sexta-feira, 5 de maio de 2023

"LIBERDADE DE IMPRENSA SEM EXCLUSÃO DE JORNALISTAS COM DEFICIÊNCIA!" - FONDO AL - Maio de 2023

Link original do artigo em português: https://fondoaccionurgente.org.co/es/noticias/libertad-de-prensa-sin-exclusion-de-periodistas-con-discapacidad/

Link original do artigo em espanhol:

https://fondoaccionurgente.org.co/es/noticias/libertad-de-prensa-sin-exclusion-de-periodistas-con-discapacidad/


3 de maio é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Como falar em liberdade se jornalistas com deficiência visual ou auditiva, por exemplo, não têm garantidos seus direitos de acessibilidade à comunicação, como audiodescrição e língua de sinais em seus próprios ambientes de trabalho? Como falar em liberdade de imprensa se jornalistas com deficiência física não podem fazer reportagens de campo nas ruas da cidade por serem totalmente inacessíveis para quem usa cadeira de rodas ou muletas?

E como falar de liberdade de imprensa se o capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência) está presente em todas as mídias impressas, televisivas, radiofônicas e nas plataformas digitais? Ou se as políticas afirmativas de inserção de profissionais com deficiência nas empresas de comunicação não forem cumpridas? Ou se as próprias empresas de comunicação brasileiras não cumprirem as leis que garantem a acessibilidade em seus programas de TV ou jornais virtuais, por meio de legendas, audiodescrição e sites compatíveis com leitores de tela para cegos?

Como falar de liberdade de imprensa no Brasil, se o lema do movimento social e político das pessoas com deficiência, conhecido como "nada sobre nós sem nós", ainda não é uma realidade, já que os jornalistas com deficiência não têm acesso ao mercado de trabalho e ainda recebem tratamento condescendente, assistencialista, estigmatizado e preconceituoso?

Apesar das pouquíssimas participações de jornalistas com deficiência na mídia brasileira, ainda há uma necessidade constante de lutar pela igualdade de oportunidades, garantia de representatividade e espaço de fala. Infelizmente, a situação não é diferente do início da minha carreira. Lembro que quando contava a amigos e familiares que sonhava desde criança em ser jornalista, aparecer na televisão e viajar o mundo para conhecer pessoas e lugares, não me animava a seguir com meus planos. Tudo o que me disseram (e eu acreditei) foi que eu tinha que trabalhar sentado, atrás de uma mesa, porque seria mais fácil, devido à minha dificuldade de andar e à minha aparência. Além disso, quando me formei em Comunicação Social, em 1998, as oportunidades de emprego em redações de jornal ou revista eram mínimas, pela discriminação, pelo desconhecimento de que existiam jornalistas qualificados com deficiência e, principalmente, pelas necessidades de acessibilidade a locais e meios de transporte. Então, um dos caminhos que encontrei para iniciar minha carreira foi escrever para revistas e sites segmentados sobre questões de pessoas com deficiência, suas famílias e algumas ONGs e/ou empresas que (muito timidamente) iniciaram projetos de responsabilidade social. Porém, mesmo dentro dessas redações eu encontrei muita discriminação! Um dos caminhos que encontrei para iniciar minha carreira foi escrever para revistas e sites segmentados sobre questões de pessoas com deficiência, suas famílias e algumas ONGs e/ou empresas que (muito timidamente) iniciaram projetos de responsabilidade social. Porém, mesmo dentro dessas redações eu encontrei muita discriminação! Um dos caminhos que encontrei para iniciar minha carreira foi escrever para revistas e sites segmentados sobre questões de pessoas com deficiência, suas famílias e algumas ONGs e/ou empresas que (muito timidamente) iniciaram projetos de responsabilidade social. Porém, mesmo dentro dessas redações eu encontrei muita discriminação!

O espanto, a desconfiança e, principalmente, a desconfiança em confirmar minha participação em eventos da área social, sempre estiveram presentes ao longo da minha carreira até hoje e em 99% dos lugares por onde passei. Quando eu ia cobrir um evento, por exemplo, fazia um pré-cadastro nas assessorias de imprensa sem avisar que tinha alguma deficiência física. Fiz de propósito porque queria ver a reação das pessoas ao encontrar um jornalista na minha condição: 96 cm de altura, usando muletas ou cadeira de rodas (dependendo da extensão do local onde eu iria). Assim que cheguei aos auditórios muitas pessoas falaram: "cadê a jornalista que disse que vinha?" Quando respondi que era o jornalista,

Na minha época era muito difícil demonstrar competência, e quanto às pessoas com deficiência que hoje trabalham como jornalistas, considero importante reforçar que grande parte da mídia ainda se apega a padrões estéticos de beleza plástica incompatíveis com a realidade. Por outro lado, isso não ocorre apenas com deficiência, pois hoje vemos pouca participação de jornalistas negros, orientais, de etnias diversas, ou com qualquer outra característica que evidencie as diferenças entre os seres humanos, ocupando espaços de destaque, exercendo a função de apresentadores, e/ou mostrando seus rostos e corpos. Até bem pouco tempo, muitas emissoras de televisão também não contratavam pessoas que usavam óculos ou tinham cabelos crespos! Acredito que o primeiro obstáculo para a inserção do jornalista com deficiência no mercado de trabalho é o empregador que ainda não acredita no potencial do jornalista com deficiência; e empresas de comunicação que alegam não ter condições de investir em obras para garantir a acessibilidade e descumprir a legislação vigente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 15% da população mundial, ou um bilhão de pessoas, tem alguma condição incapacitante. São 45 milhões de pessoas, 23,9% da população brasileira. Não há números oficiais sobre a quantidade de profissionais de mídia com deficiência que atuam no Brasil, o que ainda se confirma é a pouquíssima visibilidade daqueles que conseguiram desbloquear um mercado ainda tão hostil e preconceituoso com esforço, determinação, sofrimento, humilhação e coragem. Não deveria ser assim, afinal, ninguém está no mundo para sofrer simplesmente por existir e poder viver com segurança, conforto e autonomia, sendo respeitado na medida de suas diferenças e com pleno acesso aos recursos necessários para garantir seu desempenho total. profissional!

