quinta-feira, 24 de março de 2016

Definições importantes



O que é discriminação, preconceito e estigma?
A discriminação presume a ação - tratar diferente, anular, tornar invisível, excluir, marginalizar - de um grupo social ou indivíduo contra outro grupo social ou indivíduo. 
O preconceito pressupõe crenças prévias sobre as capacidades intelectuais, física, moral, entre outras, dos indivíduos ou grupos sociais, sem levar em conta fatos que contestem essas crenças preconcebidas. 
O estigma - marca ou rótulo atribuído às pessoas ou grupos, seja por pertencerem a determinada classe social, por sua identidade de gênero, por sua cor/raça/etnia é sempre uma forma de simplificação, de desqualificação da pessoa e do grupo. 
O que é estereótipo?
Consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a esses traços e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de julgamentos subjetivos feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhes o lugar de inferior e de incapaz no caso dos estereótipos negativos.
Qual a diferença entre direitos de cidadania e direitos humanos?
Os direitos de cidadania são delimitados pela ordem jurídica de um Estado-nação. A constituição de cada país define e garante quem é cidadã (o), além de determinar quais são seus direitos, considerando características como idade, estado civil, gênero, entre outras. 
Os direitos humanos são válidos independentes do país em que se esteja, ou seja, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, prevalecem os direitos humanos porque se referem ao respeito à dignidade da pessoa, independentemente de sua nacionalidade.
Fonte: Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM).

quinta-feira, 17 de março de 2016

Leandra tem posição política!

EM CIMA DO MURO, JAMAIS!!!
Eu que estava precisando esclarecer a minha posição política frente aos acontecimentos, encontrei nas sábias palavras do PSOL um alento! Faço delas as minhas palavras!!! Ficar em cima do muro, jamais!!! Seguir em frente sempre à esquerda e ao lado da total abolição das classes sociais: somos todos seres humanos!!!!!!!! Iguais na medida de nossas diferenças!!! Desculpem as palavras, mas fazemos coco e xixi igual!!! Todos temos os mesmos direitos e deveres!!! Repito: TODOS!!!!!


A SAÍDA É PELA ESQUERDA – Nota da Bancada do PSOL 50 - Partido Socialismo e Liberdade
Face à velocidade dos últimos acontecimentos e a radicalização da crise política, tomamos um posicionamento firme e sem meias palavras:
1. Somos oposição programática e de esquerda ao governo Dilma. Combatemos suas políticas regressivas e questionamos as concessões feitas ao grande capital. Diante da atual crise, do ajuste fiscal e da retirada de direitos, é inegável que este governo tem se afastado dos reais anseios da maioria da população.
2. Somos favoráveis a toda e qualquer investigação, desde que respeitado o Estado Democrático de Direito, sem seletividade ou interferências externas. É preciso que se desvendem as relações promíscuas entre os Poderes da República e o grande empresariado.
3. As últimas atitudes do juiz Sérgio Moro representam claro uso político da Justiça e comprometem o trabalho desenvolvido pela Operação Lava Jato. Atitudes que possuem objetivos midiáticos rompem regras democráticas básicas e favorecem a estratégia de um golpe institucional.
4. Somos contra a saída gestada pelos partidos da oposição conservadora, pelo grande capital e pelos grandes meios de comunicação. O impeachment, instrumento que só pode ser usado com crime de responsabilidade comprovado, se tornou uma saída para negar o resultado das urnas, com o propósito de retirar a presidenta Dilma do poder, buscando um “acordão” para salvar outros citados nas investigações da Lava Jato. A troca de governo acelerará os ajustes pretendidos pelos poderosos, retirando direitos dos trabalhadores e atingindo nossa soberania.
5. A saída é pela esquerda. É necessário promover uma reforma política profunda, com ampla participação popular, ter coragem de mudar radicalmente os rumos da economia, auditar a dívida pública, priorizar o consumo e a produção, taxar as grandes fortunas e baixar a taxa de juros de forma consistente. Propostas não faltam. Mas é preciso coragem para contrariar interesses do grande capital.
Assinam:
Deputado Federais:
Ivan Valente (PSOL/SP)
Chico Alencar (PSOL/RJ)
Glauber Braga (PSOL/RJ)
Jean Wyllys (PSOL/RJ)
Luiza Erundina (PSOL/SP)
Edmilson Rodrigues (PSOL/PA)

[Confira aqui todos(as) os(as) signatários(as) da nota: http://www.psol50.org.br/…/a-saida-e-pela-esquerda-nota-da…/ ]

ONU ressaltou que o País ignora os direitos básicos do cidadão com deficiência e seu papel na sociedade.

