sexta-feira, 28 de junho de 2013

Caleidoscópio

O embrião do meu amado e acalentado livro Caleidoscópio está crescendo... Aguardem... 

Por isso escreve

Certo dia, Sophia teve a felicidade de ouvir, que quando fazemos alguma coisa é porque simplesmente precisamos fazer. O ato de compor uma música, pintar um quadro, tocar um instrumento, esculpir uma peça, escrever um poema ou um simples texto, assim como outras inúmeras ações são considerados divinos dons artísticos. Porém, a beleza está em se fazer por fazer. Pelo simples fato de exprimir uma necessidade interior que transcende a qualquer norma, conceito ou objetivo preestabelecido. Por isso escreve.

 Escreve pela paz que sente ao colocar no papel todos os sentimentos e experiências vividas até agora. Sem se ‘pré-ocupar’ com o que as pessoas irão pensar; com o que realmente se tornará um dia seu caderno, e com o que o espírito tanto sonhara.

Como cada dia é um dia; e cada momento é um simples sopro de vida, por isso, escreverá sem fronteiras. É complicado escrever uma história da qual faz parte. Porém, acredita que o interessante será essas mudanças de tempo e espaço, o que tornará prazeroso o ato de escrever... (Leandra Migotto Certeza em ?/07/94)

Dentro do meu mundo, sinto falta.
Falta da certeza de senti-lo
Pequena em relação a tudo.
Quero mostrar o que vejo
Quero tocar aqueles que não enxergam
Quero ser alguém única de glória.
           Tudo é vago, ao mesmo tempo, que é forte.

Por que não tentar ter esperança de outro mundo? 

(Leandra Migotto Certeza em ?/?/1996).

Em tempos de manifestações...

Queridas leitoras e queridos leitores, 

Encontrei esta crônica em meus arquivos e constatei que infelizmente, praticamente NADA mudou de 2006 até hoje. 

Momento histórico, em que mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em todo o Brasil para mostrar que existem, pagam as taxas mais altas de impostos do PLANETA e exigem que seus DIREITOS como cidadãos sejam respeitados IMEDIATAMENTE por meio de ações práticas URGENTES, independente de partidos políticos, ideologias e teorias!!  

Raízes, troncos, folhas, flores, e frutos...*

Por Leandra Migotto Certeza

A família pode ser a base como muitos dizem, mas as raízes podem estar plantadas em terrenos diversos. Para aqueles que não tem pais ou parentes, os amigos conquistados ao longo da estrada é que dão a sustentação em sua vida. Para aqueles que nem amigos têm, os colegas que passam voando como folhas podem dizer palavras estruturais. Creio que o mais significativo é o que nós fazemos com essas palavras para se transformarem em flores e frutos cheios de luz.

Minha numerosa e adorável família - com absoluta certeza - foi crucial em minha vida. Mas se meu espírito não estivesse aberto para ouvir e enxergar suas diretrizes, eu não teria evoluído. Agora também não existe relação sem troca de experiências. Sei que só a minha força interna pode ensinar como meus pais, avós, tios, primos, e amigos poderiam melhor conviver comigo, mulher com deficiência física em todas as fases da vida. A diferença assusta, porque não sei qual o imbecil motivo, os seres humanos teimam em querer somente a perfeição e a simetria.

Quando nasci creio que a grande maioria, dos meus familiares sentiram medo. Medo da diferença! Medo de sentir medo. Medo de se verem no espelho, pois TODOS e TODAS somos diferentes! Eu também tive medo. Medo de não me aceitar como sou, apesar de lá no fundo da minha alma ter a certeza que eu sou além da aparência e/ou os sentidos pelos quais me comunico. Nesses momentos, a família deu aquela força, mas se eu não estivesse vontade de lutar, nada teria se movido do lugar. 

Sou privilegiada por ter dito condições financeiras para fazer tratamentos ótimos, estudar em escolas com crianças com e sem deficiência, passear, brincar, aprender coisas novas, ser cuidada e até muito paparicada. Aproveitei o que a vida me deu sempre consciente das flores e frutos que eu tinha o dever de espalhar pelo mundo.

