A cidade que pouco conheço
Por Leandra Migotto Certeza
É múltipla! Caótica! Frenética!
Inspira e transpira… Sonha e destrói. Une e acelera. Tem verde, e muito mais
cinza. Caminha e engarrafa. Tudo, agora e ao mesmo tempo hoje. Nos bairros,
ainda tem casinhas. Mas os arranha-céus são a maioria nas avenidas. As ruas
podem ser bem sujas, mas nos muros tem grafite colorido (quando o Prefeito
deixa!).
Cinemas e teatro vários, mas pra bem
poucos. As freiras livres são ponto de encontro de aromas, cores e texturas.
Nos parques, brinquedos, árvores, riachos e grandes museus se misturam. E quem
vive nela é camaleão. Todas as estações aparecem em um único dia. E desaparecem
com a mesma intensidade.
Nasci em um hospital bem conhecido e
também vivo há 35 anos em um dos bairros que muita gente sabe onde fica. Mas
conheço pouquíssimo as regiões da cidade. Sou turista em Sampa! Minha viagem
está só começando… Quero sair do reduto Av. Paulista e bairro de Pinheiros /
Butantã. Porém, quando passeio nos finais de semana, ainda procuro ir ao que
está mais perto. Afinal, rodar pelas calçadas é um gigantesco enduro! Aventura
total!
Transporte público acessível? Não sei
para quem… Mesmo com a minha cadeira de rodas motorizada eu passo por
perrengues fenomenais. Buracos? Prefiro chamar de crateras! Sem me esquecer das
montanhas que surgem no meio dos passeios públicos.
Públicos? Penso em como está se
tornando a maior megalópole do país agora que tudo virou lucro de bem poucos… O
parque Villa Lobos, na região Oeste, tem bem mais gente com carro do ano do que
bicicleta ou à pé. Afinal, estacionar agora custa caro.
Os pequenos sacolões de bairro, em
sua maioria bem administrados há anos por famílias, serão aniquilados! O
monopólio dos mega supermercados irá abocanhar mais este filão! Carnaval e
Virada Cultural? Cada um no seu quadrado da segregação social! Misturar? Para
quê?
O lema desta administração é
TRABALHO! Nem que para mostrar serviço seja preciso passar por cima dos
pequenos comerciantes e da diversidade cultural. Só que não! Trabalho sem
desenvolvimento de todas e todos e distribuição de renda, é CAPITALISMO
SELVAGEM.
Triste é ver que várias ciclovias
estão sendo destruídas para os carros passarem, agora com a velocidade maior
permitida novamente! Mas o que dói mesmo é o nosso dinheiro gasto com os altos
impostos indo para pagar passagens de avião e despesas - de quem se diz
trabalhar pela cidade - mas na verdade faz campanha eleitoral desde o primeiro
dia de mandato.
Problemas? A cidade que ainda pouco
conheço, tem inúmeros! E terá muito mais todos os dias, com esta ou outra
administração. Creio que o que falta é a noção básica do que seja PÚBLICO e
PRIVADO. E do que seja: LUCRO e AÇÃO SOCIAL. Afinal, a cidade só existe porque
as pessoas vivem, trabalham, consomem, pagam altíssimos impostos e se divertem
nela! Cabe a cada um de nós repensarmos o nosso papel na Pólis!
Manhã em Sampa
Manhã em Sampa
Manhã
cinzenta
Nojenta
Na
lama da cidade luz
Manha
opaca
Calada
Na
calma da cidade grande
Manhã
amena
Pequena
Na
falta da cidade cheia
Manhã
macia
Tranquila
Na
clara cidade escura Textos produzidos por Leandra durante a Oficina Literária de Arte e Expressão realizada no SESC Pinheiros em Janeiro e Fevereiro de 2018.
Professoras da oficina: Maria de Lourdes Chaves Ferreira. Jornalista, publicitária, com pós-graduação em psicopedagogia. Finalista do Prêmio Flip de Literatura 2017 – categoria poesia e Maria Regina Chaves Ferreira. Psicóloga – Especialização em psicologia junguiana.
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