No filme Entre os muros da escola (França, 2008), em uma sala de aula marcada por diferentes ordens de conflitos, a certa altura uma aluna adolescente de ascendência árabe questiona seu professor, com ironia, sobre o porquê de os livros didáticos trazerem personagens apenas com nomes franceses, como se não existem pessoas com nomes árabes.
Com isso, queria ilustrar o desconforto sentido por ela e diversos outros jovens de origem não francesa e o choque cultural vivido naquela sala, naquela escola e, claro, em toda a França.
Evidentemente, essa é uma situação tipicamente vivida na Europa, onde o tema da atenção à diversidade na Educação ganha corpo já há algumas décadas.
São problemas reais, enfrentados com grande dificuldade pelo sistema escolar. Mas não queremos falar da França e da Europa. Apenas ilustrar, com um exemplo já trazido para o cinema – num filme provocativo, que vale a pena assistir –, um dos mais importantes desafios da escola contemporânea brasileira: a educação para a diversidade.
No Brasil, o tema da diversidade está cada vez mais presente em livros, seminários, oficinas. Mas, como costuma acontecer em nossa tradição pedagógica, ainda vivemos em dois mundos – o das boas teorias e, ao mesmo tempo, o das práticas defasadas.
Somos um país que tem a diversidade cultural em suas raízes históricas, amalgamando influências indígenas, negras, europeias. Há um século, recebemos um dos maiores fluxos migratórios da história recente, e agora chegam bolivianos, peruanos, argentinos.
E ainda mais: do ponto de vista social, nossa escola reúne crianças nas diferentes situações socioeconômicas, que têm suas próprias experiências e aprendem em seu próprio ritmo.
Contudo, de modo geral, as escolas brasileiras ainda parecem funcionar como se tivessem apenas um tipo de estudante: o aluno ideal, que corresponde a todos os estereótipos daquilo que desejamos consciente ou inconscientemente.
Parafraseando o autor português João Barroso, ainda educamos a muitos como se fossem um só, e não a todos como se fossem “cada um”.
A diversidade cultural é tratada muitas vezes de modo quase folclórico; já as diferenças individuais, especialmente as ligadas às questões sociais, são simplesmente ignoradas.
Isso precisa mudar, por todos os motivos. Nossas salas de aula são de uma diversidade incrível, que produzem, naturalmente, grande riqueza humana.
São um espaço fecundo para as trocas, para que as crianças se expressem, ganhem autoestima, que se orgulhem do que são e se encontrem em país multicultural.
A questão da diversidade precisa definitivamente estar contemplada nos materiais empregados, nas práticas pedagógicas cotidianas.
Mais do que isso, precisamos preparar nossos professores para uma mudança de atitude, para criar um ambiente onde as diferenças sejam o combustível de uma maravilhosamente rica experiência educativa.
* Pedagoga, mestre em Educação e diretora de serviços educacionais do Agora Sistema de Ensino (www.souagora.com.br)e do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva.
Fonte: Planeta Educação
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