quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O que fazer enquanto esperamos a morte?

Por Leandra Migotto Certeza*.

Viver dói. Aterroriza. Dilacera. Machuca. Dá prazer. Traz felicidade. Amor. Ternura. Doçura. PAZ. Tudo ao mesmo tempo. Tempo? Ele não existe, mas fazemos questão de medi-lo sempre.

Enquanto esperamos a morte, o que fazer?
Matarmos? Causarmos forme? Odiarmos? Roubarmos? Sermos egoístas? Passarmos por cima de outra pessoa? Lutarmos? Explorarmos? Causarmos dor? Violentarmos? Acalentarmos?
Entregarmos? Trabalharmos? Estudarmos? Alegrarmos? Construirmos? Causarmos felicidade? Sermos solidários? Criarmos? Amarmos?

A escolha é nossa, assim como a conseqüência. Que chegará mais cedo ou mais tarde. Aqui ou para onde formos. Boa ou ruim. Compartilhada ou sozinha.
Colher o que plantamos é só o que nos resta na condição imperfeita e frágil de ser humano.

Eu sempre digo as mesmas palavras, mas sinto que, infelizmente, precisarei repeti-las muitas vezes até morrer. Somos feitos da mesma matéria, e vamos voltar de onde viemos, sem saber como e nem o motivo. Por que então, teimamos em continuar nos aniquilando todas as manhãs?

Palestinos e israelitas. Negros e brancos. Pobres e ricos. Mulheres e homens. Motoristas de carros e ciclistas. Corruptos e honestos. Padres demagogos e cidadãos com deficiência inocentes. Éticos e falsos.
Somos tão pequenos que não temos o direito de brincarmos de 'senhor do planeta'. Ninguém é melhor do que ninguém. Nada é igual. Tudo é diferente. Esta é a riqueza das espécies.

Podem me chamar de guru, profetisa, maluca, utópica, charlatã, idiota, óbvia, simples demais, escritora de auto-ajuda, ou o que for. Não ligo! Digo o que penso, e penso o que sinto.
Dói ver que não evoluirmos, e ainda atropelamos ciclistas (nas ruas da cidade de São Paulo) com nossos monstruosos ônibus que transportam - como animais - trabalhadores todos os dias.
Choca ver que organismos internacionais - criados para tentar manter a paz no mundo - são completamente ignorados, e mais de 400 crianças inocentes morreram atacadas por mísseis e bombas na Faixa de Gaza.

Indigna saber que empresários corruptos brasileiros (julgados e condenados devido a provas irrefutáveis) são postos em liberdade por supostos juízes mais corruptos ainda.
Entristece ouvir o choro de um músico brasileiro tratado a socos no aeroporto da Espanha, depois de ser assaltado pelos próprios policiais espanhóis, que lhe quebraram dois dentes.
Anestesia saber que mais um cidadão com deficiência física doente (entre centenas, que vivem há mais de 50 anos em 'depósitos de pessoas') foi novamente e completamente, negligenciado em uma instituição (na cidade de Cotia, no estado de São Paulo) - a qual se diz defensora dos 'filhos de Deus' - e morreu sozinho na cama de um hospital frio.

Agora, o que mais angustia é não ter coragem de fazer algo para gritar CHEGA dentro da alma de quem se acha superior a outro ser humano! Palavras podem ser lidas ou ignoradas, assim como ações políticas, dentro ou fora dos órgãos públicos.

Tudo o que tenho são minhas idéias e palavras. Nunca vão me calar. Nem que eu tenha que sacrificar minha vida aos poucos, por não ter coragem de ser mártir e sair de cena logo.
Covarde é correr. Corajosa é ficar e viver 32 anos acreditando no AMOR. É o que faço enquanto espero a morte.

*Leandra Migotto Certeza é Escritora, Jornalista (MTb 40546), Colunista, Consultora em Inclusão (Caleidoscópio Comunicações), e Voluntária da Associação Brasileira de Osteogenesis Imperfecta - www.aboi.org.br BLOG Caleidoscópio: http://leandramigottocerteza.blogspot.com.

FLORES

Rosas e mais rosas...



Descrição da imagem: foto close (bem de perto) de vários buquês de rosas coloridas lindas: vermelhas, laranjas, rosas pinks, e rosas claras em vários formatos, de coração e bolinhas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Blindagem - espetáculo teatral quebra preconceitos?

"Estaríamos, tomados pelo absurdo, sem conseguir separar sonho e ficção de realidade?" - Alexandre Lavorini, ator da peça.

Por Leandra Migotto Certeza.

