A diversidade faz parte da vida todos
os dias!
Por Leandra Caleidoscópica*
A finitude
faz parte da vida. As várias formas de existir fazerem parte da vida. As
dificuldades de caminhar, enxergar, ouvir e sentir, também faz parte da vida…
Com o avanço da idade, todos os seres humanos precisam ser respeitados em seus
novos movimentos pelo mundo… Caminhar com andadores… Ouvir com aparelhos…
Enxergar com descrições nas telas… Sentir ao lado de companhias acolhedoras…
Ah! E sem falar que a qualquer milésimo de segundo, um acidente pode acontecer
e a vida girar 360 graus! É por isso que a acessibilidade e o respeito às
potencialidades de cada ser, em cada fase da vida, são essenciais à
sobrevivência com qualidade e segurança!
Nascer com
uma possibilidade de desenvolver alguma condição de deficiência também faz
parte da loteria da vida! Então, não encare as pessoas com deficiência como
seres extraterrestres! Não tenha piedade! Não tenha nojo! Não tenha
repugnância! Não discrimine! Não as afaste de seu convívio! Não proíba que
entre em qualquer lugar por tornar o local hostil e impossível de estar (como
por exemplo, deixar de ter uma rampa como opção ao lado de uma escada).
Identidade é
ser quem somos! Ser surdo não é uma condenação! Ser surdo não é opção! Ser
surdo é uma condição de ser humano com língua e cultura própria. E também pode
ser condição de conviver em sociedade como uma opção de vida, sem escutar com
os ouvidos tradicionais, mas por meio de leitura labial, ou da alta tecnologia
e seus aparelhos.
Identidade é
ser quem somos! Ser cego não é viver na escuridão! Ser cego não é ficar
isolado! Ser cego é uma condição de ser humano com várias possibilidades de ler
o mundo pelos pontos do Braille, ou ouvindo textos, por meio de tantas opções
de tecnologia em microcomputadores e celulares.
Identidade é
ser quem somos! Ter uma deficiência física não deve impedir ninguém de ser dono
de qualquer empresa! Ter uma deficiência física não deve impedir ninguém de
exercer qualquer profissão dentro de suas qualidades e formas de lidar com o
corpo. Ter uma deficiência física não deve impedir de se locomover pelo país,
seja com uma cadeira de rodas, um andador, muletas ou qualquer outra
tecnologia. Ter uma deficiência física não deve impedir ninguém de casar! Ter
uma deficiência física não deve impedir ninguém de ter relações sexuais! Ter
uma deficiência física não deve impedir ninguém de ter filhos, gerados ou
adotados.
Identidade é
ser quem somos! Ter uma deficiência intelectual não deve ser condição de
exclusão! Ter uma deficiência intelectual não deve ser condição para ser mal
tratado, xingado, estuprado, violentado. Ter uma deficiência intelectual não
deve ser impedimento para se trabalhar em empresas junto com quem ainda não tem
uma deficiência, seja qual for (afinal, absolutamente ninguém está livre de
acidentes que tragam à condição de deficiência ao seu convívio diário). Ter uma
deficiência intelectual não deve ser impedimento para brincar nos parques ao
lado de crianças sem deficiência!
Por isso que
em datas como “21 de setembro - Dia Nacional de Luta das Pessoas com
Deficiência” e “03 de dezembro - Dia Internacional das Pessoas com Deficiência”
ainda é preciso alertar o mundo que as pessoas (que têm suas identidades
diferentes do suposto padrão que a sociedade insiste em impor como único) devem
ser respeitadas em absolutamente todos os seus direitos. Para isso, as leis
precisam sair do papel para a prática! Aí, você me pergunta: como fazer isso?
Eu te
respondo!! Não pare um segundo em vagas de estacionamento reservadas para
pessoas com deficiência! Construa rampas em todos os locais como opção às
escadas. Não impeça seus filhos de conviver com crianças com deficiência nas
escolas! Afinal, lembre-se que no fim da vida ter uma condição de deficiência
ou limitação e dificuldades faz parte da condição humana. Portanto, conviver
com as várias formas de se estar no Planeta é enriquecedor e único para a nossa
evolução desde pequeno!
Não pense que
reserva de vagas em empresas para profissionais com deficiência é ação de
caridade e por isso, essas pessoas precisam viver apartadas dos departamentos
em que você trabalha. Não reclame quando assistir a programação na TV ou outras
plataformas onde a intérprete de Língua Brasileira de Sinais aparece no canto
das telas. Lembre-se que se o filme estivesse sem legenda e você não soubesse
Mandarim também iria ficar completamente excluído.
