou Drummond. Poucas são as pessoas que sabem, que as conquistas alcançadas a partir da década de 90 foi fruto de um longo plantio. Todo processo de evolução tem o seu tempo, mas nunca é tempo de parar. Ainda mais em relação a uma história que tem apenas sua introdução escrita.

Afinal porque que as pessoas acabam dissociando os cidadãos (ãs) com alguma deficiência, das classes às quais pertencem? Por que será que dentro dos estudos sobre discriminação das mulheres, as com alguma deficiência, ainda não são mencionadas? Porque quando se fala em educação para todos (inclusive as cotas para pessoas negras) com com alguma deficiência também não são citadas? Ou por que quando se discute a criação de programas de atendimento médico para a terceira idade, os chamados "cadeirantes" (por utilizarem como veículo de locomoção uma cadeira de rodas), cegos, e/ou surdos não são lembrados?

Você sabia que...

Existem 500 milhões de pessoas com alguma deficiência (adquirida ou não) no mundo, totalizando um décimo da raça humana? Sendo que 80% vivem em países em desenvolvimento. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), essa população subiu de 10 para 15%. No Brasil, de acordo com dados mais recentes do Censo Demográfico do IBGE, divulgado dia 8 de maio de 2002, 24,5 milhões de brasileiros têm alguma deficiência, o que representa 14,5% da nossa população.

Ainda mais, três pessoas por dia adquirem alguma deficiência vítimas de acidente de trânsito ou de trabalho, assaltos com armas de fogo, entre outros fatores. Segundo informações da Plenária Setorial das Pessoas Deficiência, realizada em novembro de 2001, e apresentada à Comissão pelos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de São Paulo, estima-se que 85 e 114 milhões mulheres e meninas são submetidas à mutilação genital, o que pode levar à deficiências severas, infertilidade e até à morte.

A cada dia, pelo menos 6 mil meninas correm esse risco. Dois terços das pessoas com deficiência visual são mulheres. Pelo menos um terço de todas as deficiências poderia ter sido evitadas ou curadas. 300.000 crianças ainda são atingidas pela pólio a cada ano. A desnutrição causa deficiência em 1 milhão de pessoas por ano. 20 milhões de pessoas cegas poderiam ter sua visão recuperada com cirurgias de cataratas.

Em alguns países, 90% das crianças com deficiência não sobreviverão além dos 20 anos de idade e 90% das crianças com deficiência intelectual não sobreviverão além dos 5 anos de idade. A organização Mundial de Saúde estima que 98% das pessoas com deficiência em país em desenvolvimento são totalmente negligenciados. A maioria desses países não possui sistema gratuito de cuidados médicos ou de seguridade social.

De acordo com a OIT - Organização Internacional do Trabalho, a taxa de desemprego entre as pessoas com deficiência é 2 ou 3 vezes mais alta do que entre as pessoas sem deficiência. E em muitos países, pessoas com deficiência não podem votar, casar ou herdar propriedades. Às vezes, pessoas que não conseguem expressar-se oralmente ou por escrito são consideradas legalmente incapazes, embora existam outros meios de comunicação como, por exemplo, a LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais.

A deficiência é particularmente mais prejudicial, para as mulheres, crianças, negros, idosos, refugiados e outros grupos. Estas pessoas vivem uma discriminação dupla ou até mesmo múltipla. Em todas as partes do Brasil, as pesoas com deficiência estão entre os mais pobres das pobres. A elas ainda é negado o acesso aos edifícios, à informação, independência, oportunidades, à escolha de opções e o controle sobre a própria vida.

Você já se perguntou?

Feche os olhos e tente lembrar a última vez que você viu uma pessoa cega. Foi pedindo esmola, (como é mostrado nos filmes) ou trabalhando em uma empresa? Você costuma associar a idéia de incapaz a uma pessoa que não anda com as próprias pernas? Já pensou como deve ser apenas poder ver a TV e não entender o que se está dizendo?

