O que fazer na hora H?
Por Leandra Migotto Certeza.
Você está procurando companhia? Que tal ‘xavecar’ alguém? Se o problema é medo: relaxe. Agora tem até manuais para ensinar como se dar bem na ‘hora H’. Especialistas dizem que não existem regras para paquerar, mas quem conhece os ‘segredos’ da alma humana, aconselha a soltar as emoções, baixar defesas, sorrir, e não ter medo do desconhecido.
Para o psicólogo, especialista em sexualidade da pessoa com deficiência, Fabiano Puhlmann, paquerar é arriscar conhecer gente nova; uma boa forma de exercitar a quebra de preconceitos. “Qualquer lugar é perfeito. Mas é sempre bom ser curioso e prestar atenção às perguntas e respostas da outra pessoa, não se esquecendo do bom humor, do incentivo, e do caminhar passo a passo, sem definir logo sua intenção. Se aproximar devagar, mas não ficar parado”.
“O mais importante para o xaveco é ele acontecer, e não ficar guardado por medo da rejeição. O melhor nem sempre é aquele que dá certo, mas só o fato de existir, já é muito legal. Quanto mais verdadeiro, sensível e criativo ele for; mais chances você vai ter de se aproximar de alguém”, afirma Fabiano Rampazzo, jornalista e um dos autores do Manual do Xavequeiro (Matrix editora). Para o escritor Antônio*: “mesmo quando não funciona, o xaveco pode ser uma boa maneira de conhecer o jeito de ser de alguém, e de encarar a si mesmo e os outros”.
Rampazzo ainda arisca dizer que o dia em que o xaveco sair de moda a humanidade acaba. “As pessoas só nasceram porque o pai xavecou a mãe”. Antônio* pondera: “O xaveco só sairá de moda quando as pessoas perderem o gosto pela vida, nunca o impulso sexual; justamente porque a cantada não é só hormônio, é sintonia”. Para o jornalista as pessoas ainda são muito carentes de informações e sentem necessidade de trocar experiências. “Percebemos que existem homens querendo xavecar, mas com medo. E mulheres também querendo, mas passando vontade. Por isso fizemos quadro livros e um DVD”.
A bióloga Silvia Sant’ana discorda: “não acredito muito na eficiência do xaveco, prefiro uma abordagem mais sutil. A palavra ‘na moda’ soa como ‘xaveco furado’; acho um termo meio perdido”. A professora Maria* discorda: “para mim o xaveco está na moda, mas temos que tomar cuidado, pois uma cantada mal dada pode virar uma abordagem agressiva, e até assédio sexual”.
Use sempre o bom senso.
Depois de tomar coragem de partir para a conquista, ainda bate aquelas dúvidas? Onde paquerar? Qual o limite da investida? Tomo umas cervejas ou vou de ‘cara limpa’? O que fazer depois de levar um fora? Vejam o que nossos entrevistados disseram.
Rampazzo aponta que lugares mais propícios para receber ou fazer um xaveco são na balada, festa, danceteria, show, parque, rua, sala de espera de consultório, escola, cinema, teatro ou trabalho. Para o jornalista às vezes um lugar com muita gente pode facilitar, pois as pessoas estão mais à vontade; mas um xaveco no supermercado pode ser bom justamente pelo elemento surpresa. Silvia discorda: “nenhum lugar é o pior ou melhor para fazer um xaveco, depende da forma da abordagem. Vale até em um enterro se for bem feito”.
O escritor Antônio* concorda com Silvia; o melhor lugar para xavecar é aquele onde a pessoa atraente está. Maria* acredita que tem que acontecer o clima ideal. “De repente, na sala de espera de um consultório... Ou no trabalho, o que interessa é o momento adequado, só não dá para ser nada forçado”.
E todos os nossos entrevistados concordam: é preciso ter bom senso e, saber qual o momento de parar para não ser chato ou abusar de alguém. “Quando a pessoa não está à vontade não é legal xavecar, pois em vez de sedutor você pode ser um chato. Os xavecos que passei e não 'colaram' foram igualmente importantes, pois o fora é fundamental para qualquer ser humano. Nunca ninguém será uma unanimidade”, comenta Rampazzo.
Antônio* alerta: “nós temos medo de tudo e de nada, conforme a situação. E o medo, bem trabalhado, é sinônimo de prudência. Caretice à parte, timidez e descaramento não combinam com álcool; porque tiram a pessoa do seu normal, da sua postura verdadeira. Falhar é inevitável, quando as coisas não vão bem dentro da gente. Temer a exclusão ou a rejeição faz parte do jogo, mas não deve se tornar regra”.
“O pior xaveco que levei foi ridículo! Estava andando na rua, chegando para trabalhar em São Paulo. O cara começou a andar ao meu lado e perguntou: ‘Como você faz para paquerar alguém?’ Eu fingi que não entendi. Ele insistiu e disse que eu era bonita apesar de ser cega. Acho que um lugar horrível para xavecar é no transporte público. Me parece que é um momento em que as pessoas estão meio desprotegidas. Eu não me sinto confortável”, conta a professora Maria*.
