Por Leandra Migotto Certeza - jornalista.
A educação inclusiva é uma proposta em construção, e a medida que se propaga tem evidenciado suas vantagens pedagógicas e sociais. A professora de Educação Inclusiva com deficiência visual, Naira Rodrigues, afirmou em entrevista, que o Brasil está passando por uma grande transformação positiva no sistema educacional.
Os depoimentos inéditos de alunos com deficiência, apresentados comprovam que este processo desfaz preconceitos, incentiva o convívio com as diferenças individuais e estimula o aprendizado mútuo. Todos foram questionados sobre como foi o seu processo educacional: em escolas especiais ou inclusivas; quais as adaptações necessárias e como é a convivência com professores e colegas de classe.
Francelene Rodrigues - “A educação inclusiva deve ser uma lição de casa para o mundo”.
A estudante Francelene, 37 anos, tem quatro filhas adolescentes e um neto. Sua deficiência física, a tetraplegia, foi adquirida após uma violência doméstica do meu ex-marido, em 1998. Atualmente, atua como líder comunitária no Itaim Paulista; é Conselheira de Saúde do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/AIDS Sérgio Arouca; e agente educacional de prevenção às DSTs e AIDS, por meio do projeto: “Elas por Elas”.
“Estou no 4º semestre do curso de Serviço Social da faculdade Unicastelo do campus de Itaquera. Logo que cheguei à faculdade, foram feitas adaptações para garantir a acessibilidade em quase todos os espaços, e ainda faltam alguns ajustes. Mas hoje me sinto livre para me locomover, pois fizeram rampas e instalaram dois elevadores. Fiquei muito feliz pelas mudanças. Os professores da faculdade sabem respeitar e compreender as limitações dos alunos com deficiência”.
Kátia Fonseca – “É importante conversar e conviver com os alunos com deficiência”.
A jornalista, Katia, 53 anos, tem acondroplasia, uma das classificações do nanismo. Formou-se na Faculdade São Leopoldo de Santos, onde nasceu. É presidente do Centro de Vida Independente de Campinas, ONG em defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Estudou 15 anos na Aliança Francesa, e trabalha como Editora Assistente de Opinião do Jornal Correio Popular, em Campinas, onde também reside.
“Sempre estudei em escola regular privada. Não foi necessária nenhuma adaptação, recursos técnicos ou sala de apoio. Eu sempre contava com a ajuda dos colegas e dos professores. Fiz cursinho pré-vestibular, e como o local não era acessível, meus colegas também supriam as minhas necessidades, como, por exemplo, ajudar a subir as escadas ou a ir ao banheiro”.
Sidney Tobias de Souza – “O desafio da educação inclusiva é apenas no início, depois tudo segue naturalmente”.
O paulista Analista de Sistemas, 44 anos, é casado e pai de dois estudantes universitários sem deficiência. Perdeu a visão aos 13 anos, voltou aos estudos aos 15. Trabalhou como office-boy (pois se locomove com autonomia pela cidade), cursou programação de microcomputadores, e hoje é formado em Administração de Empresas pela Universidade Bandeirantes – UNIB, onde estudaram também alunos com deficiência visual, física e auditiva, além de um professor com deficiência física.
“Logo na primeira semana de aula da faculdade, um aluno que fazia as anotações da lousa em um lap topo se ofereceu para me repassá-las por e-mail. Depois os alunos da turma se revezavam para enviar as anotações de cada matéria. Quanto às provas, elas não estavam disponíveis em Braille; então, me deixaram livre para optar entre fazer num computador ou prova oral”.
Samara Andresa Del Monte – “A escola ideal e inclusiva é aquela que respeita a capacidade e as necessidades do aluno com deficiência”.
A estudante paulista de 21 anos mora em Diadema (SP), está no segundo ano do curso de Jornalismo na Universidade Paulista – UNIP, e há oito anos é editora da revista “Mais Deficiente”. Quando nasceu o cordão umbilical estava enrolado no meu pescoço, por isso, faltou oxigênio no cérebro, o que ocasionou Incapacidade Motora Cerebral (conhecida antigamente como Paralisia Cerebral). Ela usa cadeira de rodas para me locomover, o sistema Bliss para see comunicar, e escreve apenas no computador. O Bliss é uma prancha com diversos símbolos que facilita a comunicação. Samara aponta o símbolo e a pessoa que estiver conversando, já sabe o que significa porque cada símbolo tem uma legenda, assim ela não precisa soletrar cada palavra. Estudou até os 14 anos em escolas especiais quando sua matricula foi aceita em um colégio regular. Hoje seus projetos são se formar e trabalhar na profissão que escolheu.
“As salas são acessíveis, e a UNIP disponibiliza uma vaga no estacionamento dentro da própria universidade. Para estudar, leio os textos normalmente, mas preciso de alguém para escrever. Esse ano quem me ajuda é a minha irmã Sarita. Quanto às provas, levo meu laptop, digito com o auxílio de um capacete e uma ponteira (pois não tenho coordenação fina nas mãos), e a Sarita redige na folha. E caso precise, os professores permitem que eu fique até depois do horário para terminar a prova”.
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