terça-feira, 21 de março de 2017

21 de março - Dia Internacional da Síndrome de Down



Quem nasce com síndrome de Down vem ao mundo cheio de potencialidades.

O acesso à informação faz toda a diferença na vida de uma pessoa com síndrome de Down e de sua família, desde o seu nascimento. Por meio de informações atualizadas e de qualidade, é possível compreender que, assim como qualquer pessoa, quem nasce com síndrome de Down vem ao mundo cheio de potencialidades.

Hoje são muitos os exemplos de pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual que alcançam importantes e diversas conquistas, como estudar, trabalhar, participar de sua comunidade, viver sozinhas e casar. A confiança para quebrar essas barreiras está diretamente ligada ao incentivo daqueles que acreditam na capacidade dessas pessoas.


SÍNDROME DE DOWN NÃO É DOENÇA. 

A síndrome de Down ocorre quando, ao invés da pessoa nascer com duas cópias do cromossomo 21, ela nasce com 3 cópias, ou seja, um cromossomo número 21 a mais em todas as células. Isso é uma ocorrência genética e não uma doença. Por isso, não é correto dizer que a síndrome de Down é uma doença ou que uma pessoa que tem síndrome de Down é doente.

AS PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN NÃO SÃO TODAS IGUAIS.

Apesar de indivíduos com síndrome de Down terem algumas semelhanças entre si, como olhos amendoados, baixo tônus muscular e deficiência intelectual, não são todos iguais. Por isso, devemos evitar mencioná-los como um grupo único e uniforme. Todas as pessoas, inclusive as pessoas com síndrome de Down, têm características únicas, tanto genéticas, herdadas de seus familiares, quanto culturais, sociais e educacionais.

PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN TÊM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL.

Deficiência intelectual não é o mesmo que deficiência mental. Por isso, não é apropriado usar o termo “deficiência mental” para se referir às pessoas com síndrome de Down. Deficiência mental é um comprometimento de ordem psicológica.




DEFICIÊNCIA NÃO É DOENÇA.

Ter uma deficiência não significa ter uma doença. Doença é um problema de saúde. Pessoas com deficiência, como qualquer um, eventualmente adoecem, mas na maior parte do tempo estão saudáveis. 

AS PESSOAS TÊM SÍNDROME DE DOWN, NÃO SÃO PORTADORES DE SÍNDROME DE DOWN.

Uma pessoa pode portar (carregar ou trazer) uma carteira, um guarda chuva ou até um vírus, mas não pode portar uma deficiência. A deficiência é uma característica inerente a pessoa, não é algo que se pode deixar em casa. Diante disso o termo “portador” tanto para síndrome de Down quanto para outras deficiências caiu em desuso. O mais adequado é dizer que a pessoa tem deficiência. 

Referir-se de forma adequada a pessoas ou grupo de pessoas é importante para enfrentar preconceitos, estereótipos e promover igualdade. 

A PESSOA É UM INDIVÍDUO. ELA NÃO É A DEFICIÊNCIA.

A pessoa vem sempre em primeiro lugar. Ter uma deficiência não é o que caracteriza o indivíduo. Por isso, é importante dizer quem é a pessoa para depois citar a deficiência. Por exemplo: o funcionário com síndrome de Down, o aluno com autismo, a professora cega, e assim por diante.

PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN TÊM OPINIÃO.

As pessoas com síndrome de Down estudam, trabalham e convivem com todos. Esses indivíduos têm opinião e podem se expressar sobre assuntos que lhes dizem respeito. Em caso de entrevistas, procure falar com as próprias pessoas com deficiência, não apenas com familiares, acompanhantes ou especialistas.

PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN NÃO DEVEM SER TRATADAS COMO COITADINHAS.

Ter uma deficiência é viver com algumas limitações. Isso não significa que pessoas com deficiência são “coitadinhas”. Pessoas com síndrome de Down se divertem, estudam, passeiam, trabalham, namoram e se tornam adultos como todo mundo. Nascer com uma deficiência não é uma tragédia, nem uma desgraça, é apenas uma das características da pessoa. 

DE PERTO, NINGUÉM É NORMAL.

No mundo não existem “os normais” e “os anormais”. Todos são seres humanos de igual valor, com características diversas. Se precisar, use os termos pessoa sem deficiência e pessoa com deficiência.

Dizer que uma pessoa é especial ou tem necessidades especiais virou um falso eufemismo para “compensar” a deficiência. Mais adequado seria dizer necessidades específicas. Todos podemos fazer a diferença no processo de inclusão.

Algumas pessoas acham que não há mal em usar o termo “retardado” quando estão se referindo a elas próprias ou a pessoas sem deficiência intelectual, mas essa expressão nunca deve ser usada, independentemente do contexto. 

Pais, amigos e pessoas com deficiência intelectual sentem-se desrespeitados com o uso da expressão "retardado" porque é sempre pejorativa e há forte ligação histórica com o tratamento desigual/segregador dado a pessoas com deficiência intelectual.


DIREITO CONSTITUCIONAL À INCLUSÃO E CIDADANIA.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada no Brasil em 2008 como norma constitucional. Ela diz que cabe ao Estado e a sociedade buscar formas de garantir os direitos de todas as pessoas com deficiência em igualdade de condições com os demais. A Convenção é uma importante ferramenta de acesso à cidadania e precisa ser mais difundida entre as próprias pessoas com deficiência, juristas e a população em geral. 

De acordo com o Artigo 19 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, sobre a participação na vida política e pública, as pessoas com deficiência e seus representantes devem estar representados em igualdade de oportunidades com as demais pessoas em todas as instâncias, de modo a contribuírem para a construção de políticas públicas de maneira transversal. É importante que associações ou grupos que lutam pela inclusão das pessoas com deficiência assegurem lugar nos conselhos, não apenas relativos às pessoas com deficiência, mas também de saúde, educação, assistência e outros que houver, a nível municipal, estadual e nacional, de modo a garantir que os direitos das pessoas com deficiência sejam sempre respeitados.

