Colabore para que em breve todos possam assistir no youtube essa série de 10 episódios sobre a vida e as divertidas histórias da Veca
O projeto “Fale com Veca” é uma websérie de 10 episódios com as histórias inspiradoras e divertidas que a Veca tem para contar. Veca é anã, filha do cantor Nelson Ned, tudo para ela é alto duro, pesado e distante. Mas o fato de ter nascido numa família onde já tinham outros 3 pequenos fez com que ela superasse as barreiras de uma maneira mais amena. Veca mesmo diz que ser pequena não foi o maior problema que enfrentou na vida.
A maneira como ela lida com assuntos complicados faz, inclusive, histórias tristes se tornarem divertidas, sempre transbordando alegria e conquistando todos à sua volta.
Esta série mostrará um pouco do seu dia a dia e de seus talentos como cantora e atriz. Ela conta dos sonhos que já conseguiu realizar, sendo um deles como voluntária do projeto "Make a Wish”. Resta a ela, agora, alcançar o próximo desejo: conquistar o diretor espanhol Pedro Almodóvar e,assim, poder participar de um filme dirigido por ele. Ela acredita que o diretor tenha um olhar muito particular e que, por isso, poderá valorizar algo que o cinema tradicional não trata - atores pequenos. No embalo do sucesso do protagonista da série "Game of Thrones " ela está disposta a fazer o que for para chamar a atenção de Almodóvar. Durante a série vai ser possível acompanhar as peripécias já vividas para chegar no seu alvo espanhol. Também, será uma boa oportunidade para se romperem as barreiras do preconceito contra o nanismo e de conhecer a visão de mundo de uma pessoa tão pequena.
Do material já gravado, foi produzido o teaser, mas são necessários ainda recursos para os processos de produção, edição e finalização da série. Isto significa R$ 22.500,00 para ser possível o lançamento da série até abril do próximo ano. Como a campanha aqui no Benfeitoria é do tudo ou nada se não conseguirmos atingir essa meta o dinheiro volta para os colaboradores. Isso acontece para que os coloboradores não invistam em algo que não vai se concretizar.
Se a campanha for muito bem sucedida e alcançarmos uma arrecadação total de 36.000,00 conseguiremos fazer, além da série de 10 episódios, 3 programas de entrevistas onde a Veca vai receber convidados para trocarem experiências e contarem histórias.
Quem sabe em breve, vocês, além de terem contribuído para a geração de todo esse conteúdo - que será disponibilizado para o público na rede pelo Youtube - também vão ter proporcionado um novo sucesso do "Talk Show” brasileiro tendo a Veca como apresentadora.
Para participar desse projeto é possível colaborações em dinheiro ou também com seu talento . Pode ser ele edição de imagens, se tem um estúdio para podermos gravar ou mesmo se quer ajudar nas gravações, tudo será muito bem vindo.
Os envolvidos nesse projeto até agora somos a Veca e eu, Felipe Kurc. Conheci a Veca em 2005 cantando no Circo Roda Brasil ( https://vimeo.com/143337587 ) . Na mesma semana fui com ela e com a turma do circo gravar um documentário “De Baixo para Cima” (https://vimeo.com/143256749 ) sobre a vida de algumas pessoas pequenas. Nesta filmagem contei com a ajuda de minha amiga Nani Escobar.
No começo de outubro mandei uma mensagem para a Veca depois de muitos anos e ela me respondeu dizendo que tinha um projeto novo para fazermos. Adaptamos ele e agora estamos aqui nessa campanha menos de 1 mês do reencontro. Nossa vontade para realizar um projeto com esse tema é a realização de um sonho que começou há 10 anos.
Eu já consegui produzir o filme," O Povo Dourado Somos Todos Nós”, utilizando o ”Benfeitoria" para possibilitar a captação de recursos. Ele foi realizado em parceria com as amigas Cecília Engels e Daniela Perente. Fizemos um lançamento muito bonito no MIS para os colaboradores .O filme está sendo exibido em alguns festivais e foi adquirido por um canal de TV a cabo.
