terça-feira, 30 de agosto de 2011

Educação inclusiva ou exclusão da educação?

Crônica contundente de Fábio Adiron 

Fonte: http://xiitadainclusao.blogspot.com/2011/08/nao-existe-escola-inclusiva.html


Não existe escola inclusiva

De tempos em tempos alguém me pede indicação de escolas inclusivas, geralmente são pais em busca de um lugar para os seus filhos mas, de vez em quando, também são professores de escolas que rejeitaram algum aluno e que tentam indicar um outro lugar para os pais que os procuraram.

Infelizmente essa é uma informação que eu não possuo, ou melhor, possuo, mas não da forma como as pessoas gostariam de ouvir.

Não existem escolas inclusivas ou, pelo menos até hoje, eu não conheci nenhuma. E não existem porque o nosso sistema educacional, seja ele público ou privado, ainda está muito longe de ser inclusivo.

Claro que quem acredita que inclusão significa apenas ter alunos com alguma deficiência na escola vai encontrar centenas de escolas inclusivas. Só na rede municipal de Sâo Paulo são mais de mil escolas. Mas não é isso que torna inclusiva uma escola.

Outros entendem que são as escolas que "aceitam", como se inclusão fosse apenas uma concessão que a escola faz aos que ela consideram como diferentes.

Não poucos entendem que a escola inclusiva é aquela que faz a sua parte, desde que a pessoa incluída se prepare para acompanhar as suas regras inflexíveis, alguns chegam mesmo a contratar profissionais para tomar conta dos seus filhos dentro da escola (e ainda chamam esses profissionais de "mediadores"...)

Quando encontram uma escola que tem uma estrutura especial para os alunos com deficiência acreditam que chegaram ao nirvana inclusivo. Quem não quer uma escola toda equipada para as necessidades ( "especiais"?!?) das pessoas com deficiência, mesmo considerando que as pessoas sem deficiência não se beneficiam disso?

Escola inclusiva só vai existir quando a educação passar por uma transformação profunda, valorizando a individualidade de cada e de todos os alunos.

Quando, ao invés de concessões, houver uma ruptura no sistema atual que conduza a uma escola que não estabeleça condições para matricular os alunos (com e sem deficiência). Quando o sistema representar a existência de uma escola que seja boa para todos.

Quando as mudanças beneficiarem toda e qualquer pessoa.

Isso só vai acontecer quando escolas, pais e alunos pararem de olhar só para os seus interesses e entenderem que o interesse de todos está acima dos seus umbigos. Isso não vai cair do céu, nem virá do planalto central.

Enquanto isso não acontece, vou continuar recomendando aos pais que procurem escolas que tenham a ver com seus valores e crenças, como procurariam para qualquer outro filho sem deficiência e que, junto com a escola, procurem transformá-la num ambiente inclusivo.

E que fujam da tentação da escola que aceita, da escola que privilegia, da escola que impõe fardos ilegais.

Descrição da imagem
: uma sala de aula perfeita, cheia de crianças de todos os tipos e super equipada.
 

Ótima crônica de Fábio Adiron


Fonte: http://xiitadainclusao.blogspot.com/2011/06/senzala-20.html


QUINTA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2011

Senzala 2.0

Se eu falasse para uma famíla negra que seus filhos deveriam ser encaminhados para escolas ou atividades sociais só com outras pessoas negras, eu seria imediatamente taxado de racista e, muito provavelmente processado por tamanha besteira.

Não seria diferente se disser para algum conhecido gay que ele deveria procurar a sua turma, mesmo sem lei anti-homofobia eu seria exacrado publicamente.
No entanto, pais, professores, amigos e inimigos das pessoas com deficiência sempre estão em busca de guetos exclusivos.
Bailes para pessoas com síndrome de Down, aulas de judô para cegos, escolas para autistas...e o pior é que a própria comunidade das pessoas com deficiência acha que isso é ser normal.
Além de serem pseudo-defensores da diversidade essas pessoas acabam reforçando as superestruturas discriminatórias dominantes.

Acham que estão conscientizando o mundo sobre os direitos de todos com manifestações públicas quando estão apenas ressaltando a percepção de que "esses estranhos" devem viver apenas entre eles mesmos.
Defendem a perenização da senzala, do gueto, do manicômio em moldes mais moderninhos (versão 2.0 ou será 4G?), travestidos de clubes, redes sociais e até sites de namoro para pessoas com deficiência.
A alegação conceitual é que pessoas com mesmas características biológicas podem construir sua identidade no contato com os seus iguais. Que identidade, cara pálida? (ou de qualquer outra coloração).
A minha identidade é a de ser humano e é no contato com outros seres humanos que ela vai se construir. Minha humanidade não se define pela cor da minha pele, pelo número de cromossomos ou pela minha capacidade de ver ou ouvir.
Homem, ser social, realiza o desenvolvimento da sua identidade através da interação que mantém com o meio em que vive. A cada experiência vivida, a cada problema enfrentado, se está alimentando o processo de construção da identidade.
Se o meio for segregado é esse tipo de identidade que um indivíduo terá. Uma identidade pobre e limitada.

Certa estava a Cláudia Werneck quando lançou em 1992 o livro "Quem cabe no seu todos?" mostrando que preconceito e discriminação só mudavam de nome e endereço, mas estavam em todas as mentes e corações (inclusive daqueles que são excluídos)
Se, ao invés de defendermos a inclusão de todos, defendermos a inclusão ou os direitos de pessoas do tipo X, Y ou Z, deixamos de lutar contra a discriminação. Viramos parceiros dela.

Descrição da imagem : propaganda de uma empresa italiana de roupas dividida em 3 quadros: um só com mulheres loiras, outro só com morenas e o outro só com mulheres negras.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Desrespeito às vagas acessíveis às pessoas com deficiência

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/08/prefeitura-disponibiliza-telefone-para-orientar-sobre-direitos-dos-deficientes.html


Secretaria disponibiliza telefone para orientar sobre direitos das pessoas com deficiência


Marcelo Yuka protestou no Rio contra uso indevido de vagas em aeroporto. 
Lei federal destina 2% das vagas de uso público a deficientes.