Garantir os direitos das pessoas com deficiência intelectual sem privá-las de exercer os atos da vida civil sempre que possível ainda é um desafio no Brasil. No entanto, a legislação assegura que importantes atos ligados à cidadania, como votar, assinar um contrato de trabalho e  ter uma conta bancária são direitos garantidos para aqueles que são interditados parcialmente.
No caso da participação política, mesmo as pessoas interditadas totalmente podem exercer o direito ao voto, desde que a deficiência intelectual não impeça a livre manifestação de sua vontade. Caso haja necessidade, um juiz poderá resguardar o direito ao voto. Aqueles que precisarem de ajuda para votar poderão receber o auxílio de uma pessoa de confiança para utilizar a urna, desde que o (a) acompanhante não apresente vínculos com candidatos, partidos, coligações ou com a Justiça Eleitoral. Também é possível fazer um cadastro previamente no ano em que ocorrem as eleições para votar em seções especiais de cada cidade, com adaptações para pessoas com deficiência e funcionários treinados especialmente para orientá-las.


CRÉDITOS:

Texto: Patricia Almeida, Adriana Nicacio e Melina Sales Fotografi a: Paula Moreira Fotografi a, Fábio Caffe e Rosilene Miliotti Projeto gráfi co: Raquel Bento


MAIS INFORMAÇÕES:

Site: www.movimentodown.org.br 

E-mail: movimentodown@movimentodown.org.br 

55. 21. 2239-9379 

RELAÇÃO DE FONTES http://www.movimentodown.org.br/sala-de-imprensa/

terça-feira, 14 de março de 2017

Meu primeiro nascimento!




Descrição da imagem: foto minha junto com a minha mãe. Nós estamos sorrindo, uma ao lado da outra. Temos a pela branca, cabelos e olhos castanhos, e estamos usando blusas mesclas de cinza e azul. Eu tô com uma blusa dela emprestada. 


Minha mãe é especial, justamente por ser única! Ela é jovem de espírito e de aparência. Dia 14 de março, faz 59 anos e parece minha irmã mais velha! Tem o espírito jovem! Com ela aprendi o significado da vida: SOLIDARIEDADE! 

Foi o exemplo dela em ações e não apenas palavras que me inspirei todos os dias da minha vida a ser uma pessoa sempre mais honesta, boa, amável, gentil, e principalmente, generosa com todos ao meu redor. 

Ela também me mostrou como ser uma pessoa mais calma, tranquila, a ouvir primeiro e depois falar, a sempre ponderar os dois lados da vida e das pessoas, a estar sempre pronta para ajudar no que for preciso.   

Este ano em que completei 40 anos, sinto que se não existisse o 14 de março e ela não tivesse vindo ao mundo, eu também não existiria. Não apenas por ser sua filha natural, mas por ser sua sempre filha, amiga e irmã espiritual. Nossos caminhos já estavam traçados e nosso destino trilhado.   

Meu enorme amor por ela é eterno e infinito! 

Além de me dar a vida, ela me proporcionou que eu a desfrutasse sempre com segurança e conforto, em meio a todos os cuidados com as minhas condições físicas, fazendo com que eu conquistasse muitos objetivos: universidade, trabalho, lazer e relacionamento. 

Ela sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. 

Minha mãe é uma mulher muito forte e corajosa, além de extremamente solidária. Eu tenho muito orgulho de ser sua filha. 

Que neste dia e em todos os que estão por vir nos muitos anos que continuaremos vivendo juntas - você continue firme e forte irradiando felicidade! 

Nós somos mulheres corajosas, mãe! NUNCA se esqueça disso!!! Estarei sempre ao seu lado!!!


Descrição da imagem: foto colorida da minha mãe abraçada comigo. Nós estamos sorrindo com o coração e a alma. Eu estou de blusa azul e um colar lindo que ela me deu. E ela está de blusa ferrugem com um lindo colar que eu dei pra ela (a blusa também fui eu que dei kkk).  

quarta-feira, 8 de março de 2017

Nenhum direito a menos! Nada sobre Nós sem Nós!




Por que isto é importante

MANIFESTO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 
CONTRA A RETIRADA DE DIREITOS.

A Reforma Previdenciária, proposta pelo Governo Temer por meio da PEC nº 287/2016, retira direitos fundamentais das pessoas com deficiência, especialmente as mais pobres e que necessitam de maior amparo do Estado serão fortemente afetadas.


Uma das propostas mais perversas altera as regras do Benefício da Prestação Continuada ‐ BPC, que é um benefício assistencial pago às pessoas com deficiência de famílias de baixíssima renda, aquelas com renda per capita de até 1/4 de salário mínimo (R$ 234,25). O BPC no valor de um salário mínimo está garantido pela Constituição Federal de 1988, fruto de uma emenda popular capitaneada por uma mãe de uma pessoa com deficiência intelectual residente no município de Canoas (RS). 



Sabe‐se que a condição de deficiência impõe custos elevados para a família. Além disso, é comum que a mãe não consiga trabalhar, pela necessidade de acompanhar o processo de educação, cuidados diários e reabilitação de um(a) filho(a) com deficiência; na maioria das vezes o BPC é a única fonte de renda familiar. Assim, o recebimento de um salário mínimo é fundamental para uma vida minimamente aceitável, preservando a dignidade da pessoa humana.


A proposta governamental de desvinculação do BPC do salário mínimo levará a uma perda gradual do poder de compra do Benefício e, mais uma vez, jogará sobre as costas dos mais pobres o ônus do ajuste fiscal.