Não sou melhor nem pior do que ninguém. Na verdade admiro e aprendo muito a cada amanhecer com pessoas que construíram suas raízes totalmente sozinhas! Bom, seria se não precisasse contar essas tristes histórias. Abomino discursos ridículos, assistencialistas, moralistas, piegas, e principalmente, demagógicos, que retiram a responsabilidade das pessoas. Como por exemplo: o povo brasileiro ‘é guerreiro mesmo’ e ‘gosta de lutar e de sofrer sempre com um sorriso nos lábios’. Eu espero e luto para que - o mais rápido possível - a maioria dos relatos que escreverei sejam sobre famílias que vivem felizes sem precisarem se sacrificar para sobreviverem. Mas infelizmente, hoje ainda é extremamente necessário falar da luta de muitas famílias!

Conheci mães que carregam seus pesados filhos com deficiência nos braços por longas distâncias, e sobem em ônibus caindo aos pedaços e sem adaptação nenhuma. Lutam com uma garra e coragem - que não sei de onde brota - para que eles conquistem seus espaços na sociedade. Elas não medem esforços para levá-los a escola, ao hospital, a clínica de reabilitação, e tantos outros lugares. 

Sem falar naqueles que não tem absolutamente ninguém que olhem por eles, nem para ensinar os caminhos. Vocês já pararam para pensar que em pleno século XXI muitas pessoas com deficiência vivem pior do que animais jogados em depósitos, chamados de ‘instituições’? Ninguém faz - nada ou pouquíssimo - de concreto para que essa situação mude! Fiquei sabendo de um homem com deficiência intelectual - que depois de ser jogado na rua, desalojado de uma dessas instituições - foi queimado vivo! Uma grande amiga me disse que, infelizmente, ainda existem muitos casos como esse.

É por isso, que tenho o dever de informar os cidadãos sobre essa realidade. Apoio familiar é muito importante, mas se os Governos federais, estaduais e municipais, e toda a sociedade não cumprirem com seu papel, as pessoas simplesmente, desaparecerão da face da terra! A existência de transportes públicos adaptados e acessíveis a todos, é um dos caminhos mais urgentes - nesse momento - para as pessoas com deficiência física, auditiva, visual, intelectual, múltipla e/ou surdocegueira conquistarem direitos e cumprirem deveres, com o sem o apoio das famílias e dos amigos. Pois como poderão ser ouvidos, sem nem conseguem chegar até os representantes? Não adianta nada existirem escolas, parques, hospitais, órgãos públicos, entre outros lugares, um pouco mais inclusivos, se estas pessoas ainda não têm condições de usufruir deles com qualidade!

Por isso, as pessoas, com ou sem deficiência precisam lutar por transportes acessíveis, totalmente seguros e confortáveis!! Até o fim de suas vidas pelo direito de ir, vir e permanecer nos lugares com DIGNIDADE. 

O Brasil tem umas das melhores legislações do mundo em relação às pessoas com deficiência. Sem contar os mais de 20 documentos internacionais os quais o país é signatário desde 1955. Em meio a tantas leis, parece simples fazer valer os diretos dessas pessoas, mas a teoria ainda é bem diferente da prática! Haja vista a dura realidade relatada na matéria do jornal Folha de São Paulo escrita em 2003. Muitos anos depois, infelizmente, afirmo que quase nada mudou!

A reportagem (de um jornal da cidade de SP) levou o professor de tênis Sérgio Gatto, 36 anos, para um passeio pela cidade. No trajeto, ele demonstrou algumas das dificuldades vividas pelos cadeirantes. 

Na estação de metrô da praça da Sé (centro), da linha azul, Gatto precisou descer com a cadeira de rodas pela escada rolante, de costas, para que a roda encaixasse nos degraus. Para não correr o risco de a cadeira virar, pediu a uma pessoa para que ficasse um degrau abaixo do dele. "Eles dizem que têm funcionários para nos ajudar, mas como chamá-los daqui de cima?", questionou. Continuando o "passeio" pela praça da Sé, algumas surpresas. Ao tentar atravessá-la, Gatto deparou-se com cinco lances de escada. 

