Texto e fotos:
Leandra Migotto Certeza*
Sentir a
respiração. Ouvir o coração. Escutar. Entrar em contato com o ser que habita
nosso corpo. Viver o momento presente. Sair da forma aparente. Ser gente. Conhecer
no outro o si mesmo. A vida sem a arte não existe, e a arte sem a vida não
acontece.
Toque delicado.
Sonho realizado. Experiência vivenciada junto. Carinhos trocados em olhares e
palavras. Oração. Prece. Perdão. Comunhão. União. Aventura. Risadas. Histórias.
Passado e presente livres.
Tempo? Circulação!
Coragem, compaixão. Delicadeza e força. Ser e estar no espaço tendo um lugar no
mundo, e sendo parte dele. Potencialidades, formas diferentes e únicas. Vozes
para ‘escutar’; falas para ‘cantar’; olhares para ‘tocar’; e sons para iluminar
caminhos.
Braços, pernas,
pés, tons de vozes, mentes, inteligências, sensibilidades, energias diferentes
e iguais em sua humanidade e espiritualidade. Formas e maneiras de fazer e
estar no Planeta Terra. Pedaços de um quebra-cabeças que se encaixa só quando
se unem com o mesmo propósito: ser e estar: exatamente como vieram e com a
missão que irão cumprir.
Uma vez por ano a Casa do Todos comemora os talentos que
compõe a comunidade. O valor da autoria de cada talento expressa as diferenças
como qualidades em cada ser humano. Todos
Talentos é um encontro para compartilhar habilidades onde o criador e a
criatura inventam uma ordem sagrada. O encontro revela diferentes ‘fazeres
artísticos’ como: danças, músicas, teatro, canto, instalações, comidas e artes
tantas. Afinal, o par não é o que separa no dois, mas o que inclui no Todos.
O resultado dessa
união, em setembro de 2012, você vai conhecer agora...
A cada número uma surpresa...
Antes do começo: beijos e abraços espalhados, cumprimentos,
Pai Nosso, Luz. Bolinhas de sabão... Mais
comprimentos. Pessoas chegando... O alimento do corpo nos aguardando enfeitados.
E outras pessoas
chegando... Conversas... E mais
conversas...
Pétalas de rosas no
chão. Balões coloridos no ar. Miudezas. Ideias. Gostosuras doces. Imagens de
momentos na Casa do Todos Campo. Livros. Palavras. Ensinamentos e sabedorias
compartilhadas. Produções de arte para comprar e vender. Lãs, tecidos,
pinturas, mandálas. Em cada detalhe, um carinho. Em cada carinho, uma
esperança.
Mais pessoas
chegando... Flauta ensaiando. O Festival vai começar... Círculos coloridos com
convites para aproveitar o momento presente como um presente.
A história da Casa do Todos é parte de cada talento
compartilhado. Dezenove anos de experiências vividas juntas. Aprender a receber
também é uma dádiva. Dar e receber. Agradecimentos e mais agradecimentos. Nossa
inspiração? Teorias do movimento autêntico. O encontro de olhos fechados. Que
coragem...
Primeiro número: Vamos dançar? Bênçãos para todos e todas.
Luz. Energia. Vitalidade. Circulação. Sentir o corpo. Saber da alma. Ouvir o coração.
Espalhar o que se sente e o que se vê. Calma. Leveza. Detalhe e imensidão. A
dança, a valsa. A música interna e externa. Olhos fechados.
Segundo número: Depois, confiar no outro e descobrir quem
se é confiando em si mesmo. Arte marcial. Luta? Conhecimento dos limites,
superando medos. Espera. Paciência. Cair e levantar. Levantar e cair. Ir e vir.
Ser e não ser. Sentir e não sentir.
Cair e levantar
novamente. É a vida. Cheia de altos e baixos. Cheia de tropeços e recomeços.
