segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Lembrança de uma sinfonia...

Queridas e queridos, 

No ano de 2001 eu trabalhava em uma ótima editora, local em que mais consegui realizar meus sonhos profissionais e pessoais. 

Este texto foi um dos primeiros da minha coluna no site que amei escrever por mais de 2 anos. 

Foram momentos maravilhosos e ao mesmo tempo bem difíceis. 

Compartilho com vocês agora, o que a minha alma gritava (naquela época), para lembrar a mim mesma, hoje em 2016 - tempos MUITO mais difíceis - que é preciso continuar com a chama acessa em nossos corações!  



Sinfonia

Por Leandra Migotto Certeza


Acordar, sonhar. Levantar, lutar. Acalentar, gritar. Ir em frente. Caminhar, rodar. Ouvir, silenciar. Enxergar, presenciar. Discutir, sentir. Estar presente. Convencer, conquistar.


2001 foi um ano de conquistas. A teia da vida se carregou de tecer cores e formas. A diversidade é uma constante perene. A cada amanhecer brilha mais forte. As verdadeiras mudanças são internas. Regadas ao sol ou em meio a tempestades. O tempo é uma linha tênue entre os instantes.


Transformar é agir com intensidade. Saber esperar é o segredo. Respeitar é ser humilde. O ar transborda um orvalho doce e suave, mas é preciso acordar cedo. Sentir as gotas caírem sobre os ombros. Não ter medo da misturar-se em meio a folhagem seca. Perdoar.


Caminhos caminham. Seguem o curso do rio. Na selva o rei governa, e os súditos constroem. O aroma das flores é único, como o brilho de um olhar. O vento se encarregará de conduzi-las. Um dia, abrigaram-se nos galhos. Que nunca se deixaram sucumbir em meio a relva. As formigas podem corroer sua casca, quebrar seus espinhos. Mas nunca seifarão sua seiva.


Enquanto existirem campos sua grandeza será exaltada. De dentro para fora. Sem a pretensão de ser grandiosa, mas apenas únicas. Enquanto existirem seres humanos, a diversidade será uma dádiva que se suga por entre os poros do corpo. E não se aprende nas escolas, nos palanques, nos livros, nos mártires, nos poderosos, nas esquinas, nas ideologias. Apenas se sente!


Eu senti! Muito mais. Fiz parte desta sinfonia.


Andei por entre auditórios cheios de políticos podres. Ouvi egoísmos vários. Chorei em meio as “armas” de madeira quebradas. Parei em um olhar de dor, reluzente no brilho de uma negritude intocável. Gritei aos quatro cantos. Trabalhei com dignidade. Conquistei valores materiais, mas plantei pensamentos verdes. Que amadurecerão com o passar dos milésimos de segundo. Despertarão olhares. Tecerão palavras. Acalentarão almas sedentas.


Participei de seminários, palestras, eventos, circos e círculos vários. Papéis, documentos, promessas, projetos. Ideias. Assinaturas. Filas. Congestionamentos. De pessoas, de caminhos, de cadernos, de desenhos, de palavras. Palavras! Será uma bandeira que se carrega nos ombros, pesada como a consciência, ou uma roupa que se veste conforme o molde do corpo?  Fogo de palha ou chama acessa? Alarde social todos fazem. Íntegro é aquele que o vivencia com parcimônia. Sem perder a tenacidade e a voracidade diante do desconhecido. Explorar as potencialidades é construir a inclusão.


Senti o coração bater, fora do peito. Mas do que uma caixa torácica. Um arrepio sob a pele. Uma lágrima escorrendo no toque de um acorde. Uma cadeira de rodas bailando no palco. Um sorriso incansável. Longe do medo e da descrença. Da corrupção que ainda impera. Talvez nem mesmo os que acordam e dormem ao lado do oposto a sua imagem, conhecerão a sua face.


Fora ao pieguismo e a demagogia. Sim ao novo, ao desconhecido. Sem ultrapassar os limites e acomodamentos intrínsecos. Respeitando o tempo interno. Não deixando de olhar para trás. Lembrar de quando fomos crianças. Em que um pião ou uma colher de pau eram brinquedos. Suas cores, formas, odores, gostos e peculiaridades é que faziam a diferença.


Eu baixei a fronte diante do imaturo e suguei o seu brilho. Ouvi com paciência, apesar de insegurança. Estive presente nas discussões e calei, diante do futuro. Vivi o presente. Resgatei o passado. Escrevi, fotografei, gravei desenhei, planejei, inventei, caminhei… Muito mais do que dinheiro, casa, comida, roupas, estudo, condução, materiais, objetos. Conheci pessoas, seres, naturezas. Cada instante tem seu espaço temporal e emocional. Eu ainda procuro o meu a cada experiência. Encontro partes refletidas, outras espalhadas. A busca constante é que mantêm a chama acessa.


Minha alma caleidoscópica não me deixa mentir. Sou feliz. A chama da justiça arde em meu sangue. Lutarei eternamente por tudo o que acredito. Encontrarei caminhos, pessoas, situação. Só descansarei em paz quando sentir que a verdadeira sinfonia da vida atingiu a perfeição dos acordes.


Agradeço a todos que, durante o ano de 2001, prestigiaram meu tesouro: as palavras. Sejam transparentes. Saibam ouvir ou silenciar. Vivam intensamente cada momento. A felicidade existe, e as vezes está mais próximas do que imaginamos.       

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