quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Experiências educacionais de pessoas com deficiência

Por Leandra Migotto Certeza - jornalista.

A educação inclusiva é uma proposta em construção, e a medida que se propaga tem evidenciado suas vantagens pedagógicas e sociais. A professora de Educação Inclusiva com deficiência visual, Naira Rodrigues, afirmou em entrevista, que o Brasil está passando por uma grande transformação positiva no sistema educacional.

Os depoimentos inéditos de alunos com deficiência, apresentados comprovam que este processo desfaz preconceitos, incentiva o convívio com as diferenças individuais e estimula o aprendizado mútuo. Todos foram questionados sobre como foi o seu processo educacional: em escolas especiais ou inclusivas; quais as adaptações necessárias e como é a convivência com professores e colegas de classe.

Francelene Rodrigues - “A educação inclusiva deve ser uma lição de casa para o mundo”.

A estudante Francelene, 37 anos, tem quatro filhas adolescentes e um neto. Sua deficiência física, a tetraplegia, foi adquirida após uma violência doméstica do meu ex-marido, em 1998. Atualmente, atua como líder comunitária no Itaim Paulista; é Conselheira de Saúde do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/AIDS Sérgio Arouca; e agente educacional de prevenção às DSTs e AIDS, por meio do projeto: “Elas por Elas”.

“Estou no 4º semestre do curso de Serviço Social da faculdade Unicastelo do campus de Itaquera. Logo que cheguei à faculdade, foram feitas adaptações para garantir a acessibilidade em quase todos os espaços, e ainda faltam alguns ajustes. Mas hoje me sinto livre para me locomover, pois fizeram rampas e instalaram dois elevadores. Fiquei muito feliz pelas mudanças. Os professores da faculdade sabem respeitar e compreender as limitações dos alunos com deficiência”.


Kátia Fonseca – “É importante conversar e conviver com os alunos com deficiência”.

A jornalista, Katia, 53 anos, tem acondroplasia, uma das classificações do nanismo. Formou-se na Faculdade São Leopoldo de Santos, onde nasceu. É presidente do Centro de Vida Independente de Campinas, ONG em defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Estudou 15 anos na Aliança Francesa, e trabalha como Editora Assistente de Opinião do Jornal Correio Popular, em Campinas, onde também reside.

“Sempre estudei em escola regular privada. Não foi necessária nenhuma adaptação, recursos técnicos ou sala de apoio. Eu sempre contava com a ajuda dos colegas e dos professores. Fiz cursinho pré-vestibular, e como o local não era acessível, meus colegas também supriam as minhas necessidades, como, por exemplo, ajudar a subir as escadas ou a ir ao banheiro”.

Sidney Tobias de Souza – “O desafio da educação inclusiva é apenas no início, depois tudo segue naturalmente”.

O paulista Analista de Sistemas, 44 anos, é casado e pai de dois estudantes universitários sem deficiência. Perdeu a visão aos 13 anos, voltou aos estudos aos 15. Trabalhou como office-boy (pois se locomove com autonomia pela cidade), cursou programação de microcomputadores, e hoje é formado em Administração de Empresas pela Universidade Bandeirantes – UNIB, onde estudaram também alunos com deficiência visual, física e auditiva, além de um professor com deficiência física.

“Logo na primeira semana de aula da faculdade, um aluno que fazia as anotações da lousa em um lap topo se ofereceu para me repassá-las por e-mail. Depois os alunos da turma se revezavam para enviar as anotações de cada matéria. Quanto às provas, elas não estavam disponíveis em Braille; então, me deixaram livre para optar entre fazer num computador ou prova oral”.

Samara Andresa Del Monte – “A escola ideal e inclusiva é aquela que respeita a capacidade e as necessidades do aluno com deficiência”.

A estudante paulista de 21 anos mora em Diadema (SP), está no segundo ano do curso de Jornalismo na Universidade Paulista – UNIP, e há oito anos é editora da revista “Mais Deficiente”. Quando nasceu o cordão umbilical estava enrolado no meu pescoço, por isso, faltou oxigênio no cérebro, o que ocasionou Incapacidade Motora Cerebral (conhecida antigamente como Paralisia Cerebral). Ela usa cadeira de rodas para me locomover, o sistema Bliss para see comunicar, e escreve apenas no computador. O Bliss é uma prancha com diversos símbolos que facilita a comunicação. Samara aponta o símbolo e a pessoa que estiver conversando, já sabe o que significa porque cada símbolo tem uma legenda, assim ela não precisa soletrar cada palavra. Estudou até os 14 anos em escolas especiais quando sua matricula foi aceita em um colégio regular. Hoje seus projetos são se formar e trabalhar na profissão que escolheu.

“As salas são acessíveis, e a UNIP disponibiliza uma vaga no estacionamento dentro da própria universidade. Para estudar, leio os textos normalmente, mas preciso de alguém para escrever. Esse ano quem me ajuda é a minha irmã Sarita. Quanto às provas, levo meu laptop, digito com o auxílio de um capacete e uma ponteira (pois não tenho coordenação fina nas mãos), e a Sarita redige na folha. E caso precise, os professores permitem que eu fique até depois do horário para terminar a prova”.