A montagem, que discute a autodefesa do ser humano ao se deparar com situações supostamente indesejadas, foi produzida pelos alunos do curso de teatro livre, do Núcleo de Artes Cênicas (NAC) no SESI Vila das Mercês, na cidade de São Paulo, em 2008.
Duas histórias principais, sub-cenas e vários musicais se entrelaçaram em um cenário limpo, pouca luz, e elementos simples. A peça começa com uma psicóloga e sua relação entre a vida profissional e pessoal, seu preparo para esclarecer dilemas dos pacientes, e a sua suposta 'não-reação' frente sua conturbada (?) vida sentimental.
Próxima cena: um executivo que, supostamente, possui uma vida exemplar, descobre que seu casamento pode estar em crise. Depois, uma garota nua, veste roupas amarradas em seu corpo - por meio de correntes - ao som frenético de uma música que fala sobre o que loucamente consumimos sem pensar.
Em seguida, uma secretária e seu patrão conversam, só por telefone, o expediente todo. Ele em cima de uma escada e ela no chão. Um funcionário pede um aumento e o chefe pergunta à secretária se deve conceder essa alegria ao pobre.
Ótima cena que saiu melhor no improviso do que o que estava no texto. Espero que o diretor incorpore a resposta da secretária, que dá força à cena, ao se sobressair ao seu chefe. Improviso criado tão bem pelos atores.
Depois vemos uma fanática religiosa, estilo evangélica da Igreja Universal do Reino de Deus, que grita palavras de ordem aos seus súditos. Quando menos se espera, um garoto se manifesta no meio da platéia em defesa das religiões. Será que ele é um ator? Está óbvio, mas o público chega a pensar que não.
Um segurança, de uma cidade do interior, quase retirou o ator do teatro por pensar que se tratava de um baderneiro. Em conversa com os atores, eu soube que esta cena foi criada para justificar sua antecessora, em que a pastora (como eles chamam a fanática religiosa), critica todas s religiões. "Depois desse dia, colocamos cada personagem (súditos da pastora) represetando uma religião, para não desrespeitarmos nenhuma, e resolvemos criar a figura do rapaz que assiste a peça e 'ameniza' a crítica", comentou um dos atores.
Outras cenas e mais musicais cheios de máscaras um pouco óbivias demais. Explicações desnecessárias sobre o que se vê em cena com muita propriedade e qualidade, pela boa atuação dos atores, luz e cenários corretos. Eterna discussão sobre o que vale mais (?): palavras ou imagens? Veja o que dois atores disseram sobre isso, na exclusiva entrevista que fiz com eles (texto abaixo).
Mas quando o público pensa que a peça ficará apenas no entrelaçamento de cenas de diálogos introspectivos, crítica sociais explícitas, intercaladas com musicais (um pouco exagerados), a maior surpresa surge. Uma virada que dá consistência à peça. O "Homem Cavalo", personagem mais bem construído, aparece em uma densa cena. Entrega total do ator. Vísceras. Sangue. Muito sangue!
Texto impecável, se não fosse os palavrões tristemente censurados, que deveriam jorrar da boca do ator, além dos movimentos bruscos que insinuam a terrível violência que cometida a uma criança. "O que nossos pais vão pensar de nós?", comentou um dos atores. Mas pouco atrapalha a força da cena e do personagem que fecha a peça com chave de ouro. Perdão no final? Era só o que não poderia acontecer. Mas, país cristão e católico não pode abandonar os valores morais. Que pena... A arte (e a vida) sofre com essa ceifada na cena, tão boa e forte. Não se fala de estupro com um crucifixo nas mãos!!!
Leandro Cotrim Dias, diretor da peça, conta que o grupo se empenhou para mostrar a proteção exagerada que cerca e até cega algumas personagens - facilmente encontradas na vida real - que demonstram não se comover com atitudes ásperas da sociedade. "Nesta montagem, a proposta foi pesquisar o uso de máscaras que incorporamos no nosso dia-a-dia. Porém, nem todas são visíveis. Esse trabalho tem a intenção de propor uma reflexão pessoal dos comportamentos inatos do ser humano, até então corriqueiros, mas que possui grande influência no seguimento de nossas vidas."

O espetáculo fez parte da mostra teatral “Cena Livre 2008”, projeto itinerante que destacou montagens produzidas pelos alunos de 17 NAC´s da entidade em 12 municípios do Estado: Araraquara, Birigüi, Franca, Itapetininga, Marília, Mauá, Osasco, Piracicaba, Rio Claro, Santo André, Santos e Sorocaba. Esteve em cartaz, de novembro à dezembro de 2008, no teatro do SESI Vila das Mercês, e em diversas cidades.

Entrevista com os atores.

Contem como foi o processo de construção dos personagens? Fizeram laboratórios? Estudaram outros textos? Quais? Assistiram aos espetáculos semelhantes ou com temáticas aproximadas? Improvisaram e/ou foram mais intuitivos?

Alexandre Lavorini: o processo foi um pouco limitado pelo curto tempo que tivemos. Foi corrido e agitado porque além de sermos um grupo de pesquisa, estar a todo tempo discutindo e formatando nosso texto, não somos uma equipe profissional; o que acaba dificultando a disponibilidade de tempo do grupo, já que a maioria tem outras atividades. No meu caso não foi muito diferente. Foi uma construção que eu diria meio que na “raça”. Os laboratórios foram mais introspectivos do que uma 'vivência' com os temas. Cheguei a assistir alguns filmes ou cenas com cegos; entre eles um muito bem representado por Al Paccino no filme; “Perfume de Mulher” para chegar até a proposta de um cego; meu primeiro personagem, o “Marido”, representado na cena da psicóloga. Tentei assistir também várias notícias sobre crueldades com crianças, jovens e velhinhos, assassinatos absurdos, coisas que me revoltavam sempre, tentando refletir sobre a idéia de a que ponto chegamos?. Tentei também entrar na mente de um “profeta louco”, inconformado com nossa situação atual e pregando o fim da humanidade. Neste caso foi um personagem bastante contemporâneo, por isso sempre improvisei o texto, conforme as atrocidades cometidas no nosso dia-a-dia.

Áureo Lourenço: enviei ao Leandro, diretor da peça do núcleo de Artes cênicas, várias crônicas, para ele analisar ver se encaixava na peça Blindagem. Ele escolheu uma delas, que se chama “O Velho Verruga”. Pediu que eu declamasse uma poesia. Fui para casa e durante uma semana vi a possibilidade de dar vida a um personagem, e comecei a observar os velhos do cotidiano. Durante o processo de criação, Leandro pediu que a personagem fosse um velho culto e cego, além da proposta da crônica, que era um fofoqueiro. Acresci na peça um texto de Carlos Drumond de Andrade, que falava sobre o interior, intitulado “Minha Cidade”. Quanto ao improviso, detesto, sou adepto da intuição.

Em que momento da temporada, perceberam um amadurecimento da atuação de vocês em cena? O que levou a esse amadurecimento?