A solução foi tentar o percurso pela lateral da praça. Mas a calçada acabou de repente, sem nenhuma rampa que permitisse a Gatto continuar sozinho. Na avenida Paulista, o professor esperou 20 minutos por um ônibus adaptado. Nos 40 minutos seguintes, não passou mais nenhum. Nesse período, atravessaram a Paulista 88 ônibus comuns. 

A reportagem também percorreu algumas das principais avenidas da cidade. Bons exemplos, como a Avenida Paulista, com guias rebaixadas em todos os cruzamentos, são minoria. A rua Brigadeiro Faria Lima tem rebaixamento em metade de seus cruzamentos, mas há casos incompreensíveis como na rua Iraci, onde só há rebaixamento em uma das duas esquinas. Na Avenida Brasil, apenas dois cruzamentos têm rebaixamento de guias.

*Crônica originalmente publicada na “Agenda do Portador de Eficiência” / 2006.
             

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O que é Democracia?

A diferença entre Democracia Representativa e Democracia Direta

Na democracia representativa o povo elege um representante para defender seus interesses num parlamento ou congresso. Com isso transfere - ou delega - seu poder de decisão a um político profissional. A maioria dos países democráticos do mundo ainda adota a democracia representativa como forma de organização política, embora muitos deles já estejam incorporando a seus sistemas políticos alguns elementos da democracia direta.

Na democracia direta o povo é chamado a se pronunciar diretamente sobre as propostas de legislação, seja previamente - através de plebiscitos - seja a posteriori - através de referendos. Nenhum país possui ainda um regime de governo que seja uma democracia direta pura. O país que mais dela se aproxima é a Suíça, que adota em sua Constituição um regime de democracia semidireta. Entre outros direitos, o povo suíço pode tomar até a iniciativa de propor emendas à própria Constituição de seu país, mediante um abaixo-assinado contendo apenas 100.000 assinaturas (cerca de 1,34% da população).

A constituição brasileira (1988) prevê, em seu artigo 14, que "a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular". Não existe na atual constituição brasileira a previsão expressa que permita aos cidadãos introduzir mudanças na Constituição. Porém, através de uma análise principiológica é possível que seja permitido aos cidadãos emendar a Constituição. Só se saberá ao certo quando for tentando projeto de emenda de iniciativa popular. Podem ocorrer mudanças constitucionais mediante plebiscito, porém, só o Congresso pode convocá-lo (o Executivo pode, no máximo, enviar mensagem ao Parlamento propondo sua convocação, mas é o Legislativo que decide se convoca ou não).

TERRÍVEL REALIDADE dos médicos no Brasil!

Tudo o que uma médica BRASILEIRA, que trabalha no interior, quer falar pra "Presidenta" hoje:

Dilma, deixa eu te falar uma coisa! Este ano completo 7 anos de formada pela Universidade Federal Fluminense e desde então, por opção de vida, trabalho no interior. Inclusive hoje, não moro mais num grande centro. Já trabalhei em cada canto... Você não sabe o que eu já vi e vivi, não só como médica, mas como cidadã brasileira. 

Já tive que comprar remédio com meu dinheiro, porque a mãe da criança só tinha R$ 2,00 para comprar o pão. Por que comprei? Porque não tinha vaga no hospital para internar e eu já tinha usado todos os espaços possíveis (inclusive do corredor!) para internar os mais graves. Você sabe o que é puxadinho? Agora, já viu dentro de enfermaria? 

Pois é, eu já vi. E muitos. Sabe o que é mãe e filho dormirem na mesma maca porque simplesmente não havia espaço para sequer uma cadeira? Já viu macas tão grudadas, mas tão grudadas, que na hora da visita médica era necessário chamar um por um para o consultório porque era impossível transitar na enfermaria? 