PALAVRA DO EDUCADOR

Diversidade em sala de aula: contexto atual da educação.

Por Leandra Migotto Certeza - jornalista.

A experiência de Adriangela Bonetti, com a Escola Municipal de Educação Infantil José Prestes de Guaporé no Grande do Sul, é um exemplo de que a educação inclusiva de alunos com deficiência é cada vez mais freqüente. Pedagoga pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões e Especialista em Administração Escolar pela Faculdade Portal de Passo Fundo, a educadora conta os principais desafios encontrados e os resultados obtidos.

Seu depoimento inaugura a nova sessão do Caleidoscópio: "Palavra do Educador", um convite aos professores a compartilharem suas vivências enviando artigos para o e-mail: leandramigottocerteza@gmail.com

"Acredito, sinceramente, que as diferenças existem para o crescimento de todos e não para a segregação” - Adriangela Bonetti

Minha experiência como coordenadora da capacitação em educação inclusiva, surgiu da necessidade de adaptar recursos didáticos para todos os alunos aprenderem; além de modificar a cultura que permeava no contexto escolar de que os alunos que possuem deficiência ‘deveriam’ ser atendidos somente em classes especiais e não na escola regular.

O objetivo foi possibilitar, por meio de estratégias diversificadas, que todos os alunos desenvolvessem habilidades essenciais à vida e à convivência com a diversidade, tanto em sala de aula, como na sociedade, de acordo com suas capacidades intelectuais e físicas. Iniciei um planejamento que previa várias atividades por dia, com no máximo 30 minutos para cada uma, pois percebi que além de serem alunos inteligentes com boa motivação para aprender, eram também muito dinâmicos.

Realmente, os primeiros dias não foram fáceis de trabalhar com a turma de 26 alunos e vários ritmos de aprendizagem. Por isso, conversei com a professora, e fui informada que antes do meu trabalho, haviam optado por um monitor em sala, para ‘atender’ os alunos com deficiência, e que talvez isso tenha contribuído na insegurança e dependência de alguns, principalmente na aluna com incapacidade motora cerebral (deficiência física), pois o monitor a acompanhava fazendo atividades diferenciadas da turma.

As refeições eram oferecidas em horários distintos, ela só subia e descia escadas se apoiando nele, e não interagia com os colegas nas atividades do recreio. Ela ainda não havia aprendido todas as letras do alfabeto, não conhecia números, e apenas com bastante limitação ortográfica e motora, escrevia seu nome. Por isso, demorou mais tempo para que ela conseguir abandonar os ‘vícios e privilégios’ e ter autonomia.

O caso dessa aluna me fez perceber que era necessário desenvolver conteúdos interessantes com recursos adaptados e diversificados para os alunos produzirem de forma autônoma, além de acabar com a cultura de que os alunos com deficiência deveriam ser tratados de forma diferenciada. Só assim superariam suas limitações. Além disso, como os alunos apresentavam ritmos de aprendizagem bem diferenciados, eu precisava estar constantemente atenta para sempre ‘mantê-los ocupados’. O objetivo principal foi fazer com que os alunos conseguissem alimentar-se; subir e descer escadas sem ajuda; e participar do recreio com os demais colegas e das atividades que a turma realizaria fora da escola.

A família também foi orientada sobre como proceder em casa com eles, a fim de cooperar com o que já se fazia na escola. Pois, para mim estava bem claro que naquela turma não havia ‘aluno problema’, e ‘indisciplinado’ como alguns falavam, mas sim alunos com muita vontade de aprender; dinâmicos e que não estavam sendo compreendidos e atendidos da forma como poderiam produzir. Por isso, as aulas eram mescladas por atividades bem lúdicas. Iniciávamos sempre com a “Hora do conto”, seguida de análise dos ‘problemas’ do texto. E às vezes eu mesma fazia a leitura, e em outras os próprios alunos. Nem sempre um texto era lido, e os ‘problemas’ surgiam de uma novidade que um colega contava, por exemplo. O importante era começar a aula chamando a atenção dos alunos para o que seria estudado.

Os resultados começaram a aparecer: não havia indisciplina fora do controle, pois estavam ocupados em realizar as atividades juntos; os apelidos preconceituosos que alguns possuíam foram esquecidos; e o trabalho em grupo já era rotina, pois ao contrário do que às vezes se pensa, os alunos produzem e se concentram mais trabalhando juntos.

Porém, percebi resistência por parte de alguns em trabalhar com os colegas com deficiência. Assim, foi necessário conversar bastante para vencer o preconceito antes que se arraigasse no coração e mente dos pequenos. Para isso, contamos com Ziraldo, que de forma tão sábia escreveu FLICTS, um livro fantástico sobre as diferenças. Não demorou muito e os frutos começaram a aparecer. Vários alunos se alfabetizaram e já conseguiam auxiliar outros colegas para ler e escrever. Percebia-se também que a cooperação e o espírito de equipe cresciam a cada dia. Mas ainda era necessário elogiar, pois além de merecê-los os alunos precisavam ser mais motivados e incentivados a progredir.