Você ainda pensa que quem não consegue ter um raciocínio subjetivo não tem inteligência? Ou que o que muito pior, não pode conviver junto com seus filhos? Você ainda terrivelmente associa a palavra 'aleijado' a imagem de quem usa uma cadeira de rodas? Você costuma dizer: "Oh! Coitadinho!", quando vê um cego atravessar a rua? Você só conseguiu pensar: "Que loucura!", quando viu uma mulher grávida em uma cadeira de rodas?

Você acha que quem tem o rosto ou o corpo, fora do padrão de estética seguido pelas modelos, não tem o direito de usar uma roupa bonita e confortável? Alguma vez você preferiu evitar dirigir a palavra a um usuário de muletas, com 'medo' que ele fosse sempre pedir algum favor? As pessoas de baixa estatura ainda te 'assustam' muito?

Você acha que olhar para um rosto diferente (ou incrivelmente ainda chamado por alguns de deformado) é 'contagioso'? Você só sente pena, ao ver um grupo de crianças que vivem naquela 'instituição de caridade' - que você ajuda no final do ano - brincando em um parque de diversões? Você ainda tem medo de contratar (se houver uma vaga, é claro!) um trabalhador usuário de cadeira de rodas em sua empresa, pois não sabe qual será a reação das outras pessoas?
Se todas as suas respostas foram no mínimo duvidosas, não se espante e muito menos se culpe, pois você ainda faz parte de uma sociedade preconceituosa, cheia de paradigmas. Muitos estudiosos apontam como razão (que por sinal não tem nada de racional) para os mais de vinte séculos de ostracismo que essa parcela da população sofreu, os processos históricos.

O mundial remonta aos primórdios da Segunda Guerra (principalmente devido a reabilitação dos soldados americanos feridos), e o brasileiro teve a Constituição de 1988 o momento de reconhecimento da cidadania 'de papel' dessas pessoas. Muito mais do que preconceito (não o abolindo em determinadas situações), nossa Nação viveu completamente alienada das particularidades de pessoas que simplesmente não tinham (e ainda estão lutando muito para conseguir), condições de se apresentarem ao mundo como são.

Por isso, pelo amor de Deus (ou quem ou o que você acredita), comece a mudar AGORA a maneira de você ver a vida. Enxergue-a como ela realmente é. Não tente fingir que não é com você, que a sua vizinha é que tem isso aí que chamam de deficiência. Pois, a sua pode não aparecer quando você se olha no espelho, mas um dia - com certeza - o seu melhor amigo há viu de perto, em um momento de fúria que você teve devido ao desentendimento com a sua esposa, por exemplo. E se ele foi um cara no mínimo humano, respeitou o seu jeito de ser, não se afastando de você.

Faça isso, com as pessoas que a princípio parecem ser diferentes do que infelizmente estamos 'acostumados' a ver no 'lindo mundo da imaginação' da Xuxa. Ele só existe na nossa imaginação (que por sinal, em tempos de crise econômica, está tão distante), não faz parte do planeta Terra.

Em que mundo você vive?

Veja só se eu estou errada: quantas pessoas, por exemplo, que tem alguma deficiência visual está trabalhando em sua empresa? Existe alguma apresentadora de TV cega? O caixa do banco o qual você tem conta é um 'cadeirante'? As fraldas que você compra para os seus filhos foram produzidas por uma empregada surda? O síndico do seu prédio é uma pessoa comdeficiência física? A recepcionista da sua vídeo locadora tem deficiência intelectual (é portadora da Síndrome de Down)?

Você conhece algum cientista cego? Você já foi operado por um médico sentado em uma cadeira de rodas? Você já foi entrevistada por uma jornalista de baixa estatura? Você já precisou dos serviços de um advogado cego? Você já dançou a noite inteira - naquela discoteca que você costuma ir - ao lado de uma pessoa de baixa estatura? Você já viu uma mãe 'cadeirante' passear com o seu filho no parque de diversões?

Você já foi atendida por uma psicóloga com tetraparaplegia (sem os movimentos dos braços e das pernas devido a uma lesão na coluna)? O presidente da sua empresa usa cadeira de rodas? O jardineiro da sua casa é uma pessoa com deficiência intelectual? O fisioterapeuta da clínica que você freqüenta te atende com os pés? Você comprou um quadro de um artista surdo?