Já trabalhei num local em que tive que autorizar que o familiar trouxesse comida (não tinha, ora bolas!) e já trabalhei em outro que lotava na hora do lanche (diga-se refresco ralo com biscoito de péssima qualidade) que era distribuído aos que aguardavam na recepção. Já esperei 12 horas por um simples hemograma..Já perdi o paciente antes de conseguir um mera ultrassonografia. Já vi luva descartável ser reciclada. 

Já deixei de conseguir vaga em UTI pra doente grave porque eu não tinha um exame complementar que justificasse o pedido. Já fui ambuzando um prematuro de 1Kg (que óbvio, a mãe não tinha feito pré natal!) por 40 Km para vê-lo morrer na porta do hospital sem poder fazer nada. A ambulância não tinha nada...Tem mais, calma! Já tive que escolher direta ou indiretamente quem deveria viver. E morrer... 

Já ouvi muito desaforo de paciente, revoltando com tanto descaso e que na hora da raiva, desconta no médico, como eu, como meus colegas, na enfermeira, na recepcionista, no segurança, mas nunca em você. Já ouviu alguém dizer na tua cara: meu filho vai morrer e a culpa é tua? Não, né? E a culpa nem era minha, mas era tua, talvez. Ou do teu antecessor. Ou do antecessor dele... Já vi gente morrer! 

Óbvio, médico sempre vê gente morrendo, mas de apendicite, porque não tinha centro cirúrgico no lugar, nem ambulância pra transferir, nem vaga em outro hospital? Agonizando, de insuficiência respiratória, porque não tinha laringoscópio, não tinha tubo, não tinha respirador? De sepse, porque não tinha antibiótico, não tinha isolamento, não tinha UTI? A gente é preparado pra ver gente morrer, mas não nessas condições. 

Ah Dilma, você não sabe mesmo o que eu já vi! Mas deixa eu te falar uma coisa: trazer médico de Cuba, de Marte ou de qualquer outro lugar, não vai resolver nada! E você sabe bem disso. Só está tentado enrolar a gente com essa conversa fiada. É tanto descaso, tanta carência, tanto despreparo, As pessoas adoecem pela fome, pela sede, pela falta de saneamento e educação e quando procuram os hospitais, despejam em nós todas as suas frustrações, medos, incertezas... 

Mas às vezes eu não tenho luva e fio pra fazer uma sutura, o que dirá uma resposta para todo o seu sofrimento! O problema do interior não é falta de médico. É falta de estrutura, de interesse, de vergonha na cara. Na tua cara e dessa corja que te acompanha! Não é só salário que a gente reivindica. Eu não quero ganhar muito num lugar que tenha que fingir que faço medicina. E acho que a maioria dos médicos brasileiros também não.

Quer um conselho? Pare de falar besteira em rede nacional e admita: já deu pra vocês! Eu sei que na hora do desespero, a gente apela, mas vamos combinar, você abusou! Se você não sabe ser "presidenta", desculpe-me, mas eu sei ser médica, mas por conta da incompetência de vocês, não estou conseguindo exercer minha função com louvor!


Não sei se isso vai chegar até você, mas já valeu pelo desabafo!


Fernanda Melo, médica, moradora e trabalhadora de Cabo Frio, cidade da baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro.

Dura e triste REALIDADE que DEVE ser mudada IMEDIATAMENTE!

Um dos textos mais lúcidos que já li sobre as manifestações, assinado por uma das jornalistas mais lúcidas do Brasil. Com vocês, Eliane Castanhêde.

ELIANE CANTANHÊDE

Exaustão


BRASÍLIA - Condenados pelo Supremo têm mandato de deputado e, não bastasse, viram membros da Comissão de Constituição e Justiça.

Um pastor de viés racista e homofóbico assume nada mais, nada menos que a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Um político que saíra da presidência do Senado pela porta dos fundos volta pela da frente e se instala solenemente na mesma cadeira da qual havia sido destronado.

O arauto da moralidade no Senado nada mais era do que abridor de portas de um bicheiro famoso. E o Ministério Público, terror dos corruptos, é ameaçado pelo Congresso de perder o papel de investigação.