O desafio com certeza era grande, mas tentador; e exigia um trabalho coletivo. Então, busquei ajuda para conseguir que todos se desenvolvessem conforme suas possibilidades, e orientei aqueles que eram rotulados de ’indisciplinados’. Obtive apoio de colegas da Secretaria Municipal de Educação, Direção e Vice, além dos Coordenadores que ajustaram algumas situações no cotidiano escolar para todos participarem do recreio juntos. A família fosse convidada a acompanhar mais de perto a vida escolar; e para os alunos com deficiência foi elaborado um Plano Educacional Individualizado metas e ações visando o seu bom desenvolvimento. Além disso, os educadores previram no Projeto Político-Pedagógico, como fariam a inclusão escolar.

Depois passei a me preocupar em mediar mais situações de aprendizagem. Isso foi necessário, pois alguns alunos produziam muito, em um ritmo bom, por isso, era justo ajudá-los também a avançarem no conhecimento. Caso contrário, eles poderiam se tornar indisciplinados, se não tivessem à sua disposição atividades nas quais canalizassem suas inteligências e energias. Pensando nisso, desenvolvi alguns projetos intitulados: “Biblioteca Na Sala de Aula: Um Ambiente Propício à Leitura” e “Meios de Transportes e Educação para o Trânsito”. E graças ao apoio financeiro do Ministério Público local, conseguimos realizar todas as etapas dos projetos, e transformamos a sala de aula um ambiente mais prazeroso, lúdico e de aprendizagens múltiplas, além de promover a socialização e interação da comunidade escolar.

Os dias foram se passando e a turma manifestava progressos significativos também nos relacionamentos; atitudes e valores entre si. Então, logo percebi que a aluna com incapacidade motora cerebral começou a se alfabetizar, começando escrever no quadro-negro seu nome, letras, sílabas, palavras e frases, e as lia, mesmo que incompletas (pois, faltavam os elementos de ligações). Mas o que importava era que ela escrevia três palavras, e lia cinco ou mais. E depois de dois meses de aula já não necessitava de ajuda para subir ou descer escadas. Alimentava-se com autonomia; brincava no recreio como os demais participando da fila; das aulas de educação física, e das atividades junto com a turma.

Desse momento em diante percebi ainda mais claramente que o desenvolvimento é do aluno, mas com a estimulação por meio de recursos adaptados será de forma mais plena. Por isso, sempre demonstrei aos meus alunos interesse e confiança: informando-os constantemente sobre aquilo que poderiam produzir, mesmo que estivesse além de suas capacidades, em um primeiro momento, o que os motivava bastante. Foi desta forma que o aluno com graves problemas psicológicos aprendeu logo a usar o banheiro sem ajuda, começou a se alimentar com mais calma e firmeza, e agora participava com os outros colegas de todas as atividades dentro e fora da sala de aula.

E embora não tivesse ainda a compreensão dos sinais gráficos, ele lia livros para os colegas, observando as gravuras. Fazia gestos e mudava a expressão facial em alguns trechos do livro. Manuseava bem o caderno, mesmo não escrevendo ordeiramente. Esforçava-se para desenhar, gostava de trabalhar com massa de modelar e adorava dançar e cantar. Aulas com música o deixavam muito feliz. E era comum ele ficar cantando a música trabalhada na aula por dias. Também manuseava jogos pedagógicos e ganhava muitas vezes no jogo de memória. Como a escola recebe alunos de bairros carentes, muitos alimentos e outros objetos eram conhecidos somente por meio das figuras dos jogos que ajudaram todos a melhorar o vocabulário.

Não fizemos um planejamento separado para aos alunos com deficiência, e sim, métodos diferentes com recursos adaptados, diversificando estratégias para que todos possam acessar os conteúdos conforme suas possibilidades. Certamente, se para muitos parece pouco ou nada o que se faz para incluir todos nos sistemas de ensino, para outros os avanços são enormes, e às vezes gigantescos.

O que faz a diferença, para mim, é que não existem esforços sem conquistas, existem, sim, metas sem ações. É preciso mudar a atitude e ver a educação como um espaço para todos. Os educadores devem ser os primeiros a acreditar que é possível transformar as escolas em espaços de aceitação, acolhida, interação, desenvolvimento e aprendizagem para todos. Conduzir esta experiência de forma tão direta me fez ver que a limitação está em todos nós.

Algumas são mais raras, menos familiares e aceitáveis, porém mais evidentes. Por isso, é necessário valorizar e destacar o que dá certo, o que evoluiu, e o que é bom. Assim, será possível a cada um enxergar o que tem de bom no ‘mau’ e o que tem de mau no ‘bom’. Acredito, sinceramente, que as diferenças existem para o crescimento de todos e não para a segregação.

