quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Homenagem



Parque Estadual do Jaraguá recebe o nome de Jéssica Nunes Herculano dia 04/12/2011 



Por Leandra Migotto Certeza - assessora de impressa voluntária da ABSW


Jéssica Nunes Herculano (07/10/1990 à 13/08/2010) foi uma cidadã muito especial por ser única em sua diversidade humana. Nasceu com a síndrome do amor e por meio dele conquistou muitas vitórias, ultrapassou diversas barreiras, ensinou a muitas pessoas a importância de se viver com dignidade, alegria e determinação, e conquistou muitos corações no Brasil e no mundo. 

Dona de um jeito meigo e carinhoso, falava sempre a verdade, principalmente, na hora de dar aquela bronca em quem tinha preconceitos e discriminava alguém, desde sua amiga mais próxima até uma pessoa que encontrou na rua. Tinha total consciência de sua diferença e fazia questão de dizer a todos que era feliz com sua deficiência, seus problemas, seu gênero, e etnia. Afinal, para ela a diferença da vida era tão natural quanto respirar. 

Sofreu muito, passou por situações humilhantes, sentiu muita dor pela discriminação e falta de respeito de quem não a aceitava e compreendia seu jeito de estar no mundo. Andou com 3 anos; foi diagnosticada com Síndrome de Williams aos 7; fez várias cirurgias bem delicadas no coração e passou meses interna em hospitais. Jéssica foi alfabetizada mais tarde porque os profissionais não acreditavam em seu potencial, mas sempre viveu com o máximo de autonomia e independência possíveis. Em 2008 escreveu um depoimento no site da Associação Brasileira de Síndrome de Williams, ONG fundada por sua mãe Jô Nunes junto com outros pais que continua lutando pela cidadania das pessoas com deficiência.

Chamo-me Jéssica, tenho 19 anos. Sou uma pessoa muito feliz. Namoro o Thiago, o amor da minha vida. Sou alfabetizada e estou na sétima série. Falo inglês, sei um pouco de Libras (Língua Brasileira de Sinais), e francês. Navego na Internet. Sou recreadora de crianças. Faço e vendo bijuteria. Sou muito independente, viajo sozinha, ando de ônibus urbano e vou ao banco. Sou muito amada pelos meus familiares e amigos. Tenho uma cachorra muito fofa, a Pérola. Enfim, sou uma adolescente igual a qualquer menina de minha idade. Mas nem sempre minha vida foi assim.

Quando tinha 11 anos percebi que minha família estava me protegendo muito, tinha uma moça que trabalhava em casa para cuidar de mim, eu não saia sozinha, minha mãe ou meu pai me levava para a escola e meus irmãos me buscavam. Eu sabia que eles faziam isto porque gostavam de mim. Mas me sentia sufocada, eu sempre tive a liberdade de falar tudo que penso em casa sempre tive o direito à voz e voto como qualquer membro de minha família. Um dia resolvi ter uma conversa séria com eles, comecei perguntando se eles confiavam em mim, todos disseram que sim, ai eu questionei porque eu precisava de babá, porque eu não podia ir a padaria, na feira sair sozinha, falei que não era mais um bebê!

Pais: não mimem seus filhos trate-os iguais a qualquer filho. Acredite em seu filho, pois o futuro dele será o que você fizer por ele hoje. E lembre-se que seu filho tem deficiência, mas não é incapaz. E professores: quando você receber uma pessoa com qualquer deficiência não tenha medo. Não somos ETs! Somos seres humanos iguais a vocês. Não tenham medo de perguntar para nós ou nossas mães a suas dúvidas. Não somos um transtorno, e sim pessoas que têm direito de serem cidadãos e estudar como qualquer um.

Participo da Associação Brasileira de Síndrome de Williams, que minha mãe criou se juntando com outras mães. Llá é muito legal, mas fico muito preocupada com meus amigos. Tenho alguns que tem a minha idade e suas mães ainda os tratam como bebês, outros que não conseguiram estudar, outros que a família não acredita no potencial deles. Mas espero um dia mudar tudo isto e todos terem a mesma oportunidade que eu tive. Espero que minha história ajude a muitas pessoas vencerem o preconceito e melhora a qualidade de vida sendo INCLUIDAS na sociedade.

Jéssica foi a primeira pessoa com Síndrome de Williams a receber um coração do mundo! E hoje, após sua partida, o que ela plantou continua germinando. Seu nome foi dado ao CIEJA - Centro Integrado Educacional de Jovens e Adultos do Butantã da cidade de São Paulo, a primeira escola a receber o nome de uma aluna no Estado de São Paulo; e também ao auditório no Parque Estadual do Jaraguá que ela fundou ao lado da “Trilha do Silêncio”. Este lugar era o que ela mais amava ficar, e hoje é onde repousa em paz suas cinzas, transformadas em flores pela inclusão! Jéssica nunca será esquecida!

Assistam o vídeo gravado no momento da leitura deste texto:


http://www.youtube.com/watch?v=23folLpRNAE




Assistam a mensagem de Jô Nunes ao público durante a inauguração do auditório: 


http://www.youtube.com/watch?v=tYCuB2JYZeY