Do Bom Dia Rio
A subsecretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, Maria Célia Vasconcelos, afirmou nesta sexta-feira (26) que os portadores de deficiência física podem procurar a secretaria para orientações sobre seus direitos. Segundo ela, o atendimento funciona no telefone 2334-5606, de segunda a sexta-feira, em horário comercial.
Na quinta-feira (25), o músico Marcelo Yuka protestou no estacionamento do Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, contra o uso indevido de vagas para veículos de deficientes. Segundo informações da Infraero, o músico alega que os veículos estacionados nas vagas não são de pessoas com deficiência. Yuka ficou paraplégico em 2000, ao ser baleado durante um assalto na Tijuca, na Zona Norte da cidade.
“Pessoal da Infraero não tem poder de polícia para tomar uma atitude. Aí eu vou até quem teria esse poder, que é a Guarda Municipal. E eles falaram que aqui (no estacionamento do Santos Dumont) é terceirizado, não poderiam entrar. Meus amigos foram até a Polícia Militar e eles falaram que não poderiam entrar no estacionamento e disseram ‘empurra o carro e faz o garoto entrar’. Quer dizer, a gente tem sempre alguém gentil que possa fazer isso. Isso não é meu direito, não é direito de cadeirante”, reclamou Yuka.
Segundo Maria Célia, é preciso denunciar. “O cadeirante tem que denunciar primeiro à gerência do equipamento ou até as autoridades competentes. É um direito adquirido. A secretaria se coloca à disposição, tem uma superintendência de pessoas com deficiência para orientar, apoiar e principalmente conscientizar os estabelecimentos e pessoas desse direito que é de cidadania”.
Uma lei federal de 2000 estabelece que 2% das vagas de um estacionamento de uso público devem ser destinadas a deficientes físicos.

Radialista com deficiência visual construiu uma carreira


Fonte: http://www.comunique-se.com.br/Conteudo/NewsShow.asp?idnot=59545&Editoria=8&Op2=1&Op3=0&pid=22955280100&fnt=fntnl#.TlvXKFFGOhU.twitter


A deficiência visual não impediu a carreira de Marcus Aurélio, gerente da Rádio Globo

Anderson Scardoelli
Nascido com deficiência visual, sem enxergar com o olho direito desde os seis anos de idade e com apenas 10% da visão esquerda, Marcus Aurélio não desistiu de realizar o sonho que tinha desde a infância: ser jornalista e trabalhar em rádio, apesar de parte da família duvidar da sua capacidade no meio da comunicação, devido ao problema ocular.

Os anos foram passando e, com eles, Marcus foi seguindo carreira no dial, desde o domingo que percebeu a ausência do plantão esportivo da rádio Roquette Pinto e juntou as "moedinhas" para ir à rádio e se propor a substituí-lo; passando pela carreira de repórter esportivo na Tupi, quando chegou a ser proibido por Eurico Miranda, então presidente do Vasco da Gama, de cobrir o dia a dia do clube cruzmaltino; até a entrada no Sistema Globo de Rádio (SGR), sendo apresentador da CBN e posteriormente gerente nacional da Rádio Globo, cargo que ocupa atualmente.

Além da gerência, Marcus apresenta o "Quintal da Globo", nas noites de domingo. A atração vai ao ar para todas as afiliadas da emissora e conta com o empenho do comunicador, que para interagir com os ouvintes e chamar as notícias, tem que trocar constantemente de óculos, sem contar com o esforço de 'colar' os olhos para conseguir ler as letras garrafais do papel ou do computador.

Trecho do "Quintal da Globo" de 21/8/2011:


Estudante de escola pública durante toda juventude, Marcus não se limitou com o patamar profissional que alcançou. Ele procura formar novos comunicadores, seja por meio das aulas no curso de 'Rádio e TV' da FAAP ou no trabalho da União e Inclusão em Redes de Rádio (UNIRR), instituição sem fins lucrativos fundada em 1995. Como professor, Marcus é um "cara muito sensível e atento, que consegue uma aproximação muito grande com os alunos", define o vice-coordenador do curso de 'Rádio e TV' da FAAP e chefe de reportagem da Rádio Globo, Álvaro Bufarah.

Sobre o gosto desde a infância pelo meio rádio, o início da carreira, o tempo como repórter, os desafios de gerenciar a Rádio Globo, o trabalho acadêmico e a proposta da UNIRR, Marcus conversou com o Comunique-se, diretamente de sua sala no Sistema Globo de Rádio, em São Paulo. Acompanhe os vídeos:

Parte 1 - início no jornalismo:"Desde cedo, eu gostava de ouvir rádio e tinha a ideia de estudar jornalismo para trabalhar no rádio".


Parte 2 - UNIRR:
"A missão da UNIRR é assessorar, capacitar e dar apoio a todos aqueles que fazem, ou querem fazer, o uso dos meios de comunicação para a criação de uma sociedade mais justa".


Parte 3 - Tupi, CBN e gerência da Globo:
"Não queria ficar estigmatizado como uma pessoa que só falava de esporte".


Parte 4 - futuro do rádio:
"Daqui seis, sete anos, a banda de AM e FM será coisa do passado".

Dançando sem fronteiras

Dance ability com Fernanda Amaral 

Dançar no SESC Pinheiros dia 27 de agosto de 2011 foi uma experiência maravilhosa!

União entre corpo e alma por meio da arte inclusiva.


LINK do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=x_ZvyiurR88

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O amor venceu!


O amor é um dos maiores e mais fortes sentimentos humanos que vai além dos problemas e defeitos na difícil relação entre homens e mulheres. O meu coração está mais tranquilo e certo de que vale apena lutar por conquistar todos os dias a capacidade de amar com toda alma. 

Uma das mais importantes lições das crises e separações conjugais é o respeito pela individualidade e o cultivo do verdadeiro amor, capaz de superar até mesmo a dor. Recomeçar é sempre delicado e requer muita paciência e determinação para saber aprender com as mudanças da vida. 

Descrição da imagem: Leandra e Marcos juntos e felizes.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sinfonia

Escrevi estas palavras em um dos momentos mais produtivos, grandiosos e maravilhosos da minha vida profissional. Foi uma época em que vivi intensamente cada minuto como se fosse único, porque realmente é. 

Hoje sinto que a sinfonia que toca em meu peito tem outros acordes, um pouco mais doces e suaves; mas a melodia será sempre a mesma porque minha alma é forte e perene em busca de paz entre os seres humanos e vivos. 


Acordar, sonhar. Levantar, lutar. Acalentar, gritar. Ir em frente. Caminhar, rodar. Ouvir, silenciar. Enxergar, presenciar. Discutir, sentir. Estar presente. Convencer, conquistar. 

2001 foi um ano de muitas conquistas. A teia da vida se encarregou de tecer cores e formar. A diversidade é uma constante perene, que cada amanhecer brilha mais forte. As verdadeiras mudanças são internas; regadas ao sol ou em meio a tempestades. As sementes que plantamos hoje germinarão fortes e refundas. O tempo é uma linha tênue entre os instantes. 

Transformar é agir com intensidade. Saber esperar é o segredo. Respeitar é ser humilde. O ar transborda um orvalho suave, mas é preciso acordar cedo. Sentir as gotas caírem sobre os ombros, e não ter medo de misturar-se em meio à folhagem seca. 


Perdoar.

Caminhos caminham e seguem o curso do rio. Na selva o rei governa, e os súditos constroem. 