Que trabalhar com elas no seres humanos é uma oportunidade de provarmos a nós mesmos o quanto estamos dispostos a aprender, e admitimos a necessidade de sempre buscar novos meios para ajudar os alunos a se desenvolverem; além de mediar o processo para que todos tenham inicialmente autonomia e gerencie suas vidas e aprendizagens significativas em sociedade.

Concluo que enquanto educadora não necessito de formação específica para trabalhar com alunos com deficiência, até porque, nenhum educador conseguiria, durante seu curto período de vida, conhecer e saber trabalhar com todas que existem. Nem que ele vivesse dentro de uma universidade.

O que é preciso é assimilar a ideia de que ao professor da sala de aula regular compete ofertar ao aluno a apropriação dos conteúdos. E isso é possível quando o professor se apropria (com conhecimento) dos diversos recursos e estratégias que estão à sua disposição, e oferece a todos aos alunos no mesmo tempo e espaço. Pois, o professor é responsável pelo atendimento educacional regular; e pelo atendimento educacional especializado que o aluno com deficiência receberá nas salas de recursos multifuncionais.

“Os educadores devem ser os primeiros a acreditar que é possível transformar as escolas em espaços de aceitação, acolhida, interação, desenvolvimento e aprendizagem para todos” - Adriangela Bonetti.

“Antes de tentar, não diga que você não consegue".

“A escola ideal e inclusiva é aquela que respeita a capacidade e as necessidades do aluno com deficiência”.

Por Leandra Migotto Certeza - jornalista.

Entrevista com Samara Andresa Del Monte

A estudante de 21 anos mora em Diadema (SP), está no segundo ano do curso de Jornalismo na Universidade Paulista – UNIP, e há cinco anos é editora da revista “Mais (D) Eficiente”. Segundo ela, é um importante espaço para avaliar o quanto a sociedade é deficiente em muitos aspectos.

Samara estudou até os 14 anos em escolas especiais, por não ter sido aceita em escolas regulares, devido a sua deficiência física. Hoje seus projetos são se formar e trabalhar na profissão que escolheu. Sarita abre uma das edições de sua revista com a seguinte frase: “Antes de tentar, não diga que você não consegue. E se você conseguir? Você não tem uma pessoa a toda hora com você. Então, tente! As coisas que parecem ser impossíveis podem se tornar possíveis; só depende de você”. Um grande incentivo aos educadores.

Caleidoscópio: Conte um pouco sobre sua vida.

Samara: Quando nasci o cordão umbilical estava enrolado no meu pescoço e faltou oxigênio no cérebro, então tive Incapacidade Motora Cerebral (conhecida antiga Paralisia Cerebral). Uso cadeira de rodas para me locomover, o sistema Bliss para me comunicar, e escrevo apenas no computador. Amo ouvir música.

Caleidoscópio: Quem são seus amigos? Qual a importância da sua família em sua vida?

Samara: A minha família é fundamental para mim. Devo a ela tudo o que consegui. Ela me incentiva e auxilia muito para que eu possa fazer as coisas como qualquer pessoa. Tenho amigos que estão comigo desde pequena, amigos recentes como os da faculdade e os de todas as idades.

Caleidoscópio: Como foi o seu processo educacional? Estudou em escolas especiais em instituições (somente com alunos com deficiência) ou em escolar regulares junto com todos os alunos?

Samara: Desde pequena queria estudar em uma escola igual a da minha irmã. Mas entrei para escola especial com 4 anos, e aos 7 anos estava alfabetizada. Mas somente com 14 anos encontramos uma escola regular que aceitasse fazer a minha inclusão. Foi a Espaço Livre. Antes estudei nas escolas especiais: Aptho, Bela, Quero-Quero, e Centro de Reabilitação Uniban. Só fiz o supletivo do ensino médio e a universidade em estabelecimentos de ensino regulares.

Caleidoscópio: Como era a acessibilidade física em cada uma dessas escolas? Em quais escolas você encontrou mais dificuldades para estudar? E em quais encontrou mais facilidade?

Samara: As escolas especiais tinham acessibilidade. A escola Espaço Livre era térrea, então não havia dificuldade. Na que eu fazia o supletivo tinha uma escada e precisava que alguém ajudasse. A UNIP é adaptada com: elevador, banheiro adequado, vaga reservada para estacionar o carro, e computador para eu fazer as provas.

“Educadores: as portas de sua escola e de seu coração para um aluno com deficiência, vocês não vão se arrepender” - Samara.


Caleidoscópio: Você passou por situações de preconceito e discriminação em alguma dessas escolas?

Samara: Quando eu estava na 7ª. Série - na aula de educação artística - fiz o primeiro desenho e, para o segundo, o meu colega pediu uma folha. A professora pegou o meu desenho, olhou, virou no verso e deu para ele, como se o meu simplesmente não existisse. Alguns professores do ensino regular me consideravam um objeto: quando eu tinha dúvidas, precisava me movimentar muito para eles me olharem e mesmo assim ignoravam. Os colegas no início me ajudavam muito, depois ajudavam algumas vezes.