Chamar de tragédia um resultado que deveria e poderia ser previsto e evitado é o primeiro dos erros. O Brasil precisa, sim, achar e punir os culpados pelo fim de tanta vida
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Elder Dias
No vídeo, não é o rio. É a lama, é só lama. Com a cor daquela das enxurradas que solapam o monte de terra que transborda da calçada da obra, mas multiplicando-se o fenômeno em escala gigantesca. Na beira do leito tomado por aquele líquido estranho (não só dejetos de minério de ferro, mas mercúrio, alumínio, boro, chumbo, enfim, “a tabela periódica inteira”, como tristemente definiu um técnico) que um dia foi água, à margem daquilo que um dia foi um rio, estão cascudos, peixes tradicionais dos rios daquela região e considerados de alta resistência. Todos mortos. Suas carcaças ancoradas ali, abatidos por uma força incontrolável.
Então, o homem do vídeo apanha um dos peixes para esfregar na tela de quem o assiste. Faz um depoimento que exala revolta. No fim de seu registro, misturando dor e impotência, professa um juramento: “A Vale não vai tirar nem mais um quilo de minério em Minas Gerais. Nos aguardem!”. Vale a pena falar da Vale, a Vale do Rio Doce. A ela voltaremos daqui a pouco — o Rio Doce, este não voltará.
É que a cena dos peixes mortos remete a uma experiência de infância. A um tio que então morava em São Luís de Montes Belos, a 120 quilômetros de Goiânia. Mecânico por profissão, pescador por paixão. Em uma de nossas idas até lá, saímos com ele de vara e humilde tralha: eu, meus irmãos, meu primo e meu pai. Destino: Rio Turvo, a algumas dezenas de quilômetros da cidade. Pescar era um passeio com uma emoção dúbia: de me deliciar fisgando os peixes e de sentir dó por meu prazer os matar. Foi por esse sentimento que um dia, com uns 7 ou 8 anos, resolvi devolver à água os peixes recém-fisgados — considerando-me, desde então, um precursor da pesca esportiva.
Mas a cena que marcou aquela tarde no Turvo foi nada prazerosa e toda aterradora. No momento em pescávamos — meu tio à parte, porque ele não gostava de nenhum barulho por perto —, uma quantidade incontável de peixes, principalmente piaus, desceu boiando. Um cardume inteiro morto. Tio Umbelino chegou e disse: “É veneno de plantação. Vamos embora”. E, com o curso do imponente rio servindo de rota àquele cortejo imprevisto, acabaram-se passeio e pescaria.
No crime do Rio Doce não são apenas peixes que estão mortos. É o próprio rio e tudo o que vivia dele: fauna, flora, patrimônio e gente. Lugares e suas histórias — a igrejinha multissecular, o restaurante tradicional, a praça de conversas e namoros — perdidos para sempre no meio da lama. Corpos de dezenas de pessoas que nunca mais serão encontradas. Espécies endêmicas que foram extintas em questão de horas. Outras que terão dias contados.
Peixes mortos pela falta de oxigênio e excesso de substâncias venenosas: e o desastre ainda não chegou ao mar | Divulgação/UOL
A tsunami de lama varreu do mapa um povoado, Bento Rodrigues. Um vídeo produzido pela TV Cultura, com menos de cinco minutos de duração, mostra como costumava ser a vida no subdistrito de Mariana (MG). A data da postagem no YouTube é de 5 de maio, exatos seis meses antes do crime ecológico. Um cenário bucólico, pessoas simples, o estilo rural mineiro, que nós goianos conhecemos tão bem, gente focada em produzir, como meta mais ambiciosa, uma boa geleia de pimenta para venda. Como diz o jornalista Alceu Luís Castilho, responsável por divulgar esse vídeo logo após a destruição provocada pelo rompimento das barragens, um povoado que “sintetizava um modo de vida tão esquecido pela imprensa quanto os impactos sociais e ambientais do mundo corporativo”.
Assistindo aquelas cenas embaladas pelo ponteado de uma viola caipira, não dá para deixar de imaginar o que é uma imensa onda de lama de dejetos tóxicos passando por cima de tudo aquilo, de todas as casas, levando animais e histórias que pertenceram a tantas vidas. Passando mesmo por cima das vidas, sem qualquer metáfora — moradores para sempre desaparecidos. A trajetória dessas pessoas foi sepultada. É construir outra, do zero, ou perderem o juízo. Quem teria sangue frio para tanto?