Alexandre Lavorini: acho que isso se deu com a prática, até pelo curso do SESI ser um processo que se aprende muito na prática. Eu tentei me revoltar cada vez mais com as notícias abordadas, observei bastantes comportamentos de religiosos fanáticos, busquei sempre uma verdade maior no texto dos ‘indignados personagens’: “Profeta” e “Invasor”. Percebi que só transmitiria uma verdade no texto dos personagens protestantes se realmente eu acreditasse naquelas idéias. Isso serve também de parâmetro pros outros personagens, e foi um processo que ocorreu até mesmo quando estávamos em cartaz.

Áureo Lourenço: na estréia.

A preocupação com o entendimento do público foi maior do que com o que o espetáculo queria dizer? Por quê? Qual a resposta do público durante os debates após a peça? Contem detalhes dos comentários das pessoas que assistiram e como isso repercutiu na alma de cada um. Qual momento foi mais difícil e por quê?

Alexandre Lavorini: é complicado definir qual preocupação foi maior, creio que as duas existiram. Não tem como você não se preocupar com o entendimento da platéia uma vez que esta fazendo um espetáculo pra ela. Nós trabalhamos em cima de uma idéia totalmente livre, não tínhamos limitações temáticas para abordar, o que nos deu a possibilidade de fazer arte para o público, não para o SESI e nem pra ninguém específico. O espetáculo tem uma mistura de linguagens que deixa claro isso. Tem cenas que é de entendimento diferente até para nós mesmos. A resposta do público foi muito boa, melhor do que nós esperávamos, eu diria que superou nossas expectativas. Uma das questões mais citadas foi a do uso de máscaras, e como isso é necessário a todos nós; o que abriu bastante discussão de como podá-las; o que seria uma necessidade e o que seria um estremo. Tiveram também muitos comentários emotivos do tipo: “Vocês colocaram realmente o dedo na ferida, fizeram-nos chocar com a própria realidade a qual estamos acostumados a ver”. "O perdão da cena final da peça é algo surreal? Como pode uma pessoa ver o assassino de sua própria filha e perdoá-lo? Eu não perdoaria”. Ouvindo estes comentários, eu me pergunto: até que ponto somos capazes de perdoar? Talvez o perdão tenha até emocionado mais que a própria cena de crime. Isso tudo creio que repercutiu na alma do elenco, comentários que realmente te fazem pensar: “nossa realmente valeu a pena. Estamos fazendo as pessoas pensarem. Isso é importante e maravilhoso.

Áureo Lourenço: sim, a nossa preocupação maior foi com o público, pois o feedback é importante no momento da atuação. A resposta do povo foi excelente. É o espelho para nos vermos. No meu caso não ouvi nada de negativo, mas se tivesse ouvido, seria legal para aperfeiçoar.

O que foi mais importante em cena: explicar cada atuação por meio de textos longos e repetitivos ou mostrar cada fato concreto por meio das ações em cena? Vocês sentiram que no decorrer das apresentações aconteceram mudanças de comportamento e percepções do que era realmente mais significativo naquele momento? Por quê?

Alexandre Lavorini: Depende, tiveram cenas que o texto foi muito necessário, chocou, fez pensar, e teve lógica; como existiram cenas que os textos foram desnecessários, que as imagens foram maiores e que as ações disseram tudo. E cenas que as duas coisas foram muito necessárias. O que poderia ter sido podado de cada uma é algo talvez muito discutível ainda. Eu senti algumas mudanças sim, e acho que isso é natural, você aprende muito com o trabalho, principalmente na prática, e com os comentários do público que com certeza te fazem refletir bastante.

Áureo Lourenço: o meu texto não foi prolixo, usei o tempo necessário e para atuação, mas senti necessidade de acrescentar movimentos e palavras para enriquecimento da personagem.

Como foi a passagem de um curso de teatro para uma montagem semi-profissional? Em que momento sentiram que poderiam andar com as próprias pernas como atores dentro desse espetáculo e/ou em outros no futuro?

Alexandre Lavorini: pra mim foi tudo muito rápido e confuso, principalmente porque não tinha nenhuma experiência com teatro. Acho que realmente só senti mais confiança depois da estréia. Não sei se foi um pouco tarde ou se foi algo normal talvez pela insegurança, mas parece que a reposta do público e o apoio de algumas pessoas me fizeram acreditar mais no trabalho.

Áureo Lourenço: foi gratificante observar o nosso crescimento, a partir do crescimento da personagem. Senti que poderia atuar em outros espetáculos, quando recebi uma indicação para o teatro profissional, que ainda estou esperando a definição.

Quem de vocês sente na alma o chamado para continuar atuando e se profissionalizar? O que a arte representa na vida de cada um?

Alexandre Lavorini: não sei se é o chamado ou não (rsrs...), mas a vontade com certeza está impregnada na minha alma. Não diria me profissionalizar, acho que isso ainda é meio relativo, tenho vontade sim, de tirar meu DRT (registro profissional de ator), mas não fico sonhando com trabalhos profissionais. Fico sonhando com trabalhos como este; que faz as pessoas pensarem, que me faz pensar, refletir, me traz inquietações, que só me acrescentou pensamentos e coisas boas como pessoa, que recebi elogios e mudanças boas. Acho que isso que é arte pra mim. Antes desse trabalho ainda via a arte como admiração, hoje além de admirar vejo como uma maneira de se expressar, de crescer, de estudar, de se aproximar das pessoas. Este ano foi maravilhoso, e acho que resume e explica muito bem isso. Tivemos também em paralelo a este, um trabalho ‘profissional’, que foi a peça infantil que apresentamos nas “Ações Globais”, com patrocínio e cachê. Foi um trabalho totalmente comercial, e que com certeza não vai deixar tantas saudades quanto o espetáculo BLIN.DAGEM. Sei que pode ser impossível que eu só pegue trabalhos assim, mas talvez seja este o lado ruim da carreira de ator, mas é isso que me faz ter vontade de continuar. Que venham novos trabalhos (rsrs...).