Caleidoscópio: Os colegas de sala e os professores da universidade te aceitam e respeitam as suas características? Quais são as adaptações físicas, e de comunicação que utiliza para estudar?

Samara: A UNIP respeita os alunos com deficiência. Os meus colegas demoraram um pouco para chegar até a mim, mas agora já somos amigos, e eles consideram muito as minhas opiniões, quando fazemos trabalhos em grupo, por exemplo. Alguns professores têm mais facilidade em me entender, outros nem tanto. Sabendo disso, tenho uma acompanhante para intermediar a minha comunicação, e agilizar o registro das aulas. Não há adaptações físicas, pois na própria cadeira de rodas já tem uma mesa acoplada. As salas são acessíveis, e a UNIP disponibiliza uma vaga no estacionamento dentro da própria universidade. Para estudar, leio os textos normalmente, mas preciso de alguém para escrever. Esse ano quem me ajuda é a minha irmã Sarita. Quanto às provas, levo meu laptop, digito com o sistema de comunicação Bliss (com o auxílio de um capacete e uma ponteira), e a Sarita redige na folha. Se precisar, os professores permitem que eu fique até depois do horário para terminar a prova.
Caleidoscópio: Quando começou a escrever e a editar da revista Mais (D) Eficiente? Como surgiu a publicação?

Samara: A revista foi lançada em 2001, de forma bastante artesanal. Depois, com ajuda de colaboradores, ela foi diagramada, e impressa em gráfica com tiragem de 3000 exemplares. Faço uma por ano, e ela está na 8ª edição. A idéia surgiu para mostrar e explicar um pouco mais sobre a vida das pessoas com deficiência. Escolhi este nome porque cada vez mais há pessoas nascendo ou adquirindo deficiência. E, também, para mostrar o quanto nossa sociedade é deficiente em relação a tudo.

Caleidoscópio: O que você mais gosta de fazer na revista? Qual a importância dela para os professores que também têm alunos com deficiência nas escolas?

Samara: Tudo o que é feito na revista eu gosto muito: artigos sobre as dificuldades do dia a dia; informações sobre patologias; dicas de como se relacionar com pessoas com diversas deficiências; entrevistas com profissionais; poesias; denúncias; leis; histórias de superação; sugestões de filmes entre outros assuntos. Muitos professores têm aprendido a lecionar para os alunos com deficiência e, principalmente, a acreditar mais neles. E, digo isso, porque sempre recebo mensagens de professores dizendo o quanto foi importante para eles conhecerem a revista, e também recebo convites para dar palestra em escolas.

Caleidoscópio: Como você acha que deve ser a escola ideal e inclusiva? E como você avalia que as escolas são hoje? O que precisa ser melhorado e o que está funcionando bem?

Samara: A escola ideal e inclusiva é aquela que respeita a capacidade e as necessidades do aluno com deficiência. Foi muito importante para a minha aprendizagem, o trabalho dos terapeutas em conjunto com os professores. Então, acredito que deveria ser assim em todas as escolas. As escolas mudaram depois das leis que garantem a matrícula dos alunos com deficiência, mas as escolas com turmas pequenas, professores capacitados, acessibilidades, têm mais condições de serem realmente inclusivas.

“Muitos professores têm aprendido a lecionar para os alunos com deficiência e, principalmente, a acreditar mais neles” - Samara.


Caleidoscópio: Quais são seus principais sonhos e projetos de vida? Qual mensagem deseja deixar para os alunos e professores que estudam em escolas inclusivas?

Samara: Muitos de meus sonhos eu já realizei e o maior de todos foi de entrar para faculdade e fazer jornalismo. Já escrevo artigos para o jornal da igreja, mas quero me formar, ser uma boa jornalista e trabalhar. A mensagem que eu deixo é: se hoje estou conseguindo o meu espaço e reconhecimento é porque um dia uma escola abriu, além de suas portas, o seu coração. Educadores: abram também as portas de sua escola e de seu coração para um aluno com deficiência, vocês não vão se arrepender.

Dor e superação – Diário de uma mãe.

Por Silvia Sperling* - Edição: Leandra Migotto Certeza - jornalista.

Domingo de outono, meu filho já fez xixi no sofá duas vezes quando já pensava ter superado esta fase, mas elas voltam. Torno a gritar, brigar, colocá-lo de castigo e educá-lo. Mas ele entende? Atende ao pedido de um beijo, e comandos simples. Mas porque é tão difícil aprender como pedir para ir ao banheiro? Já não faz mais xixi na roupa. Na rua segura o esfíncter o máximo que pode até aliviá-lo em um banheiro que se sinta seguro e confortável, e em casa despe-se todo, e tenho que ter a sorte de presenciar este momento para que não ocorra o que hoje sucedeu.