A chefe de gabinete da Presidência em SP usa o cargo e as ligações a seu bel-prazer, enquanto a ex-braço direito da Casa Civil, afastada por suspeita de tráfico de influência, monta uma casa bacana para fazer, possivelmente... tráfico de influência.

Um popular ex-presidente da República viaja em jatos de gran- des empreiteiras, intermediando negócios com ditaduras san- grentas e corruptas.

Um ex-ministro demitido não apenas em um, mas em dois governos, tem voz em reuniões estratégicas do ex e da atual presidente, que "aceitaram seu pedido de demissão".

Ministros que foram "faxinados" agora nomeiam novos ministros e até o vice de um governador tucano vira ministro da presidente petista.

Na principal capital do país, incendeiam-se dentistas, mata-se à toa. Na cidade maravilhosa, os estupros são uma rotina macabra.

Enquanto isso, os juros voltam a subir, impostos, tarifas e preços de alimentos estão de amargar. E os serviços continuam péssimos.

É por essas e outras que a irritação popular explode sem líderes, partidos, organicidade. Graças à internet e à exaustão pelo que está aí.

A primeira batalha foi ganha com o recuo dos governos do PT, do PSDB e do PMDB no preço das passagens. Mas, claro, a guerra continua.

TRANSPORTE PÚBLICO ACESSÍVEL JÁ!!!


CARTA ABERTA DO MOVIMENTO PASSE LIVRE SÃO PAULO À PRESIDENTA

Atualizado: há 2 horas
À Presidenta Dilma Rousseff,

Ficamos surpresos com o convite para esta reunião. Imaginamos que também esteja surpresa com o que vem acontecendo no país nas últimas semanas. Esse gesto de diálogo que parte do governo federal destoa do tratamento aos movimentos sociais que tem marcado a política desta gestão. Parece que as revoltas que se espalham pelas cidades do Brasil desde o dia seis de junho tem quebrado velhas catracas e aberto novos caminhos.

O Movimento Passe Livre, desde o começo, foi parte desse processo. Somos um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomou as ruas do país. Nossa palavra é mais uma dentre aquelas gritadas nas ruas, erguidas em cartazes, pixadas nos muros. Em São Paulo, convocamos as manifestações com uma reivindicação clara e concreta: revogar o aumento. Se antes isso parecia impossível, provamos que não era e avançamos na luta por aquela que é e sempre foi a nossa bandeira, um transporte verdadeiramente público. É nesse sentido que viemos até Brasília.

O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente deixa de ter dinheiro para pagar a passagem. Questionar os aumentos é questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população. Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um preço que nem todos podem pagar. O transporte fica limitado ao ir e vir do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para abri-las que defendemos a tarifa zero.

Nesse sentido gostaríamos de conhecer o posicionamento da presidenta sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC 90/11, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6o da Constituição Federal. É por entender que o transporte deveria ser tratado como um direito social, amplo e irrestrito, que acreditamos ser necessário ir além de qualquer política limitada a um determinado segmento da sociedade, como os estudantes, no caso do passe livre estudantil. Defendemos o passe livre para todas e todos!

Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros (IPEA, 2011). O dinheiro público deve ser investido em transporte público! Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público. Como deixa claro seu artigo 9º, esta lei prioriza um modelo de gestão privada baseado na tarifa, adotando o ponto de vista das empresas e não o dos usuários. O governo federal precisa tomar a frente no processo de construção de um transporte público de verdade. A municipalização da CIDE, e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público, representaria um passo nesse caminho em direção à tarifa zero.

A desoneração de impostos, medida historicamente defendida pelas empresas de transporte, vai no sentido oposto. Abrir mão de tributos significa perder o poder sobre o dinheiro público, liberando verbas às cegas para as máfias dos transportes, sem qualquer transparência e controle. Para atender as demandas populares pelo transporte, é necessário construir instrumentos que coloquem no centro da decisão quem realmente deve ter suas necessidades atendidas: os usuários e trabalhadores do sistema.