Brasil trata pessoa com deficiência como doente, diz ONU

Por LUIZ ALEXANDRE SOUZA VENTURA
26 Agosto 2015 | 10:57

Durante reunião em Genebra, Organização das Nações Unidas criticou modelo assistencialista brasileiro e ressaltou que o País ignora os direitos básicos do cidadão com deficiência e seu papel na sociedade. A reportagem foi cedida especialmente ao blog Vencer Limites pelo jornalista Jamil Chade.

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Foto: Fernando Pereira/ Secom/ PMSP
Foto: Fernando Pereira/Secom/PMSP
Reportagem cedida especialmente ao blog Vencer Limites pelo jornalista Jamil Chade.
Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que o governo brasileiro ainda lida com pessoas com deficiência por meio de políticas assistencialistas, e não na perspectiva de direitos humanos. A entidade examina pela primeira vez a situação no Brasil, indicou que o número de pessoas internadas em instituições ainda é elevada e que não existem medidas suficientes para que uma pessoa com deficiência possa viver de forma autônoma. A avaliação ocorreu dentro do mecanismo do Comitê dos Direitos de Pessoas com Deficiências, reunido desde ontem, e que analisa todos os países.
“As políticas e leis no Brasil parecem presas no modelo médico da deficiência”, afirmou Theresia Degener, relatora do Comitê. “Aparentemente, o modelo de direitos humanos dos deficientes não tem sido adotado até agora”, criticou.
Entre os especialistas, o modelo médico da deficiência considera a questão como uma doença, ignorando o papel dessa pessoa na sociedade ou seus direitos. O modelo é considerado como ultrapassado e tem base em políticas assistencialistas. “O Brasil tem mostrado progresso. Mas ainda não é suficiente”, alertou Degerener.
Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução
Theresia também alerta para a questão da tutela e do fato de que poucos grupos de pessoas com deficiência têm sido consultados na elaboração de leis. Cobra, ainda, uma campanha de conscientização da população sobre a questão e desafios enfrentados por esses cidadãos.
Outro problema é o grau de institucionalização. Theresia admite que existe uma queda no número de pessoas internadas em instituições. Mas o volume total ainda seria elevado. “Muitas pessoas ainda estão detidas na base da deficiência e muitos são forçados a viver em instituições ou com membros de suas famílias por que não existem serviços para garantir uma vida independente nem programas de assistência pessoal” declarou. Cerca de 11 mil pessoas, contando apenas aquelas com deficiência física, estariam em instituições, segundo a ONU.
A relatora ainda apontou que tem recebido dezenas de acusações de tortura em alguns desses centros e o próprio governo admitiu que, entre 2011 e 2014, mais de 31 mil processos foram abertos por violações contra pessoas com deficiência.
Brasil não garante vida independente a pessoas com deficiência, diz ONU
Pepe Vargas, ministro de Direitos Humanos e que defendeu a posição do governo, declarou em Genebra que o Brasil está dando “largos passos para sair do assistencialismo”. Ele admite que “muito precisa ser feito para garantir os direitos” das pessoas com deficiência, mas garante que, nos próximos anos, o Brasil irá superar o modelo assistencialista.
O ministro ainda apresentou uma série de leis criadas nos últimos anos para garantir direitos às pessoas com deficiência, entre eles o acesso a transporte, habitação, nas comunicações e mesmo na Internet.
Vargas acredita que existe “uma confusão” por parte da relatora da ONU e insiste que a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) mudou no Brasil. “Temos uma lei que prevê uma substituição do modelo”, declarou. Segundo ele, não existe mais a situação de manicômios no País e a mudança está ocorrendo, inclusive para garantir benefícios sociais no Ministério da Previdência.