No autismo é assim, fases superadas por outras crianças não são etapas definitivamente ultrapassadas, elas retornam como fantasmas: a insônia, o descontrole esfincteriano, as birras... Sempre ouvimos que precisamos respeitar o tempo de aprendizagem das crianças, e que cada qual tem o seu. No caso de quem tem autismo esta paciência deve ser redobrada, já que a maneira de assimilação de informações ainda não foi esclarecida. Temos orientações de psicólogos e psicopedagogos, que são unânimes na forma de como orientá-las, sempre com frases curtas e simples. Este recurso didático empregado continuamente, aliado à perspicácia da família no sentido de atentar aos sinais não verbais de pedido por parte da criança, aumentam a chance de sucesso no manejo de problemas cognitivos.

Atualmente, reforço a orientação ao nosso filho: não pode fazer xixi no sofá nem no tapete. Xixi é no banheiro. Outra exemplificação que considero útil no sentido de reforçar a importância da paciência e persistência é o da eliminação das fezes. Passamos dois anos, eu e meu marido, tentando ensinar o Otávio a fazer cocô no vaso sanitário, permanecendo por vários minutos com ele no banheiro, mas nosso filho retinha o conteúdo por dois ou três dias e acabava eliminando de madrugada no seu quarto, causando transtorno e frustração de ambas às partes. Há cerca de dois meses, meu marido sugeriu que o levássemos ao banheiro logo após ele adormecer, e esta tentativa singela resultou em êxito. Ele adormecido fica dócil e relaxa o esfíncter anal.

Os pais são eternos vigilantes do comportamento de seus filhos. Não podemos relaxar, pelo menos não enquanto estamos sozinhos no comando. Clamamos por um tempo de sossego, nada para fazer, nenhum sobressalto... Bendito os avós, professores e demais cuidadores que nos aliviam um pouco desta árdua tarefa. Sabemos que é reconfortante o abraço e o sorriso inocente destes pequenos, mas hoje falo do trabalho e do cansaço que aflige os pais de crianças com deficiências. Não desista frente ao primeiro, segundo ou terceiro fracasso ao ensinar. Respire fundo, faça o que tiver que ser feito, e aguarde ansiosamente pelas conquistas destes pequenos guerreiros.

É necessária também a pausa para nos reencontrarmos com nossa essência: como somos, do que gostamos, e o que nos faz feliz. Isto nos dá força para enfrentar um novo dia. Voltei a dançar. Dancei por dez anos e parei o mesmo tempo. Hoje redescobri o prazer de movimentar meu corpo ao som da música. Alongar, soltar, sonhar com o desejo antigo de ser bailarina. Só sonhar. Já basta. Dance, pinte, escreva. Não perca o contato consigo mesmo, e assim, na próxima dificuldade que a doença e/ou deficiência de seu filho lhe impuser, novamente, respire fundo, faça o que tiver que ser feito e aguarde ansiosamente pelo seu momento de recompensa interior.

* Silvia Sperlig é nutricionista e mãe de Otávio Sperling Canabarro, 6 anos, com autismo.

A importância da educação inclusiva para alunos com surdocegueira

Por Ana Prado - Edição: Leandra Migotto Certeza - Jornalista.

Alex Garcia, especialista em Educação Especial e presidente da AGAPASM, Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes, autor da obra "Surdocegueira: empírica e científica" e surdocego atuante no cenário nacional e internacional, capacitou mais um grupo de professores para desenvolverem um trabalho de qualidade junto a alunos surdocegos.

Entre os dias 7 e 11 de junho de 2010, o profº Alex Garcia esteve no município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, compartilhando seus saberes, práticas educativas e inclusivas com um grupo de 25 professores da Rede municipal de ensino. Esta ação faz parte do Programa Permanente de Capacitação e Atualização de Professores da Secretaria e Fundação Municipal de Educação FME dessa cidade.

A rede municipal de ensino atua com a proposta de inclusão educacional há mais de 20 anos, tendo como prioridade o acesso, a permanência e a aprendizagem dos mais de 900 alunos com necessidades educacionais especiais( entre eles os com surdocegueira) matriculados em nossas escolas. Por isso, o objetivo do curso é garantir condições para que o aluno surdocego possa ser acolhido com dignidade e desenvolva suas potencialidades ao Maximo de suas possibilidades. Neste sentido, o professor é nosso colaborador principal e precisa ser constantemente abastecido com informações valiosas como as que nos trouxe o professor Alex Garcia.

Os professores cursistas foram conduzidos a momentos de reflexão, o que lhes permitiu a quebra de tabus, a desconstrução e construção de paradigmas, possibilitando-lhes reconhecer outras capacidades, habilidades e competências humanas. Todos os participantes, no decorrer da semana, passaram por transformações relevantes: adquiriram novos olhares sobre a diversidade humana, abrindo seus horizontes de atuação e impressionando-se com as considerações do profº Alex. Foram 40 h de muita troca, vivências, experienciações e construção de novos conhecimentos e impressões.