Não dê
esmolas aos cegos nas ruas… Ou os empurrem para atravessar sem pedir permissão.
Ajude de forma correta e só se for preciso. Não dê risada ou olhe com desprezo
para pessoas com alturas diferenciadas. Não grite e mal trate pessoas com
autismo ou outra deficiência intelectual.
Nossa!! São
tantas formas anticapacitistas que você ainda precisa aprender para um dia não
passar por situações de preconceito também… Eu poderia ficar descrevendo muitas
aqui… Mas como você é uma pessoa comprometida com uma sociedade melhor que
respeita a diversidade, né? Então, acompanhe os perfis de várias pessoas com
deficiência na internet! Tá tudo lá, bem explicadinho! Só cabe a você fazer a
lição de casa no exato momento que terminar de ler esse texto!
Afinal, as datas que mencionei são motivo de orgulho sim! Mas somente se quem ainda não tem deficiência, colocar a mão na massa e agir todo dia para que a cada ano, não seja mais preciso apontar as atitudes anticapacitistas, mas sim apenas comemorar as conquistas e vitórias de uma sociedade que convive junto de forma respeitosa e inclusiva com a diversidade humana!!
Sou uma mulher com deficiência física, branca, nascida em 1977 em uma família e cidade com recursos para conseguir ter acesso, tanto à tratamentos médicos, como à educação e trabalho. E mesmo assim, fui discriminada e impedida de realizar muitos sonhos devido ao capacitismo. Somente há quatro anos existem grupos de pessoas negras e indígenas com deficiência que relatam as situações milhares de vezes pior do capacitismo entre essa população, e que nunca foram sequer ouvidas na áurea época dos movimentos sociais de luta pelos direitos nos anos 80.
Eu como ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, desde 1998 (sendo jornalista nos primeiros e inovadores periódicos sobre essa população) pude acompanhar a lenta evolução não apenas das informações, mas principalmente, das ações para a aplicação de uma das melhores legislações do mundo em relação aos direitos das pessoas com deficiência.
Hoje percebo que mesmo com a gigantesca importância da tecnologia para amplificar as vozes dos bravos ativistas com deficiência, que lutaram desde os anos 60, ainda existe um número gigantesco de instituições (localizadas principalmente nas pequenas cidades e nas mais distantes e periféricas) que funciona como depósito de seres humanos com deficiência que são violentados. Também são constante os retrocessos legislativos, tanto no mercado de trabalho como na educação.
Além disso, ainda vivemos uma época em
que o protagonismo e o lugar de fala das pessoas com deficiência necessita ser
sempre defendido com unhas e dentes para que a imagem de caridade e
assistencialismo não seja explorada por aproveitadores, tanto na esfera pública
como na privada. Avanços foram conquistados? Obviamente que sim! Mas só espero
que não seja preciso mais 50 anos para lembrarmos o 21 de setembro como uma data
de lutas, mas sim de vitórias!
Texto de @leandracaleidoscopica que nasceu em 1977, é ativista em Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência desde 1998, Poeta, Escritora, Bacharel em Comunicação Social, Jornalista (MTb 40546), Jornalista Literária. Hoje é Idealizadora e Coordenadora do Selo Caleidoscópio e da @coletivagirassol, Consultora e Professora em Cursos Livres sobre Inclusão no Instituto de Psicologia Sedes Sapientiae. Portifólio: https://linktr.ee/leandracaleidoscopica
NÃO COPIE CADA PALAVRA SEM CITAR A AUTORIA! RESPEITE O PENSAMENTO E A CRIAÇÃO DA AUTORA!
#descricaodaimagem: Então com 22
anos, Leandra trabalhou em uma de suas primeiras reportagens como jornalista em
uma denuncia sobre a total falta de acessibilidade física nos meios de
transportes públicos (ônibus) na cidade de SP. A foto mostra Leandra de costas
tentando subir nos degraus da escada do ônibus. Ela está com uma das mãos
levantadas colocando a muleta em cima de um degrau e a outra mão no chão. O
ônibus na cor branca está com a porta da entrada aberta e estacionado. O
tamanho do ônibus e principalmente dos degraus evidenciam a dificuldade
gritante de uma pessoa com deficiência como Leandra (que tem 96 centímetros) em
usar o veiculo de transporte. Leandra veste uma blusa vermelha, uma calça preta
e tem a pele branca, os olhos e cabelos castanhos (Foto: Arquivo pessoal)