Outro impacto desastroso na vida das pessoas com deficiência decorrerá das alterações das regras da Aposentadoria Especial. Conforme as regras da PEC, a idade mínima passa a ser de 55 anos para homens e mulheres com no mínimo 25 anos de contribuição (no caso da deficiência grave). Pela regra atual (LC142/2013) é assegurada a aposentadoria para o segurado com deficiência grave aos 25 anos de contribuição, se homem e 20, se mulher, não havendo exigência de idade mínima. Com isso, a PEC dificulta violentamente o acesso das pessoas com todos os graus de deficiência à aposentadoria especial. 


As justificativas apresentadas pelo governo foram o aumento da expectativa de sobrevida da população brasileira e a melhoria nas condições do ambiente de trabalho. Essa não é, contudo, a realidade das pessoas com deficiência. 


Segundo a Organização Mundial da Saúde, alguns grupos de pessoas com deficiência apresentam sinais de envelhecimento precoce e de perda funcional em torno dos 35 a 50 anos de idade. Além disso, as taxas de mortalidade entre pessoas com deficiência variam de acordo com suas condições de saúde; alguns segmentos, principalmente os mais pobres, têm expectativa de vida ainda mais baixa. 

Ao mesmo tempo, estas pessoas enfrentam desigualdades, por exemplo, quando tem negado o acesso igualitário a serviços de saúde, emprego, educação, ou participação política devido à sua deficiência. No Brasil isso é comprovado pelas séries histórias de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme dados de 2015, por exemplo, das 183.487 escolas do Brasil, apenas 26% possuíam dependências acessíveis, demonstrando que as barreiras são enfrentadas desde os primeiros anos de vida. 


Por conta de uma realidade excludente, a pessoa com deficiência ingressa mais tarde no mercado de trabalho e, quando consegue, enfrenta diariamente inúmeras barreiras para manter‐se no emprego, seja na sociedade ou no próprio ambiente de trabalho, o que lhe impõe mais desgaste físico e mental.


A situação fica ainda mais grave se levarmos em consideração as condições da mulher com deficiência. Além da jornada dupla (sendo que o trabalho doméstico não é remunerado nem considerado para efeitos de aposentadoria), ainda enfrenta falta de oportunidade por questões de gênero, dificuldades no acesso à educação profissionalizante e à saúde, sendo discriminadas quando chefes de família ou quando possuem uma idade mais avançada. 


A imposição da idade mínima de 55 anos e de no mínimo 25 anos de contribuição para homens e mulheres, diante da diminuição precoce de funcionalidade e de um mercado de trabalho altamente excludente, criará um exército de pessoas com deficiência desamparadas.


Os resultados perversos da Reforma da Previdência e do BPC serão potencializados, sem dúvida, pela precarização do trabalho proposta na Reforma Trabalhista. 

Um dos seus propósitos é permitir a exclusão de direitos pela via negocial, como a abolição de qualquer limite de horas à jornada diária. Assim sendo, poderão ser autorizadas jornadas de até 24 horas. 

Os estudos apontam que a maioria dos acidentes de trabalho ocorre ao final de jornadas extensas, em razão da exaustão física e mental. Certamente essas jornadas excessivas aumentarão significativamente o número de pessoas que adquirirão deficiências no ambiente de trabalho. 


Também pode ser autorizada a redução do descanso intrajornada de 1 (uma) hora para 30 (trinta) minutos. As pesquisas científicas demonstram que jornadas extensas e ausência ou diminuição de intervalos para descanso, para recomposição das energias, podem causar sérios riscos à saúde do trabalhador de uma forma geral. Devemos alertar que os efeitos sobre a saúde dos trabalhadores com deficiência (que já possuem impedimentos de natureza física, sensorial, intelectual ou mental) serão ainda mais desastrosos. 


Paralelamente, a Reforma Trabalhista propõe alterações nas regras do trabalho temporário e por tempo parcial, que provavelmente levarão muitos empregadores a optarem por essas modalidades, ao invés dos empregos por tempo integral. 


Além de remunerações menores, são empregos de baixa qualidade e que não permitem possibilidades de carreira. Teme‐se que, por conta da discriminação vigente no ambiente empresarial e para diminuir a incidência da Lei de Cotas, às pessoas com deficiência sejam destinados preferencialmente esses empregos de tempo parcial.


Outra redução dos direitos das Pessoas com Deficiência sucederá com a aprovação do Projeto de Lei sobre a Terceirização, em tramitação no Senado Federal. A permissão indiscriminada de terceirização resultará no fracionamento das empresas e, consequentemente, na redução do número de empregados de cada uma delas. 


Como se sabe, a Lei de Cotas determina um percentual obrigatório de empregados com deficiência e reabilitados a ser mantido pelas empresas. Esse percentual varia de 2 a 5% e é aplicado sobre o total de empregados de uma empresa. Por exemplo, uma empresa com 100 empregados é obrigada a manter 2% de empregados com deficiência, enquanto a de 1001 ou mais empregados, 5%. Portanto, quanto maior a empresa, mais empregados com deficiência devem ser contratados. Teremos, por consequência, uma drástica redução de oportunidades de emprego para as Pessoas com Deficiência. 


Quando esperávamos a Lei regulamentadora do Auxílio‐Inclusão para Pessoas com Deficiência incluídas no mercado de trabalho e que deixaram de receber BPC, o que certamente diminuiria os gastos com a Assistência Social e injetaria recursos na Previdência, fomos surpreendidos por essa PEC cruel. 


Importante recordar que em 1988 a sociedade brasileira e os movimentos sociais, dentre eles o das pessoas com deficiência, foram protagonistas na construção da Constituição Federal. A Carta garantiu o Estado de Direitos Sociais e Democráticos, assegurando novos conceitos de inclusão social com cidadania e as concepções de políticas públicas em todas as áreas de atuação do Estado e da Sociedade, especialmente nos campos da Seguridade Social e do Trabalho.