Plena de significado. Saber esperar a sua vez de dar confiança ao próximo e ser
recebido por ele. Saber ouvir. Saber agir. Cumprimentos. Bênçãos. Energia. E
mais energia. Força. Leveza. Coragem. Fechar os olhos e ouvir o que vem de
dentro para mostrar o que está na relação com o outro lá fora.
Terceiro número: Palhaços! Alegrias! E mais diversão!
Ritmo. Batera. Teclado. E mais ritmo. Fantasias... Inconsciente mágico. Cores.
Tecidos. Fantasias. E alegrias! Ritmo. Expressões. Caras e bocas. Olhares.
Espanto. Parceria.
É possível passar horas e até dias, sentindo que todos nós ainda temos um palhaço dentro da gente. É possível escolher entre ouvir ou não o palhaço, que muitas vezes está adormecido. Deixar simplesmente fluir a fantasia de ser quem proporciona alegrias. Brincar. Diversão. E mais alegrias.
Quarto número: Instrumentos que dançam. Guitarra e
violão. Imaginação. Soltar e se soltar no vento. Tocar o instrumento sendo
tocando por ele. Ser o instrumento. Fazer parte da música. Ser a dança.
Estar no momento presente. Criar. E recriar. O que o artista pensou pode ser modificado para expressar o que cada um é. O clássico se une a livre expressão do sentir. Grande artista que domina a guitarra interna da imaginação.
Quinto número: Talento em andamento. O sonho de
falar e ser italiana. A fantasia de ser outra pessoa a quem se admira.
Identidade na fase entre a despedida da infância e a chegada a vida adulta. A
necessidade de realizar um sonho de representar quem se deseja ser. A possibilidade
de deixar florir uma paixão pela arte da palavra cantada, dublada, tocada,
representada.
Sexto número: o mar e o amor. Imensidão e imersão no
mundo interno de cada um. Azul que acolhe e aceita. O tempo de cada ser é único
e profundo. Em especial para aqueles que têm o seu próprio tempo inconsciente.
Ninguém deixa de participar do jeito que está aqui na Terra.
O mundo é de todos
e feito por todos. Não existem outros mundos particulares que não são
acessíveis pelos seres que habitam o Planeta. O que é preciso é saber ouvir e
ver cada expressão de estar ao lado do semelhante. Paciência. Calma.
Tranquilidade.
E depois o sonho.
Claro! O sonho novamente. Estar no mar das fantasias possíveis. Cantar. Dublar.
Falar outro idioma. Sentir e se expressar com a intensidade de um grande ator.
Poder ser outra pessoa sendo você mesma.
Sétimo número: o tango, a dança. Leveza e força. A dança
com o corpo se transforma em a dança com a alma. É o tango que leva a
bailarina. Entrega total. Movimentos precisos. E ao mesmo tempo, soltos.
Caminhos abertos. Energias. Interpretação livre. Novas formas de sentir
emoções.
Sedução de si
mesmo, puramente pelo movimento que a dança traz. Concentração. Habilidade.
Rapidez. E o mais importante: sentimento. Sim, é possível dançar de olhos
fechados e corações abertos. É possível ir além do racional, e explorar o
emocional.
Oitavo número: rock livre. Todos e todas dançam e brincam de dançar. Mexer o corpo para se lembrar de conectar o espírito com a máquina que nos sustenta. Idades cronológicas; diferem das internas. Aparências não são essências. É possível enxergar além do que vemos. Sentir além do que o corpo mostra. Cada um pode e consegue dançar e ser feliz exatamente como se apresenta no mundo: especial por ser único e cheio de potencialidades a serem exploradas.
Oitavo número: rock livre. Todos e todas dançam e brincam de dançar. Mexer o corpo para se lembrar de conectar o espírito com a máquina que nos sustenta. Idades cronológicas; diferem das internas. Aparências não são essências. É possível enxergar além do que vemos. Sentir além do que o corpo mostra. Cada um pode e consegue dançar e ser feliz exatamente como se apresenta no mundo: especial por ser único e cheio de potencialidades a serem exploradas.