Mais abaixo, no curso maldito da lama que só vai parar no mar, uma cidade de quase 300 mil habitantes vive seus dias de pós-guerra. Governador Valadares perdeu o acesso à água potável, como tinha ocorrido com mais sete cidades mineiras até a sexta-feira, 13. A perspectiva sombria ao ver lama e não água passar debaixo da ponte leva alguns ao desespero e outros à oração. Galões e garrafões são motivo de tumulto. Donas de casa buscam água como quem garimpa ouro. O que vale para elas não é o que vale para a Vale.
O capital e a notícia
Do outro lado das barragens rompidas, uma empresa chamada Samarco. Produtora de pelotas de minério de ferro para exportação — a 10ª maior exportadora do País em mineração. Hoje seu capital é controlado por duas gigantes do setor de extração. Uma é a anglo-australiana BHP Billiton, que também tem negócios no Chile, na Colômbia e no Peru, além de outros países pelo mundo. Já foi multada por envenenar com cobre as terras peruanas e já tinha no currículo uma grave contaminação fluvial em Papua Nova Guiné, na Oceania. A outra é a Vale S.A., privatizada em 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e hoje controlada pela Valepar, que tem 53,9% do capital.
Vítimas instaladas em um ginásio em Mariana: solidariedade não pode se tornar uma forma de desviar o foco | Daniel Marenco / O Globo
Resta saber quem manda na Valepar: 49% estão em fundos administrados pela Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ); a Bradespar, do Bradesco, tem 17,4%; a multinacional japonesa Mitsui, que participa de marcas como Sony, Yamaha e Toyota, 15%; e o BNDESpar, 9,5%. Por trás de toda a confusão de nomes e marcas, a certeza de que há muitos interesses poderosos envolvidos. E aqui outra observação importante: a imprensa brasileira não tem a prática de fiscalizar corporações da mesma forma com que faz com os governos.
É intrigante saber os rumos por que caminham as notícias e informações em casos como este. Por que dar tanta atenção à solidariedade e aos casos dramáticos (que são incontáveis), em vez de buscar investir na investigação? O que leva um veículo a buscar certa palavra (e não outra) para nomear tal ocorrência?
Uma imprensa que não trabalha como deveria torna difícil o acesso da informação relevante aos mais leigos. Como saber a diferença entre uma notícia sensacionalista/alarmista e outra realmente grave? Não seria difícil identificá-las e separá-las. A sensacionalista, quando surge o fato inicial, aparece estampada em uma manchete, toma um bloco do telejornal e, nos dias seguintes, tem seu espaço reduzido drasticamente. Uma notícia grave, mas realmente importante em seus desdobramentos, vai ocupar as primeiras páginas dos jornais e estar na chamada inicial dos âncoras durante dias e semanas. Mesmo que, num primeiro momento, não tenha sido levada em consideração. Simplesmente não tem como os veículos de imprensa fugirem dela, ainda que eles — ou seus anunciantes poderosos — não a queiram.
Mesmo com tanto capital envolvido que vem de anunciantes como Bradesco, Banco do Brasil, Sony, Toyota e outros, o malfeito está lá, tomando conta da água corrente. O rio de lama que matou o Rio Doce insiste em não sair das primeiras páginas dos jornais brasileiros. Em muitos deles, já esteve lá como uma notinha, uma foto-legenda na “dobra de baixo” (a metade inferior da capa); em outros, principalmente de Minas Gerais e do Espírito Santo, não há como fugir de ser manchete.
Interessante observar como o principal diário mineiro, “O Estado de Minas”, estampou o caso na capa desde o rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco S.A., ocorrido na quinta-feira, 5. No dia seguinte, o jornal colocou como manchete: “Tragédia em Mariana – Barragem se rompe e tsunami de lama arrasa vilarejo”. A partir da quarta-feira, 11, a retranca que abre o título foi trocada: virou “Tragédia em Minas”. Um pouco mais de crítica trocaria “tragédia” por “crime ambiental” ou algo similar.