Para a perita da ONU Silvia Chang, porém, as informações recebidas pela entidade indicam que a institucionalização de cidadãos com deficiência é ainda permitida, sem o consentimento da pessoa.
'A Acessibilidade' (The Accessibility). Imagem: Reprodução
‘A Acessibilidade’ (The Accessibility). Imagem: Reprodução
Críticas – A sociedade civil também apresentou um informe denunciando problemas no País. Segundo o documento, uma pessoa com deficiência no Brasil ainda vive com sérias dificuldades para ter acesso aos mesmos locais que o restante da população, seja por falta de infraestrutura adequada ou por falta de treinamento de professores, motoristas e gestores.
“A falta de acesso tem sido a maior barreira a ser superada no Brasil”, alertou o informe apresentado pela Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça), a Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência do Brasil (FCD), o Instituto Baresi e a Rede Brasileira do Movimento de Vida Independente, entre outras.
Uma lei de 2000 estabelecia até 2010 para que todo o transporte público fosse adaptado. “Mas muitas empresas ainda não cumprem a lei”, acusaram as entidades. Ônibus interestatais e muitas empresas de transporte urbano ainda não teriam instalado elevadores para cadeiras de roda. Motoristas não foram instruídos a operar o sistema, quando existe, e não são poucos os casos de ônibus de linhas urbanas que “aceleram quando uma pessoas com deficiência está em um ponto”.
Falta de acesso tem sido a maior barreira a ser superada no Brasil
Segundo as entidades, o governo tem feito esforços para adaptar os aeroportos, mas o mesmo compromisso não é visto com metrôs, trens e outros transportes. Os edifícios públicos teriam de ter sido adaptados até 2009. “Mas muitos ainda não estão”, alerta o documento.
Um dos peritos da ONU, Stig Langvad, relatou como ele mesmo sofreu para circular pelo Rio de Janeiro, no ano de 2000. “Há 15 anos, eu estive no Brasil e não havia ônibus, não havia metrô adequado, não havia hotéis”, contou. Ele relatou como tentou ir ao estádio do Maracanã e teve de retornar. Também contou que fez um passeio pelo centro da cidade, mas não conseguiu entrar em nenhum lugar. A representação do governo garantiu que muito mudou desde então. “Se melhorou tanto, porque não me convida para ver?”, cobrou o perito.
Outros peritos da ONU, como Munthian Buntan e Damjian Tatic, também cobraram explicações, alertando que as leis podem existir. Mas não haveria garantias de que elas têm sido adotadas.
Sede da ONU em Genebra. Imagem: Reprodução
Sede da ONU em Genebra. Imagem: Reprodução
Com mais de 46 milhões de pessoas com deficiências no Brasil, as ONGs também apontam que nem mesmo as construtoras têm erguido os novos apartamentos dentro dos padrões exigidos pela lei para garantir a circulação de cadeiras de roda ou acesso aos banheiros. Nos centros de saúde, a questão do acesso é ainda um obstáculo. Um levantamento apresentado à ONU aponta que, de 241 unidades de saúde avaliadas em sete Estados, 60% delas não estavam adequadas a receber pessoas com deficiência.
As políticas de emprego tiveram certos avanços, mas enquanto o Brasil gerou 6,5 milhões de postos de trabalho entre 2007 e 2010, 42 mil empregos para pessoas com deficiência foram fechados. Nas escolas, a falta de assistência especializada é a barreira. Em 2008, 93 mil estudantes com deficiência foram inscritos na rede pública. Em 2014, esse número caiu para 61 mil.
Os peritos da ONU também alertam para a situação das crianças. Para Hyung Kim, crianças brasileiras com deficiências ainda têm problemas para ter acesso a escolas. Para Diana Kingston, os dados recebidos pela ONU mostram que “muitas crianças ainda vivem em instituições”. Para o governo, o acesso à escola avança, mas ainda tem desafios para garantir a universalização.
Fonte: http://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/brasil-trata-pessoa-com-deficiencia-como-doente-diz-onu/