Essa reunião com a presidenta foi arrancada pela força das ruas, que avançou sobre bombas, balas e prisões. Os movimentos sociais no Brasil sempre sofreram com a repressão e a criminalização. Até agora, 2013 não foi diferente: no Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal, cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da Copa do Mundo da FIFA. A resposta da polícia aos protestos iniciados em junho não destoa do conjunto: bombas de gás foram jogadas dentro de hospitais e faculdades; manifestantes foram perseguidos e espancados pela Polícia Militar; outros foram baleados; centenas de pessoas foram presas arbitrariamente; algumas estão sendo acusadas de formação de quadrilha e incitação ao crime; um homem perdeu a visão; uma garota foi violentada sexualmente por policiais; uma mulher morreu asfixiada pelo gás lacrimogêneo. A verdadeira violência que assistimos neste junho veio do Estado – em todas as suas esferas.

A desmilitarização da polícia, defendida até pela ONU, e uma política nacional de regulamentação do armamento menos letal, proibido em diversos países e condenado por organismos internacionais, são urgentes. Ao oferecer a Força Nacional de Segurança para conter as manifestações, o Ministro da Justiça mostrou que o governo federal insiste em tratar os movimentos sociais como assunto de polícia. As notícias sobre o monitoramento de militantes feito pela Polícia Federal e pela ABIN vão na mesma direção: criminalização da luta popular.

Esperamos que essa reunião marque uma mudança de postura do governo federal que se estenda às outras lutas sociais: aos povos indígenas, que, a exemplo dos Kaiowá-Guarani e dos Munduruku, tem sofrido diversos ataques por parte de latifundiários e do poder público; às comunidades atingidas por remoções; aos sem-teto; aos sem-terra e às mães que tiveram os filhos assassinados pela polícia nas periferias. Que a mesma postura se estenda também a todas as cidades que lutam contra o aumento de tarifas e por outro modelo de transporte: São José dos Campos, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, entre muitas outras.

Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa, continuaremos nas ruas! Tarifa zero já!

Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!

Movimento Passe Livre São Paulo
24 de junho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Legislação sobre deficiência

Publicado documento em três idiomas como resultado da “Consulta Regional sobre Deficiência e Desenvolvimento”


O evento realizado em abril deste ano resultou neste documento que visa consolidar as perspectivas dos setores público e privado sobre as questões mais importantes relacionadas à deficiência e ao desenvolvimento.

Participantes da Consulta Regional de diversos países, em abril de 2013. foto: Simone Nieves










Consulta Regional sobre Deficiência e Desenvolvimento, com o tema “O caminho adiante: uma agenda de desenvolvimento que leve em consideração as pessoas com deficiência até 2015 e além”, foi realizada pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, nos dias 11 e 12 de abril de 2013.
A consulta contou com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Banco Mundial, da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), da International Disability Alliance (IDA) e da Rede Latino Americana de Organizações Não-Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas Famílias (RIADIS). 
A metodologia proposta na consulta visava fomentar as discussões e debates entre os interlocutores convidados e as delegações participantes.
As discussões foram repletas de relatos de experiências locais e regionais, possibilitando a exposição de ideias e a oportunidade de elaborar recomendações para a realização de ações concretas que resultarão em melhorias reais para as pessoas com deficiência.
Esta ação considerou o encaminhamento de uma agenda de contribuições, mais alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), à Reunião de Alto Nível sobre Deficiência e Desenvolvimento da Assembleia Geral das Nações Unidas, que acontece no dia 23 de setembro 2013.
Entre os temas discutidos como prioridade destacam-se: melhorar a coleta de dados sobre deficiência, assegurar que o Sistema ONU e todas as agências relacionadas sejam inclusivos às pessoas com deficiênciacoordenar ação global e fortalecer as obrigações, entre outros. 
Estiveram presentes na Consulta Regional representantes dos governos, da sociedade civil e de organizações nacionais, regionais e internacionais de pessoas com deficiência e suas famílias dos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Paraguai, República Dominicana, e Uruguai.