Conseguimos conquistar a nossa cidadania com muita participação no Congresso Nacional, demonstrando que fomos sujeitos da nossa própria história nesta grande caminhada que garantiu, entre outros direitos, a Ratificação da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2008) com status de emenda constitucional, a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015), a criação da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (1999).


Agora estamos perplexos por esse movimento do Congresso Nacional que propõe o retrocesso e a retirada dos nossos direitos. Não podemos aceitar passivamente esta violência contra nossa cidadania e dignidade. 


É incompreensível que, na mesma legislatura, o Congresso redator de uma das mais avançadas legislações como o Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), em menos de dois anos possa acolher essa perversidade contra as pessoas com deficiência, especialmente as mais pobres.


Portanto, nos posicionamos contrários à retirada dos direitos trabalhistas e previdenciários. Não ao retrocesso!


NENHUM DIREITO A MENOS!

Não à reforma trabalhista!
Não à reforma da Previdência!


Originalmente: Movimento Gaúcho das Pessoas com Deficiência 

ASSINE O MANIFESTO AGORA:


Mulher e mãe - Alicerce da minha vida




Descrição da imagem: foto minha junto com a minha mãe. Nós estamos sorrindo, uma ao lado da outra. Temos a pela branca, cabelos e olhos castanhos, e estamos usando blusas mesclas de cinza e azul. Eu tô com uma blusa dela emprestada. 


Ela é jovem de espírito e de aparência. Meu enorme amor por ela é eterno e infinito! 


Além de me dar a vida, ela me proporcionou que eu a desfrutasse sempre com segurança e conforto, em meio a todos os cuidados com as minhas condições físicas, fazendo com que eu conquistasse muitos objetivos: universidade, trabalho, lazer e relacionamento. 

Ela sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. 

Minha mãe é uma mulher muito forte e corajosa, além de extremamente solidária. Eu tenho muito orgulho de ser sua filha. 

Que neste dia da mulher - e em todos os que estão por vir nos muitos anos que continuaremos vivendo juntas - você continue firme e forte irradiando felicidade! 

Nós somos mulheres corajosas, mãe! 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Curso sobre Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência



CURSO - Introdução às políticas públicas para 
pessoas com deficiência:

Por que fazer este curso?
Este curso foi pensado para oferecer um panorama geral das políticas públicas para profissionais de diferentes organizações, públicas ou privadas, que atuam com o público em geral, incluindo pessoas com deficiência, com o objetivo de promover desenvolvimento pessoal e inclusão social.

O que eu acrescentarei ao currículo?
Ao fazer este curso você dominará um conjunto de diretrizes que irão garantir o planejamento e a intervenção prática a partir dos princípios mais modernos de atuação neste campo, incluindo uma visão intersetorial e dos direitos alcançados por esta população.

Este curso foi feito para você!
Se você for estudante ou profissional que pretende atuar ou já atua com inclusão social voltada às pessoas com deficiência, você faz parte de nosso grupo!

Questões que serão abordadas:
  • Construção histórica da concepção de deficiência.
  • Paradigmas de atenção às pessoas com deficiência.
  • Visão técnico cientifica da deficiência e principais quadros: Da ortopedia à neurociência.
  • Conceito legal de deficiência.
  • Deficiência X Diversidade Funcional.
  • Movimento social das pessoas com deficiência e das suas famílias: história de lutas e conquistas.
  • Conceitos sobre justiça social.
  • O que é política pública.
  • Diretrizes das políticas públicas sociais.
  • SUS e SUAS: histórico, princípios, diretrizes, organização, financiamento, sistemas de informação e Planejamento, intervenção e avaliação.

  • Educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
  • Tecnologia assistiva: suporte para uma vida participativa.
  • Trabalho e emprego para pessoas com deficiência.
  • O direito à vida plena: cultura, esporte, lazer, sexualidade e ócio.
  • Os direitos da pessoa com deficiência hoje: Da emenda 12 à Lei Brasileira de Inclusão.
  • Desafios para a próxima década.

Quem irá abordá-las?

Ana Rita de Paula – Mestre e doutora em psicologia, docente, gestora pública, consultora e autora de livros sobre pessoas com deficiência.
Elyria Yoshida - Psicóloga com experiência no desenvolvimento de políticas públicas de inclusão, com grande participação na cena da pessoa com deficiência.
Leticia Cohen – Psicóloga especialista em saúde coletiva, com experiência na área da deficiência e saúde mental e articulação de redes intersetoriais.
Louise Tonel – Psicóloga especialista em gestão de projetos, experiência no Terceiro Setor e no desenvolvimento de projetos na área da inclusão social.
Tais Suemi Nambu – Fonoaudióloga, especialista em audiologia educacional, vasta experiência em gestão de projetos voltados à área da pessoa com deficiência.


DURAÇÃO: 32 Horas
DATAS: 01 e 02 de abril/2017
20 e 21 de maio/2017
VAGAS LIMITADAS!
INVESTIMENTO MENSAL: Estudantes - R$ 400,00 / Profissionais - R$ 450,00
LOCAL: Hotel Confort Nova Paulista, Rua Vergueiro - nº2740 - Prox. Metrô Ana Rosa



Organização: Araújo e Cerveira Treinamentos
CNPJ: 14.863.301/0001-53
Dados bancários:BANCO: Itaú AG: 0435 CONTA: 05553-8
Inscrições – IVANETE ARAÚJO (11) 96705-3186
ADRIANA CERVEIRA (11) 99487-2529
(Enviar comprovante de inscrição) cursos@araujoecerveira.com.br

Dia Internacional das Mulheres




sábado, 4 de março de 2017

Presidente de Associação de Mulheres cobra ações de acessibilidade


Fonte: http://www.oestadoonline.com.br/2016/12/associacao-de-mulheres-com-deficiencia-cobra-acoes-de-acessibilidade/.