Alguém na novela aparece - do início ao fim da trama - usando uma cadeira de rodas para se locomover e ter uma vida independente? O garçom do bar perto da sua casa tem baixa estatura? O dono da fábrica de chocolates que você mais adora não tem um dos pés? Você já viu uma pessoa com paraplegia (sem os movimentos das pernas devido a uma lesão na coluna) dirigindo um carro? Você conhece uma pesquisadora surdocega (que não enxerga e não ouve ao mesmo tempo, mas se comunica com as mãos com a ajuda de um intérprete)?

Puxa, que bom se você já conviveu com algum cidadão ou cidadã com alguma deficiência. Isso é sinal que eles não são mais considerados ETs, como há 20 anos atrás. Mas, lembre-se que os vitoriosos que conseguiram atingir à cidadania (os quais você felizmente se lembrou com orgulho) depois de ultrapassar inúmeros obstáculos, infelizmente, ainda são minoria em nossa sociedade.

E que a maioria das profissões são possíveis de serem exercidas por pessoas com alguma diferença física, auditiva, visual, intelectual ou surdocegeuira, basta saber explorar ao máximo suas potencialidades... Deixar de olhar apenas para as dificuldades e valorizar as qualidades e talentos!

Utopia ou realidade?

Antes de me julgar uma sonhadora, pense se o mundo proporciona a essas pessoas, condições materiais, legais, econômicas, políticas, sociais e educacionais de viverem em pé de igualdade com as que não tem alguma deficiência aparente? O seu prédio tem elevador com os números em sistema braille? O caixa do seu banco é mais baixo, na altura compatível para quem usa cadeira de rodas? A rua onde você mora tem as guias das calçadas rebaixadas? A empresa onde você trabalha tem elevador? O banheiro do seu clube é adaptado com barras de apoio, portas largas e vaso sanitário mais alto? O hospital público da sua cidade é acessível a todas as pessoas?

Os ônibus que levam até o seu trabalho, tem plataforma elevatória ou entrada no mesmo nível com a calçada? As linhas de metrô têm sinalização visual? As calçadas têm um piso em alto relevo (podotátil) para guiar as pessoas cegas que se locomovem sozinhas? O museu que você freqüenta tem rampas de acesso? O cinema que você vai aos sábados tem lugares em que uma pessoa em uma cadeira de rodas possa ser confortavelmente acomodada?

Os bebedouros do parque de diversões que você leva os filhos para passear é mais baixo, compatível com a altura de um 'cadeirante'? A pista de dança daquele bar é acessível a todos, ou quem tem dificuldades para andar ainda precisa ser carregado pelos seguranças? Os seus filhos tem colegas surdos na sala de aula? O shopping que você freqüenta, tem vagas no estacionamento localizadas perto da entrada, e com um distanciamento suficiente para um 'cadeirante' conseguir sair sozinho do carro? Você RESPEITA essas pessoas não estacionando seu carro nas vagas reservadas a elas?

Inclusão? O que é isso?

Parece muito a se fazer, não é? E você deve estar pensando porquê. Então, coloque-se apenas um minuto no lugar de uma pessoa com alguma deficiência! Veja como é difícil viver em um lugar sem essas pequenas e baratas adaptações! Ou você acha mais oneroso: prevenir ou remediar? O brasileiro é tão criativo que a maioria das adaptações feitas para as pessoas com deficiência utilizam materiais simples, ecológicos e econômicos.

Ah ... você sabe que todas as adaptações não atrapalham, em absolutamente nada, a vida de quem não tem deficiência, e podem ser usadas por qualquer pessoa, inclusive obesos, idosos, gestantes, mães com crianças no colo, ou pessoas que estão fazendo uso de um par de muletas porque quebrou uma perna?

Pense comigo: não seria muito mais confortável não termos que levantarmos o carinho do bebê para conseguirmos subir uma guia? Uma porta mais larga nas agências bancárias vai atrapalhar alguma coisa em sua vida? Subir uma rampa em vez de uma escada faz alguma diferença para que você consiga entrar no supermercado? Entrar em um elevador que 'canta' os andares, também não seria mais fácil para a sua avó que tem dificuldade de enxergar? Os seus filhos não podem beber água com mais facilidade em um bebedouro baixo?