A capacitação de professores para atuarem com respeito e responsabilidade numa escola para todos e de todos, que respeita as diferenças e considera as individualidades do sujeito, é emergencial, visto que todos somos humanos, vivemos no mesmo planeta e partilhamos do mesmo destino. Sendo assim, a iniciativa da Coordenação de Educação Especial da FME de Niterói deve ser seguida e divulgada, objetivando a construção de um mundo justo, igualitário, sem preconceitos e atitudes discriminatórias.

*Ana Cristina Teixeira Prado é membro da equipe da Coordenação de Educação Especial da FME de Niterói.

Sobre identidade e diferenças nas escolas

Por Maria Teresa Eglér Mantoan* - Edição: Leandra Migotto Certeza - Jornalista.

A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas educacionais em seus fundamentos, questionando a fixação de modelos ideais e a normalização de perfis específicos de alunos, a seleção dos eleitos para freqüentar as escolas e com isso produzir identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. O poder institucional que preside a produção da identidade e diferenças define como normais e especiais não apenas os seus alunos, como também suas escolas.

Os alunos das escolas comuns são normais e positivamente valorados e os alunos das escolas especiais, são os negativamente concebidos e diferenciados. Quem reparte fica com a melhor parte e os que têm o poder de dividir são os que classificam, formam conjuntos, escolhem os atributos que definem os alunos e demarcam / decidem quem fica e quem sai dos mesmos, ou melhor, quem é incluído ou excluído dos agrupamentos escolares.

Os sistemas educacionais constituídos a partir da oposição - alunos comuns e especiais se sentem abalados com a proposta inclusiva de educação, pois não só criaram espaços educacionais distintos para seus alunos, a partir de uma identidade específica, como também esses espaços estão organizados pedagogicamente para manter essa separação, definindo as atribuições de seus professores, currículos, programas, avaliações, promoções dos que fazem parte de cada um desses espaços.

Ambientes escolares inclusivos são fundamentados em uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações entre ambas não se ordenam em torno de oposições binárias (normal/especial, branco/negro, masculino/feminino, pobre rico). Neles não se elege uma identidade como norma privilegiada em relação às demais. A identidade normal é tida sempre como natural, generalizada e positiva em relação às demais e sua definição provém do processo pelo qual o poder se manifesta na escola, elegendo uma identidade específica pela quais as outras são avaliadas e hierarquizadas. O poder que define a identidade normal, detido por professores e gestores próximos ou mais distantes das escolas, se enfraquece diante dos princípios educacionais inclusivos, nos quais a identidade não é entendida como natural, estável, permanente, acabada, homogênea, generalizada.

Na perspectiva da inclusão escolar, as identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e, portanto, os alunos não são categorizáveis, não podem ser reunidos e fixados em categorias, grupos, conjuntos, que se definem por certas características arbitrariamente escolhidas.

[...] a diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um processo, uma operação, uma ação. A diversidade é estática, é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo, é produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças – diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado – da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir com o idêntico (Silva, 200, pp100-1001).

Atribuir a certos alunos identidades que os mantém nos grupos de excluídos: dos alunos especiais, com necessidades educacionais especiais, com deficiências, com problemas de aprendizagem é tudo o que a inclusão não admite. E não cabe fixar em outros alunos uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos demais, como determina alguns privilegiados. Por esses motivos é que entendemos a escola inclusiva como escola das diferenças e que a defendemos como uma escola democrática e de todos. Precisamos reconhecer o seu papel da escola na constituição de uma sociedade em que o sistema educacional não ensina a exclusão de alguns alunos como especiais e que entendem as diferenças como coletivas e de base igualitária.

Aos pais, professores, educadores destaco estas idéias (tão sumariamente organizadas!), esperando que possam ser um bom motivo para que se juntem a todos os que lutam em favor de uma formação escolar pautada nos princípios inclusivos, como prescreve a Constituição Brasileira de 1988 e os mais recentes e avançados documentos sobre os direitos humanos, entre os quais a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, instituída pela Assembléia das Nações Unidas, desde 2006; a qual o país é signatário desde 2007, tendo-a como emenda constitucional.


Referência: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença. A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes 2000.

*Maria Teresa Eglér Mantoan, professora da Faculdade de Educação e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferenças – LEPED da Universidade Estadual de Campinas.

“A educação inclusiva deve ser uma lição de casa para o mundo”

Entrevista com Francelene Rodrigues

Por Leandra Migotto Certeza - Jornalista.

Francelene Rodrigues, 37 anos, nasceu e sempre morou na comunidade do bairro Itaim Paulista, na zona lesta cidade de São Paulo. Tem quatro filhas adolescentes e um neto. Sua deficiência física, a tetraplegia, foi adquirida após uma violência doméstica do meu ex-marido, em 1998.

