Herança eterna
Por
Leandra Migotto Certeza.
Mãe é
aquela pessoa que nos acompanha sempre: dentro ou fora do corpo. Dela ou de
nós. Só quem tem sabe o tamanho da dor ao perdê-la. E quem nunca soube quem ela
é ou foi, sente a profundidade do seu vazio. Existem seres humanos que abusam e
até matam seus filhos. Será que elas tiveram mães? Provavelmente não, mesmo que
tenham saído do ventre de uma mulher, pois só quem concebeu seus filhos no
coração é mãe.
A minha
escolheu ser 24hs a pessoa que vive dentro de mim desde que apareci no planeta.
Não apenas porque ela é a responsável pelo meu nascimento, mas porque a minha
vida faz parte da dela. Inconsciente ou não. Escuto a voz da minha mãe sempre.
Todos os dias. Ela me vigia ao mesmo tempo em que me ensina a voar sozinha.
Quando penso em ligar para ela, o telefone toca. Digo que é ‘magia’ porque ela
lê meus pensamentos. Brigamos a cada amanhecer, por isso, cada vez nos gostamos
mais. Aprendemos uma com a outra o desafio gostoso e trágico que é viver.
Quando eu
era um bebê extremamente frágil aos olhos do mundo, só ela sabia, lá no fundo
do seu coração, que eu era mais forte do que todos. Acreditou somente em meus
olhos, brilhando por ser e estar. Como humana, acredito que minha mãe tenha tido
medo, angústia, tristeza, receio, insegurança, dúvidas, desesperos, e muita
dor. Mas como o amor incondicional de uma mãe para com seu filho sempre é mais
forte, ela prosseguiu sem hesitar em trocar de lugar comigo se fosse preciso. Os
cuidados físicos foram mais intensos nos primeiros anos, e só aumentaram quando
eu resolvi prestar vestibular, atravessar uma rua, viajar para outro país,
trabalhar, transar, me casar, entre tantas ‘loucuras’ que fiz. Imagino como
deve ter sido difícil somente estar ao meu lado pronta para me segurar em seus
braços, e não andar por mim.
Foi com
ela que aprendi o único e verdadeiro significado de estarmos aqui: amarmos uns
aos outros, mas sempre pedir nada em troca; nem mesmo um lugar no céu. Amor de
mãe não se explica com teorias, práticas ou ideologias. Apenas se sente. Eu
respiro sua herança. Sou feita de honestidade, lealdade, tranqüilidade,
bondade, dedicação, carinho, ternura, generosidade, paciência, sabedoria e
humildade que herdei dela! Também aprendi a gostar sempre de ajudar as pessoas,
simplesmente, porque somos iguais na diferença.
Diferença
essa, que nunca afastou minha mãe da minha imagem nas ruas ou dentro das casas.
Ela sempre me viu por inteira em metade de um corpo. Sempre foi as minhas ‘pernas’
e ‘braços’ em todos os momentos e lugares (e ainda é sempre que preciso, antes
de que eu peça). Sempre estava na primeira fila para me aplaudir com o maior
orgulho do mundo, mesmo que só eu conseguisse ver a sua alegria em um sorriso
tímido, mas em alguns momentos um pouco mais solto.
Minha mãe
é aquela que passa para os alimentos o gosto de prepará-los com muito carinho
às 5hs da manhã desde que nasci. É aquela ‘fada madrinha’ que deixa a casa
brilhando com tanta garra ao trabalhar em múltiplas jornadas. É aquela mulher
que consegue agradar à família sem ser vista ou referenciada. Por isso, a dor
de vê-la sofrer muito me dilacera e paralisa. Mas quando penso que agora a luz
se apagou, ouço seus passos fortes e rápidos pela casa antes de me despertar. O
café já está pronto e nenhum detalhe foi esquecido. À noite faz o jantar com a
mesma disposição que ficou o dia inteiro de pé para nos sustentar. Lava e passa
roupa na hora em que estamos dormindo; e não se esquece de comprar o que cada
um mais gosta quando vai ao supermercado. Cuida demais de nós sim. E por isso,
muitas vezes, se esquece de se cuidar. Por isso, entramos em desacordo quando
discutimos sobre a vida. Aprendemos uma com a outra, mas minha mãe me ensina
muito mais porque veio primeiro e deixou o terreno preparado para mim.
Cristina
é uma mulher de opinião forte, idéias muito criativas, grande agilidade,
rapidez, perseverança, força de vontade, e determinação. Quando criança era um ‘moleque’
que empinava pipa, jogava bola e subia no telhado. Sempre fez travessuras. Gosta
de animais, de música, artes e livros. Mas o que mais curte é esporte. Adora
ver os jogos na TV, corre, caminha e anda de bicicleta. Nunca me deixa fora de
algum passeio. O mais recente foi a viagem de trem para Paranapiacaba (interior
de São Paulo). Minha mãe fez a loucura de me empurrar (junto com meu tio) na
cadeira de rodas pelas ladeiras íngremes e cheias de buracos da cidade
histórica completamente inacessível para pessoas com deficiência física. Confesso
que nem acreditei quando vi as ruas de paralelepípedo. Meu marido disse que só
ela mesma para nos levar ali...
Ultrapassamos
inúmeras barreiras e limites, fora e dentro de nós! Foi inesquecível.
Planejamos cada minuto com tanto carinho, sonhamos com cada momento, mas só na
hora é que sentimos o poder do amor. Marcos (seu genro) ficou de boca aberta, e
disse ao deitar na cama naquela noite que também é seu filho de coração. Eu sou
mais do que filha. A amizade nos une para sempre como a melhor herança que
alguém pode receber de uma mãe!
Mãe, eu
te amo e serei sempre grata a você!
PS: Escrevi este texto em 2010. Hoje estou casada há 2 anos e vivo com o meu marido. Mas minha mãe continua cuidando de mim 24hs dos 365 dias do ano, e também do genro-filho que ganhou. É ela quem prepara pratos gostosos e leva para nós, lava a minha roupa mais delicada, faz compras no supermercado, telefona todos os dias para saber como estamos e nos dá broncas. Também ainda continua me dando carona e ajudando em tudo o que preciso.
Agora, o mais importante é que ela continua presente muito mais em ações, conselhos, conversas, e exemplos do que em recursos materiais. Como dizem, mãe e mãe, com 5 ou 40 anos de idade, menina solteira ou adulta e casada. Sempre posso contar com o amor incondicional dela e estou com ela dentro de mim porque sou o que ela me transformou: uma mulher melhor!
PS: Escrevi este texto em 2010. Hoje estou casada há 2 anos e vivo com o meu marido. Mas minha mãe continua cuidando de mim 24hs dos 365 dias do ano, e também do genro-filho que ganhou. É ela quem prepara pratos gostosos e leva para nós, lava a minha roupa mais delicada, faz compras no supermercado, telefona todos os dias para saber como estamos e nos dá broncas. Também ainda continua me dando carona e ajudando em tudo o que preciso.
Agora, o mais importante é que ela continua presente muito mais em ações, conselhos, conversas, e exemplos do que em recursos materiais. Como dizem, mãe e mãe, com 5 ou 40 anos de idade, menina solteira ou adulta e casada. Sempre posso contar com o amor incondicional dela e estou com ela dentro de mim porque sou o que ela me transformou: uma mulher melhor!
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