Vitória Ribeiro

‘Queremos um futuro de inclusão’, diz Mirella Ballatore Tosta (Foto: Valentim Manieri)







Mirella Ballatore Tosta recebeu a equipe do jornal O Estado em sua casa, apontando adaptações necessá- rias para que ela e o marido, ambos deficientes físicos, tivessem, ao menos ali, o mínimo da comodidade que não é encontrado na maior parte de Campo Grande. portadora da síndrome dos ossos de cristal –um dos nomes mais comuns da osteogênese imperfeita, doença congênita que torna o esqueleto frágil–, ela afirma que muitas vezes se irritou com tentativas de ajuda que, na verdade, poderiam prejudicar sua saúde por meio de fraturas. Contudo, lembra-se de que a educação da mãe lhe forjou uma pessoa autônoma, que preza essa atribuição para ela e tantos outros portadores de diferentes deficiências físicas em Campo Grande. E é exatamente na falha da Capital para comportar essas pessoas que repousa sua indignação. “A acessibilidade em Campo Grande é zero”, sentencia, listando os poucos lugares que ela e várias outras pessoas podem frequentar na cidade e a infinidade de outros locais vetados por não permitirem uma livre circulação. A fiscalização será um dos trabalhos da Associação de Mulheres com Deficiência do município, existente desde 25 de março de 2015 para solucionar vários dilemas –que incluem a “tradução” da Lei Maria da Penha para libras, braille e audiovisual, necessário diante de escabrosos relatos que chegam à instituição.
O Estado – Fale um pouco de sua condição?
Mirella Ballatore Tosta – Tenho a síndrome dos ossos de cristal, uma má formação por falta de colágeno, na qual se fratura muito. Em qualquer buraco na rua a roda da cadeira de rodas pode prender e eu cair. Alguém que queira ajudar diz que não vai derrubar, mas sou eu quem posso cair e me machucar gravemente. Às vezes sou mal-educada porque a pessoa quer ajudar e, no final, atrapalha e se chateia. Não é isso, eu não posso cair de jeito algum, por isso não quero que me ajudem.
O Estado – Onde está o limite entre querer ajudar e realmente ser necessário isso?
Mirella – Em perguntar. Sempre pergunta. Se você vê um cego parado com a bengala, supõe que ele queira ajuda. Pode ser alguém de baixa visão, que anda mais devagar e precisa da bengala, mas vê um pouco, ou um cego total. Ele está parado no semáforo porque não tem sinal sonoro, e alguém o vê. A pessoa pega nele sem avisar. Imagine o susto. Ele é quem tem de pegar no seu braço para sentir seu corpo, a movimentação, os gestos. Não é pegar e levar. O melhor é perguntar: “precisa de ajuda?”. Muitas vezes isso ocorreu comigo, e é um dos motivos de eu não andar no centro de Campo Grande. Primeiro porque é impossível; quando não tem rampa é impossível, e quando elas existem são malfeitas ou malconservadas. Veja na rua 14 de Julho, a maioria está quebrada, e se junta uma poça de água ou lama você não sente a profundidade. Como vai andar? E há o motorista que não respeita, para o caro. A falta de cidadania e educação no trânsito são o que você representa na sociedade. Se não tem educação no trânsito, não terá em lugar algum.
O Estado – Qual sua avaliação sobre a acessibilidade em Campo Grande?
Mirella – Zero. Eu não ando pelo meu bairro nem para ir à igreja, pelas calçadas, porque é impossível. Vou para a rua, é uma avenida movimentada, mas é o único jeito, porque é a uma quadra e meia daqui, e não vale a pena pegar o carro, pôr a cadeira e não ter onde estacionar. No centro da cidade é impossível, sozinho não tem como. O Estado – Desde quando existe a associação? Mirella – Ela foi criada em um encontro de mulheres em 25 de março do ano passado como uma comissão, que depois foi crescendo e virou a associação. Entramos com o registro em 7 de novembro. Surgiu com um grupo de mulheres, naquele encontro inédito, organizado pela Secretaria Municipal da Mulher e a SAS (Secretaria de Assistência Social). Da comissão as coisas cresceram e surgiu a associação.
O Estado – Qual o papel da entidade no poder público?
Mirella – Visibilidade, protagonismo e empoderamento. O principal objetivo é empoderar mulheres, meninas e suas famílias. Existe muita violência contra mulheres e meninas com deficiência. Fazemos também muitas rodas de conversa sobre a Lei Maria da Penha. Como começamos agora não temos recursos para ir aonde queremos, mas queremos ir em todas as obras, inclusive as pagas com o nosso dinheiro e que são feitas em acessibilidade, embora as pessoas achem que tem.
O Estado – Você deixa de ir em muitos lugares por conta da falta de acessibilidade?
Mirella – Os shoppings são os únicos lugares em que vou porque têm acessibilidade. Sou independente, as pessoas dizem que podem ajudar, mas quero autonomia. Desejamos autonomia para sair, ir a algum lugar sem levar ninguém. Eu e meu marido, que é cadeirante, somos independentes. Para descer uma rampa temos problemas, mas todos os shoppings são acessíveis, nos banheiros é mais ou menos, nas praças de alimentação não há acessibilidade, têm lugares onde não somos vistos. Os mercados são difíceis, porque deixam mercadorias em lugares altos e temos de pedir ajuda.
O Estado – As pessoas se aproveitam da deficiência das mulheres para violentá-las, por ser mais difícil se defenderem?