O aroma das flores é único, como o brilho de um olhar. O vento encarregará de conduzi-las; e um dia abrigaram-se no galhos, que nunca se deixarão sucumbir em meio à relva. As formigas podem corroer sua casca, quebrar seus espinhos; mas nunca seifarão sua seiva. Enquanto existirem campos sua grandeza será exaltada de dentro para fora; sem a pretensão de serem grandiosas, mas apenas flores únicas. 

Enquanto existirem seres humanos, a diversidade será uma dádiva que se suga por entre os poros do corpo; e não se aprende nas escolas, nos palanques, nos livros, com os mártires e poderosos, nas esquinas e nas ideologias, pois apenas se sente. 

Eu senti! Muito mais: fiz parte dessa sinfonia. 

Andei por entre auditórios cheios de políticos podres. Ouvi egoísmos vários. Chorei em meio as 'armas de madeira' quebradas. Parei em um olhar vermelho de dor reluzente do brilho de uma negritude intocável e forte! Gritei aos quatro cantos. Trabalhei com dignidade. Conquistei valores materiais, mas plantei pensamentos verdes; que amadurecerão com o passar dos milésimos de segundo; despertarão olhares; tecerão palavras e acalmarão almas sedentas. 

Participei de seminários, palestras, eventos, circos e círculos vários. Papéis, documentos, promessas, projetos, ideias, assinaturas. Filas e congestionamentos de pessoas, de caminhos, de cadernos, de desenhos e de palavras. 

A inclusão será uma bandeira que se carrega nos ombros, pesada como a consciência, ou uma roupa que se veste conforme o molde do corpo? Fogo de palha ou chama acesa? Alarde social todos fazem. Íntegro é aquele que vivencia com parcimônia. Sem perder a tenacidade e a voracidade diante do desconhecido. Explorar as potencialidades é construir a inclusão. 

Este ano também senti o coração bater, fora de dentro do peito. Mais do que uma caixa torácica, um arrepio sob a pele. Uma lágrima escorrendo no toque de um acorde. Uma cadeira de rodas bailando no palco. Um sorriso incansável, longe do medo, da descrença; e da corrupção que ainda impera. 


Talvez nem mesmo os que acordam e dormem ao lado do oposto a sua imagem conhecerão sua face. 

Fora ao pieguismo e a demagogia. Sim ao novo, aos desconhecido. Sem ultrapassar os limites e acomodamentos intrínsecos, respeitando o tempo interno, mas não deixando de olhar para atrás. Lembrar de quando fomos crianças, em uma época que um pião ou uma colher de pau eram apenas brinquedos. Suas cores, formas, odores, gostos e peculiaridades é que faziam a diferença. 

Em 2001 eu baixei a fronte diante do imaturo e suguei o seu brilho. Ouvi com paciência apesar de insegurança. Estive presente nas discussões e calei diante do futuro. Vivi o presente. Regatei o passado. Escrevi, fotografei, gravei, desenhei, planejei, inventei, caminhei... Muito mais do que dinheiro, casa, comida, roupas, estudo, condução, materiais, objetos: conheci pessoas, seres, naturezas. 

Cada instante tem seu espaço temporal e emocional. Eu ainda procuro o meu a cada experiência. Encontro partes refletidas e outras espalhadas. A busca constante é que mantê a chama acessa! 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

SENAC Consolação realiza Semana da Inclusão



Semana de Inclusão Educacional : Diálogo, Compreensão e Ação - 6ª Edição

No período de 22 a 26 de agosto o Senac Consolação realizará pelo 6º ano consecutivo a Semana de Inclusão Educacional : Diálogo, Compreensão e Ação. Um espaço de vivência, compartilhamento de experiências, integração e reflexão em torno do tema inclusão social e educacional.

A cada nova edição, a base das discussões pautada no tema inclusão de pessoas com deficiência no ambiente educacional e organizacional vem sendo ampliada com o objetivo de envolver um número cada vez maior de interessados no tema inclusão e Diversidade.

Aberto a gestores de recursos humanos e do 3º setor, educadores, estudantes, empresários e profissionais da área da saúde, a edição 2011 terá como pano de fundo o tema: Incluir: um fazer coletivo.

Serviço

Informações e inscrições pelo telefone (11) 2189.2100 – consolacao@sp.senac.br - ou pelo portal do Senac www.sp.senac.br a partir do dia 9 de agosto.

Rua Dr. Vila Nova, 228 - 1º andar - Centro - São Paulo, SP
 
Evento gratuito

Entrada: 1 item de higiene pessoal (os itens arrecadados serão doados à Associação de Apoio à Promoção Humana – Novos Rumos pertencente à Rede Social Vila Buarque)

Haverá intérpretes de LIBRAS

Segue abaixo a programação do evento

Segunda-feira 22

19h | Abertura – Palestra : Incluir: um fazer coletivo

Marta Almeida Gil – Socióloga, atua na área de Deficiência desde 1976. Conferencista em eventos nacionais e internacionais falando sobre temas de Redes de Informação, Comunicação e Inclusão, sobretudo de pessoas com deficiência. É uma das fundadoras do Amankay – Instituto de Estudos e Pesquisas e atualmente trabalha como consultora autônoma. Coordenou o Manual “O que as empresas podem fazer pela inclusão de pessoas com deficiência” publicado pelo Instituto Ethos (2002) o livro “Educação Inclusiva – o que o professor tem a ver com isso” (2006) Foi coordenadora da Rede Saci e tem artigos publicados em revistas e sites.

Terça-feira  23

16h – 18h | Palestra: Tecnologia e o Acesso Universal à Informação.
A palestra tem como objetivo apresentar tecnologias para pessoas com deficiência visual, bem como planejamento e execução de projetos de localização de softwares e documentação, para promover o acesso universal à informação.

Julio Cezar Pires Graduado em Engenharia Mecânica, com Pós-graduação em Tecnologia de Soldagem pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, MBA – Gestão Empresarial, pela FGV - Fundação Getúlio Vargas e formação técnica em fundição pelo SENAI – MG. Carreira profissional desenvolvida em empresas multinacionais e nacionais, onde atuou na área de Tecnologia da Informação. No terceiro Setor, atuou como gestor de Tecnologia da Laramara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual e como Gerente de Desenvolvimento da FDNC - Fundação Dorina Nowil para Cegos.  

19h – 21h | Palestra: Educação e Direitos Humanos: valorização da diversidade e redução das desigualdades.
A palestra tem como objetivo refletir sobre os sentidos e as possibilidade da inclusão educacional, a partir do relato da experiência de uma organização não governamental (IBEAC), que há 30 anos vem promovendo o diálogo entre jovens e adultos, entre o setor social e o poder público, entre grupos vulneráveis e gestores de políticas públicas, buscando formas participativas de inclusão social.
Bel Santos Mayer é educadora social, formada em Ciências Matemáticas com especialização em Pedagogia Social pela Universitá Salesiana di Roma (Itália). Fundou e coordenou com outros educadores sociais os CEDECA’s Mônica Paião Trevisan - Sapopemba e Casa 10 – Ipiranga. É Coordenadora do Programa de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC. É empreendedora social da Ashoka; foi membro da Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos – CNAEJA (SECAD/MEC), representando o segmento étnico-racial de 2007 a 2010. É consultora e coordenadora de Programas de Formação em Diversidade, Direitos Humanos e Relações Raciais na Secretaria Municipal de Educação de Guar ulhos. Coordena o Polo de Leitura LiteraSampa (2011-2012).  