terça-feira, 15 de março de 2016

A sutileza do preconceito


Por Leandra Migotto Certeza
“Cavalo dado não se olha os dentes”. “Sair com você dá muito mais trabalho”. “É bem mais complicado sair com duas pessoas com deficiência”. “Não é fácil. Tem que se preparar para receber alguém em uma cadeira de rodas”. “Você pensa que é assim, tão simples?”. “Eu não posso carregar o problema dos outros nos ombros o tempo todo”. “Você não percebe que atrapalha?”. “Já vai lá tirar o sossego dos outros?” “Agora são dois para dar trabalho”.
É o que ouço desde que nasci. Mais ainda, a partir de 2005, quando para pessoas bem próximas a mim, ‘infelizmente’ escolhi como companheiro, um homem adorável que também tem deficiência física; e ‘ainda por cima’ é órfão e vive com pouquíssimos recursos financeiros.
Hoje – generosamente - identifico nas pessoas que dizem estas frases, maiores possibilidades de mudança, e me disponho a desnudar-me para tentar quebrar seus mitos e estigmas; apesar de continuar sentindo a mesma dilacerante dor de sempre: rejeição!
Antes reagia com muita agressividade. Impunha a minha deficiência. Era minha maior defesa e única forma de sobrevivência que eu conhecia. Agora dou a cara para bater. Arrisco. Mas sofro da mesma forma, até mais intensamente, por saber o exato significado de cada palavra, infelizmente, dita com tanta verdade.
Mesmo sofrendo não desisto de, simplesmente, viver: sem auto piedade ou heroísmo. Pois não sei por qual motivo eu gosto muito da vida; por isso sempre me questiono: onde mora o preconceito? Tem cor, cheiro, textura, som, forma? Sinto que ele está em todas as partes. Dentro das pessoas tem sua morada eterna, e constrói sua história no Planeta.
Pessoas com deficiência eram consideradas ‘aberrações da natureza’ que deviam ser ‘eliminadas da face da Terra’ e jogadas do precipício. Depois viraram seres especiais que deveriam ser venerados, como aparições de santos. Eram consideradas pessoas super poderosas que tinham a obrigação de nos divertir e servirem de ‘amuleto’. Aí se tornaram ‘podres coitados doentes’, por quem deveríamos ter muita pena e obrigação de cuidar deles, mas bem longe dos nossos olhos...
Hoje são ‘apenas’ seres humanos à procura do seu lugar no mundo. Ou foi o mundo que nunca os enxergou como realmente são? Simplesmente, pessoas que lutam para serem vistas e respeitadas exatamente como são: com qualidades e defeitos; preconceitos e virtudes; medos e certezas; loiros e morenos; altos e baixos; homens e mulheres; negros e brancos; ricos de espírito e pobres de espírito; fortes e fracos; calmos e nervosos; simples e complicados; humildes e esnobes; cientistas e faxineiros.
Pessoas com deficiência comem; fazem xixi e coco; riem; choram; sofrem; dão gargalhadas; ficam alegres; trabalham; estudam. Fazem sexo por prazer e não por obrigação de perpetuarem a espécie; criam seus filhos com seus companheiros ou não; vivem com autonomia; sentem dor; ficam doentes.
Pessoas com deficiência pagam seus impostos; são consumidores; tem todos os órgãos como pele, coração, olhos, estômago, cérebro; vão à igreja; votam; praticam sua religião. São presas; matam; comentem abusos sexuais; têm ou não liberdade de expressão; são criminosas.
Pessoas com deficiência recebem o Prêmio Nobel; são cientistas renomados; são premiadas por suas carreiras. Sofrem discriminação todos os dias; constituem famílias; são homossexuais, negros, índios, brancos, mestiços.
Pessoas com deficiência assumem cargos de liderança; são eleitos como vereadores, deputadas; têm condições financeiras para comparem e dirigirem seus carros adaptados; não tem condições de se alimentarem.
Pessoas com deficiência vivem em condições financeiras humilhantes; passam fome; vivem com AIDS; contraem doenças sexualmente transmissíveis; trabalham como escravos. Casam; ficam viúvas; sentem saudade; respiram o mesmo ar; adotam crianças; dão à luz a bebês.
Pessoas com deficiência fazem mestrado e doutorado; são analfabetos; viajam pelo mundo; e habitam o mesmo Planeta Terra que uma pessoa sem deficiência. Por isso devem ser respeitadas com equidade na medida de suas diferenças e igualdades.
Pensando nisso, o que é mais confortável para o seu ego? Sair às ruas ao lado de uma mulher, que se locomove em uma cadeira de rodas, empurrada por uma pessoa contratada para ajudá-la; ou empurrar você mesma a cadeira de rodas dela (se isso for possível, é claro!)? O que realmente lhe atrapalha: é o olhar dos outros para a pessoa com deficiência, ou o trabalho físico de empurrar a cadeira de rodas, por exemplo?
Ao tentar responder a estas perguntas ainda penso: onde mora o preconceito? Ele é percebido e digerido pelas pessoas que discriminam? Ele aparece de forma diferente entre pessoas com maior ou menor grau de instrução?
Ainda passo por experiências bem distintas: pessoas com menor grau de instrução, que acabaram de me conhecer, não me discriminaram em nenhum momento; fazendo questão de me incluírem em todas as atividades. Enquanto pessoas, com maior grau de instrução que cresceram comigo, parecem ainda não aceitar minha condição de estar no mundo; e me discriminam todos os dias, sutilmente ou diretamente.
Sem generalizações e preconceitos - afinal quem sou eu para julgar alguém - mas sempre me senti mais feliz ao lado de pessoas com menor grau de instrução, por não enxergar em seus olhos a face sutil da discriminação. Não sei por qual motivo, ainda são raras as pessoas com maior grau de instrução que aceitam com naturalidade a minha forma de estar no mundo.
Se eu pedi para nascer e ainda com uma deficiência física, não sei. Se eu pedi para nascer com uma deficiência física exatamente nesta família, também não sei. Se eu tenho que pagar meus pecados nesta encarnação, e por isso nasci com uma deficiência, também não sei. Se eu estou me purificando por ter nascido com uma deficiência e vou ‘virar santa’, também não sei. Se a vida é uma grande brincadeira de mau gosto, também não sei. Se a vida é a única maravilhosa razão de ser, também não sei. Se eu sou mais feliz ou infeliz por ter nascido com uma deficiência, também não sei. Se eu reagiria da mesma forma, se estivesse na pele das pessoas que ainda me discriminam, também não sei.
Tudo o que sei hoje é que sinto uma força maior do que eu. Vocês podem chamar esta força de alma, espírito, deus, razão, existência, ou o que quiserem, mas é ela que me obrigada a dizer ao mundo, que viver com uma deficiência não é diferente de, simplesmente, viver. Afinal, onde está a perfeição? Por que será que o ser humano teima em querer ser perfeito, se a perfeição não existe?