Mirella – Dependendo da deficiência é impossível, fazem o que quiserem. Há um tempo, alguém filmou um homem abusando de uma deficiente mental, vizinha dele. Parecia uma boneca inflável, sem reação. E vai falar para quem, quando ninguém acredita? As crianças falam e ninguém acredita, imagine uma pessoa assim? E a muda, como vai falar? Ninguém vai acreditar. Por isso do empoderamento, para a mulher se apoderar dos seus direitos e denunciar isso. Queremos um futuro melhor para essas meninas, que serão mulheres daqui a uns dias.
O Estado – O foco maior dos atendimentos é nas meninas?
Mirella – É para todas, porque queremos viver. Queremos um futuro de inclusão. Pai e mãe não serão eternos, elas terão de se virar. Fui educada pela minha mãe para ser independente, mesmo em uma cadeira de rodas. A falta de acessibilidade irrita. Claro, é ruim ser deficiente, mas se tivesse acesso à cidade, Estado ou país, eu não me sentiria excluída, não teria dificuldades. Há falta de acessibilidade na TV, onde não tem intérprete de libras nos programas, só agora colocaram legendas. Demorou muito, e às vezes é errado, não entende o que puseram ali, falam coisas que nada tem a ver. Sequer tem sinal sonoro para cegos, nem em elevador, são poucos.
O Estado – Recentemente houve um seminário sobre enfrentamento à violência doméstica contra cadeirantes. Qual foi o resultado?
Mirella – Foi em 1º de dezembro e foi ótimo. Pena que o público foi muito pequeno, não teve interesse nem das próprias pessoas. Foram umas 13 participantes, fiquei feliz que veio uma gestora de Camapuã só para o seminário. Foi bem divulgado, porque é o Mês Internacional da Pessoa com Deficiência, no dia 3 teve até um desfile de moda inclusive.
O Estado – Há muitos casos de violência doméstica contra portadores de deficiência?
Mirella – Na verdade não há um censo, um número não atualizado. Não existe, e em sistema algum de Campo Grande. Se você vai ao posto de saúde não há cadastro. A associação participa do Conselho [de Usuários] do SUS para ver se muda alguma coisa, porque não existe. No SUS deveriam dissecar você: apontar a deficiência, o que aconteceu. Estaria no cadastro e seria possível ver quantos deficientes existem. Não existe acessibilidade nos postos de saúde. Voltando à pergunta, existem violências de pessoas da própria família, a maioria, principalmente contra a mulher com deficiência intelectual, que muitas vezes não quer dizer problema mental, e sim um deficit. Alguém se casa com ela apenas para usufruir do benefício, ou a dopa, a deixa sem cadeira de rodas em casa, não a apresenta à família e amigos, faz dela só um objeto de prazer, é escabroso. Não conheço casos, mas sabemos que existem. As mulheres surdas sofrem muito, também. Falamos muito: “denuncie o agressor”. Como a mulher surda vai denunciar se não ouve, muitas vezes não fala. Como vai ligar no 190, no 180, no Disque 100, se não há um serviço acessível por WhatsApp ou SMS? Lutamos por isso, também. E é tão simples, falta vontade política, na verdade.
O Estado – Falta acesso à Lei Maria da Penha?
Mirella – Nossa maior conquista foi a Lei Maria da Penha em áudio, libras, braille e audiodescrição. Temos em DVD e CD. É algo que se demorou para perceber: quando fizemos o encontro de mulheres de 25 de março de 2015 a procuradora Jaceguara Passos falou de nossos direitos e perguntou onde estávamos, porque encheu de mulheres com todo o tipo de deficiência lá. E a maioria das famílias esconde também, não expõe por vergonha ou desconhecimento. Havia surdos que não sabiam da Lei Maria da Penha, inclusive mulher casada e com filho.
O Estado – Como a associação atende às mulheres surdas?
Mirella – Tudo lá é voluntário. A associação tem um grupo de WhatsApp com 30 mulheres, entre parcerias e voluntárias, sem deficiências e de vários segmentos da sociedade: advogadas, psicólogas, jornalistas, a gestora Luciana Azambuja, pessoas de vários partidos, mesmo com a entidade sendo apartidária. O grupo se ajuda, e graças a isso conseguimos. Hoje em dia não se admite mais fazer evento sem intérprete de libras. É lei. Mas a mulher vai ao médico, sendo surda, chega ao posto e não tem intérprete. Como vai falar do problema quando chega a atendente? Precisa levar alguém, mas se for algum problema íntimo? A lei brasileira prevê intérprete de libras ao menos nos órgãos públicos, uma coisa que não tem. No Ceam (Centro de Atendimento à Mulher), na Casa da Mulher Brasileira, têm. Temos uma voluntária, Flávia Pierete, que faz doutorado em Violência contra a Mulher com Deficiência e é intérprete de libras. No tempo que ela trabalhou na Casa da Mulher atendeu a dez surdas.
O Estado – Como foi o trabalho de vocês?
Mirella – A Defensoria Pública criou no Núcleo de Atendimento à Mulher uma cartilha simples sobre a Lei Maria da Penha, com os pontos mais importantes. Fizemos a roda de conversa com a subsecretária, cegas, surdas, várias mães de meninas com deficiência, para adaptar melhor a cartilha.
O Estado – E como foi a recepção das mulheres surdas?
Mirella – Não digo que as mulheres sofriam, mas não sabiam da lei. Saiu em DVD em CD, é inédito no Estado, não sei se no país existe em outro lugar. Foi uma conquista nossa. Foi uma parceria com a Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas da Mulher, a Secretaria de Educação e o Centro de Atendimento ao Surdo. Fizeram o vídeo, pegaram a pessoa. Imagine pegar um livro e interpretar todo ele em libras, DVD, braille e audiodescrição.