Sabe por que todas as suas respostas (eu presumo) foram positivas? Pois, a idéia de inclusão social parte do que há de comum entre as pessoas: as potencialidades e a diversidade do ser humano. Ao invés de se dar ênfase na adaptação do indivíduo aos espaços, procura-se equiparar as oportunidades, em locais propícios ao desenvolvimento de todos, respeitando-se as características humanas das diferenças.

Afinal, você é igual ou diferente do seu vizinho? Puxa, ainda bem que é diferente! Já pensou se todo mundo fosse igual? Que chatice! Que monótono! Com quem você iria trocar as mais diversas experiências? Com quem você iria aprender a tocar um instrumento ou jogar bola? Para quem você iria ensinar matemática ou marcenaria? Com quem você iria pedir emprestado uma roupa mais larguinha que servisse na sua avó fofinha? Com quem você iria aprender a apurar o olfato para sentir o perfume das flores? Com quem você iria descobrir uma nova e interessante maneira de se comunicar com as mãos? E tantas outras coisas ...

Pare cinco minutos para pensar que ...

O mundo é um verdadeiro quebra-cabeças. Ah ... antes de começar uma vida nova, mais consciente da importância da diversidade humana, não se esqueça de parar cinco minutos para responder também a essas perguntas: você usa cinto de segurança quando está dirigindo seu automóvel ou sendo conduzido por um motorista? Costuma beber até cair e depois mergulhar em um lago raso? Dirige em alta velocidade?

Trabalha em local insalubre? Fica brincando com fogo? Você sai de uma festa meio tonto e pega o carro? Não cuida da saúde ao ponto de adquirir doenças que podem ocasionar graves problemas? Deixa objetos cortantes ao alcance de crianças? Tem uma arma dentro de casa e não tem medo de morrer qualquer dia desses? Você usa drogas e nem pensa nas conseqüências?

Sabe porque eu quis que você pensasse nessas respostas? Não foi em hipótese alguma para julgar o seu comportamento. Muito pelo contrário, o livre arbítrio é um presente de Deus. É você quem escolhe a vida que quer levar (ou ao menos que as circunstâncias proporcionam). Assim como é você que vai escolher a postura que vai assumir frente a uma pessoa com deficiência física, auditiva, visual, intelectual, e/ou múltipla.

Mas, NUNCA se esqueça: você pode ser tornar uma pessoa com algum déficit aparente a qualquer momento! A morte é inerente ao ser humano no momento em que vem ao mundo. As mudanças e ciclos fazem parte da vida e o destino é imprevisível. Pensar que um dia você poderia estar no lugar de alguém pode ser em princípio aterrorizante, mas não é improvável. É simplesmente real. Encare essa idéia com tranqüilidade. Viva cada momento intensamente como se fosso único, pois na verdade é. Nunca perca a sensibilidade de aprender a se lapidar com todas as experiências, por mais que sejam complexas.

Daqui para frente quando você pensar em direitos e deveres, não se esqueça de refletir sobre algumas questões. Você iria parar de trabalhar se estivesse em uma cadeira de rodas? Você iria deixar de ser um biólogo, médico, jardineiro, músico, ou qualquer outra profisssional? Você iria deixar de comer se ficasse cego? Você iria deixar de ir ao médico se ficasse surdo? Você iria deixar de estudar se ficasse imobilizado temporariamente? Você iria deixar de se apaixonar se ficasse sem andar com as pernas?

É claro que os primeiros momentos de adaptação podem ser muito complexos e dolorosos, mas com certeza um dia (mais rápido do que você imagina) eles passam ... Depende da capacidade caleidoscópica de cada ser humano em encarar a vida como ela se apresenta.

Ser forte é entender a condição humana da imperfeição. Agora viver em uma sociedade preconceituosa, desumana, cruel, desatenta, antiética, desequilibrada é uma escolha sua. Está nas suas mãos a capacidade de alterar e construir os novos conceitos. Quebrar paradigmas, rever estruturas e conhecer novos espaços. Conviver com o diferente. Ser aceito e aceitar o outro como ele é. Afinal, não me venha com esse papo de que, existem pessoas mais poderosas que acabam mandando no mundo e você fica de mãos atadas. Nada é imutável quando conseguimos fazer uso de toda a nossa capacidade humana.

