sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A cada olha humano

Raio de sol na cortina entreaberta. Buzina de ônibus. Despertador. Pálpebras se abrem. Logo se fecham. Sirene de ambulância. No fundo da cabeça, chefe grita. Amanhece. A rotina começa.
Dar de comer ao gato, mas não esquecer de passar perto daquela casa e ver se o menino sarou da virose e conseguiu ganhar peso (isso não faz a menor diferença para o IBOPE). Medo? Todo muito tem. Mas é diferente de ser só um sentimento (o que já é o bastante...). Difícil é não ter forças nem para guiá-lo para um quarto escuro.
Sente o corpo espreguiçar, os músculos contraem tamanha é a dor da lembrança das moscas invadindo a boca da menina no meio de tanto ranho e restos de terra. Garganta seca ao bocejar. Imagem de um córrego lamacento invade seu percoço. Vontade de beber água fresca. Diferente do café da dona Maria requentado na panela encardida.
Vira para o lado da cama. Descobre o pé esquerdo e o lençol começa a escorregar. Arrepio de frio ou preguiça de sair da cama? Frio? Será que madeira molhada proteje o pé descalço dos primeiros passos do bebê?
Leandra Migotto Certeza - exercício do curso de roteiro para documentário do SENAC feito em 10/07/01 e editado 26/09/08. Proposta: partindo de uma imagem de Sebastião Salgado escrever um texto livre.