Depois do dano cometido, poucos políticos no País correram para saber mais sobre esses bastidores. Mas muitos correram da responsabilidade. O senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas, disse que não é hora de buscar culpados. Qual será a hora para os políticos mineiros, se estão quase todos atolados até a tampa em compromissos velados ou nem tanto com as mineradoras, que financiaram a campanha de toda uma bancada parlamentar?
A presidente Dilma Rousseff (PT) demorou uma semana para seguir até a região atingida. Comportamento totalmente equivocado, que não repetiu na nota de repúdio ao atentado a Paris, na sexta-feira, 13, emitido minutos depois de confirmada a ação terrorista. Seria mais fácil enxergar a desgraça alheia do que a própria? Era hora de ao menos se postar como liderança, ainda que tenha dificuldade com isso.
O rabo preso de deputados e senadores fica nítido ao notar que uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Assembleia mineira para apurar o caso acabou abafada ainda com a lama escorrendo. Mais ainda ao ver o quanto cada partido recebeu, como doação de campanha, da Vale S.A. em 2014: do total de R$ 22,650 milhões, o PMDB — que controla o Ministério de Minas e Energia — ficou com R$ 11 milhões; o PT e o PSDB, com R$ 3,1 milhões; o PSB, com R$ 1,5 milhão; até o PCdoB se rendeu ao capital da Vale, embolsando R$ 1,1 milhão. Abaixo do milhão de reais, foram beneficiados com verbas da empresa também PP, Solidariedade, PPS, PSD, PR e PRB. Os dados foram divulgados pelo deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), um dos poucos partidos que escaparam da lista. Não é à toa que outro deputado da sigla, o carioca Chico Alencar, seja também um dos que pedem punição. Bingo: assim explica-se à população mais despolitizada por que financiamento privado em um país como o Brasil serve para cobrir um mar de lama. De forma literal.
Banner virtual apresenta lista dos partidos que mais receberam doações de campanha da Vale em 2014; PMDB tem o Ministério das Minas e Energia
Não foi acidente. Não foi uma “tragédia”. Acidentes e tragédias assim o são quando o imponderável acontece: um ataque cardíaco no motorista do ônibus, um raio, um terremoto, um meteoro que cai. Não dá para falar em “acidente” quando havia laudos que alertavam para o comprometimento de várias barragens como as que ruíram, inclusive as próprias. Faltou fiscalização do poder público e sobrou negligência das empresas, sempre ávidas em lucrar o máximo e quase nunca animadas a gastar com o que pode “ficar para depois”.
A morte do Rio Doce, já dada como oficial por órgãos técnicos, é o maior crime ambiental da história brasileira. Basta dizer que é a primeira vez que uma bacia hidrográfica — totalmente formada na Região Sudeste — fica com seu principal manancial totalmente destruído.
Perto do que ocorreu em Minas, o “acidente” radiológico de Goiânia, com o césio 137 — um aparelho abandonado em meio a entulhos — é incrivelmente pequeno. Como goianiense, vivi nossa tragédia bem de perto. Lembramos todos nós do medo (eu era office-boy do escritório do meu pai e passava de ônibus quase todo dia perto de alguns dos pontos de contaminação). Os efeitos do césio, sabemos, foram terríveis para todos nós, mas principalmente para as famílias das vítimas e os militares que trabalharam diretamente. Mas, 28 anos depois, tudo ficou circunscrito ao estigma e ao depósito radioativo de Abadia. Se houve algo mais, ainda não ficou provado.
O caso que envolve a gigante multinacional Vale S.A. é muito mais abrangente e até o momento incontrolável. As consequências são imprevisíveis. Mas basta imaginar que o fornecimento de água de uma vasta região de Minas Gerais e do Espírito Santo foi cortado sem prazo para retorno para ter noção da gravidade. A imprensa, pouco crítica por vício próprio e um tanto de comprometimento econômico, prefere valorar o viés do drama e da necessidade de solidariedade. Não é a melhor informação de que precisamos.