Quarta-feira 24

16h – 18h | Palestra: Igualdade Ainda Deficiente
Equipe da rádio SulAmérica Trânsito, formada pelas repórteres Raquel Rieckman, Ana Paula Rodrigues e Luiza Silvestrini e pelo diretor Felipe Bueno, apresenta série de reportagens sobre acessibilidade. O tema passou a ser discutido na rádio em 2009, após a denúncia de um jovem cadeirante que tinha dificuldade para entrar no colégio porque não havia vaga especial para a van escolar estacionar. A partir daí, foi firmado o compromisso com o ouvinte de nunca deixar o assunto de lado. A palestra conta com a participação do presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB/SP, Antonio Rulli Neto.

Felipe Elias Bueno Diretor formado em Jornalismo e História pela Universidade de São Paulo. Trabalhou nas rádios Eldorado e Bandeirantes, na Gazeta Mercantil, na Agência Estado, e como educador no Projeto Êxodos, realizado no Brasil pelo SESC.
Ana Paula Rodrigues formada pela Faculdade Cáper Líbero. É apresentadora da Rádio SulAmérica Trânsito desde agosto do ano passado. Foi repórter entre 2009 e 2010. Também é editora e repórter da TV Gazeta. Foi trainee do Grupo Bandeirantes de Comunicação em 2008.
Raquel Rieckmann formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2007. É repórter da Rádio SulAmérica Trânsito desde outubro de 2009. Também é repórter da Rádio Record.
Luiza Silvestrini  repórter da SulAmérica Trânsito dede agosto de 2011 e coordenadora entre setembro de 2010 e agosto de 2011. Trabalhou como produtora da Rádio Bandeirantes, em programas como Ciranda da Cidade, Jornal Gente e Bandeirantes Acontece. Formada pela Universidade Metodista de São Paulo em 2009.
Dr. Antonio Rulli Neto (convidado) Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo - Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Diretor da Faculdade de Direito da FMU - Presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB/SP.

19h – 21h | Programa de inclusão de pessoas com deficiência – Case Senac

A palestra apresentará a abordagem utilizada  pelo Senac São Paulo para promover o envolvimento, engajamento e capacitação dos funcionários, além dos desafios, resultados e aprendizados alcançados na contratação e inclusão de pessoas com deficiência.
Cíntia Yuri Takahashi  é coordenadora do Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência do SENAC Senac São Paulo.

Quinta-feira 25

16h – 18h | Palestra: A responsabilidade de cada um na construção de uma sociedade inclusiva.
Através do relato de sua experiência de vida, Samara aponta as barreiras arquitetônicas e humanas que uma pessoa com deficiência neuromotora enfrenta e mostra o que tem feito, na prática, para fazer valer as leis e  conquistar respeito e reconhecimento na sociedade.

Samara Andresa Del Monte tem Paralisia Cerebral, se comunica com símbolos Bliss e escreve no computador com auxílio de um capacete com ponteira. Cursa o 3º ano de Jornalismo e é idealizadora da revista Mais Deficiente.

19h – 21h | Palestra: A responsabilidade de cada um na construção de uma sociedade inclusiva.
Através do relato de sua experiência de vida, Samara aponta as barreiras arquitetônicas e humanas que uma pessoa com deficiência neuromotora enfrenta e mostra o que tem feito, na prática, para fazer valer as leis e  conquistar respeito e reconhecimento na sociedade.

Samara Andresa Del Monte tem Paralisia Cerebral, se comunica com símbolos Bliss e escreve no computador com auxílio de um capacete com ponteira. Cursa o 3º ano de Jornalismo e é idealizadora da revista Mais Deficiente.

Sexta-feira 26
16h – 18h | Encerramento  Espetáculo Kínesis
16h – 21h
Teatro, tato, olfato, e audição. Olhos vendados e você sempre em movimento.
O objetivo do Grupo Sensus é trazer aos espectadores a consciência e a percepção dos seus ritmos internos, colocando-os em contato com sensações que normalmente não são muito acessíveis. Assim, a partir da literatura de grandes poetas, as performances atuam em várias camadas do imaginário, ampliando gradualmente a percepção ao utilizar as diversas formas de toque privando, em alguns momentos, o público da visão.


Inclusão Já!

É com muita alegria que compartilho a re-publicação do meu artigo premiado na Colômbia no portal da minha grande amiga Claudia Grabois! Apreciem o ótimo trabalho dessa equipe de profissionais que amam a inclusão!