Desafios do ensino superior para as mulheres com deficiência


Fonte: http://azmina.com.br/2016/09/os-desafios-do-ensino-superior-para-as-mulheres-com-deficiencia/

Espaços não adaptados, professores despreparados e preconceito dificultam que elas concluam o ensino superior.
publicado 13/09/2016 por 
#PraCegoVer: Ao lado esquerdo, vemos os contornos do rosto de uma moça. Ela está diante do computador, utilizando um programa. Foto: Lorena de Paula
#PraCegoVer: Ao lado esquerdo, vemos os contornos do rosto de Thaiane. Ela está diante do computador, utilizando um programa sintetizador de voz voltado para pessoas com deficiência visual . Foto: Lorena de Paula
No computador, ao som do Dosvox (um software sintetizador de voz voltado ao público com deficiência visual), Thaiane Martins digita. Marca entrevistas, prepara pautas, se prepara. A moça de voz terna, que não abriu mão do curso superior, traz consigo a certeza de que a disputa é grande e as barreiras são muitas: não vai ser fácil entrar no mercado. “Deixei currículo em muitas empresas. Nenhuma me chamou, nem mesmo pra testes. Por isso, sempre me pergunto: ‘será que não me contratam pela competitividade do curso, ou pelo fato de eu ser deficiente?’. Eu sigo com essa dúvida”.
Esguia, de cabelos escuros e pulsos delicados, é estudante do quinto semestre do curso Jornalismo na Universidade Federal do Pará (UFPA). Deficiente visual de nascença, a moça foi diagnosticada com retinopatia da prematuridade nos primeiros meses de vida. A patologia, descrita como o crescimento desorganizado dos vasos sanguíneos que suprem a retina, atinge principalmente bebês prematuros que nascem abaixo do peso. Manifesta-se em diferentes níveis de gravidade; no mais extremo, pode gerar deslocamento da retina e ocasionar cegueira. Foi seu caso.
Ocultas pela voz meiga, as atribulações e asperezas da trajetória de Thaiane até o nível superior não são diferentes das ocorridas com tantas Pessoas com Deficiência (PCDs) no Brasil. Desde a infância, o espectro do preconceito se fez presente na vida da jovem. No Ensino Fundamental, os colegas de classe se recusavam a fazer atividades escolares com ela. No Médio, os alunos a excluíam das equipes de trabalho. Essa discriminação, aliada a fatores como técnicas educacionais não-inclusivas, arquiteturas escolares inacessíveis e despreparo e desinteresse docente, resultam no alarmante dado divulgado no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Dos 41,6 milhões de deficientes acima de 15 anos – o equivalente a cerca de 22% da população nacional –, 61% não tinham instrução, ou possuíam somente o ensino fundamental incompleto.
Diante desses números, não posso deixar de me lembrar do livro Ação Cultural para a Liberdade, de Paulo Freire, no qual o autor escreve que “o analfabetismo nem é uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha’ a ser erradicada (…), mas uma das expressões concretas de uma realidade social injusta”.
Creio que por isso foi árdua a busca por mulheres com deficiência que tivessem concluído ou cursassem o nível superior. Nas idas e vindas, encontramos algumas histórias dentre esse público reduzido e tão à margem da escolaridade. Talvez por timidez ou por ainda não terem concluído a graduação, algumas personagens confirmavam entrevistas e depois recuavam.
Como afirma a estudante de pós-graduação Hellen Raiol, “nós, pessoas com deficiência, mulheres com deficiência, precisamos provar constantemente, diariamente, que somos capazes”.
Ela começou a ter perdas visuais aos 16 anos. No furor de sua juventude, precisou aprender um novo jeito de olhar o mundo. Por ter nascido com retinose pigmentar, que se caracteriza por ser um conjunto de doenças oculares hereditárias que causam degeneração na retina e levam a perda visual gradativa, a mulher de cabelos negros como ébano hoje é considerada baixa visão – isto é, o declínio visual severo que não pode ser corrigido por tratamento, cirurgias ou óculos convencionais.
#PraCegoVer: No centro da imagem está Ellen. Ela olha pra câmera com um braço sobre a mesa da carteira escolar. Ao lado dela, notamos uma grande mochila preta. Foto: Lorena de Paula
#PraCegoVer: No centro da imagem está Ellen. Ela olha pra câmera com um braço sobre a mesa da carteira escolar. Ao lado dela, notamos uma grande mochila preta. Foto: Lorena de Paula
“Mas eu precisava seguir. Porque ser deficiente significa que vamos ter dificuldades e limitações, como qualquer outra pessoa! E que não é por isso que devemos recuar e não ir atrás de nossos sonhos”, confidencia.
E ela não só sonhou: realizou. Como sempre gostou de lidar com público e se identificava com a luta pela garantia de direitos e igualdade de oportunidade, Hellen ingressou em 2010 no curso de Serviço Social. No início da graduação, contudo, já precisou enfrentar o olhar de desconfiança de alguns colegas de turma.
“Percebi que existia certo distanciamento, uma resistência em se relacionar comigo. E que alguns deles achavam que eu, por ter deficiência visual, não raciocinava, não tinha opinião própria. Por essa ideia distorcida, muitas vezes, em trabalhos em grupo, meus colegas queriam me isentar da responsabilidade de realizar a tarefa. As dificuldades enfrentadas, contudo, não se restringiram ao preconceito inicial de alguns alunos da sala. Entre os desafios com que se deparou, destacam-se as barreiras atitudinais que dificultavam sua compreensão dos conteúdos estudados. “Por exemplo: em algumas aulas, os professores acrescentavam imagens aos slides, imagens importantes para entender o assunto e que eu não podia ter acesso por não conseguir enxergá-las”, ela cita, uma nota de aborrecimento tingindo sua voz. “Há muito ainda a ser trabalhado nas universidades, os docentes não receberam o devido preparo para o ensino de pessoas com deficiência. Em toda minha graduação, apenas um professor teve esse olhar inclusivo”.
Os demais professores, ou não a incluíam ou dificultavam sua participação. “Mas o mais grave foi quando um deles disse que achava que eu deveria ficar em uma “classe especial e não com os demais alunos”.

