CARTA ABERTA DE REPÚDIO AO VETO Nº 55/2019 DO
GOVERNO FEDERAL
O que você faria com R$261,25 mensais? Um almoço, uma vista ao cabelereiro ou compraria uma peça nova para o guarda-roupa?
Pois saiba que esta é a renda mensal familiar máxima exigida para que um brasileiro com deficiência ou idoso possa receber o (Benefício de Prestação Continuada).
Por requererem cuidados intensos, precisam que um parente se dedique a eles, aumentando o drama que afeta famílias inteiras, diminuindo a renda familiar.
Hoje dia 3 de março entrará na pauta de votação no Congresso
Nacional a proposta de veto 55/2019, de autoria do Executivo.
O ColetivAção,
que representa mais de 100 instituições e quase 1.500 brasileiras e
brasileiros dos diferentes estados da federação, manifesta-se contrário ao
veto, pedindo aos congressistas o apoio para derrubar mais esta tentativa de
reduzir os direitos das Pessoas com Deficiência, público que, segundo dados
do IBGE 2010, representa 45.606.048 de brasileiros, ou seja, 23.9% da nossa
população.
Ressaltamos que desde 1996 tramita no Congresso Nacional o PL nº 3.055/97,
originado no Senado Federal (PL nº 55/1996). O Projeto de Lei trata do BPC
- Benefício de Prestação Continuada - garantia de subsistência mínima de
pessoas com deficiência e em situação de pobreza. Ou seja, em dupla
vulnerabilidade social.
Este PL altera o parágrafo 3º do Art. 20 da Lei nº 8.742/93, presumindo, para a
concessão do BPC, a partir da caracterização da incapacidade de prover os
cuidados e a manutenção básica destes cidadãos brasileiros, a necessidade do
benefício para aquelas famílias cuja renda per capita não seja superior a ¼ do
salário mínimo.
O referido Projeto de Lei atende a uma reivindicação histórica de diversos
segmentos da sociedade civil organizada. A proposta altera, para efeito de
cálculo, o critério de concessão de ¼ do salário mínimo para ½ salário
mínimo.
Vale ressaltar que ¼ do salário mínimo, desde fevereiro deste ano,
corresponde a R$ 261,25, valor ínfimo e insuficiente para garantir a vida com
um mínimo de dignidade.
A renda per capita familiar reivindicada representa um ajuste coerente,
necessário e justo ao atendimento às exigências básicas de sobrevivência das
pessoas com deficiência e situação de pobreza.
Ressaltamos que no caso das
famílias que têm dependentes com deficiência, limitações físicas/ sensoriais/
mentais/ intelectuais ou múltiplas, tais condições costumam ser agravadas pela
situação econômica vivenciada.
Estes beneficiários com deficiência costumam requerer o apoio familiar, não
sendo incomum que um parente tenha de sacrificar a vida profissional em favor
dos cuidados básicos de seus familiares, em dedicação exclusiva. Em sua
maioria são mães, mas também pais ou irmãos que assumem a função de
cuidadores, sem remuneração e com recursos limitados.
A elevação do limite da renda familiar para a concessão do BPC é uma
conquista justa, indispensável e, podemos dizer, vital. Longe de ser o ideal
para garantir a qualidade de vida do beneficiário, foi o índice determinado após
amplo debate, ao longo de mais de duas décadas de tramitação.
Consideramos inaceitável que mais uma vez, e sem nenhuma consulta à
sociedade civil, o governo federal tente retirar a possibilidade de melhoria da
qualidade de vida da população com deficiência e mais pobre.
A alegação de
falta de recursos orçamentários não está fundamentada. Além disso, manter a
saúde e a qualidade de vida da população mais carente deve ser
prioridade e não despesa.
Nós, do ColetivAção, questionamos até quando as pessoas mais vulneráveis
pagarão a conta? Até quando elas serão invisíveis no nosso país?
Os burocratas alegam custo aos cofres públicos. A pergunta é quanto vale uma vida humana? Que tempos estamos vivendo quando o lucro é mais importante do que a subsistência humana?
Por todas essas razões, principalmente para manter as conquistas negociadas
democraticamente, com muito trabalho e responsabilidade, clamamos aos
senhores parlamentares - nossos representantes legais e a quem confiamos o
nosso voto - que reflitam sobre a gravidade do veto proposto e suas
consequências.
Pedimos que para além das questões políticas ou partidárias,
os congressistas reflitam sobre os anseios, as necessidades e os direitos da
população.
A sustentabilidade econômica de um país também implica a qualidade de vida
do seu povo. Quanto mais amparada estiver a população carente, mais
condições ela terá de se desenvolver como cidadãs e cidadãos plenos e
produtivos.
Reivindicamos com veemência a rejeição desse veto em favor da população
com deficiência, em situação de pobreza, em prol da justiça social no nosso
Brasil.
O voto de cada parlamentar será lembrado e entendido como sendo
uma manifestação a favor ou contra os brasileiros e brasileiras mais pobres e
desamparados.
O ideal seria não precisarmos de benefícios que condenam a nossa população a viver na miséria, mas custa caro, não é mesmo?
O BPC significa uma cesta básica, o pagamento de uma conta, um remédio ou um certificado de vida!
Até quando o Estado tem de ser lembrado que alguém existe? Veto ao veto. BPC real!
O que pode ser melhorado não pode ser destruído.
Coletivo para Defesa da Lei de Cotas - "Nada sobre nós sem nós. Nenhum direito a menos".
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