Áureo Lourenço: eu sempre respirei teatro, mas deixei em segundo plano pelo mundo secular.

O que é mais importante no momento do teatro contemporâneo brasileiro: explicar o que se quer dizer ou mostrar em ações viscerais o que existe na arte e na vida? Qual a importância da metalinguagem nos textos dentro do teatro contemporâneo? Expliquem a importância da palavra mais descritiva em determinadas cenas do espetáculo?

Alexandre Lavorini: acho que pro teatro em si mostrar em ações viscerais e o que existe na arte. Mas quando se fala em teatro contemporâneo feito pra uma população contemporânea, isso tem que ser repensado e podado um pouco, uma vez que o teatro vem sofrendo uma grande crise de afastamento do público. Propomos também com a arte uma inclusão social de grande parte carente da população, o que nos faz abrir mão, às vezes, de uma linguagem mais artística e mesclá-la com uma linguagem acessível sem deixar de perder sua importância e beleza. Isso tudo foi bastante questionado em nosso trabalho, principalmente por pessoas com conteúdos técnicos, e mais próximos da arte. Mas se há uma crítica em cima de uma linguagem descritiva a questão é: será que o público entende tudo? Pelo que eu vi durante a temporada não, nem todo mundo entende. Talvez caberia abrir mão da palavra descritiva em espetáculos não tão polêmicos, em roteiros mais específicos, em propostas menos reflexivas, não direcionadas a todos os níveis sociais.

Áureo Lourenço: eu acredito que ambos têm sua importância. A palavra mais descritiva, tem importância para os incultos, ou aqueles que não conhecem teatro, ou que não estejam com a sua sensibilidade apurada.

Qual a escola de teatro e/ou linha que vocês estudaram mais e foram mais influenciados? Foi uma escola seguir o que o diretor elaborou ou vocês sentiram que o espetáculo devia ser mais livre para improvisações e/ou intuições?

Alexandre Lavorini: acho que acabei respondendo um pouco essa lá atrás. Como falei nosso diretor teve a total liberdade para trabalhar em cima do tema que quisesse. A idéia foi de trabalhar bastante em cima da linha de Bertold Brestch, um teatro com bastante distanciamentos, sempre jogando algo pro público, querendo dizer alguma coisa, fazendo a platéia pensar. Trabalhamos um pouco também com o teatro pós-moderno e aprendemos também o que é esse teatro, usando uma mistura de linguagens. Mas o texto da peça foi sempre muito vivo, até por tratar de nossa realidade. É um texto que mantém sua estrutura, mas permite mutações e improvisos.

Áureo Lourenço: Brecht e Laban e Stanilawsck. Quanto a improvisação dispenso, mas intuição é essencial.

Quais foram as maiores dificuldades encontradas: corresponder às expectativas do diretor, da platéia, do SESI, dos familiares, ou de vocês mesmo enquanto atores em formação?

Alexandre Lavorini: da platéia e de nós mesmos. Do SESI não tivemos essa pressão, estávamos livres para trabalhar o tema que quiséssemos. Já a relação com o diretor não teve tanto essa preocupação por ser um texto criado e discutido por nós mesmos. É como se estivéssemos no mesmo barco, criamos juntos, as expectativas surgiam em cada um naturalmente.

Áureo Lourenço: da família.

Quem terminou o curso se sentindo realizado e não pretende mais seguir carreira no teatro? Qual a importância que o curso teve em sua vida?

Alexandre Lavorini: eu me senti realizado, mas não tem nada a ver com não seguir mais a carreira. O curso e o trabalho desempenhado só me fez aproximar mais e ter mais vontade de continuar.

Áureo Lourenço: sim, totalmente realizado. Ao criar personagens, comecei a me enxergar melhor, a vida e as pessoas. Detonei muitos dogmas que me perseguiam. E se tiver oportunidade pretendo seguir carreira.

Quais os livros, os filmes, os espetáculos, as exposições de arte, os centros culturais, e as atividades artísticas que vocês costumam freqüentar? Quais as maiores influências que levaram para o espetáculo Blindagem? Como ela apareceu?

Alexandre Lavorini: é muito variado, gosto muito de livros e filmes que te fazem pensar, de exposições de física e meio ambiente por ser temas que gosto de estudar. E gosto muito também de teatro cômico e comédia inteligente. Acho que a comédia é verdadeira, e uma maneira sincera e inteligente de criticar e protestar. Mas as maiores influências para o espetáculo foi o estudo do ser, a auto-análise, a visão de comportamento social.

Áureo Lourenço: “Dom Quixote de La Mancha” de Cervantes; “O Homem que sabia Javanês” de Machado de Assis; A Bíblia; e outros. Filmes: “O Cheiro do ralo”, “O Auto da compadecida”, “O Homem de La Mancha”, e outros, além do Centro Cultural Vergueiro.

Como vocês avaliam as escolas de teatro contemporâneo no Brasil e na cidade de São Paulo? Elas refletem a realidade do cotidiano do mundo pós-moderno?

Alexandre Lavorini: essa eu não posso responder, pois não conheço propostas de outras escolas. Mas neste trabalho refletimos bastante a realidade do mundo pós-moderno, e aprendi um pouco também sobre teatro pós-moderno.

Áureo Lourenço: desconheço tais escolas.

Quais são os principais projetos que têm para a vida profissional de vocês? Onde pretende chegar com a arte e/ou com o teatro? Qual a importância da arte na vida pessoal de cada um?

Alexandre Lavorini: ainda estou meio longe dessas respostas, quero primeiro estudar bastante e participar dos projetos que surgirem agora neste começo.

Áureo Lourenço: o teatro tem grande importância na minha vida. Há uma satisfação em saber que posso alegrar uma pessoa, ou fazê-la refletir sobre o cotidiano. E ao mesmo tempo vejo a possibilidade de me profissionalizar.