Para Antônio* ninguém está livre de ser ‘romântico’, e de amar alguém além do desejo. “Machismo é anacronismo; já moral religiosa (quando bem dosada) é saudável e predispõe a um relacionamento mais decente. Ir ‘aos finalmentes’ só por ‘obrigação’ é burrice e não leva a nada permanente. É como uma barbarização ditada por modismos. Antiquado ou não, prefiro pensar no ‘outro’ com os mesmos direitos que eu, isto é, ninguém gosta de ser usado”.
Quem xaveca mais: o homem ou a mulher? Existe idade para paquerar?
“O homem xaveca, a mulher é xavecada, desde que o mundo é mundo é assim. Claro, há exceções, mas são raras. A mulher seduz, atrai o homem, mas a abordagem é quase sempre masculina. A minha fase com maior disposição para o xaveco foi entre os 18 e 28 anos. Mas isso está longe de ser uma regra, há homens que se descobrem xavequeiros aos 50. Eu mesmo, com 33, posso ainda viver esta fase de novo. Continuo xavecando a minha namorada. É bom manter sempre a chama acesa. Ainda que teoricamente a juventude, com suas necessidades de descobertas, seja a fase mais propícia para o xaveco”, afirma Rampazzo.
Antônio* discorda: “Ué, e tem fase pra xavecar...? Idade ideal pra sentir atraído por alguém? Isso não existe! Pra mim, só interessa saber se a pessoa se sente viva. Quem sabe xavecar melhor são pessoas abertas aos relacionamentos mais plenos, não importa o sexo. Homens e mulheres com essa visão da vida xavecam mais. Sinceramente, não sei em que época as pessoas começaram a não ter mais vergonha de paquerar. E se o feminismo, a chamada liberdade sexual, a massificação do erotismo, e outros fatores influenciaram a 'arte de xavecar'. Tudo faz parte de um contexto coletivo. É como a atual onda de aceitação da ‘não-privacidade’ (???); passa-se para um padrão de conduta diferente, mas não necessariamente imoral, obsceno. Apenas - no caso da paquera - mais aberto”.
Para Maria* os mais ‘xavequeiros’ ainda são os homens, pois fazem isso muito bem quando querem. “Acredito que eles sejam mais ‘descolados’, e até mais infantis, e menos críticos, por isso, fazem as melhores cantadas”.
“Você vem sempre aqui?”
“Eu estava num bar com minha amiga. Ela me disse que tinha um rapaz olhando insistentemente para ela. Mas estava confusa, porque o cara fazia sinais que ela não entendia. Ao sair do bar; um amigo me disse que eu havia sido muito antipática com aquele cara que ficou a noite toda pedindo para minha amiga me chamar, e eu nem ‘dei bola’. Quando eu contei que pensei que ele estava fazendo sinais para minha amiga e não para mim, o meu ‘paquera’ voltou para o bar e...
Bom, tive dois filhos com ele”.
“Faz tempo que de descobri o jeito mais fácil, direto e legal de paquerar alguém: jamais usar a minha deficiência física como ‘propaganda’. Minha estratégia é simples: abro o jogo e corro os riscos”, confessa Antônio*.
“Tenho deficiência visual, por isso a tendência pode ser mais passiva. Porém, já utilizei muitas táticas: passar perto fingindo não estar ‘vendo’ a pessoa e, se possível, dar um esbarrão ou um tropeço bem na hora certa. Ter amigas que funcionam como cúmplices e ‘áudio descritoras’ das paqueras é ótimo, assim, podemos planejar o momento e abordagem ideal... Agora, sobre as artimanhas, não posso contar o ‘pulo do gato", confessa Maria*.
E se mesmo depois de ler todos os manuais, e ouvir os conselhos dos seus amigos; você ainda não sabe como passar um xaveco sem ser chato, ou receber uma cantada e não saber o que dizer; não se ache a ‘última pessoa do mundo’, pois o psicólogo Puhlmann explica que a paquera descompromissada é um jogo gostoso, de sorrisos, olhares meigos, elogios e papo descontraído. Não é algo ameaçador. E com o tempo e a intimidade pode evoluir para um relacionamento. “Aí surge a vontade do aconchego; o bate-papo em lugares românticos; o passeio de mãos dadas; as pequenas viagens; o encontro com os amigos antigos e novos de ambos... E tudo pode acontecer...”
*Os nomes das pessoas entrevistadas foram trocados para preservarem sua identidade.
Manuais sobre xaveco: www.xavequeiro.com.br
Manuais sobre xaveco: www.xavequeiro.com.br
Leandra Migotto Certeza é jornalista com deficiência física e desenvolve o projeto em equipe: “Fantasias Caleidoscópicas”, ensaio fotográfico sensual com pessoas com deficiência. O projeto foi premiado no “6º Congresso Internacional Prazeres Dês-Organizados – Corpos, Direitos e Culturas em Transformação”, em Lima (capital do Peru), em junho de 2007; e reapresentado no “I Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos e Pessoas com Deficiência”, realizado pelo Ministério da Saúde, em Brasília, em março de 2009. Mais informações: leandramigottocerteza@gmail.com ou BLOG: http://leandramigottocerteza.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário