sexta-feira, 31 de julho de 2015

Mulheres com Osteogenesis Imperfecta

Atualizado em 20/04/2013 às 20:58
MONTIVIDIU DO NORTE

A mulher que tem ossos de ‘vidro’

Doença rara impediu que Cidinha tivesse uma vida ‘normal’, mas não foi suficiente para barrar a realização dos seus sonhos

Anderson Alcântara
Cidinha mostra CD e DVD gravados por ela: celebrações de amor à vida
Cidinha mostra CD e DVD gravados por ela: celebrações de amor à vida
Há quem não acredita em milagres. Há quem acredita que tudo é milagre. E há pessoas como a cantora Cidinha Silva, 31 anos, que é o próprio milagre. Maria Aparecida da Silva, por conta de uma incompatibilidade sanguínea de seus pais, nasceu portadora de osteogenesis imperfecta, aquela doença que a pessoa tem os ossos de "vidro", ou seja, quebram com facilidade.
Cidinha teve sua primeira fratura aos 20 dias de nascida. Até os 13 anos, ela contabilizou mais de 100 fraturas. Vivia o tempo todo engessada. Isso inibiu seu crescimento. Ela mede apenas 1m04 de altura. Cidinha conta que desenvolveu sérios traumas psicológicos por conta da anomalia. "Pensei em tirar a própria vida várias vezes. Ser diferente não é fácil. Eu tinha muito medo de não ser aceita na escola, na sociedade, não arranjar trabalho, não ter uma vida normal", conta.
A vida era dura, ao contrário de seus frágeis ossos. Um dia, segundo ela, quando ainda morava em Formoso, foi a uma igreja evangélica e sua vida mudou para sempre. Um pastor (Edmilson, ela se recorda) orou por ela e o que era quebradiço tornou-se sólido. "Deus me curou. Meu irmão Gaspar, que tinha o mesmo problema, também alcançou o milagre. Ele não andava, passou a andar. Eu, que vivia em cadeira de rodas, consegui me apoiar nas próprias pernas e caminhar. Desde então minha vida tomou novo rumo. Eu tinha 13 anos na época", lembra.
"Aceitei Jesus e passei a viver um milagre", explica. "Meu emocional também foi reestabelecido. Perdi a timidez e passei a cantar. Através da música pude ser notada e respeitada", completa.
O tempo passou e as fraturas, tão comuns como respirar, cessaram. Apenas seu crescimento ficou estagnado. Mas a vida pôde ser retomada e novos horizontes foram sendo conquistados pela pequena grande mulher. "Meus sonhos começaram a ser realizados", vibra.
O primeiro sonho a se tornar real foi conseguir se formar. Pela UEG de Porangatu, graduou-se em História. Diploma na mão, foi à luta, começou a virar o jogo da vida em seu favor. Elegeu-se conselheira tutelar em 2007, na cidade de Formoso, onde morava. Um ano depois, abandona o posto por ter sido aprovada em um concurso público para lecionar em Montividiu do Norte. Encarou a sala de aula e fez bonito. Mesmo com suas limitações físicas, se destacou e conquistou o respeito e a admiração dos alunos e colegas professores.
O segundo sonho era ter um veículo para facilitar sua locomoção. "Muita gente duvidava que eu seria capaz de trabalhar, comprar minhas coisas, ter meu carro. Mas graças a Deus estou mostrando que posso", desabafa. Ela não só adquiriu seu carro, como conseguiu tirar sua CNH. "Sou uma motorista habilitada", gaba-se.
MAIS SONHOS
Cidinha Silva não parava de sonhar. E não parava de correr atrás da realização. Cantar apenas não bastava. Era preciso levar sua arte a mais pessoas. Conseguiu: gravou um CD e uma DVD, intitulados "Sou Um Milagre". O álbum, composto de dez faixas, tem quatro canções de sua própria autoria, inclusive a faixa-título. "Foi um grande presente que Deus me deu", revela.
O CD e o DVD alcançaram boa acolhida no seio evangélico. Na divulgação de seu trabalho, Cidinha cantou em dezenas de cidades de três estados: Goiás, Tocantins e Rio de Janeiro. "As pessoas ficam maravilhadas com o milagre de Deus na minha vida", afirma. Mas seu sucesso não fica restrito ao fato de suas características físicas. Cidinha é dona de uma voz muito afinada e poderosa. Possui muitos recursos vocais, aperfeiçoados por horas diárias de ensaio e dedicação.
Ela quer mais: "Quero gravar o segundo CD e viajar todo o Brasil, cantando", compartilha a cantora de fala mansa e pausada.
O último grande sonho realizado foi há seis meses, quando subiu ao altar para dizer "sim" a Marcos, o grande amor da sua vida. "Estou muito feliz. Todos os meus sonhos estão sendo realizados. Não é fácil, mas com força de vontade e fé em Deus tenho superado os obstáculos", disse. "Não tenho filhos ainda, mas Deus me dará em muito breve. É o próximo sonho que realizarei", relata, com a certeza e a fé, que a fazem uma gigante.
"Passei a entender que sou diferente exatamente para fazer a diferença na vida das pessoas", finaliza a cantora, que não tem mais seus ossos triturados a qualquer toque. O que ela quebra todos os dias é a barreira do medo, do preconceito e da desconfiança das pessoas.
"Problemas de saúde atrapalharam o crescimento de Cidinha, mas não interromperam os seus sonhos. Mente aberta, muito amor e exemplo de vida"
Anderson Alcântara

Fonte: http://www.jornaldiariodonorte.com.br/detalhes-impresso.php?tipo=982&cod=9772

terça-feira, 14 de julho de 2015

Retrocessos no processo de inclusão de 25% da população brasileira!