Viver é ser quem somos

Por favor, não encare todas essas palavras como um susto ou lição de moral (longe de mim, sou uma 'pecadora' nata e ainda tenho MUITO o que aprender com a vida). É apenas (e já é o bastante) a constatação de um fato, o qual realmente é extremamente difícil conceber. Afinal, o ser humano tem a trágica tendência em querer ser um super-herói. A beleza e o perfeito, é um sonho de todos os humanos que são imperfeitos por natureza.

Por isso, nesse 3 de Dezembro, comemore o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência como um grande marco na história da humanidade, o qual em um futuro bem próximo, será mais lembrado pelas conquistas que alcançou e do que pelas guerras que travou para conseguirem ser reconhecidas por todos. A cidadania não se compra e nem se reverencia apenas com a comemoração de um data, se conquista a cada novo amanhecer com muita dignidade, amor e paz! Você faz parte desse planeta portanto respeite-o como ele é: diverso!
Depois de toda essa reflexão você deve estar pensando: "o que eu posso fazer para propagar o conceito de inclusão social?". Parabéns! O primeiro passo você já deu: tomar consciência dessa realidade. Agora fica muito mais fácil. Se você ainda tem uns preconceitozinhos grudados em sua alma, trate de começar a passar uma esponja de aço e removê-los para sempre! Mas vá devagar, pois mudar é um momento todo especial, que você precisa viver plenamente.

Acima de tudo respeite o seu tempo, o seu repertório, as suas vivências, o que você está acostumado a ver, sentir, dizer e fazer. Lembre-se que tudo o que é aprendido de verdade agente nunca esquece. Tenha paciência e perseverança. Se proponha a experimentar uma nova forma de ver o mundo com dedicação e AMOR. Apenas seja quem você é e deixe que os outros também sejam.

Se você ainda não tem muita ou nenhuma convivência com alguma pessoa com deficiência, preste atenção. A melhor coisa a fazer quando se sentir incomodado e sem jeito, não sabendo como reagir diante do diferente, é ter uma atitude humilde e sensata o bastante para expressar o que você está sentido no momento. Lembre-se que as pessoas com alguma deficiência são iguais a todo mundo: choram, riem, ficam tristes, podem ser alegres, agressivas, amigáveis, simpáticas, amargas, gentins, grosseiras, legais, chatas, entre outros sentimentos.

Portanto, podem ter qualquer reação ao perceberem que você nunca esteve perto de uma pessoa considerada diferente, como ela. Tudo vai depender do repertório de vida que ela também tem. Por isso, não tenha medo de ariscar. Seja sincero, verdadeiro e esteja disposto a aceitá-la como ela é.

Comece sendo natural. Se aproxime dela dentro da situação a qual estão vivendo. Por exemplo, se você estiver cursando a mesma escola, inclua-a em suas atividades e pergunte se é necessário, quando e qual a melhor forma de auxiliá-la a fazer parte do ambiente em que está. O resto vai fluir como um rio seguindo o seu curso, e quando menos você esperar o preconceito desapareceu da sua alma...

Agora se você já tem um certo tempo de convívio, (e se ele é saudável), com essas pessoas, continue apoiando a sua causa. Afinal, ela ainda pode estar mais distante do que a sua em relação a uma completa inclusão na sociedade. Se possível, participe ou seja simpatizante, dos movimentos sociais e das políticas afirmativas desse setor, pois elas ainda são necessárias para alcançarmos a democracia e a cidadania.

Comemore o Dia 3 de Dezembro como uma data muito importante que deve servir de marco da consciência humana! Assim quem sabe, daqui a alguns anos nós não vamos precisar escrever uma página, para lhe apresentar essa data tão desconhecida ainda. Você não acha?

II Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

Propostas da Conferência serão políticas públicas, ministros afirmam.
Por José Roberto Paraíso - 2 de dezembro de 2008.