Como vocês avaliam o processo de blindagem que a sociedade contemporânea vive no mundo e no Brasil? Qual o papel da arte: mudar, conscientizar, ou ser um espelho de tudo o que acontece no cotidiano? Quais são as maiores virtudes e os maiores defeitos do ser humano?

Alexandre Lavorini: primeiramente cheguei à conclusão que nenhum ser social vive sem blindagem e que todos precisam de proteção, isso é até uma força natural da espécie (instinto). Mas a questão que vivemos hoje é o excesso de proteção que até “cega” algumas pessoas. Precisamos abrir os olhos para esse excesso, precisamos rever o lado ‘humano social’ que está se deixando tomar pelo ‘robótico social’. Acho que propondo isso, a arte já está tentando mudar e conscientizar, e pra isso ela passa pelo processo de espelho da sociedade. É isso que pode fazer-nos enxergar certas coisas. Poderia citar milhares de qualidades e defeitos, mas resumindo creio que nossas maiores qualidades além de sentir e amar é a nossa inteligência, e os maiores defeito é a capacidade de usar tanta inteligência para praticar o mal.

Áureo Lourenço: a blindagem da sociedade contemporânea é mais do que essencial, sem ela nos tempos de hoje, nós estamos nu, estamos numa guerra sem arma. O papel que a peça Blindagem tem é de conscientizar, e se possível que as pessoas consigam descobrir quais são as blindagens benéficas e maléficas, podendo se enxergar em cada personagem.

Quais foram as cenas mais difíceis de serem feitas? O que doeu mais na alma? Vocês voltaram para casa chorando? Em que momento foi mais intenso viver cada personagem? O que foi mais fácil de dizer? Vocês se sentem anestesiados e blindados também, mesmo sendo estudantes de teatro? Quais as falas se encaixavam perfeitamente na boca de cada um? Qual cena vocês nunca gostariam de ter vivido na realidade? Por quê? A vida imita a arte ou a arte imita a vida?

Alexandre Lavorini: as cenas que retratam a crueldade de nossa sociedade atual, como a do personagem, "Homem Cavalo", por exemplo. E a cena do personagem, "Profeta", por ser muito polêmica e questionar a que ponto chega a maldade do ser humano foi muito intensa pra mim também. Foi difícil dizer que somos cúmplices de tal desgraça. O crime existe por nós existimos e crermos intensamente nele. Eu me sinto também, com certeza, anestesiado e blindado. São as conseqüências que tal situação nos causa. Mas tomar-se consciente disso eu acho que é um passo muito importante. Não gostaria, claro, de viver uma situação como a cena do homem cavalo. É algo que realmente ninguém quer passar e nos faz pensar. Pra mim isso tudo cabe na arte: a ficção e o absurdo também. Mas sempr me questiono: será que a vida está tentando imitar a arte nesse ponto? Até que ponto chegamos, então? O que somos capazes de fazer? O que, ou com o que contribuímos para que chegássemos a esse ponto? Estaríamos, tomados pelo absurdo, sem conseguir separar sonho e ficção de realidade?

Áureo Lourenço: a cena mais difícil de absorver foi a do personagem “Homem Cavalo”, pois havia uma preocupação com a igreja e seus dogmas, e com a palavra chula da personagem. Não gostaria de viver na realidade nenhum desses personagens. Eles estão na margem da sociedade ou não? Quantos como nos sentimos blindados ou anestesiados? Não sei, mas sentimos diferente, mais leve e solto.
Descrição da imagem: foto do personagem "Velho Veruga" em cena na peça Blindagem. Ele veste calças pretas sociais, camisa branca e colete azul bem clarinho. Usa boina branca, sapatos sociais marrom, maquilagem branca no rosto, e segura nas mãos uma vara de banbu com uma lanterna tipo chinesa (eu acho) vermelha e amarela acesa. Seus olhos tem lentes de contato brancas para imitar uma pessoa cega, personagem que representa na peça. Créditos: divulgação do SESI.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Política é tudo igual? Quem disse que não dá para fazer diferente?


Por Leandra Migotto Certeza.

Quem foi que disse que político é tudo igual? Ainda mais no Brasil, que infelizmente, é um dos países mais corruptos. Não, definitivamente, política não é tudo igual. Ainda existem aqueles que são honestos, éticos e principalmente, comprometidos com seus eleitores. São poucos, é verdade, mas podem ser muitos. Só depende de nós!

Dia 15 de dezembro de 2008, fui entrevistar, para o Caleidoscópio, a então vereadora da cidade de São Paulo, Soninha Francine (PPS). Foi uma aventura. Tive a 'brilhante' idéia de ir de ônibus para mostrar, através de imagens, o 'ralli' que um cidadão com deficiência física, infelizmente, ainda vive pelas ruas da cidade.

O carro do gabinete estava à minha disposição, ou caso eu tivesse dinheiro, poderia ter pego um táxi, afinal tenho uma deficiência rara nos ossos que me impossibilita andar sozinha sem a ajuda de uma cadeira de rodas e alguém para empurá-la. Mas como sou a maioria da população que está desempregada e não tem um carro, fiz questão de mostrar a dura realidade. Não compactuo com falsificações na mídia e nem em qualquer setor.

Eu, meu noivo Marcos (que tem poliomielite), Fernando e Anderson, funcionários do gabinete na época, aguardamos o ônibus adaptado que iria parar mais perto da Câmara Municipal de São Paulo, no centro da cidade. Caso conseguíssemos pegá-lo, ainda seria preciso andar um pouco pelas esburacadas ruas. Mas o pior ainda estava por vir. Ficamos mais de 1 hora e 30 minutos aguardando o tal ônibus adaptado que deveria passar pelo ponto do km 10 da Rodovia Raposo Tavares, mas nem sinal dele.