Mal assessorada, presidente Dilma veta artigo da Lei Brasileira da Inclusão
que previa cota em empresas de 50 a 99 empregados

            A inclusão social é a palavra-chave que deve nortear todo o sistema de proteção institucional da pessoa com deficiência no Brasil, mas ao sancionar a Lei Brasileira da Inclusão, dia 6 de julho, a presidente Dilma decidiu vetar um artigo que obrigava empresas com 50 a 99 empregados a reservar pelo menos uma vaga para pessoas com deficiência ou reabilitadas.
            Oficialmente, o veto foi solicitado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, justificando que “a medida poderia gerar impacto relevante no setor produtivo, especialmente para as empresas de mão de obra intensiva de pequeno porte, acarretando dificuldades no seu cumprimento e aplicação de multas que podem inviabilizar empreendimentos de ampla relevância social” segundo informou o Diário Oficial no dia 07com deficiência. Diante de evidências de erro grave em torno do veto, que fechará mais  de Julho.
            Mas esse argumento é mentiroso, equivocado e preconceituoso contra as pessoas ainda as portas de trabalho para o segmento, aproveitamos para relacionar alguns sinais:
           
  1. Lobistas não tiveram sucesso no parlamento, mas no planalto...
Durante a tramitação do projeto de lei na câmara e no senado, representantes de grupos econômicos pressionaram outros relatores no passado para torpedear a lei de cotas (o projeto tem cerca de 12 anos), mas os últimos relatores na câmara e no senado, respectivamente, Mara Gabrilli e Romário, conseguiram afastar essas ingerências garantindo a aprovação em 05/03/2015 na câmara e em 10/06/2015 no senado.

  1. Veto ignorou a história de cotas no Brasil
            Parece que os assessores de Dilma não sabiam que o país já teve uma lei de cotas para trabalhadores acidentados readaptados, válido para as empresas a partir de 20 empregados, que vigorou de 1960 a 1991, prevendo reserva de 2% de vagas nas empresas com de 20 a 200 empregados. A cota iniciava com 2% e chegava a 5%, conforme o decreto 48.959-A de 19/09/1960.

  1. Veto “protege” 58.806 empresas, onde muitas já contratam trabalhadores com deficiência.
            A lei de cotas vigente prevê vagas para 1,047  milhão de pessoas com deficiência, mas é cumprida em apenas 26,5% de seu potencial. Curiosamente as empresas de 50 a 99 empregados, que somam 58.806, já contrataram 25.704 trabalhadores com deficiência. As vagas ocupadas em empresas deste porte garantem o índice de 43,7%, mesmo sem serem obrigadas legalmente, o que deixa mais difícil a equipe da presidente Dilma explicar o veto. Os números são do Ministério do Trabalho e Emprego, RAIS 2013.

  1. Veto ignora 10,2 milhões de pessoas com deficiência com ensino médio ou superior completo.
            Atualmente existe 10,2 milhões de pessoas com deficiência com ensino médio e superior disponíveis para o trabalho, formados em escolas públicas ou privadas, que continuarão longe do trabalho formal por puro preconceito palaciano. Só entre quem concluiu o ensino superior há 2,8 milhões de pessoas com deficiência, número suficiente para preencher 47 vezes as vagas que foram vetadas pela presidente. (informação do censo do IBGE, 2010 e da RAIS, MTE, 2013).



  1. Países que se relacionam com o Brasil têm cotas na faixa que a presidente vetou:

  1. Itália - a cota é de 7% para empresas com mais de 50 empregados; 2 pessoas com deficiência em empresas com 36 a 50 trabalhadores; e uma pessoa com deficiência, se a empresa possuir entre 15 e 35 trabalhadores.

  1. França - a cota é de 6% para empresas a partir de 20 trabalhadores.

  1. Espanha - a cota é de 2% para empresas com mais de 50 trabalhadores fixos.

  1. Venezuela - a cota é de 1 pessoa com deficiência a cada 50 trabalhadores.

Essas informações estão disponíveis no site do Ministério do Trabalho e Emprego.

            Pelo que se vê, o veto realmente afeta interesses econômicos e sociais. E ao optar pelo veto, a presidente deixa uma mancha em sua relação com as pessoas com deficiência que ficam marginalizadas do trabalho.
            A propósito, o Ministério do Trabalho informa em seu site que “o processo de exclusão, historicamente imposto as pessoas com deficiência, deve ser superado por intermédio da implementação de políticas afirmativas e pela conscientização da sociedade acerca da potencialidade desses indivíduos.”

Com a palavra, a presidente Dilma Roussef!

Abraços

Clemente
Coordenador do Espaço da Cidadania.