Por ironia, na música do fone de ouvido enquanto escrevo este texto, a aleatoriedade do YouTube deixa rolar uma canção romântica do Maná: “Te Lloré Todo um Río”. “Chorar um rio inteiro”, deixar cair uma torrencial nuvem de lágrimas. É pouco mais do que isso o que podem fazer um senhorzinho de Bento Rodrigues ou uma dona de casa de Governador Valadares.
Sendo místico ou cético, as imagens do crime da Vale/Samarco são a materialização de um quadro: a violência das consequências (dejetos) do acúmulo do capital sobre os menos favorecidos. Aqueles que dele nunca usufruíram são os mais afetados. A natureza, em algum momento, cobra a fatura de todos. E chegou a hora. O Brasil teve de arcar com um rio inteiro desta vez. É pouco falar em crime de lesa-pátria. É algo que atenta contra o mar e, por ele, em seu caráter universal, contra a humanidade. Quem é que vai pagar por isso? E como vai pagar?
Cientistas criam campanha de crowdfunding para financiar
relatório independente do desastre de Mariana
REDAÇÃO EM
Para criar um relatório independente e isento e tentar impedir que a tragédia de Mariana se repita, um grupo de cientistas lançou uma campanha de crowdfunding. O Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental (GIAIA) - Samarco/ Rio Doce é uma iniciativa do biólogo Dante Pavan, especialista em répteis e anfíbios formado pelo Instituto de Biociências da USP, coordenada por Viviane Schuch, bióloga e pesquisadora da Unifesp.
A ideia com a campanha de financiamento coletivo é realizar um relatório técnico do impacto ambiental decorrente do rompimento das barragens de Mariana (MG). A enxurrada de lama está avançando pela bacia do Rio Doce, com resíduos tóxicos da mineração, comprometendo a vida dos moradores da região, causando a morte de animais e em breve deve chegar ao litoral do Espírito Santo.
"Considerando que este é um dos maiores desastres ambientais sofridos pelo Brasil, envolvendo rios e as populações a sua volta, abrangendo vários municípios, que as posturas das instituições públicas são vagas e o poder econômico dos envolvidos, é de extrema importância que exista um relatório independente e isento, que possa ser utilizado nas ações decorrentes relacionadas aos efeitos do rompimento das barragens", explica o grupo na página da campanha.
Utilizando seus próprios recursos, os cientistas conseguiram chegar à foz do Rio Doce antes da lama para coletar amostras da água e do solo que servirão de base de comparação para a analise real das perdas causadas pelo desastre. O objetivo é arrecadar R$ 50 mil para gastos de deslocamento, coleta de amostras e analise de dados.
“Os impactos ambientais devem ser documentados com a maior isenção e precisão possíveis. Isto é de extrema importância para que decisões relacionadas ao evento sejam tomadas também de forma isenta, reais responsabilidades sejam apuradas, além de proporcionar condições para amenizar os danos causados e fornecer subsídios que ajudem a criar procedimentos que minimizem o risco de que o fato se repita em empreendimentos semelhantes”, defendem os pesquisadores.
Não demorou mais do que um dia para que, depois da comoção com os atentados da última sexta-feira (13) em Paris, muitos brasileiros se revoltassem com a cobertura da mídia e as reações de solidariedade dos internautas às vítimas na França. No Facebook e no Twitter, muitos usuários criticaram a falta de notícias sobre o rompimento das barragens de Mariana (MG) e do excesso de informações sobre os ataques na capital francesa.
Em uma lógica já conhecida nas redes sociais, primeiro uma onda de comoção tomou conta da internet. Em poucas horas, foram criadas as hashtags #PrayForParis (reze por Paris, em português) e #JeSuisParis ("Eu sou Paris", em referência ao movimento #JeSuisCharlie criado no começo do ano com os atentados de janeiro). Depois, foram os memes, fotos com mensagens pedindo solidariedade aos franceses. No mais célébre deles, o desenho da torre Eiffel aparece em um círculo que imita o tradicional símbolo do "paz e amor".
Para o brasileiro Diogo, que mora há seis anos em Barcelona e estava em Paris a passeio neste domingo (15), esse tipo de reação é uma consequência da popularização das redes sociais, que incitam os usuários a participar de movimentos online e a exprimir publicamente suas opiniões.