Nono número: Linha do tempo, espaço, amplitude,
caminhos. Ir e vir seguindo os seus passos, rumo ao horizonte de possibilidades
imaginárias. Alegria da interpretação determinada de um palhaço. Pode ser o mar
infinito das incertezas. Pode ser a linha dos limites a serem conhecidos e
ultrapassados quando necessários.
O importante é
sempre levantar os braços e seguir em frente: rumo ao desconhecido, cheio de
possibilidades. Juntos e de mãos dadas, é melhor seguir. Dar a volta e começar
de novo. Sempre. Caminhar sobre a linha da vida. Ser levado por ela fazendo
parte dela.
Décimo número: memórias. Passado, presente e futuro
juntos, aqui e agora. Histórias que se contam em imagens, sons, músicas,
palavras, textos, sabedorias, abraços, doces, pães, corações, cores, colagens,
desenhos, pinturas, ternuras, vidas que se cruzam e compartilham a vida, cheia
de luz. Sim, é possível! É possível, viver em harmonia em meio ao amor de todos
para todos.
Sim. É possível! O
ser humano tem a infinita capacidade de ser solidário, amável, carinhoso,
acolhedor. O ser humano consegue transformar, criar, experimentar, dar e
receber afeto, compartilhar, compreender, ouvir e escutar, ver e enxergar,
caminhar junto, amar. Dezenove anos de uma casa que abriga a diversidade humana
em sua plenitude e completude justamente por ser diferente, única e
especial. Afinal, o amor é sua própria
recompensa.
Décimo primeiro número: Tatatum, o coração da Casa do Todos. Um lugar sagrado. Bater no mesmo ritmo do coração de cada um. Estar no momento presente com um instrumento na mão para seguir o som do seu coração. Juntos em uma roda cheia de cores e sons diferentes. O homem mais velho da casa faz a abertura e o fechamento do Tatatum entregando um troféu a quem ele deseja.
Décimo primeiro número: Tatatum, o coração da Casa do Todos. Um lugar sagrado. Bater no mesmo ritmo do coração de cada um. Estar no momento presente com um instrumento na mão para seguir o som do seu coração. Juntos em uma roda cheia de cores e sons diferentes. O homem mais velho da casa faz a abertura e o fechamento do Tatatum entregando um troféu a quem ele deseja.
E depois, um chamamento para as histórias das vidas passadas que se unem as novas.
“Hoje estamos
assistindo aqui, um encontro de alma e de corações. Existe uma mensagem que diz
que se a vida nos impõem limites; nossos anjos oferecem os contornos. E são
esses contornos que procuramos na Casa do Todos”, disse o pai da Mirella.
Ele também contou a
história dos dois potes que transportavam água: um cheio e outro pela metade. O
que nasceu trincado, regava o solo para o nascimento de flores, e por isso, não
era inútil. Tinha uma função muito importante, exatamente como era.
Décimo segundo número: O balé das flores.
Leveza, alegria, e mais alegria! Que felicidade dançar com a alma! Sem medos e
amarras. Só a imensidão da música embalando os corpos soltos no ar. O ser
interior é completamente belo! Sem máscaras. Transborda a emoção do encontro da
mais pura beleza. Dançar simplesmente por dançar. Como é bom... Gentileza,
carinho.
E depois a lambada!
Eba! Dançar é maravilhoso! Soltar o corpo e a imaginação. Convidar o público
presente para cair na dança livre! Completamente livre! O que vale é sentir a
emoção do momento, do embalo, do ritmo, sem receios. Os pares se formam, e cada
pessoa dança como é: com o coração aberto.