Todas as propostas aprovadas pelos delegados da II Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência serão incorporadas às políticas públicas do Ministério da Previdência Social e da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. A afirmação foi feita pelos ministros José Pimentel e Paulo Vannuchi, durante a abertura oficial da Conferência, em Brasília.

O ministro da Previdência Social, José Pimentel, anunciou ainda a contratação de 900 assistentes sociais, em 2009, o que arrancou aplausos da platéia, composta por, aproximadamente, duas mil pessoas.

Mas não foi só isso que Pimentel conseguiu dos expectadores. Depois de realizar seu discurso, o ministro da Previdência ouviu da delegada Alcione Lourenço (62 anos) que o termo correto é “pessoas com deficiência” e, não, “portador de deficiência”, como Pimentel acabara de pronunciar.

“Só porque ele é ministro não deve ser corrigido?”, questionou a conselheira que realiza, em São Paulo, um trabalho de autoestima com pessoas com deficiência. Mãe de quatro filhos já criados, Alcione perdeu a visão, aos 34 anos, quando seu marido ainda era vivo. “Está vendo essa bolsa? Quando ela está comigo, eu sou portadora da bolsa. Quando ela não está, eu não sou portadora”, explica porque não se deve usar o termo “portador”.

Não foi só o Ministro da Previdência que recebeu manifestações da platéia. Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), também. Ele disse que ligou, uma semana antes da Conferência começar, para o Governo do Distrito Federal resolver o problema dos hotéis sem acessibilidade. “Ainda bem que deu tudo certo. Está tudo resolvido. Não é gente?”, perguntou. A resposta: “não”. Isso foi depois de o vice-governador do DF, Paulo Octavio, dizer que “Brasília vai dar o exemplo para o Brasil”. Depois ainda de o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Conade, a SEDH e a Infraero terem assinado o termo da campanha “Acessibilidade – Siga essa idéia”, do (Conade).

A delegada Maria da Graça Reis do Nascimento foi um dos presentes que disse “não” ao ministro Vannuchi. Maria conta que a delegação do Maranhão está hospedada em um hotel muito ruim. “Os banheiros não são adaptados para cadeirantes”, revela.

Além da falta de acessibilidade no hotel, segundo Maria, a delegação do Maranhão sofreu outro problema. As passagens da viagem para Brasília foram marcadas em datas diferentes. Enquanto Maria da Graça e toda delegação do estado viajaram num dia, a conselheira Deline Utride Lima viajou em outro.

Nenhuma das duas sabe o motivo de terem viajado em dias diferentes. Mas ambas suspeitam de que Deline sofreu retaliação por ser bastante crítica do governo.

Estudante do terceiro período de pedagogia, Deline Lima (38 anos) é também coordenadora do Fórum das Entidades da Pessoa com Deficiência do Maranhão.

Entre as propostas da delegação maranhense, a principal, segundo Deline, é a criação de uma coordenadoria geral dos conselhos do estado. De acordo com Deline, o trabalho de uma coordenação geral permitiria que os benefícios da agenda social chegassem a todos maranhense com deficiência. “Até agora, nada da agenda social chegou ao Maranhão”, protesta.

De acordo com Deline Lima, o Maranhão possui o maior número de pessoas com deficiência abaixo da linha da pobreza. Segundo Deline, “60% da população com deficiência estão abaixo da linha da pobreza”.

“Os direitos devem ser reconhecidos em qualquer ponto do Brasil, independente da classe social”, afirmou o ministro José Pimentel durante a abertura da Conferência, que conta com quatro telões. A explicação: a inclusão. No lado direito da mesa do auditório há dois telões, um com audiodescrição. No outro lado, há mais dois, sendo que em um aparece a imagem de uma pessoa, que traduz o que é dito para a Libras, a língua brasileira de sinais.

O primeiro dia da Conferência terminou com um show dos músicos Alan Davidson, Davi Valente e Thiago de Sandes. Tocando teclado com os pés, Davi havia mostrado talento bem antes do show, quando cantou o hino nacional na abertura do evento.