Presto minha mais sincera e comovente homenagem aos profissionais da comunicação que percorreram um árduo caminho antes de minha carreira. Destaco aqui apenas algumas, como: Samara Andresa del Monte, jornalista com deficiência física (paralisia cerebral) que criou, em 2000, uma das primeiras revistas impressas voltadas para questões de inclusão; Kátia Fonseca, jornalista com deficiência física (nanismo) que começou a carreira em 1990 em um jornal local do litoral paulista e abriu caminho; e a Ana Beatriz Pierre Paiva, a primeira jovem com Síndrome de Down que entrevistei quando iniciei minha carreira. Bia foi apresentadora e repórter de um programa de televisão online e escreveu um livro junto com outras colegas com deficiência intelectual. O livro tem um título interessante e necessário para conscientizar aqueles que ainda não acreditam no potencial dos profissionais com deficiência no mundo: “Muda a tua fala que eu mudo a minha audição”. Acrescento: “Mude também o seu pensar e agir para garantir a inclusão plena dos profissionais com deficiência na imprensa que eu – como jornalista com deficiência – mudo minha crítica à mídia com formação!”.

Referências:


Jornalista analisa como pessoas com deficiência são retratadas pela mídia (vídeo em português):
https://www.youtube.com/watch?v=jCjp0Dik7Rw&t=3s

Representação de pessoas com deficiência na mídia (vídeo em português):
https://www.youtube.com/watch?v=kka0uevgHx8

Jornalistas com deficiência compartilham suas histórias (reportagem em inglês, espanhol, francês, português):
https://ijnet.org/pt-br/story/jornalistas-com-defici%C3%AAncia-compartilham-suas-hist%C3% b3rias

Jornalistas com deficiência quebram paradigmas nas redações latino-americanas (reportagem em inglês, espanhol, francês, português):

https://latamjournalismreview.org/pt-br/articles/jornalistas-com-deficiencia-quebram-paradigmas-nas-redacoes-latino-americanas-mas-ainda-existem-barreiras-para-que-exercam-o-jornalismo/


Autora do artigo: Leandra Migotto. Certeza é uma brasileira com deficiência física nascida em 1977. É poetisa, escritora, editora, jornalista e graduada em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi. Formou-se nos Cursos Livres de Jornalismo Literário-Narrativas Biográficas e Narrativas de Heróis e Heroínas da Escola EPL-Edvaldo Pereira Lima (Universidade de São Paulo). Ele é ativista pelos direitos humanos das pessoas com deficiência desde 1998; é colunista do Observatório Internacional da Sexualidade das Pessoas com Deficiência (Peru); e professora do curso “Diversidade: Aspectos da Deficiência na Prática” do Instituto de Psicologia Sedes Sapientiae (SP). Também coordena o "Coletivo Girasol-Protagonismo dos Escritores com Deficiência", edição de biografias de mulheres com deficiência por meio da Coleção Ventanas. Leandra foi premiada pela Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade no Peru em 2007, por seu projeto: "Fantasias Caleidoscópicas"; e premiada pela organização não governamental Sociedade para Todos na Colômbia em 2003, por sua crônica sobre Educação Inclusiva no "Concurso de Jornalismo e Comunicação". Sua publicação mais recente foi o artigo: "Feminismos plurais não podem excluir mulheres com deficiência" na Revista Organicom da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2023. Perfil profissional: https://www.linkin.com/ in/leandra-migotto-certeza-00a12141/ Leandra foi premiada pela Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade no Peru em 2007, por seu projeto: "Fantasias Caleidoscópicas"; e premiada pela organização não governamental Sociedade para Todos na Colômbia em 2003, por sua crônica sobre Educação Inclusiva no "Concurso de Jornalismo e Comunicação". Sua publicação mais recente foi o artigo: "Feminismos plurais não podem excluir mulheres com deficiência" na Revista Organicom da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2023. Perfil profissional: https://www.linkin.com/ in/leandra-migotto-certeza-00a12141/ Leandra foi premiada pela Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade no Peru em 2007, por seu projeto: "Fantasias Caleidoscópicas"; e premiada pela organização não governamental Sociedade para Todos na Colômbia em 2003, por sua crônica sobre Educação Inclusiva no "Concurso de Jornalismo e Comunicação". Sua publicação mais recente foi o artigo: "Feminismos plurais não podem excluir mulheres com deficiência" na Revista Organicom da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2023. Perfil profissional: https://www.linkin.com/ in/leandra-migotto-certeza-00a12141/ e premiada pela organização não governamental Sociedade para Todos na Colômbia em 2003, por sua crônica sobre Educação Inclusiva no "Concurso de Jornalismo e Comunicação". Sua publicação mais recente foi o artigo: "Feminismos plurais não podem excluir mulheres com deficiência" na Revista Organicom da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2023. Perfil profissional: https://www.linkin.com/ in/leandra-migotto-certeza-00a12141/ e premiada pela organização não governamental Sociedade para Todos na Colômbia em 2003, por sua crônica sobre Educação Inclusiva no "Concurso de Jornalismo e Comunicação". Sua publicação mais recente foi o artigo: "Feminismos plurais não podem excluir mulheres com deficiência" na Revista Organicom da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2023. Perfil profissional: https://www.linkin.com/ in/leandra-migotto-certeza-00a12141/