segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sinfonia

Escrevi estas palavras em um dos momentos mais produtivos, grandiosos e maravilhosos da minha vida profissional. Foi uma época em que vivi intensamente cada minuto como se fosse único, porque realmente é. 

Hoje sinto que a sinfonia que toca em meu peito tem outros acordes, um pouco mais doces e suaves; mas a melodia será sempre a mesma porque minha alma é forte e perene em busca de paz entre os seres humanos e vivos. 


Acordar, sonhar. Levantar, lutar. Acalentar, gritar. Ir em frente. Caminhar, rodar. Ouvir, silenciar. Enxergar, presenciar. Discutir, sentir. Estar presente. Convencer, conquistar. 

2001 foi um ano de muitas conquistas. A teia da vida se encarregou de tecer cores e formar. A diversidade é uma constante perene, que cada amanhecer brilha mais forte. As verdadeiras mudanças são internas; regadas ao sol ou em meio a tempestades. As sementes que plantamos hoje germinarão fortes e refundas. O tempo é uma linha tênue entre os instantes. 

Transformar é agir com intensidade. Saber esperar é o segredo. Respeitar é ser humilde. O ar transborda um orvalho suave, mas é preciso acordar cedo. Sentir as gotas caírem sobre os ombros, e não ter medo de misturar-se em meio à folhagem seca. 


Perdoar.

Caminhos caminham e seguem o curso do rio. Na selva o rei governa, e os súditos constroem. 

O aroma das flores é único, como o brilho de um olhar. O vento encarregará de conduzi-las; e um dia abrigaram-se no galhos, que nunca se deixarão sucumbir em meio à relva. As formigas podem corroer sua casca, quebrar seus espinhos; mas nunca seifarão sua seiva. Enquanto existirem campos sua grandeza será exaltada de dentro para fora; sem a pretensão de serem grandiosas, mas apenas flores únicas. 

Enquanto existirem seres humanos, a diversidade será uma dádiva que se suga por entre os poros do corpo; e não se aprende nas escolas, nos palanques, nos livros, com os mártires e poderosos, nas esquinas e nas ideologias, pois apenas se sente. 

Eu senti! Muito mais: fiz parte dessa sinfonia. 

Andei por entre auditórios cheios de políticos podres. Ouvi egoísmos vários. Chorei em meio as 'armas de madeira' quebradas. Parei em um olhar vermelho de dor reluzente do brilho de uma negritude intocável e forte! Gritei aos quatro cantos. Trabalhei com dignidade. Conquistei valores materiais, mas plantei pensamentos verdes; que amadurecerão com o passar dos milésimos de segundo; despertarão olhares; tecerão palavras e acalmarão almas sedentas. 

Participei de seminários, palestras, eventos, circos e círculos vários. Papéis, documentos, promessas, projetos, ideias, assinaturas. Filas e congestionamentos de pessoas, de caminhos, de cadernos, de desenhos e de palavras. 

A inclusão será uma bandeira que se carrega nos ombros, pesada como a consciência, ou uma roupa que se veste conforme o molde do corpo? Fogo de palha ou chama acesa? Alarde social todos fazem. Íntegro é aquele que vivencia com parcimônia. Sem perder a tenacidade e a voracidade diante do desconhecido. Explorar as potencialidades é construir a inclusão. 

Este ano também senti o coração bater, fora de dentro do peito. Mais do que uma caixa torácica, um arrepio sob a pele. Uma lágrima escorrendo no toque de um acorde. Uma cadeira de rodas bailando no palco. Um sorriso incansável, longe do medo, da descrença; e da corrupção que ainda impera. 


Talvez nem mesmo os que acordam e dormem ao lado do oposto a sua imagem conhecerão sua face. 

Fora ao pieguismo e a demagogia. Sim ao novo, aos desconhecido. Sem ultrapassar os limites e acomodamentos intrínsecos, respeitando o tempo interno, mas não deixando de olhar para atrás. Lembrar de quando fomos crianças, em uma época que um pião ou uma colher de pau eram apenas brinquedos. Suas cores, formas, odores, gostos e peculiaridades é que faziam a diferença. 

Em 2001 eu baixei a fronte diante do imaturo e suguei o seu brilho. Ouvi com paciência apesar de insegurança. Estive presente nas discussões e calei diante do futuro. Vivi o presente. Regatei o passado. Escrevi, fotografei, gravei, desenhei, planejei, inventei, caminhei... Muito mais do que dinheiro, casa, comida, roupas, estudo, condução, materiais, objetos: conheci pessoas, seres, naturezas. 

Cada instante tem seu espaço temporal e emocional. Eu ainda procuro o meu a cada experiência. Encontro partes refletidas e outras espalhadas. A busca constante é que mantê a chama acessa!