Despreparo e falta de informação

Na contramão, o francês Jean-François Deluchey, residente no Brasil há 12 anos, foi o professor que ofereceu formas de inclusão para Hellen em suas aulas. Ele atribui o despreparo docente à falta de informação a respeito da causa das pessoas com deficiência. Admite ainda que se não fosse por Hellen, não saberia que existem recursos pedagógicos disponíveis a esse público. “Eu entendo que meus colegas se sintam desnorteados e muitas vezes até desconfortáveis com a própria falta de conhecimento. Mas acho que é preciso levar em conta a diversidade social e a inclusão dos deficientes no sistema de ensino. É função nossa, quanto docentes, nos informarmos e nos adequarmos aos serviços técnicos”.
E o professor acredita que uma das formas de alcançar acessibilidade na educação seria o corpo diretivo disponibilizar tablets gratuitamente aos alunos com deficiência visual, a partir do primeiro semestre de curso. Além disso, os docentes ficariam responsáveis pela digitalização sistemática dos conteúdos trabalhados em sala.

“Eles foram aprendendo comigo”

#PraCegoVer: Na foto,  Thaiane encontra-se em um estúdio de rádio e tem a frente de si um microfone vermelho, posicionado rente aos próprios lábios.  (Foto/reprodução: Lorena de Paula)
#PraCegoVer: Na foto, Thaiane encontra-se em um estúdio de rádio e tem a frente de si um microfone vermelho. Foto: Lorena de Paula
A jornada de Thaiane na graduação é um pouco diferente da de Hellen. Com a aprovação no vestibular, encerrou o capítulo da discriminação nas salas de aula. “Na universidade, não enfrentei nenhum preconceito”, assegura. “Meus colegas de turma da UFPA só ficaram curiosos, querendo saber como era o mundo pra mim. Mas atribuo isso à sorte, porque já ouvi muitos relatos de outros deficientes que sofreram preconceito no ensino superior”.
Quando pergunto se a universidade estava acessível a ela, a resposta imediata é não. “Eu fui a primeira aluna cega do curso de Comunicação da UFPA, e a faculdade não estava nem um pouco preparada. Eles foram aprendendo comigo, se esforçando pra suprir todas as necessidades”.
E é para atender às demandas, garantir a permanência e acesso pleno das PCDs aos institutos federais de ensino superior, que desde 2005 o Ministério da Educação (MEC) implementa o Programa Incluir, cujo objetivo é assegurar a integração dos deficientes ao âmbito acadêmico através da eliminação de barreiras comportamentais, pedagógicas, arquitetônicas e comunicacionais. Entre as ações do programa está o incentivo a criação de núcleos de acessibilidade.
“Na UFPA, o Núcleo de Inclusão Social, também chamado de NIS, se pauta nessas diretrizes”, explica a coordenadora do projeto, Rosilene Prado. Criado em 2012 pela Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (PROEG), com o intuito de executar a Política Institucional de Inclusão, o NIS atende, atualmente, 55 universitários com deficiências diversas.
Entre as atividades desenvolvidas, estão o apoio ao aluno deficiente visual com a transcrição de materiais para o sistema Braille e grafia ampliada, disponibilização de intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para estudantes com deficiência auditiva, entre outros.
“Também conversamos com os alunos com necessidades especiais, para saber do que eles verdadeiramente precisam e prestamos orientações aos professores, para que ministrem as aulas de forma a incluir toda a classe”, afirmou a coordenadora de cabelos curtos e negros.
Thaiane foi uma das estudantes atendidas pelo Núcleo. Ela me conta que ao ingressar na faculdade, duas especialistas da área de Educação Especial a procuraram para saber com quais técnicas de ensino inclusivo estava familiarizada. “Braille, tecnologias assistivas como Dosvox e outros programas sintetizadores de voz”, e de posse dessa informação, conversar sobre adaptações de aulas com o corpo docente do curso de jornalismo.
“Perguntaram também se eu gostaria que realizassem dinâmicas com a minha turma, se eu me sentiria à vontade com isso Como eu disse que tudo bem, elas vendaram alguns colegas meus, para mostrar a eles como era a minha realidade. Também ensinaram como conduzir um deficiente visual”, conta. Além disso, os professores passaram a digitalizar e enviar antecipadamente os materiais abordados em sala.
De acordo com a deficiente visual, a estrutura arquitetônica da UFPA é outra questão para PCDs, uma situação que compromete a mobilidade livre e autônoma desses estudantes.  Mas independente dos tropeços na jornada, ela segue trilhando os caminhos da graduação. Já nos primeiros semestres, ingressou voluntariamente na equipe da Rádio Web da UFPA. Pouco tempo depois, tornou-se bolsista do veículo. Na mídia, ela desempenha a função de repórter-produtora Nos próximos anos, a futura jornalista espera que a recém-descoberta afinidade com rádio e TV se consolide: são os veículos em que deseja exercer a profissão.

SOBRE @ AUTOR@:

Pérola de Souza
Pérola de Souza, belenense cabana e deficiente visual. Seu lema é não Pérola de Souza, belenense cabana e deficiente visual. Seu lema é não temer desafios e caras feias, até porque não consegue se ver no espelho. Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Estácio-PA, e pós-graduando em Marketing eleitoral e jornalismo político, mantêm-se convicta no ofício da profissão, muito embora as portas permaneçam cerradas como/pelas mentes obscurecidas pelo preconceito. Já publicou reportagens como profissional independente e foi premiada no FUSCA – Festival Universitário de Criação e Audiovisual pela telereportagem Faculdade sem fronteiras. Criou e dirigiu “SIM, sou capaz”, vídeo institucional da Associação Paraense das Pessoas com Deficiência (APPD), com o objetivo de dar visibilidade a ONG que defende a bandeira dos deficientes no Pará. Acredita piamente no ideal do sociólogo Boa Ventura de Souza Santos, que diz: “Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”.