Passados 9 ônibus sem adaptação para pessoas com deficiência física, quase desistimos. O Anderson ligou diversas vezes para a Central de Atendimento 156, 'serviço' (ou melhor, des-serviço) da Prefeitura de São Paulo que deveria, ao menos, informar qual o número e o horário do ônibus adaptado que serviria para nós. Todas as ligações não foram completadas.

Cansados e atrasados, o Fernando sugeriu que pegássemos outro ônibus mesmo que tivéssemos que andar mais e utilizar mais um até nosso destino. Eu preferi mostrar à Soninha e a quem mais fosse divulgado o vídeo, que quando uma pessoa com deficiência não consegue ser transportada com dignidade, infelizmente, é obrigada a ser carregada e embarcar em um ônibus sem adaptação.

Foi o que fiz. O Fernando deve ter emagrecido uns 2 quilos, e o Anderson, uns 3 porque nossa 'aventura' estava só começando. Depois de ser carregada pelo Fê (olha a intimidade, menina!), fiquei sacolejando no meio dos passageiros que olhavam para mim como se eu fosse um ET. Sentada no banco podia cair a qualquer momento porque tenho 96 cm e meus pés obviamente não alcançam o chão. Minha cadeira de rodas foi amassada entre meus pés e os ferros da catraca. Se meu noivo não me segurasse o trajeto inteiro, me abraçando por trás, teria virado tapete para os passageiros.

O cobrador e o motorista ofereceram ajuda, mas com tanto medo que estavam só iriam atrapalhar. Acho que o próprio Fernando nem sabia como tinha conseguido me colocar dentro do ônibus. Acabei com as costas do menino franzino (desculpa aí Fê), com meus 32 quilos. Sinceramente, evito ao máximo fazer essas estripulias porque posso quebrar vários ossinhos, além da terrível dor nas costas que fico durante dias depois de andar de ônibus.

Mas tudo pelo 'jornalismo verdade' (que horror! Se é jornalismo, deveria ser verdade...). Detesto e abomino o preconceito, o sensacionalismo e a pieguice com que as pessoas com deficiência ainda são tratadas pela mídia. "Coitada. Ela vai pra onde?". "Nossa, porque que ela não fica na AACD?". "Essa menina vai cair". "Leandra é uma heroína, trabalha todos os dias de ônibus mesmo em sua cadeira de rodas". "Vejam que lição de vida". "Jornalista especial anda de ônibus pelas ruas. É um grande exemplo de força de vontade". "Deficiente enfrenta a vida com coragem". "Ajudem quem precisa mais do que você".

Sou uma cidadã com deficiência física que pago meus impostos, me formei em Comunicação Social, sempre trabalhei como jornalista, sou consumidora, tento andar pela cidade, estou noiva, viajo, mas não gosto que me tratem como heroína ou coitadinha. Não sou melhor nem pior do que ninguém. Tenho defeitos e qualidades. Sinto dor e prazer.

Vivo intensamente, como todas as pessoas. Ter deficiência física faz parte da minha condição no mundo, assim como nascer com olhos castanhos, calçar número 30, ter cabelos lisos, não poder engravidar, ter um irmão sem deficiência, gostar de usar vestido, nadar desde os 14 anos, e tantas outras características.

Trabalho há 9 anos, remunerada e/ou voluntariamente, sendo que durante 2 anos andei bastante pela cidade fazendo reportagens. Mas, infelizmente, só de táxi porque nunca podia contar com a pontualidade dos pouquíssimos ônibus adaptados. O metrô é bem mais acessível, mas ainda precisa melhorar muito também, viu senhor Governador! Todos os governantes precisam entender que a grande maioria das pessoas com deficiência é independente e não precisam de ajuda 24 horas.

É claro que ser solidário é maravilhoso, com pessoas com ou sem deficiência. Mas o que é preciso fazer é adaptar absolutamente cada pedacinho da cidade para que todas as pessoas com deficiência física, auditiva, visual, múltipla, intelectual e surdocegueira, ou sem deficiência consigam transitar e fazer uso de todos os serviços que ela oferece. Afinal, na hora de pagarem seus impostos as pessoas com deficiência não encontram dificuldades, né? Suas obrigações são cumpridas, por isso, seus direitos precisam ser rigorosamente respeitados!

Bom, continuando nossa aventura, o ônibus desceu bem longe da Câmara. Precisamos andar mais de 4 quarteirões (ou mais, não me recordo ao certo) bem grandes. Só consegui porque fui empurrada pelo Fernando, que agora deve ter perdido mais uns 2 quilos. Desse jeito o menino vai sumir!!

Durante o trajeto observei que todas as calçadas são esburacadas, e existem pouquíssimas guias rebaixadas e ainda incorretamente. Mais uma vez o Anderson ofereceu seu tentador carro, confortável e com ar condicionado em pleno verão. Eu resisti bravamente e meti o Fernando e meu noivo numa fria, ou melhor, numa super quente! O esperto do Anderson foi de carro para nos socorrer em caso de emergência.

Fome? Os meninos queriam me matar quando chegamos, mas a culpa é deles que não me disseram que não haviam almoçado. Eu e meu noivo (que não somos bobos) enchemos a pança bem cedo (risos). Mas, nessa altura do campeonato, estávamos com o estômago no pé (o melhor nas rodas e nas muletas). Imagine se eu precisasse cumprir rigorosamente o horário... Cheguei às 15 horas e 30 minutos da tarde em uma entrevista que estava marcada para 14 horas. Ainda bem que a Soninha atrasou.

Moto com cara de bicicleta, capacete, livros e mais livros, papéis e mais papéis, idéias, camiseta e calça jeans.