Tudo e todos vieram do caos dos vulcões e é pra lá que vamos. Ou alguém já descobriu outra teoria mais convincente? Reduzir a complexidade do Universo em Paraíso e Inferno é infantil demais em pleno século XXI. E mesmo que eu esteja redondamente enganada, é bem provável que existam anjos com assas quebradas ou tortas, e diabos cegos e surdos. E quem viu Deus para dizer que ele tem as duas pernas?

segunda-feira, 14 de março de 2016

Educação para todos e todas URGENTE


Educação é para todos e todas!!!  
O Brasil é um país de todos e todas e precisa garantir acesso à educação para todos!


As escolas particulares querem escolher seus alunos, querem poder escolher a quem ensinar. Isso é um completo absurdo! Eugenia é a seleção dos melhores indivíduos para continuarem a raça humana. Ao longo da história da humanidade, vários povos, tais como os gregos, celtas, fueginos (indígenas sul-americanos), eliminavam as pessoas com deficiência, as mal-formadas ou as muito doentes. Hitler e sua política social racial da Alemanha Nazista eliminava pessoas visando a melhoria da raça ariana.


Lutamos muito para conseguir a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão.
Agora as Escolas Particulares querem ter o poder de decidir qual aluno ensinar e não querem receber alunos com deficiência. Entraram com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o art. 28 da Lei Brasileira de Inclusão, que garante a obrigatoriedade das escoas de receber o aluno deficiente.
Qualquer forma de seleção de seres humanos é preconceituosa e absurda! 
Vamos retroceder? Vamos voltar ao vale dos leprosos ou às câmaras de gás? Vamos permitir que as escolas escolham quem deve aprender e quem deve frequentar as aulas?? Vamos falar em "aluno padrão", "ser humano padrão" e voltar ao eugênico “ideal” de “pureza” nazista?

É essa escola que você quer para seus filhos? Onde está a função social da escola? Qualquer contrato deve cumprir função social e ter boa-fé. Por que o contrato de prestação de serviço educacional não teria? Você ainda acha que só quem ganha com a inclusão é a criança com deficiência???
A inclusão não beneficia somente as crianças com deficiência, ao contrário, acho que beneficiam mais às outras crianças, que não conhecem dificuldades na vida. Volto sempre ao mesmo ponto - ao bem enorme que o convívio com as crianças com deficiência faz para as faz para  as crianças "ditas normais" - talvez elas sejam as que mais tenham a ganhar com a inclusão. Escolas particulares tendem a classificar alunos, separá-los em turmas padronizadas. Os alunos que vão para a turma "A", onde todos são muito bonitos, saudáveis, tiram notas parecidas, podem comprar o mesmo brinquedo, etc. A criança é criada num gueto, com a falsa impressão de que o mundo é daquele jeito. Não aprende a lidar com certas dificuldades porque nem sabe da existência delas. Num futuro, se for reprovada num teste, não saberá como enfrentar essa situação.  
Quando passar por alguma situação adversa, poderá ser incapaz de reagir - Se sofrer um acidente, perdendo uma perna, por exemplo, será capaz de suicidar-se por total despreparo emocional. E se elas ganham tanto, crescendo como pessoas, não existe mal nenhum ou nenhuma injustiça, no rateio de todas as despesas com mediadores ou materiais diferenciados no cálculo da mensalidade - nada mais é do que o Princípio da Justiça Distributiva (distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos da cooperação social).
ASSINE:
https://www.change.org/p/supremo-tribunal-federal-pela-obrigatoriedade-das-escolas-de-receberem-crian%C3%A7as-deficientes