Décimo
terceiro número: Batera! Rock rol! É pura adrenalina! Sim, é
possível aprender um instrumento que se ama. Sim, é possível tocar com tanta
garra e dedicação. Superar dificuldades,
melhorar, aprimorar o talento para a música e o ritmo, tocando com o coração. Não
importa a idade, a bateria mora dentro do peito. E até quem nunca tocou um
instrumento consegue exprimir o ritmo do coração em baterias e tambores.
Décimo quarto número: Monstros, dragões e
bruxas. Fantasias mil. É possível soltar todos! A imaginação vai longe e os
sentimentos acompanham. Inconsciente e consciente. É possível uni-los no tempo
presente. Teatro e interpretação. Ação. É a vida pulsando!
Décimo quinto número: Mais um tango. Confiar
no outro. Confiar em si mesmo. Acreditar que é possível dançar quando o corpo
permite estar no espaço e tempo presentes. A cada passo seguido, um sonho
realizado. A força do tango é a batida da emoção. Leveza no carinho com o
parceiro. Destreza com as mãos e os pés. Subir aos céus na imensa alegria de
dançar. Sim, também é possível!
Décimo sexto número: Selêlê e Iolanda. “Eu sou igual a
você seja onde for”, diz a canção. Jovem que enxerga com todos os sentidos e
cantora junta-se a outra artista para embalar o final do Todos Talentos 2012.
E Mirella lembra
que...
O dia mais belo é
hoje
A coisa mais fácil
é errar
O maior obstáculo é
o medo
O maior erro é o
abandono
A raiz de todos os
males é o egoísmo
A distração mais
bela é o trabalho
A pior derrota é o
desânimo
O melhor professor
são as crianças
A primeira
necessidade é comunicar-se
Agradecimentos a
todas e todos, presentes em corpo e alma. E aos que estiveram também em
pensamento e espírito. Viva Festival
Todos Talentos 2013 que chega!!!
A casa
A Casa do Todos é uma rede de serviços em
ação dirigida à comunidade. Esses serviços são cuidados terapêuticos oferecidos
às pessoas que os solicitam em toda e qualquer situação de vida. São
profissionais das áreas de saúde e educação que cuidam do desenvolvimento
integral do ser humano. O propósito do trabalho é servir e multiplicar, no
espaço na humanidade, a atitude participativa.
“O Todos é cada pessoa que pertence e constitui o
comunitário. Cuidar deste lugar de pertencimento de cada um é ter um olhar
especial em nosso dia a dia. Em grupo, criamos um espaço de Graça facilitador
da manifestação de cada pessoa. O amor é sua própria recompensa”, Mirela D´Angelo
Viviani, terapeuta.
“Nosso caminho de trabalho se baseia em receber o
pedido de quem nos procura e acompanhar seu fluxo criativo de cura. As pessoas
que nos procuram são de todas as idades e situação de vida, independente da
característica de desenvolvimento pessoal. O trabalho está fundamentado em
reconhecer as possibilidades da pessoa em fazer visível a autoria de sua vida.
Assim, não existem limites para realizar o fazer no pedido de cada um e a Casa,
com essa atitude, expande seus quintais oferecendo muitas e diferentes
atividades. O foco da nossa atenção é observar, acompanhar a vida presente no
momento individual e coletivo humano”, todos da Casa do Todos.
E estão todos e todas convidados e convidadas para o próximo encontro!
E estão todos e todas convidados e convidadas para o próximo encontro!
*Leandra Migotto
Certeza é
jornalista desde 1998, e editora da Revista Síndromes. Ela tem deficiência
física (Osteogenesis Inperfecta), é assessora de imprensa voluntária da ABSW,
consultora em inclusão, e mantém o blog “Caleidoscópio – Uma janela para
refletir sobre a diversidade da vida” - http://leandramigottocerteza.blogspot.com/. Conheçam os modelos de palestras, oficinas, cursos e
treinamentos sobre Diversidade, realizados em empresas, escolas, ONGs, centros
culturais e grupos de pessoas no site: https://sites.google.com/site/leandramigotto/.
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