segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fui excluída de um concurso público

Candidata é excluída em concurso do Ministério da Justiça

Por Liliane Moraes- 29/09/2008

Prezados colegas,

Gostaria que esta mensagem fosse divulgada, até chegar à Brasília, pois não podemos continuar sendo excluídos da forma mais absurda possível em concursos, sobretudo os de âmbito nacional!
Neste sábado (dia 27/09) estive, com minha mãe, em uma escola estadual para fazer uma prova de concurso, cujo cargo era específico para Ciências Sociais e reservava uma vaga para pessoas com deficiência. Tratava-se do concurso do Ministério da Justiça, cuja organizadora é a Funrio.

Quando chegamos ao local da prova, o coordenador me abordou e perguntou se eu havia solicitado prova especial. Disse-lhe que sim, que havia preenchido as opções disponíveis no formulário eletrônico, as quais contemplavam braille e ledor, visto que não havia opção de prova no computador. Ele me pediu uns minutos e, ao retornar, afirmou: "Infelizmente, sua prova em braille não foi enviada do RJ, também não foi enviado ledor oficial, mas podemos pedir a algum fiscal que leia para você..."

Eu disse que sem braille seria muito difícil, pois havia provas de Lógica, Espanhol e Informática, além de prova de Português, que exige leitura do próprio candidato. O coordenador, então, ligou para a coordenação geral no Rio de Janeiro e me deu o telefone, para conversar com o responsável pelo concurso.

Ao explicar a ele a situação, ouvi daquele Sr. que, em Estado algum, se faz prova em braille e que fariam o possível para que alguém a lesse para mim. Depois que argumentei ao telefone que o que jamais se fez foi prova sem braille, desligamos e fomos para a sala de prova, já no horário previsto em edital para o seu início, para que a pessoa que se propôs a ler, visse o conteúdo.

Quando a moça que leria verificou a prova, logo disse que a de Espanhol era muito extensa, e que, portanto, não poderia me ajudar, inclusive por não se responsabilizar pela pronúncia de língua estrangeira.

Não insisti pela ajuda, pois, além de tudo, havia uma questão discursiva, a qual necessitaria que eu ditasse ao final, para transcrição no cartão e se já pagando e treinando ledores o trabalho não costuma ser perfeito, imaginem com voluntariado improvisado!

Assinei a lista de freqüência e fomos embora. Confesso-lhes que jamais havia me sentido tão excluída. Não pelas pessoas que ali estavam, mas pela situação que se observava: uma instituição com total descaso com os candidatos com deficiência inscritos no concurso, e que, pelo que se percebeu, quase nenhum interesse teve em verificar a relação de inscritos, para ver se algum necessitava do mínimo de condições para realizar as provas.

O coordenador local sugeriu que fosse ao MPU e entrasse com ação, pois trata-se de um concurso nacional, contudo, este não é um caso isolado, pois se tem observado inúmeras situações de discriminações e descasos contra pessoas com deficiência, sobretudo no mercado de trabalho e concursos federais, por todo o país.

Por isso, penso que é tempo de se fazer discussões acerca das condições que vem sendo dadas nessas provas, pois encontramos ledores despreparados, indeferimentos nas solicitações de provas no computador, dentre outros problemas que ferem a idéia de igualdade de condições no desenvolvimento das provas.

Agradeço a atenção de todos que leram este e-mail e desculpo-me pelo alongado da carta, mas este é o sinal de protesto de uma pessoa que está, sim, qualificada, mas que tem se sentido prejudicada em vários concursos federais.

Atenciosamente,
Liliane Moraes, Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará

"Embora o mundo esteja cheio de sofrer, está cheio também de formas de superá-lo. Meu otimismo, então, não descansa na ausência do ruím, mas em uma opinião contente no preponderante de bom e de um esforço disposto a cooperar sempre com o bom, que pode prevalecer."

(Helen Keller)

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