Fonte: http://inclusaoja.com.br/category/casos-de-inclusao/

http://inclusaoja.com.br/2011/06/30/ser-e-estar/


Ser e Estar

Por Leandra Migotto Certeza*
Fico feliz em poder contar um pouco da minha história pelo universo escolar. Querem viajar comigo pelo túnel do tempo? Há 26 anos eu nasci. Em um tempo em que a diversidade natural do ser humano ainda era pouco abordada pela mídia. Hoje se fala muito em Educação Inclusiva, Responsabilidade Social, Terceiro Setor, Voluntariado, Inclusão Social, Consumo Consciente… Porém, a distância entre a teoria e a prática ainda é grande. Vejam só…
Pré-escola: onde criança quer mais é ser feliz!
Graças à amizade de meus familiares com diretores de uma escola, consegui cursar o pré-primário em meio às delícias da infância. Comi muita areia, brinquei de pega-pega, “pulei” corda, cantei cantigas de roda, visitei parques, fiz desenhos, aprontei com massinha de modelar, “subi” em trepa-trepa, brinquei de roda, aprendi a ler e escrever. Aos cinco anos, dava um jeito de participar de tudo. Como minhas pernas ainda não tinham forças para agüentar meu corpo, usava o bumbum e corria pelo pátio junto com os amigos. Sabia que para fazer algumas coisas precisava de ajuda, como subir em uma cadeira ou escada, pegar um livro na estante, ir às excursões… Mas nunca deixei de ser e estar na escola!
Muitas crianças com deficiência ainda não conseguem ter acesso à escola. Minha sorte foi que os meus familiares conheciam os diretores e explicaram que eu não seria uma aluna que, segundo o preconceito da época, traria “problemas” aos outros colegas, professores ou pais. Embora menor do que eles, pois tinha o tamanho de uma criança de dois anos, era bem alta no tom de voz quando queria dizer algo. Acho que isso até hoje é uma das minhas características mais fortes e que às vezes acaba sendo um pouco exagerada… Mas naquela época, essa espécie de “compensação” foi super importante para que eu nunca fosse esquecida do jeitinho que era.
Aos seis anos de idade, depois de ser alfabetizada, vivi a triste experiência de ser segregada a uma escola dita “especial”. Pois, após diversas tentativas de minha mãe em me matricular na antiga primeira série, em um colégio com alunos sem e com deficiência, acabei indo parar dentro de uma verdadeira jaula! Naquela época, devido ao descaso dos governos e da sociedade, as escolas em sua maioria adotavam o modelo assistencialista. Então, cursei dois anos em um colégio regular conveniado a uma instituição especializada em crianças com deficiência.
Lá estagnei. Pois, numa mesma sala, uma vitoriosa professora, tinha o árduo e mágico objetivo de ensinar crianças com diferentes graus de deficiência e séries distintas. Em meio às lições de alfabetização – o que eu já dominava – crianças com comprometimentos mentais, dividiam a atenção com as que possuíam dificuldades de mobilidade como eu. É claro que todos saiam prejudicados, pois além de não termos nossas especificidades respeitadas, não tínhamos a mínima possibilidade de desenvolvermos nosso potencial. Mas sem dúvida, o fato mais marcante – e que ainda hoje, infelizmente, é encontrado em alguns Estados do Brasil – era a existência de uma grade que nos separava do outro mundo – o das crianças ditas “normais”! Isso era um horror! Tínhamos que tomar lanche também em um pátio separado. Parecia que iríamos transmitir alguma doença contagiosa ou “aterrorizar” as outras crianças com a nossa aparência diferenciada.
Em um completo sistema assistencialista, éramos considerados coitadinhos que mereciam cuidado especial, mas fora do convívio com as outras pessoas. Não éramos vistos como cidadãos, com direitos e deveres. Hoje, penso que talvez fosse a transição de um processo educacional para o outro, pois, anos antes, a maioria das crianças com alguma deficiência não eram nem mesmo consideradas “aptas” à educação, permanecendo sob cuidados médicos ou como eternos bebês nos colos das suas mães. Era o início das chamadas: “Classes Especiais”, que ainda existem hoje. Porém, graças à luta de inúmeras pessoas, elas são bem melhores do que antes, apesar de ainda estarem bem longe do objetivo da Educação Inclusiva: não à segregação!
Mas, naquela época era muito complicado para uma menina de sete anos, esperta como eu (creio que para inúmeras outras também, pois não sou melhor ou pior do que ninguém), ser ignorada e ter de pedir, por favor, para ser vista pelo mundo. Por isso, sempre que possível, dava uma fugida e passeava pelos corredores do colégio no colo das “tias”. Elas me levavam de volta ao sonho do qual despertará: o convívio com todas as crianças. Não que eu não me sentisse bem perto dos meus amigos com alguma deficiência, pois, desde os três anos, estava no meio deles, nas sessões de fisioterapia e hidroterapia em uma instituição especializada. Mas não entendia porque tinha que me manter escondida dos outros sem deficiência.
E é por isso que hoje, quando participo de congressos e escrevo artigos sobre Educação Inclusiva, sei da importância que o TODO têm na vida de uma pessoa. As crianças, os jovens e os adultos têm o direito, assegurado na nossa Constituição Federal, à educação em meio à diversidade inata ao ser humano. Todos nós nascemos sem nenhum preconceito, pois só os “formamos” após sermos “ensinados” do que é “certo” ou “errado” – apesar de eu não gostar dessas palavras, pois não refletem a complexidade e amplitude humana. Portanto, nunca vamos discriminar alguém por não ter um braço ou uma perna, ou porque fala, ouve, enxerga ou anda diferente de nós. Muito pelo contrário, criança que é criança, quer mais é ser feliz! Não importa como!
Depois de muita luta, finalmente, uma escola inclusiva!
Eu fui muito feliz, mesmo depois de alguns tropeços pela vida e, literalmente, ossos quebrados. E em 1986, depois de muitas andanças por aí e “portas na cara”, finalmente minha mãe, meio que por milagre, conseguiu me matricular em uma escola dita regular. Mais uma vez, eu, infelizmente, ainda era a única aluna com alguma deficiência que havia estudado lá. Pois, a maioria das mães encontravam inúmeras dificuldades para conseguir que seus filhos fossem aceitos nas escolas; uma vez que ainda não era lei, como é hoje, a obrigatoriedade em matricular qualquer aluno que batesse na porta de um colégio.
Nessa escola eu pude desenvolver todo o meu potencial de uma menina de 9 anos. Como havia parado de andar, era levada no colo pelos colegas e professores, que nunca me deixaram de fora das atividades, inclusive das broncas. E uma vez fui parar na diretoria e tomei suspensão por ter xingado uma menina, que – diga-se de passagem – era muito chata. Esse fato ilustra o verdadeiro significado da inclusão em sua plenitude: tratar todas as pessoas igualmente respeitando suas diferenças. Acredito que esse sentimento pode estar dentro de cada um de nós ou em pessoas mais sensíveis “ligadas” na evolução da vida.
É importante ressaltar, que, felizmente, eu tive uma grande sorte, pois nunca ninguém me tratou diferente dentro da medida das minhas diferenças. A equiparação de oportunidade – mesmo que ainda apenas intuitivamente – sempre era usada para que eu me sentisse completamente incluída. O que significa isso? Quer dizer que, se eu precisasse de uma carteira mais baixa; uma rampa; ser levada no colo (pois hoje sei que deve ser ao máximo evitado, porque todas as crianças têm o direito à privacidade, individualidade, oportunidade de crescimento e desenvolvimento adequado à idade); ou ser acompanhada por minha mãe em passeios, entre outras coisas, tudo era providenciado.
