terça-feira, 30 de agosto de 2011

Educação inclusiva ou exclusão da educação?

Crônica contundente de Fábio Adiron 

Fonte: http://xiitadainclusao.blogspot.com/2011/08/nao-existe-escola-inclusiva.html


Não existe escola inclusiva

De tempos em tempos alguém me pede indicação de escolas inclusivas, geralmente são pais em busca de um lugar para os seus filhos mas, de vez em quando, também são professores de escolas que rejeitaram algum aluno e que tentam indicar um outro lugar para os pais que os procuraram.

Infelizmente essa é uma informação que eu não possuo, ou melhor, possuo, mas não da forma como as pessoas gostariam de ouvir.

Não existem escolas inclusivas ou, pelo menos até hoje, eu não conheci nenhuma. E não existem porque o nosso sistema educacional, seja ele público ou privado, ainda está muito longe de ser inclusivo.

Claro que quem acredita que inclusão significa apenas ter alunos com alguma deficiência na escola vai encontrar centenas de escolas inclusivas. Só na rede municipal de Sâo Paulo são mais de mil escolas. Mas não é isso que torna inclusiva uma escola.

Outros entendem que são as escolas que "aceitam", como se inclusão fosse apenas uma concessão que a escola faz aos que ela consideram como diferentes.

Não poucos entendem que a escola inclusiva é aquela que faz a sua parte, desde que a pessoa incluída se prepare para acompanhar as suas regras inflexíveis, alguns chegam mesmo a contratar profissionais para tomar conta dos seus filhos dentro da escola (e ainda chamam esses profissionais de "mediadores"...)

Quando encontram uma escola que tem uma estrutura especial para os alunos com deficiência acreditam que chegaram ao nirvana inclusivo. Quem não quer uma escola toda equipada para as necessidades ( "especiais"?!?) das pessoas com deficiência, mesmo considerando que as pessoas sem deficiência não se beneficiam disso?

Escola inclusiva só vai existir quando a educação passar por uma transformação profunda, valorizando a individualidade de cada e de todos os alunos.

Quando, ao invés de concessões, houver uma ruptura no sistema atual que conduza a uma escola que não estabeleça condições para matricular os alunos (com e sem deficiência). Quando o sistema representar a existência de uma escola que seja boa para todos.

Quando as mudanças beneficiarem toda e qualquer pessoa.

Isso só vai acontecer quando escolas, pais e alunos pararem de olhar só para os seus interesses e entenderem que o interesse de todos está acima dos seus umbigos. Isso não vai cair do céu, nem virá do planalto central.

Enquanto isso não acontece, vou continuar recomendando aos pais que procurem escolas que tenham a ver com seus valores e crenças, como procurariam para qualquer outro filho sem deficiência e que, junto com a escola, procurem transformá-la num ambiente inclusivo.

E que fujam da tentação da escola que aceita, da escola que privilegia, da escola que impõe fardos ilegais.

Descrição da imagem
: uma sala de aula perfeita, cheia de crianças de todos os tipos e super equipada.
 

Ótima crônica de Fábio Adiron


Fonte: http://xiitadainclusao.blogspot.com/2011/06/senzala-20.html


QUINTA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2011

Senzala 2.0

Se eu falasse para uma famíla negra que seus filhos deveriam ser encaminhados para escolas ou atividades sociais só com outras pessoas negras, eu seria imediatamente taxado de racista e, muito provavelmente processado por tamanha besteira.

Não seria diferente se disser para algum conhecido gay que ele deveria procurar a sua turma, mesmo sem lei anti-homofobia eu seria exacrado publicamente.
No entanto, pais, professores, amigos e inimigos das pessoas com deficiência sempre estão em busca de guetos exclusivos.
Bailes para pessoas com síndrome de Down, aulas de judô para cegos, escolas para autistas...e o pior é que a própria comunidade das pessoas com deficiência acha que isso é ser normal.
Além de serem pseudo-defensores da diversidade essas pessoas acabam reforçando as superestruturas discriminatórias dominantes.

Acham que estão conscientizando o mundo sobre os direitos de todos com manifestações públicas quando estão apenas ressaltando a percepção de que "esses estranhos" devem viver apenas entre eles mesmos.
Defendem a perenização da senzala, do gueto, do manicômio em moldes mais moderninhos (versão 2.0 ou será 4G?), travestidos de clubes, redes sociais e até sites de namoro para pessoas com deficiência.
A alegação conceitual é que pessoas com mesmas características biológicas podem construir sua identidade no contato com os seus iguais. Que identidade, cara pálida? (ou de qualquer outra coloração).
A minha identidade é a de ser humano e é no contato com outros seres humanos que ela vai se construir. Minha humanidade não se define pela cor da minha pele, pelo número de cromossomos ou pela minha capacidade de ver ou ouvir.
Homem, ser social, realiza o desenvolvimento da sua identidade através da interação que mantém com o meio em que vive. A cada experiência vivida, a cada problema enfrentado, se está alimentando o processo de construção da identidade.
Se o meio for segregado é esse tipo de identidade que um indivíduo terá. Uma identidade pobre e limitada.

Certa estava a Cláudia Werneck quando lançou em 1992 o livro "Quem cabe no seu todos?" mostrando que preconceito e discriminação só mudavam de nome e endereço, mas estavam em todas as mentes e corações (inclusive daqueles que são excluídos)
Se, ao invés de defendermos a inclusão de todos, defendermos a inclusão ou os direitos de pessoas do tipo X, Y ou Z, deixamos de lutar contra a discriminação. Viramos parceiros dela.

Descrição da imagem : propaganda de uma empresa italiana de roupas dividida em 3 quadros: um só com mulheres loiras, outro só com morenas e o outro só com mulheres negras.