Entrei na Câmara mais uma vez. Quantas brigas, discussões, encontros, seminários, cadeiras de rodas pelos corredores, entrevistas, e nada de concreto já passei por lá? Agora foi completamente diferente. Por incrível que pareça, e espero que não sinta mais isso, parecíamos marcianos em terra de corruptos.

Juro que é duro acreditar em 99% dos vereadores. Pra mim só salva a Soninha. Não é porque eu gosto dela. Mas é uma das únicas que sabe o que diz e age com honestidade e humildade. Eu assisto a TV Câmara e leio muito. Acredito nos políticos, mas precisamos renovar a 'frota' toda!!!

Subi o elevador acessível (?) e nem me dei conta da dificuldade que encontraria se fosse cega. Como saber em qual elevador entrar se o moderno sistema tecnológico não diz o número em voz alta? Só a Soninha para me atinar para esta falha. Quem é da casa vê os defeitos. E olha que eu sou uma jornalista detalhista...

Pra entrar no gabinete foi tranqüilo, mas para ir até a sala da Soninha nem tanto. Um safado de um degrau bem no meio só atrapalha o caminho. Dizem que é porque tem um banheiro dentro da sala. Que loucura!

Esperei alguns minutos conversando com a equipe dela. Adorei o clima do gabinete. Mesas sem repartições; papéis e idéias por todos os lados; desenhos coloridos nas paredes; imagens budistas; e o mais importante: pessoas DIFERENTES.

Seres humanos de verdade. Não aquelas bonecas americanas maquiadas ao extremo, ou aqueles chefões da máfia de terno e gravata. Pena que o tempo passou tão rápido que nem consegui conversar com todos. Pareceram muito simpáticos. Um clima muito agradável apesar da correria do final de ano e do mandato.

A Soninha chegou e me cumprimentou. Disse que lembrava de mim da passeata pela inclusão no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro), quando nos encontramos na Avenida Paulista, em 2005. Fomos para sua sala. E o danado do Fernando filmando tudo...

A conversa foi bem informal. Confesso que fiquei nervosa ao lado de quem admiro muito. Acompanhei seu mandato pela mídia, porque não consegui ir até a Câmara antes, mas sempre concordei com suas idéias e visão de mundo.

Tantos assuntos para falar, mas como sempre, caio no mesmo tema: deficiência. Não adianta, enquanto 15% da população brasileira ainda continuar completamente à margem da sociedade, eu não vou dormir tranqüila.

Sou totalmente à favor das ciclovias; reciclagem do lixo; consumo consciente e ecológico; desburocratização da política; transparência nos governos; punição para qualquer discriminação por orientação sexual, etnia, idade ou gênero; educação sexual nas escolas; entre tantos outros fundamentais temas, mas como as pessoas com deficiência ainda são pouco ouvidas até mesmo entre as ONGs, imaginem entre os governos...

Começamos falando do que foi feito em seu mandato para garantir o exercício da cidadania das pessoas com deficiência. A então vereadora afirmou a importância da criação e execução de políticas públicas em que essas pessoas sejam protagonistas e não coitadinhos!

Para discutir essas políticas foi criado, em seu mandato, o Conselho Consultivo sobre Acessibilidade que se reuniu somente em 2005 e 2006. Questionei quais foram as ações do conselho. Soninha respondeu que muitas idéias, infelizmente, não foram para frente como ela queria. Mas uma emenda no Orçamento Municipal garantiu uma verba de R$ 50 mil ao Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, que segundo Soninha não tinha nem papel e impressora. “Como eles podiam trabalhar? Isso é um absurdo”.

Além disso, ações de guerrilha (como Soninha as chamou) marcaram, com um ‘grafite-símbolo’, alguns espaços urbanos que dificultam a circulação de pessoas com deficiência física, como guias não rebaixadas nas ruas. Devido as dificuldades, não consigo circular muito pela cidade, por isso eu não vi estas marcações, mas espero que os políticos tenham visto.

Sobre as pessoas com deficiência visual, Soninha disse que sua filha teve a idéia de criarem dispositivos eletrônicos com as descrições sonoras das plantas, também nos parques que já são acessíveis fisicamente e tem placas em braille, como o Estadual do Jaraguá.

Soninha tem consciência da necessidade de autonomia das pessoas com deficiência pelos espaços culturais das cidades. Visitou a abertura de exposição de arte em que as obras foram descritas para pessoas cegas. "Adorei o Instituto Rodrigo Mendes. É uma escola de arte. Não importa como as pessoas, com deficiência ou não vão pintar: como a boca, com os pés ou com as mãos..."

Questionada principalmente sobre a precária condição dos transportes e das calçadas, a então vereadora se indignou com a minha 'saga' para chegar até a Câmara, e disse que a prioridade é sem dúvida proporcionar um sistema de transporte público totalmente acessível.

Soninha também não concorda com os corredores de ônibus adaptados somente em determinadas regiões, onde está a maioria das instituições voltadas à reabilitação das pessoas com deficiência. “As pessoas têm o direito de andar por todos os lugares. Cem por centro da frota de ônibus de ser acessível”.

Nem precisa dizer que eu quase pulei da cadeira! Minha maior luta (e acho que maior até do que eu) é pela acessibilidade completa nos transportes públicos. Quase fui presa e perdi o emprego por ter entrado escondida em um treinamento de motoristas de ônibus, que foi feito sem a presença de pessoas com deficiência, há mais de 4 anos atrás.

Soninha afirmou que sem transporte não adianta criar políticas públicas que incentivam a inclusão ao trabalho, a educação, ao lazer ou esporte. "Como as pessoas vão chegar até os lugares".

Eu lembrei que acessibilidade não é apenas física, mas também comunicacional. Soninha disse que vai tornar seus blogs acessíveis e sempre irá prestar atenção quando acessar um site se ele pode ser lido por todas as pessoas, principalmente as cegas. Admitiu que falhou ao criar o site do seu gabinete sem acessibilidade virtual.