Naquela época pouco se falava sobre os conceitos de Acessibilidade e Desenho Universal, os quais garantem rampas, elevadores, sistemas de computação para leitura em voz alta direcionada aos cegos e/ou deficientes visuais, intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para surdos e/ou deficientes auditivos; salas de recursos e/ou professores de apoio para algumas deficiências metais, entre outros recursos. E como eu não sabia quase nada sobre o assunto, não exigi muito da escola para adaptar as dependências de forma que amanhã outros alunos com dificuldades como eu pudessem utilizar. Hoje, fico feliz, em saber que o colégio foi ampliado e dispõe de rampas e elevadores. Mas ainda pretendo fazer um trabalho de conscientização sobre a inclusão, para que eventuais alunos com outras deficiências, como auditiva, visual, mental ou múltipla (união de duas ou mais deficiências), ou crianças obesas possam se sentir tão bem quanto eu.
Outro ponto super importante a relatar, é que o conteúdo do currículo, da pedagogia e das atividades do antigo primeiro grau e do ginásio não foi alterado em nenhum aspecto. Nunca recebi nota alta em matemática – matéria que detesto até hoje e não sei direito – só porque parecia uma “bonequinha de louça”, como diziam os médicos ou professores. Muito pelo contrário, era punida da mesma forma caso colasse nas provas – coisa que só fazia em matemática mesmo… Além disso, não era elogiada mais do que os meus amigos por uma pesquisa ou nota, pois sempre estive na média em relação ao desempenho escolar da sala. Caso merecia reconhecimento era exclusivamente pelo que havia feito com muito orgulho e dedicação!
Infelizmente, só permaneci lá até a antiga oitava série. Minha formatura do curso ginasial foi marcante. Todas as minhas amigas me incentivaram a participar. E com um certo receio sobre o que a minha imagem física poderia trazer aos outros – coisa super valorizada quando se têm 14 anos – fiquei muito feliz ao entregar rosas à diretora, mesmo estando sentada em uma cadeira com meu lindo vestido branco.
É isso aí, durante esse fundamental período da vida escolar, pude contar com pessoas éticas, responsáveis, profissionais e acima de tudo humanas, que nunca me deixaram me sentir menor ou maior do que ninguém. Fiz muitos amigos e amigas. E depois de formada em uma universidade voltei ao colégio e me emocionei com a alegria das professoras e diretoras ao me verem andando.
Antes de terminar o “capítulo” desse relato, não posso esquecer de dizer que quando conheci essa escola, tanto os diretores como os professores não temeram em enfrentar uma situação nova e desafiadora. Acreditaram na minha capacidade, nas informações conscientes de minha mãe e acima de tudo na vida, pois ela, felizmente, não é dada igualmente a todos nós! Acredito que é isso o que os educadores devem ter em mente hoje em pleno século 21. A diversidade faz parte da vida e, conseqüentemente, da vida das escolas! Então, por que fugir dela?
Ensino médio: mudanças que a adolescência traz
A minha evolução física e psicológica acompanhou a escolar. E aos 15 anos, voltei a fazer exercícios para andar novamente, com a ajuda de um par de muletas, e consegui me matricular em um colégio também regular. Lá, felizmente, já encontrei outros alunos com alguma deficiência. No primeiro ano do antigo colegial, éramos quatro: eu com Osteogenesis Imperfecta (formação óssea imperfeita, que pode acarretar, entre outros fatores, baixa estatura e dificuldade de andar, mas, principalmente, fragilidade óssea devido a não absorção de cálcio); um menino com paralisia cerebral (o que, superficialmente falando, é a falta de comunicação do intelecto com as partes do nosso corpo, e ocorre, na maioria das vezes na hora do parto, podendo comprometer os movimentos, a musculatura e a fala dessas pessoas, mas em nada altera o raciocínio); uma menina surda, que fazia leitura labial e sabia um pouco de Libras; e um garoto com deficiência auditiva, que usava um aparelho para ouvir um pouco e falava muito bem.
Nessa escola também fui muito bem aceita por todos durante os três anos. E, já com 17 anos, lutava mais pelos meus direitos, mesmo que eles ainda não tivessem respaldo legal, além da Constituição Brasileira – que, infelizmente e vergonhosamente, ainda hoje não é respeitada pela maioria das pessoas. Então, solicitei algumas modificações físicas para garantir a acessibilidade às dependências do colégio. Infelizmente enfrentei maiores resistências, pois era a única que ainda usava uma cadeira de rodas e os diretores temiam as possíveis “profundas mudanças” na estrutura física da escola. Assim, mais uma vez eu contei com a famosa “ajuda”, que hoje é considerada inadequada e ineficiente.
Pois, atualmente, experiências bem sucedidas demonstram o quanto é possível fazer adaptações físicas na estrutura das escolas e dentro dos sistemas de comunicação, com materiais, tecnologia e mão-de-obra financeiramente acessíveis. E, na maioria das vezes, com a reutilização e/ou reaproveitamento de recursos. Além do mais, cada dia que passa – infelizmente com exceções – aumenta o número de escolas construídas seguindo o conceito de Desenho Universal. Mas o que ainda é extremamente escasso é a fiscalização dos órgãos públicos e da própria população, em relação ao cumprimento das leis brasileiras que garantem a acessibilidade.
Agora, em relação aos professores do antigo colegial, a maioria compreendia a necessidade de maior atenção aos alunos com deficiência, na medida em que ainda não dispunham de outros mecanismos como o domínio da Libras, ou a experiência com a fala de pessoas com paralisia cerebral. E nunca me esqueço o dia em que numa aula da antiga e saudosa disciplina de Educação Moral e Cívica, o professor, atenciosamente, fez o aluno com paralisia cerebral ler sua redação em voz alta, deixando-o todo cheio de auto-estima e dignidade. Pois mesmo com dificuldade na fala ele tinha o total direito de usar a sua voz para expor suas idéias.
Contudo, ainda é muito triste, o relato abafado de muitos fatos de puro descaso, omissão e/ou crime de alguns diretores de colégios em relação principalmente, aos alunos com deficiência mental e física. Vide o que aconteceu recentemente, em uma escola de Itanhaém, no Estado de São Paulo, onde um aluno com paraplegia e sem controle de suas funções fisiológicas, terrivelmente não tem outra alternativa senão fazer as necessidades na frauda, pois não há um banheiro que ele possa utilizar com sua cadeira de rodas.
Voltando à minha trajetória, é importante declarar que, em relação os alunos – em sua maioria, adolescentes e jovens entre 16 e 20 anos -, as reações eram as mais diversas. Isso era natural, pois em uma fase em que a identidade está sendo colocada em jogo pela sociedade e a personalidade está sendo meio “moldada”, ficava difícil fugir aos estereótipos. E muitas vezes, os alunos com deficiência eram um pouco incompreendidos. Creio que mais por falta de informações a respeito de suas particularidades do que por preconceito, pré-julgamentos ou ações discriminatórias. O que acontecia era que alguns colegas ficavam um pouco impacientes, pois o tempo de realização das coisas dos alunos deficientes era um pouco maior do que o deles. Ou, na maioria das vezes, também não sabiam como poder ajudá-los nas atividades cotidianas. Fatos esses, resolvidos hoje, em algumas escolas, por meio de dinâmicas e treinamentos específicos sobre as principais características das pessoas com deficiência. O que facilita muito na hora de “quebrar o gelo” entre as pessoas diferentes. Pois, um dos principais pressuposto do conceito de inclusão social é o conhecimento do outro em sua totalidade, para depois conseguirmos interagir naturalmente sem qualquer receio.