Atualmente, Francelene atua como líder comunitária onde vive; é Conselheira de Saúde do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/AIDS Sérgio Arouca; e agente educacional de prevenção às DSTs e AIDS, por meio do projeto: “Elas por Elas”. Contribui em outro projeto com idosos, na Casa de Missão, em São Miguel Paulista, também na zona leste da cidade de São Paulo; além de participar, desde 2001, de conselhos gestores locais e regionais; e do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência.

A estudante palestra sobre inclusão social em organizações não-governamentais, se diverte, cuida da casa e dos filhos, e namora quando se identifica com alguém. “Não me curvo frente aos erros, nem admito sentimentos de pena. Sou feliz assim como sou. Não mudo. Cresço com minhas experiências. Hoje sou um instrumento de inclusão!”, destaca a professora entrevistada desta edição, contando em detalhes o seu processo educacional.

Caleidoscópio: Conte um pouco como foi o seu processo de inclusão educacional. Quais foram os maiores desafios e conquistas?

Francilene: Amo estudar. O processo educacional foi tranqüilo, até adquirir a deficiência física. Sempre estudei em escolas públicas e conclui o magistério. Complicado foi quando decidi voltar aos estudos, pois a minha matricula no ensino médio supletivo foi recusada. Precisei adquirir outros conteúdos para prestar vestibular.. Mas insisti e venci, e logo depois ingressei na faculdade, com algumas barreiras que ao decorrer do curso universitário são superadas a cada dia. Mas muitos outros obstáculos aparecerão pelo caminho até eu terminar o curso. Sei que eles precisam ser sempre ultrapassados.

"Sou feliz assim como sou. Não mudo. Cresço com minhas experiências. Hoje sou um instrumento de inclusão!” - Fracilene


Caleidoscópio: Passou por preconceitos e discriminações?

Francilene: Uma barreira inquebrantável sempre será o preconceito, que ainda existem em relação às pessoas com quaisquer tipos de deficiência no mundo, não só na faculdade. Esse sentimento, muitas vezes, vem da família; e é indiscutível que esse tema ainda seja uma barreira para muita gente. O maior preconceito foi em entender que eu mesma era preconceituosa com as pessoas e não elas comigo.

Caleidoscópio: Sempre quis ser assistente social? Qual a importância dessa profissão em sua vida?

Francilene: Decidi pela profissão, devido ao envolvimento dentro de minha própria comunidade na qual sou líder, e Conselheira de Saúde desde 2001. Sempre trabalhei em prol de melhorias para o bairro onde vivo. Amo a profissão que escolhi, e sei que mercado de trabalho está aberto, pela amplitude em conhecimentos, desafios e competências, que a área possui. Ser assistente social para mim é primeiramente ser cidadã, capaz de garantir direitos ao próximo e a si mesmo. Estou no 4º semestre do curso de Serviço Social da faculdade Unicastelo do campus de Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo. Logo que cheguei à faculdade, foram feitas adaptações para garantir a acessibilidade em quase todos os espaços, e ainda faltam alguns ajustes. Mas hoje me sinto livre para me locomover, pois fizeram rampas e instalaram dois elevadores. Fiquei muito feliz pelas mudanças.

Caleidoscópio: Como avalia a carreira para profissionais com deficiência?

Francilene: O maior desafio dessa profissão é garantir direitos. Atualmente o mercado de trabalho está aberto, mas as pessoas com deficiências precisam se capacitar ainda mais.

Caleidoscópio: Tem colegas de sala com deficiência? Como é a relação com eles? E os professores?

Francilene: Só tive contato com duas pessoas com deficiência: um que usa cadeira de rodas e outra com nanismo. Elas são muito descontraídos, e estão ali para fazer a diferença como eu. Melhorou muito para mim, porque eu me sentia um pouco ‘constrangida’, mas hoje vejo outras pessoas com deficiência pelos corredores, e logo me apresento como estudante veterana. Os professores da faculdade Unicastelo são nota dez, e sabem respeitar e compreender as limitações dos alunos com deficiência.

“Hoje me sinto livre para me locomover na faculdade, pois fizeram rampas e instalaram dois elevadores. Fiquei muito feliz pelas mudanças” - Francilene.


Caleidoscópio: Como está a educação inclusiva no Brasil? O que precisa ser incentivado e o que é necessário mudar?

Em linhas gerais, no Brasil, a educação inclusiva ainda deixa muito a desejar; primeiro porque os professores da rede pública, e mesmo da particular necessitam com urgência de capacitação, oferecida pelos seus próprios órgãos competentes. Os professores precisam também ter dedicação, paciência, consciência, competência; e o mais importante: ter aptidão e envolvimento não só porque a inclusão está na moda, e sim porque é urgentemente necessária em pleno século XXI. Mas ainda há barreiras e resistência desses profissionais. Acredito que só se faz educação se educando, e ela começa em casa. Em relação às escolas e/ou universidades acessíveis na zona leste da cidade de São Paulo, ainda deixam muito a desejar; mas sei que aos poucos os professores se dedicam a ter um olhar inclusivo.