Fonte: Agência Inclusive

Direitos não são cumpridos


Direitos de pessoas com deficiência ainda não são integralmente cumpridos, apontam especialistas Alex Rodrigues Repórter da Agência Brasil

Brasília - A legislação brasileira que trata dos direitos das pessoas com deficiências é "muito boa" mas não está sendo integralmente cumprida por falta de fiscalização. A avaliação é da presidente da Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência (Ampid), Maria Aparecida Gugel.

“Nossa legislação garante o direito da pessoa com deficiência à educação, ao esporte, lazer, trabalho e a acessibilidade, entre outros. Mesmo assim, não se pode dizer que está tudo bem porque as leis precisam ser implementadas para que as pessoas possam usufruir de seus direitos”, afirma a subprocuradora, que também é uma das coordenadoras do livro Deficiência no Brasil – Uma Abordagem Integral.

De acordo com Maria Aparecida, falta quem fiscalize o cumprimento da lei, como no caso do Ministério Público, onde faltam promotores para cuidar do assunto.
“O papel do MP vem sendo feito, mas não 100% porque falta gente. Ao mesmo tempo, há outros órgãos como as secretarias municipais e estaduais de obras que devem fazer essa fiscalização e que ainda não a estaõ fazendo. É preciso que esses órgãos coloquem seu pessoal nas ruas e passem a fiscalizar melhor”, defende Maria Aparecida.

As desafios para a inserção social dos deficientes estão em debate na 2ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, aberta hoje (1º), em Brasília. Na página da internet dedicada ao evento, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade) aponta que o Brasil obteve grandes avanços nos últimos tempos em relação ao tema, mas ainda há “muitos obstáculos para que a inclusão aconteça não só de direito, mas também de fato”.
A jornalista aposentada Lia Crespo, ligada à organização não-governamental Centro de Vida Independente Araci Nallin, concorda que a situação dos deficientes melhorou bastante nas últimas duas décadas, mas considera que ainda está longe do ideal.
“Posso dizer que as coisas melhoraram muito. Claro que ainda há muitas coisas a serem feitas, mas comparando com a situação até o início da década de 80 estamos muito melhor. Hoje, há uma legislação que ampara as pessoas com deficiência e ela está sendo, mesmo que parcialmente, cumprida. Mesmo a lei de cotas, que é bastante controversa, as empresas estão procurando cumprir”, afirma Lia.

A jornalista, que está escrevendo uma tese de doutorado sobre a história do movimento pelos direitos das pessoas com deficiência física, destaca as dificuldades enfrentadas na área da educação.
Segundo ela, tem sido difícil garantir que as crianças com algum tipo de deficiência possam freqüentar as aulas junto com alunos que não necessitam de atenção especial. O motivo é que muitos professores ainda resistem à idéia de ter crianças com necessidades especiais em suas turmas por não estarem capacitados a lidar com elas.

“Alguns professores já assimilaram o discurso da educação inclusiva, mas são uma minoria. Como a maioria dos profissionais não está capacitada para lidar com essa questão, ainda há muita resistência [à inclusão dos alunos com deficiência]. E, em muitos casos, os alunos que são aceitos são jogados em um canto, sem receber qualquer atenção especial. Isso é a coisa mais distante do que deveria ser a inclusão e acontece em todo o país, mesmo em escolas de zonas favorecidas”, afirma Lia.

Em relação ao transporte público, ela diz que, ao menos em São Paulo (SP), o acesso aos poucos vêm melhorando, embora o número de ônibus adaptados para acomodar os deficientes ainda seja insuficiente.
“A pessoa não pode contar com eles para ir trabalhar ou estudar, por exemplo, porque demoram muito a passar. Na maioria das linhas, o tempo de espera é de mais de horas”, reclama Lia, dizendo ter se aposentado devido ao agravamento das limitações impostas pela poliomelite que contraiu na infância.Entre 16 e 24,5 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência.
Os números variam conforme a entidade responsável por contabilizá-los. A estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), baseada em dados da década de 80, é que os deficientes totalizem 10% dos brasileiros. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), calcula que o percentual atinge 14,5% da população brasileira, utilizando números do Censo Demográfico de 2000.