Agindo dessa forma, os pré-julgamentos, e atitudes discriminatórias seriam evitadas. Afirmo isso, pois infelizmente, ainda hoje, muitas pessoas sofrem com atitudes puramente racistas e preconceituosas. E palavras como: aleijado, caolho, manco, monstro, coitado, perna de pau, débil mental, mongolóide, baleia, anão, anormal, aberração da natureza entre outros terríveis e abomináveis xingamentos acabam sendo maldosamente usadas por algumas pessoas, ao se referirem às com alguma diferença.
Porém, eu, na maioria das vezes, não ficava de fora de nenhuma atividade do colegial, mas nunca me senti à vontade quando o assunto era sexo e relacionamentos amorosos. Creio que esse tabu ainda é um dos mais complexos de serem quebrados, pois a sexualidade de uma pessoa com deficiência, infelizmente ainda é um mito para muitas pessoas. E naquela época, como eu não tinha um distanciamento com a adolescência; conhecimento sobre o assunto; e nem experiência profissional na área da inclusão, sofri bastante com os olhares assustados dos colegas, principalmente dos garotos. Pois, na hora de paquerar as meninas, todos, sem exceção, simplesmente e friamente desviavam o olhar de mim. Eu chorava muito por não ter a altura normal (pois até hoje meço 1 metro de altura), pernas retas e um bumbum no lugar, usar um par de muletas e parecer um “ser estanho” perto de qualquer menina de 17 anos.
Resumo minha passagem pelo colegial como uma metamorfose. Pois, nessa fase percebi a importância da família e dos verdadeiros amigos. Foi só depois que me dei conta que o colégio em si, mesmo que ainda pouco acessível fisicamente, foi um ambiente inclusivo. Pois, ao conviver com as adversidades que a diversidade nos impõe, cresci muito. E hoje luto para que outros jovens passem por essa fase sem ou com menos dor do que eu. E em meus textos e palestras alerto para a importância de se conviver com a diversidade desde criança.
E, apesar de ainda ser um tema extremamente polêmico, também creio que para a maioria dos alunos com deficiências mentais – salvo raríssimas exceções – estudar em meio às crianças com e sem deficiência é extremamente importante para o estímulo do seu potencial, não sub ou super estimando-o. Portanto, o ambiente escolar inclusivo é a melhor solução para quebramos tabus e construirmos uma sociedade mais humana!
Cursinho pré-vestibular: um passo muito importante rumo a faculdade
Continuando minha trajetória pela educação, em 1995, antes de ingressar na faculdade – meu grande sonho -, fiz cursinho pré-vestibular. Lá também encontrei muitas dificuldades com as barreiras físicas e comportamentais. Nunca ninguém se preocupou em construir uma rampa no lugar dos degraus da entrada do prédio, mesmo com a presença de uma aluna em cadeira de rodas. Pois eu já usava apenas um par de muletas e subia a escadinha sem problemas. Mas essa menina, que também estava na mesma sala que eu, tinha que ser carregada pela tia-avó – já com uma certa idade – todos os dias para conseguir estudar. Raramente, um aluno ou professor “dava uma força”, mas nunca se preocuparam em proporcionar independência a ela, pois pagava em dia sua mensalidade, como todos os outros alunos, portanto tinha o direito a acessibilidade. Eu insistia para que ela e sua tia solicitasse aos diretores uma rampa, mas elas tinham medo de perder a vaga e o desconto no curso. E era óbvio que se tratava de uma relação extremamente assistencialista. Era como se a escola tivesse o terrível e completamente falso direito de dizer: “Você não tem do que reclamar. Afinal, deixamos você estudar aqui e ainda lhe ajudamos com um desconto”.
Esse fato era inadmissível, pois já em 1989, a Lei 7.853, em seu art. 8º, dizia que: “… Constitui crime, punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa: I – recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta…” E no parágrafo único também estava escrito que os órgãos públicos ou privados deveriam: “… proporcionar tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas: V – na área das edificações: a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, e permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros e a meios de transporte, e…”
Finalmente o grande sonho: ensino superior!
É por isso que em 1996, quando passei no vestibular para cursar Comunicação Social em uma faculdade particular, não me preocupei em perguntar a diretoria se seria aceita – o que infelizmente e vergonhosamente fui obrigada a fazer durante 15 anos de minha vida! Estava pronta para acionar o Ministério Público, caso ocorresse algum problema. Isso não significa que fui “chata” com os diretores, professores, funcionários ou alunos, pois o processo de inclusão deve ser um mútuo conhecimento das especificidades entre as pessoas e o ambiente. E é importante deixar claro que defender direitos não implica em cometer infrações, desde que se esteja dentro da lei. Afinal, na hora de cumprirmos nossos deveres cíveis, como pagar impostos, votar para eleger nossos governantes e responder à justiça sobre nossos atos, ninguém nos diferencia em pessoas com deficiência ou não. Não é verdade?
Também é importante lembrar que, muito antes de 1996, algumas conquistas em termos de legislação foram alcançadas pelas pessoas com deficiência. Porém, ações eficazes ainda não eram colocadas em prática. E mesmo com um aluno em cadeira de rodas, uma de andador, outra com a altura comprometida, além de mim, que usava um par de muletas e tinha a altura também abaixo de 1 metro, todas as instalações da faculdade não eram totalmente acessíveis. Quando perguntei o porquê, a coordenação informou, que uma menina com dificuldade de altura já havia estudado lá. Mas todos a ajudavam a alcançar os locais mais altos, colocando banquinhos móveis e sem segurança para que ela subisse. E a única rampa, que dava acesso apenas a uma das salas de aula, foi construída para auxiliar um antigo aluno que usava uma cadeira de rodas. Assim, segundo a diretoria, as adaptações só eram feitas quando eles achavam necessárias.
Atitudes essas, ainda eram um pouco assistencialistas, pois os diretores da faculdade não haviam se conscientizado sobre a importância da independência e autonomia das pessoas com deficiência. Era como se esses alunos fossem depender das outras pessoas durante toda sua vida, ou permanecerem em um único espaço físico. Hoje, fatos como esse, infelizmente, ainda ocorrem, mas talvez em menor escala em algumas escolas da chamada “classe média”. Pois, as áreas mais periféricas das grandes cidades e o interior dos Estados – salvo exceções – ainda sofrem bastante com a falta de informação das escolas sobre o direto à educação que essas pessoas têm.