Além disso, para ele, a notícia de um atentado é vendida pela mídia como mais impactante por ser uma situação inédita no Brasil. "Em geral, os brasileiros ficam realmente mais impressionados com o terrorismo porque, apesar de termos violência urbana no país, nunca fomos palco de um atentado", diz.
Culpa da França
A onda de apoio aos franceses não durou muito tempo. No dia seguinte aos ataques de sexta-feira, mensagens circulavam nas redes atribuindo a culpa do atentado ao governo francês.
Muitos internautas argumentam que os países desenvolvidos financiam o grupo Estado Islâmico, autor dos atentados de Paris. De acordo com usuários do Twitter e do Facebook, os franceses estão pagando pelas más decisões de seus governantes. Outros ainda publicam que os responsáveis pelas violências são refugiados recebidos pela Europa.
"O problema é que a mídia está dando uma dimensão aos incidentes de Paris muito maior do que eles têm", avalia a brasileira Vanessa Cruz. Para ela, grande parte dos jornais brasileiros dão a impressão para o público de um drama muito maior na capital francesa. Em Paris a turismo, ela ressalta a tranquilidade nas ruas e diz não ter se sentido em perigo em nenhum momento neste fim de semana.
"Na África, morre gente todos os dias"
Diante do Bataclan, um dia depois do atentado, um cabo-verdiano que não quis se identificar estava indignado com toda a atenção da mídia de todo o mundo aos incidentes em Paris. "Na África, morre gente todos os dias. Lá a violência não dá trégua. E ninguém se importa. Todo esse drama existe porque os atentados aconteceram na França, e as vítimas são francesas", desabafou.
No mesmo dia, no Facebook, o meme "Mapamundi Trágico" começou a ser compartilhado. Nele, há cinco tipos de classificação sobre a importância de tragédias no planeta. Na Europa ocidental, Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália, um incidente grave é "uma grande tragédia", mais dramatizado do que no resto do mundo.
Na Europa do Leste, América do Sul, México, África do Sul e Índia, a gravidade ganha a legenda "nossa, que triste!". Na Rússia, China e alguns países do Oriente Médio, as tragédias são consideradas normais, com a classificação "assim é a vida".
Uma outra parte das nações asiáticas recebe a legenda "um momento, esse país existe?". Já a quase totalidade do continente africano, de acordo com o meme, não tem nenhuma relevância para a opinião pública e recebe a classificação "foda-se".
No final da tarde de ontem, os brasileiros começaram a se revoltar sobre o excesso de notícias sobre os atentados da capital francesa e a falta de informações sobre a tragédia de Bento Rodrigues, em Minas Gerais. "Chore por Paris, coloque a bandeirinha da França no seu perfil, mas não esqueça disso", diz um meme compartilhado hoje, com uma foto de um cadáver na lama de rejeitos da Samarco.
"As duas situações são preocupantes e revoltantes"
Para a brasileira Isabela, que está na capital francesa a trabalho, é impossível comparar os incidentes de Paris com os de Minas Gerais. "Não dá para dizer que um é mais importante que o outro. Os dois acontecimentos são muito tristes."
A sul-mato-grossense Ana Paula Hermann, moradora de Paris, cansada da polêmica, publicou em sua página no Facebook: "Aos meus compatriotas brasileiros: mesmo sem nenhum índice comparativo, o desastre em Minas Gerais é tão grave quanto os atos terroristas em Paris. As duas situações são preocupantes e revoltantes".
Morador do 11° distrito, onde foram registrados os atentados de sexta-feira, o brasileiro Geraldo Prado analisa a diferença entre os dois incidentes: "O que aconteceu aqui é consequência de vários fatores em todo o mundo. Em Minas Gerais, vemos as consequências de um péssimo governo e de da escolha da população que elegeu esses governantes".
Para Prado, as reações dos brasileiros nas redes sociais também fazem parte de um comportamento que classifica como "terceirização da culpa". "É mais fácil responsabilizar a mídia do que assumir seus próprios erros e reconhecer que o problema está em nossos próprios representantes", conclui.