Leia o documento:

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ser mulher e ter uma deficiência



                                                 Foto: Vera Albuquerque.
Beijo doce
pele macia
desejo molhado
entrega
Olhar apaixonado
Tudo tão humano...
Não deveria ser preciso falar ao mundo que a beleza está em ser quem somos
Corpos assimétricos, falas, sentidos e sentimentos diferentes
É só isso...
Mas ainda há um oceano separando a simplicidade do corpo dizendo a que veio e da naturalidade em se encarar a condição humana da DIVERSIDADE!

Leandra Migotto Certeza

Grávida de mim mesma

Por Leandra Migotto Certeza

Estou grávida de mim mesma. A concepção aconteceu tão rápido que eu nem me dei conta que o óvulo foi fecundado há mais de 14 anos, depois de muitas tentativas imaturas. A gestação é dolorida e pesada, e está só começando… O embrião se contorce a cada nova descoberta. A respiração fica mais lenta ou acelera a cada novo choro convulsivo ou abafado. O medo e a insegurança dão lugar a novas descobertas. Conhecer a si mesmo no mesmo ritmo que se sente é complicado, mas parece o jeito mais sólido e intenso de se transformar e evoluir.

Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física! Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos. Queria estar no lugar de quem tem um corpo diferente do meu. Tenho o direito de desejar ser outra pessoa, e como é bom! Não preciso bancar a conformada, aceitar a roupa de heroína (que me colocaram) ou me afundar no poço da depressão. Escolhi o caminho do meio.

Eu não posso fazer amor com tanta volúpia, e em posições que sempre sonhei; mas posso ter orgasmos estupendos! Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam e habitarão o meu coração. Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos.

Crescer é isso… Lidar com frustrações o tempo todo. Saber que a resiliência é o nome bonito que deram para a capacidade de amar. Eu tenho 96 cm, e o tamanho de quem eu queira ser, a cada novo amanhecer. Eu tenho o direito de me revoltar, quebrar vidraças internas, gritar bem alto e depois adormecer no colo do meu amado. Fui poupada de tantas dores que a ferida só aumentou. A culpa não existe. É um sentimento idiota que o ser humano inventou para se auto-punir, por temer se olhar no espelho.

Religião é re-ligar, e não desligar o ser da realidade da sua imperfeição. Mas o melhor mesmo é encontrar um significado novo, a cada dia, para o que podemos ou não conseguimos. O processo de crescimento é lento, mas tem raízes, tronco, caules, folhas, flores e frutos. Muitos frutos! Não é infértil. É grávido de vida.

O meu autoconhecimento se intensificou com a pancada da impossibilidade de não engravidar nunca. O meu conhecimento sobre a vida; se multiplica cada vez que eu aprendo a me adaptar às potencialidades; e me dou o direito de vomitar o que sei que posso transformar, mesmo que ainda seja indigesto.

Hoje jogo fora um ser que poderia ter germinado e não foi
Sinto a dor de algo se esvaindo pelas minhas entranhas
Quente, vermelho
Que incha o meu corpo, mas esvazia minha alma
Não posso germinar e dar a luz
O motivo? Não sei.
E nem me explicaram...
Só apagaram as luzes do meu ventre e calaram a minha alma
Tenho inveja das barrigas soltas por aí... E das crianças a chorar e a sorrir.

Leandra Migotto Certeza.
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Artigo 6 da Convenção da ONU | Mulheres com deficiência
1. Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e meninas com deficiência estão sujeitas a múltiplas formas de discriminação e, portanto, tomarão medidas para assegurar às mulheres e meninas com deficiência o pleno e igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento, o avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir lhes o exercício e o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais estabelecidos na presente Convenção.

Fonte: 
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-description%5D_100.pdf