Quando questionada novamente sobre as calçadas, Soninha explicou que não criou um projeto de lei específico porque a vereadora Mara Gabrille (PSDB) já tinha aprovado um muito bom. “Não podemos reinventar a roda”. Soninha não se preocupa nem um pouco em fazer propaganda só para aparecer. Faz questão de dizer que os projetos são de sua equipe, e dá crédito a todos os eleitores que os sugerem.

Depois me contou que batalhou para que a frota de ônibus acessíveis fosse renovada, o que segundo ela, aconteceu em partes. Eu disse que nem em partes aconteceu, e voltei a insistir na importância da acessibilidade nos transportes públicos.

Soninha me contou, em primeira mão, que o Fernando e sua equipe fizeram um documentário sobre o sistema de transporte adaptado, ATENDE, que na verdade, segundo depoimentos dos usuários, não atende como deveria. E que agora tinham documentado a minha aventura para chegar de ônibus até à Câmara.

Mas até esta crônica ser escrita não soube mais do vídeo. Espero que muitas pessoas possam vê-lo em breve em meu blog, junto com o documentário sobre o ATENDE. Pode ser Fernando?

Que pena que meia hora ‘precisou’ virar 15 minutos, e que eles voaram. Ficaria horas conversando com a Soninha. Ela é muito consciente sobre a cidadania das pessoas com deficiência, sua autonomia e protagonismo. Só precisa participar mais dos movimentos sociais coordenados por pessoas com deficiência e incluir o tema - de forma transversal - em todos os demais pelos quais milita tanto, seja na política ou entre as ONGs.

A propósito, esse foi um dos últimos assuntos que conversamos. A necessidade urgente da união das ONGs e movimentos sociais umas nas causas das outras. Afinal todos lutam pelos mesmos objetivos: respeito às diferenças!!!

Para finalizar, fiquem com algumas palavras da Soninha sobre o que significou o seu mandato: Entrei e saio daqui convicta que de que não "vale tudo" para ganhar. Que política não é jogo de War, partido não é torcida organizada e que a gente não precisa abandonar tudo o que acreditou a vida toda porque alguém disse que "é assim" e não dá para fazer de outro jeito. Pensa um pouco: quem disse que não dá? Dá sim.


Descrição da imagem: cartum do Larte. Soninha se equilibrando em uma bicicleta de uma roda só sobre uma corda. Com os braços estendidos, faz malabarismo com desenhos de ônibus, empresas, pessoas, papéis, ela mesma sentada em uma mesa, fábricas, árvores e outros objetos. Olha pra cima com a lígua pra fora e os olhos atentos em tudo ao mesmo tempo.



Aniversário!


32 anos de vida. Eu amo viver. Não sei de onde brota essa gana toda. Gosto do ar, do sol, da natureza, mas principalmente das pessoas. Estou leve, como sempre quis. Por mais que, eu mesma e os outros, ainda coloquem pedras sobre meu caminho.
Hoje estou e nada mais. Desconforto, só por ainda me importar com o que pensam e falam de mim. Invejam minha felicidade e desejam ser eu. O que todos precisam saber é que a felicidade nasce junto com a tristeza, não importa em qual corpo ou alma. Cabe a cada um escolher como quer viver.
Choro, me desespero, entro em parafuso. Mas não sei porque levanto e continuo o caminho que colocaram na minha frente. Ele é único, assim como minha vida. E a de todos nós. Escolher a dor e a tristeza é uma boa opção para quem gosta delas. Quem sou eu para julgar alguém...
É isso, dia 08 de janeiro de 2009, fiz 32 anos. Ganhei flores, chocolate, roupas e perfumes. Mas o fundamental 'nasceu' comigo: amor, da familia, amigos e da minha alma gêmea. Sou muito FELIZ.
Legenda das fotos: Imagem do lado esquerdo: eu e meu amor tomando choop no shopping Butantã, felizes, sorindo e com os copos entrelaçados. Estou com uma blusa de linha azul mescla, que minha avó querida fez à mão, especialmente para mim. Imagem do lado direito: eu sentada em minha cama com os presentes que ganhei, sorindo vestindo minha blusa vermelha, também de linha feita à mão por minha avó.

Férias em Ilha Comprida

Sol. Amor. Paixão. Amizade. Intensidade. Os lindos dias em que estive ao lado do meu grande amor e sua família do coração foram muito importantes para mim.

Vivi intensamente cada momento, sem pensar no amanhã. Foi um mergulho no simples do cotidiano. Talvez, o mais significativo tempo. Tempo de deixar o tempo passar sozinho, rei da natureza humana.
Mas outro tempo. Mais maduro. Tranquilo. Sem medos. Inteira. MULHER.
A felicidade é não aparecer de máscaras o tempo todo. Ser simples é tão mais gostoso. Na verdade, pra mim, agora é o único sentido. Não me vejo mais em discussões preconceituosas, festas falsas, conversas prepotentes.
Sempre serei dupla. Amor e ódio. Bem e mal. Teoria e prática. Mas hoje vivo mais perto da simplicidade, nesta linha tênue entre a subjetividade e o feijão com arroz.
Também quebrei tabus. Desfiz preconceitos. E o mais importante, me desnudei. Sem roupas que me mantiam supostamente protegidas das minhas fraquezas.
Descobri que não existem dois mundos (mesmo que ainda existam pessoas que insistam em viver em um deles). Falo comigo mesma e ainda de forma poética e truncada (?), mas acho que tenho que passar por esse vômito para aflorar o que sou hoje: mais HUMANA.
Legenda da foto: eu e meu amor Marcos, na praia de Ilha Comprida (litoral sul de São Paulo), nos beijando na boca. Eu de pé e ele ajoelhado ao meu lado. Estou de biquini azul, e ele de calção colorido. Nossos cabelos estão revoltos com o vento.