E, por incrível que pareça, em 1998, mesmo cursando o terceiro ano da faculdade, a sala de aula onde eu estudava localiza-se no segundo andar do prédio. Com grandes dificuldades para subir uma escada de mais de 20 degraus, eu praticamente não descia durante o intervalo, pois o tempo não era suficiente para subir depois. Conseqüentemente, acabava ficando segregada de todo ambiente escolar. E só depois de dois meses de muitas reclamações e uma burocracia tremenda consegui mudar de sala. Porém, a maior parte das dificuldades encontradas era em relação à falta das equiparações de oportunidades ao meio físico, pois o relacionamento com todos os professores e colegas foi tranqüilo. Sempre fui aceita por todos e até incentivada a me tornar mais independente fisicamente e psicologicamente. Pois, apesar de já começar a desenvolver uma atitude inclusiva em relação à vida, ainda tinha algumas dificuldades de aceitação interna, medos e traumas. E, com o passar dos anos, em meio às loucas e gostosas aventuras universitárias me encontrei como mulher, cidadã e portadora de uma limitação física. Foi um grande aprendizado para todos, pois os professores e amigos também comentavam sobre a valiosa troca de experiências ao conviverem comigo.
Em 1999, já mais desinibida, comecei a reivindicar fortemente meus diretos. E a primeira grande luta foi conseguir uma vaga para estacionar o carro, com o qual eu era conduzida por parentes ou amigos, pois, de acordo com o Decreto 3.298 de 1999, um dos Parágrafos Únicos, já determinava que: “… I – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a estacionamento de uso público, serão reservados dois por cento do total das vagas à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, garantidas no mínimo três, próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas e com as especificações técnicas de desenho e traçado segundo as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)…”
Mas, somente depois de diversas cartas ao diretor e reuniões adiadas com a coordenação – além de, literalmente, terem batido a porta na minha cara -, consegui solicitar a reserva de uma vaga em frente à faculdade. O que acabou finalmente colocando em prática o direito de ir, vir e permanecer em um estabelecimento de ensino, não apenas para mim, como para todos os demais alunos com alguma deficiência física. Assim, o aluno usuário de cadeira de rodas também pode usufruir desse direito, pois, infelizmente, as calçadas e ruas próximas à faculdade eram praticamente intransitáveis devido aos buracos e elevações. Porém, as adaptações nos banheiros só foram terminadas no final de 1999, ano em que eu estava me formando em Produção Editorial. E foi com alegria que finalmente encontrei rampas e portas largas dentro do banheiro, no último dia em que estive na faculdade, apresentando meu trabalho de conclusão de curso.
Hoje, as novas unidades da agora universidade encontram-se mais acessíveis, porém ainda não contemplam todas as necessidades e direitos constitucionais dos futuros alunos com alguma deficiência ou necessidade especial. Pois é fato que, variando de acordo com cada estabelecimento de ensino superior, muitos ainda não demonstram interesse em preparar o ambiente para receber, principalmente, alunos que necessitem de sintetizadores de voz, intérprete de Libras ou recursos pedagógicos de alguns materiais de apoio no exame pré-vestibular e durante as aulas. Além da falta de iniciativa na qualificação de professores e funcionários para lidarem com as especificidades dessas pessoas. É preciso divulgar mais, que o conceito de Desenho Universal pressupõe a acessibilidade física e de comunicação. Pois algumas pessoas ainda pensam que adaptar é apenas construir rampas, as quais muitas vezes são feitas fora dos padrões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). E também esquecem que outras pessoas, como crianças, obesos, grávidas, mães com carinho de bebê e idosos, poderão fazer uso desses espaços!
Voltar a estudar: um grande desafio!
No penúltimo ano da faculdade, lutei muito para conseguir estagiar na área e só consegui trabalhos paralelos à minha formação. Em todos os lugares, precisei reivindicar meus direitos à equiparação de oportunidades, pois os conceitos de educação inclusiva apenas estavam começando a serem disseminados. Enviar currículos e procurar vagas de estágio ou emprego nos meios de comunicação era muito difícil, pois eram pouquíssimas as empresas que acreditavam no potencial de pessoas com deficiência. Hoje já é mais fácil conseguir outras oportunidades de emprego. Principalmente, devido a Lei 8.213 de 1991 – que funciona como uma política afirmativa para garantir a inserção qualitativa desses cidadãos aptos ao mercado de trabalho e que há 10 anos ainda não era aplicada com rigor -, graças à fiscalização do Ministério Público. Mas, com certeza, naquela época, a oportunidade de acesso à educação foi fundamental, para qualificar-me para à terrível concorrência do sistema capitalista. E caso não tivesse apoio da minha família, também não teria estudado em colégios inclusivos. Pois na época eram raras as escolas públicas que aceitavam crianças com deficiência, por isso, cursei particulares e muito caras.
Infelizmente, muitas crianças em pleno século 21 ainda não têm acesso à escola, menos ainda, às com alguma deficiência. Pois não conseguem nem mesmo sair de suas casas devido à precária condição dos meios de transporte. Creio que esse seja o principal fator para a nossa exclusão, pois como ter direito à saúde, educação, cultura, esporte entre outros, se não se pode chegar até eles? É por isso que eu ainda não consegui ingressar em um curso de pós-graduação em Comunicação Social, além de outros cursos de especialização na área. Pois não tenho recursos financeiros para arcar com as despesas do curso e gastos com transporte. Por isso, voltar a estudar hoje é um grande sonho. Mas, eu não vou desistir tão fácil desse objetivo, como sempre fiz em minha vida. Vou transformá-lo em realização, e mostrar às pessoas, que apesar das adversidades, podemos vencer os obstáculos e derrubá-los para que os nossos filhos não tenham que passar por eles.
Educação inclusiva: refletir para evoluir!
Após 22 anos, creio que o sistema de educação brasileira evoluiu em relação à inclusão de alunos com alguma deficiência devido a alguns fatores, porém, ainda não o suficiente. Afirmo isso com base, principalmente, na criação das leis que asseguram a todos o acesso às escolas e universidades; em algumas experiências bem sucedidas de colégios inclusivos com a saudável convivência de alunos com e sem deficiência; e das profundas mudanças nas chamadas “classes especiais”, as quais – na minha opinião e de vários especialistas renomados – tendem a desaparecer. Esses fatos carregam uma dose de mudança de paradigma por parte da sociedade, sobre a diversidade humana e todo seu potencial. Porém, ainda estamos começando a caminhar na estrada de uma educação para TODOS! Cabe a cada um fazer a sua parte com coragem e determinação, conscientes da realidade em que vivemos, mas nunca tirando um dos pés do terreno dos sonhos. Transformando-os em objetivos concretos e acessíveis: hoje, amanhã e sempre. Afinal, todos somos e estamos no mundo da forma que nos foi apresentada: humana.
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Agradeço a atenção de todos, aguardo as opiniões sobre essas palavras e desejo conhecer suas histórias no universo da educação. Professores, educadores, alunos, pais ou profissionais interessados mandem notícias sobre suas experiências com a educação inclusiva!

*Artigo escrito em 2003, premiado com a Classificação de Excelência no Concurso de “Periodismo y Comunicación Sociedad para Todos” na Colômbia em 2003. Leandra Migotto Certeza é jornalista e consultora, coordenadora da Caleidoscópio Comunicações, Repórter Voluntária da Rede SACI (www.saci.org.br), ativista voluntária em Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência em ONGs como a Conectas (www.conectas.org) e assessora de imprensa na Associação Brasileira de Síndrome de Williams (www.swbrasil.org.br).